Panorama
 
 
 

ÍNDIOS DIZEM QUE A TERRA É DELES E QUE NÃO ACEITAM CONVIVER MAIS COM ARROZEIROS

Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Maio de 2008

11 de Maio de 2008 - 16h14 - Última modificação em 11 de Maio de 2008 - 16h14
Marco Antônio Soalheiro
Enviado especial
Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RR) - Nem mesmo uma decisão do Supremo Tribunal Federal favorável à permanência dos não-índios na terra indígena fará com que os índios, que defendem a saída dos brancos, aceitem continuar convivendo com aqueles que chamam de “invasores”. Foi o que garantiram à Agência Brasil líderes da comunidade Jawari, que montaram um bloqueio na estrada RR-319 para impedir que os produtores de arroz levem material de uso em lavoura para suas fazendas que ficam na Raposa Serra do Sol.

“A terra é nossa e foi invadida por esses homens. Quando nascemos, ninguém conhecia esses arrozeiros aqui”, afirmou Perciliano Januário. “Nós ficamos revoltados porque eles ficam enriquecendo e impedindo nossa pesca e nossa caça. Ninguém vai arredar o pé, porque nós não aceitamos eles ficarem aqui na nossa terra, que é o cemitério de nossos antepassados.”

Mostrando fotos, o tuxaua (chefe) Francisco Constantino Júnior relata que, em novembro de 2004, após a construção de mais malocas, a comunidade teria sido atacada com bombas e tiros, segundo ele, a mando dos arrozeiros da região. “Os arrozeiros não gostam da gente, por isso, não aceitamos eles aqui. Agora mesmo nossos parentes foram baleados no Surumu”, lembrou Constantino, referindo-se ao atentado sofrido nesta semana por índios que ocupavam a fazenda do líder dos arrozeiros Paulo César Quartiero.

Os índios também definem como “mentiras” as acusações dos arrozeiros de que eles seriam manipulados por padres e organizações não-governamentais estrangeiras para defenderem a demarcação da Raposa Serra do Sol em área contínua. “Padre não tem nada a ver com isso, e estrangeiros são eles [arrozeiros]”, rebateu Januário, apoiado em seguida pelo professor indígena Jaime Araújo: “Nós também somos inteligentes e sabemos decidir sozinhos o que queremos.”

Questionados, os indígenas se dizem satisfeitos com a postura adotada pelo presidente da República em relação ao conflito. “Ele assinou e reconheceu nossa terra. Gostamos até aqui e não queremos que o tribunal altere nossa homologação”, ressaltou o tuxaua Constantino. Nem mesmo a retirada do Lago de Caracaranã – ponto turístico do estado – é admitida por ele: “[o lago] Está dentro da reserva e não vamos ceder”.

O Supremo Tribunal Federal deve julgar em no máximo três semanas ações pendentes que contestam a demarcação da Raposa Serra do Sol em área contínua e decidir se os não-índios podem permanecer em suas posses.

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Indígena sinaliza que desbloqueio de estrada pode ser apenas uma trégua

12 de Maio de 2008 - 10h23 - Última modificação em 12 de Maio de 2008 - 11h28
Marco Antônio Soalheiro
Enviado especial
Roosewelt Pinheiro/ABr
Comunidade São Francisco, Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RR): Agentes da PF são recebidos pelo coordenador do Conselho Indígena de Roraima, Jaci José de Souza, para negociação que resultou em desbloqueio na RR 319
Comunidade São Francisco – Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RR) - Encerrada a reunião com agentes da Polícia Federal (PF) e da Fundação Nacional do Índio (Funai) em que índios da Comunidade São Francisco concordaram em desbloquear a estrada RR-319, mais conhecida como Transarrozeira, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RR), o tuxaua Irineu Aniceto sinalizou que o acordo pode ser apenas uma trégua.

Ela estaria condicionada ao posicionamento do Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento de ações pendentes que contestam a demarcação da reserva em área contínua.

“A nossa esperança é que o Supremo possa favorecer o nosso direito na decisão. Temos 20 dias para aguardar e aí vamos ver qualquer atitude que podemos tomar”, disse Aniceto. “O povo está todo nervoso. Vai piorar a vida [uma eventual decisão pela permanência dos não-índios]”, completou o coordenador do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Jaci José de Souza.

A negociação entre a comunidade e os agentes federais teve momentos de tensão, observados à distância pela Agência Brasil. Os índios disseram se sentir ameaçados dentro da terra que já consideram deles e cobraram mais segurança.

Relataram que já chegaram à reserva carros “carregados” de pistoleiros e armas que teriam sido “encomendadas” pelos arrozeiros. “Já fomos baleados e só depois a segurança chegou”, reclamou um dos líderes durante a reunião.

A PF reiterou estar atenta ao monitoramento da área e pediu colaboração dos índios em avisar qualquer fato estranho. “A gente pode mobilizar as equipes no sentido de dar a cobertura necessária, prender em flagrante quem estiver armado ou quem insistir em desobedecer à lei e à ordem”, explicou o superintendente da PF em Roraima, José Maria Fonseca, que conduziu pessoalmente a negociação.

Alheias à movimentação estranha no local, com a presença de homens armados, crianças da comunidade brincavam em um banco de terra sem imaginar que, em algumas semanas, os ministros do STF vão emitir uma decisão que pode afetar o rumo de suas vidas.

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Advogado de Quartiero diz que produtor é vítima de perseguição dos órgãos federais

10 de Maio de 2008 - 12h18 - Última modificação em 11 de Maio de 2008 - 15h30
Marco Antônio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil
Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RR) - O advogado Victor Fagundes, responsável pela defesa do líder do arrozeiros de Roriama, Paulo César Quartirero, disse hoje (10) que o produtor é vitima de perseguição dos órgãos federais.

“Os órgãos estatais querem fazer dele o inimigo número um, quando ele apenas demonstra empenho em, defender sua propriedade”.

Segundo Fagundes, Quartiero vai recorrer da multa de R$ 30,6 milhões aplicada pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por degradações ambientais ocorridas em uma de suas fazendas. “Vamos discutir o valor da multa, que é obviamente exorbitante”.

Na próxima segunda-feira (12) o advogado acredita que o pedido de liberdade provisoria para Quartiero será deferido pelo desembargador federal Cândido Ribeiro.

O arrozeiro está preso desde a última terça-feira (6) por porte ilegal de arma e artefatos explosivos, depois que funcionários dele balearam índios na Fazenda Depósito.

Fagundes relatou que Quartiero tem encarado a prisão com serenidade. “Ele está confiante de que a Justiça brasileira em algum momento vai ouvir a voz de trabalhadores que estão sem produzir”.

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Índios querem estrada da Raposa bloqueada até julgamento de demarcação no STF

11 de Maio de 2008 - 09h56 - Última modificação em 11 de Maio de 2008 - 11h17
Marco Antônio Soalheiro
Enviado especial
Roosewelt Pinheiro/ABr
Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RR) - Registro do momento em que índios impedem a passagem do arrozeiro Ivo Barili por bloqueio montado na estrada RR 319
Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RR) - Quem chega à Raposa pela RR-319, estrada conhecida como Transarrozeira, encontra, alguns quilômetros adiante, um bloqueio de estacas de madeira e arame.

A barreira foi montada por índios orientados pelo Conselho Indígena de Roraima para impedir que produtores de arroz levem às suas fazendas material usado nas lavouras, como fertilizantes e sementes.

Eles avisam que a passagem só será permitida ao arrozeiro que quiser apenas retirar pertences. “Só aceitamos a saída. Entrada com veneno não aceitamos mais, pois está poluindo nossa água dos igarapés”, disse o agricultor indígena Valquir Paixão, de 54 anos.

Quando alguém se aproxima da barreira, rapidamente índios da Comunidade Jawari saem de suas malocas e iniciam a identificação dos estranhos.

Pedem documento de identidade para comparar com crachá funcional e, só depois de desfeita a desconfiança, aceitam dar entrevista, precedida de uma apresentação dos repórteres aos moradores, reunidos em um barracão.

O tuxaua Francisco Constantino Júnior, de 42 anos, é quem responde primeiro, observado por praticamente todos do local: “O bloqueio foi uma decisão das comunidades da Raposa, e não vamos abrir mão até o julgamento [das ações que contestam a demarcação em área contínua]no Supremo [Supremo Tribunal Federal]. Queremos que os arrozeiros saiam”.

A equipe da Agência Brasil estava presente quando os índios impediram a passagem do arrozeiro Ivo Barili, que, acompanhado da esposa e de uma repórter de Boa Vista, pretendia ir de caminhonete para sua fazenda.

“Eles [arrozeiros] não conversam com a gente [sobre] o que querem fazer, e nós só liberamos a entrada para retirar bens”, justificou Perciliano Januário, tuxaua [chefe] de comunidade vizinha à Jawari.

O bloqueio da estrada começou segunda-feira (5). A Polícia Federal foi ao local no dia seguinte e, segundo o delegado Fernando Romero, fez um acordo com a comunidade para que liberasse a estrada.

A trégua durou apenas 24 horas. “Eles abriram e depois fecharam, apesar do nosso pedido para que retirassem [as estacas e o arame]. Os ânimos estão exaltados. Já solicitamos uma participação mais ativa da Funai [Fundação Nacional do Índio], porque isso extrapola nossas atribuições”, disse Romero.

Os indígenas alegam, no entanto, que quem não cumpriu o acordado foi a PF. “O acordo era para que a polícia passasse a controlar a entrada dos arrozeiros só para retirarem a colheita, mas eles [agentes da PF] não apareceram”, justifcou o professor indígena Jaime Araújo.

O delegado Romero afirmou que o desbloqueio da estrada à força só poderia ser feito com amparo em autorização judicial. O arrozeiro Ivo Barili já entrou com pedido na Justiça Federal e aguarda uma decisão a qualquer momento.

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Arrozeiro impedido de entrar em fazenda na Raposa diz que não é inimigo de índios

11 de Maio de 2008 - 10h13 - Última modificação em 11 de Maio de 2008 - 11h25
Marco Antônio Soalheiro
Enviado especial
Roosewelt Pinheiro/ABr
Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RR) - O arrozeiro Ivo Barili diz que aceita sair da reserva se o Supremo Tribunal Federal assim decidir, desde que receba indenização adequada
Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RR) - Com um pedido na Justiça Federal, o produtor de arroz Ivo Barili, de 48 anos, tenta encerrar o bloqueio que índios orientados pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR) montaram na RR-319.

A estrada é conhecida como Transarrozeira e fica dentro da Terra Indígena Raposa Serra do Sol.

Desde o início da semana, Barili não consegue levar à sua fazenda produtos que usa na lavoura como fertilizantes, insumos, sementes e óleo diesel.

Apesar disso, ele acredita que é possível conviver com os índios na reserva: “Não tenho inimigos índios. Já dei até carona para muitos deles, e os índios só estão fazendo isso, insistindo nessa homologação, porque são influenciados pelo CIR”.

A Fazenda Tatu, propriedade de Barili, tem 9,6 mil hectares e produz 180 mil sacas de arroz por ano. No momento, o produtor informa que 25 mil sacas precisam ser retiradas da fazenda – a quantidade está avaliada em R$ 1000 mil e demanda ser puxada em pelo menos 30 viagens de caminhão.

O arrozeiro se diz disposto a deixar a reserva se o Supremo Tribunal Federal assim entender: “O que o Supremo decidir eu cumpro, mas queria que os índios fizessem o mesmo”.

A condição exigida pelo produtor para aceitar a saída, se determinada pela Justiça, é uma correção nos valores de indenização propostos pela Fundação Nacional do Índio [Funai}, que lhe ofereceu R$ 210 mil. Na avaliação de Barili, seriam “R$ 9 milhões como indenização justa e prévia”, além da realocado em outra área apta ao cultivo.

“Comprei minha fazenda faz 14 anos, com documentação centenária”, afirmou o produtor.

 
 

Fonte: Agência Brasil - Radiobras

 
 
 
 

 

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