13 de
Maio de 2008 A Ministra do Meio Ambiente, Marina
Silva, sai do governo Lula depois de intensa pressão
do agronegócios e daqueles que defendem o
crescimento insustentável.
São Paulo (SP), Brasil — Ministra do Meio
Ambiente saiu sob pressão do agronegócio
e dos defensores do crescimento a qualquer custo.
Carlos Minc, atual secretário de Meio Ambiente
do Estado do Rio de Janeiro, e Jorge Viana, ex-governador
do Acre, estão cotados para assumir o cargo.
Pressionada por setores do agronegócio,
governadores de estado e políticos da bancada
ruralista, a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente,
entregou nesta terça-feira sua carta de demissão
ao presidente Lula, de caráter irrevogável.
Era a última pessoa no governo a defender
o meio ambiente e uma política de desenvolvimento
sustentável. Com sua saída, a ala
do crescimento a qualquer preço, capitaneada
pela ministra Dilma Roussef, venceu o cabo-de-guerra
contra aqueles que buscavam conciliar desenvolvimento
com sustentabilidade.
Entre os nomes cotados para assumir
o cargo estão Carlos Minc, secretário
de Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro e deputado
estadual do PT-RJ, e Jorge Vianna, ex-governador
do Acre.
Marina Silva caiu porque não
suportou as pressões para que fossem revistas
medidas de combate ao desmatamento e de punição
a quem destrói a floresta amazônica
recentemente anunciadas pelo governo federal, como
a determinação para que os bancos
(oficiais e privados) só concedessem créditos
a proprietários de terras que não
desmatassem e regularizassem suas terras no Instituto
Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (Incra). Políticos da região
amazônica, como o governador do Mato Grosso,
Blairo Maggi, e pesos-pesados do agronegócio
vinham exigindo do governo uma posição
mais favorável ao setor, o que provocou constantes
choques com o Ministério do Meio Ambiente.
"O pedido de demissão
da ministra Marina comprova o descaso do governo
Lula com a causa ambiental e também com a
proteção da Amazônia",
afirma Paulo Adario, diretor da campanha de Amazônia
do Greenpeace. Segundo ele, Marina sai e leva junto
a toda a credibilidade que tinha transferido para
o governo Lula nos últimos cinco anos.
"Ela vai embora e leva junto
essa roupa de credibilidade ambiental, deixando
o rei Lula completamente nu", critica Adario.
Marcelo Furtado, diretor de Campanhas
do Greenpeace, diz que a demissão da ministra
é uma crônica de uma morte anunciada.
"O governo Lula já
vinha dando vários sinais de que, para ele,
a agenda ambiental era uma pedra no sapato",
afirma.
"A liberação
dos transgênicos no país, a retomada
do programa nuclear brasileiro, com o anúncio
da construção de Angra 3 e outras
quatro usinas nucleares no nordeste, são
apenas algumas de várias ações
que demonstraram o compromisso do governo Lula com
o desenvolvimento a qualquer custo e não
com a sustentabilidade."
UM VÔO PARA O PASSADO
A saída da ministra Marina
Silva acontece um dia antes da chegada da primeira-ministra
da Alemanha, Angela Merkel ao Brasil. A Alemanha
é a atual sede da Conferência da ONU
para a biodiversidade, que nasceu no Rio de Janeiro
na Eco-92 e tem como sua atual presidente justamente
a Marina Silva.
"A Marina iria passar o cargo
para o ministro alemão de Meio Ambiente,
durante uma solenidade muito aguardada pela primeira-ministra
Merkel, que pretende marcar sua gestão como
ambientalmente correta", afirma Paulo Adario.
"Mas o Brasil que ela verá durante sua
visita é diferente do país que existia
antes dela sair da Alemanha. Aquele Brasil não
existe mais, com a saída da ministra Marina.
Durante o seu vôo, o Brasil mudou, e para
pior. Voltou a ser um país da década
de 1970, quando a questão ambiental era equivocadamente
considerado um entrave para o desenvolvimento do
país."