Cães
farejadores especializados na localização
de fezes de animais ameaçados de extinção
ajudam pesquisadores a monitorar mamíferos
na região do Parque Nacional das Emas; técnica
inédita no Brasil é semelhante à
utilizada na localização de drogas
Brasília, 12 de maio de 2008 — Quatro cães
treinados para detectar fezes de animais estão
ajudando pesquisadores da Universidade de Washington,
instituição parceira da ONG Conservação
Internacional do Brasil (CI-Brasil), a monitorarem
as espécies de mamíferos ameaçados
que vivem na região oeste do Parque Nacional
das Emas e nas fazendas de seu entorno, nos municípios
de Costa Rica (MS) e de Chapadão do Céu
(GO). A pesquisa, que está sendo realizada
em uma área de três mil quilômetros
quadrados, o equivalente a trezentos mil campos
de futebol, tem como objetivo avaliar como alguns
mamíferos utilizam os ambientes nativos remanescentes
na paisagem. Por meio da análise das fezes
encontradas pelos cães, os pesquisadores
conseguem informações sobre a ocorrência,
a dieta, o estresse hormonal, os parasitas e até
a identidade genética dos animais monitorados.
Esses dados irão contribuir na análise
de como os animais estão utilizando os ambientes
dentro e fora do parque, em especial nas propriedades
privadas da região. Dessa forma, as ações
de conservação poderão estar
mais afinadas com as demandas dos animais e as dos
fazendeiros.
O projeto faz parte dos estudos
para a tese de doutorado da bióloga americana
Carly Vynne, pesquisadora do Centro para Biologia
da Conservação da Universidade de
Washington (CCB). Além da CI-Brasil, o projeto
conta com o apoio da Universidade de Brasília,
do Fundo para a Conservação da Onça
Pintada e do Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade, entidade encarregada da gestão
do Parque Nacional das Emas.
A pesquisa, que começou
em 2006, depois de um breve período piloto
em 2004, está em fase de conclusão.
A análise das primeiras amostras coletadas
revela que fazendas que mantêm menos de 30%
de sua área preservada apresentam menos presença
de animais. Os dados revelam que todas as espécies
pesquisadas ainda utilizam a área do entorno
do parque. “O entorno do parque fornece uma área
de grande importância para as espécies
como habitat principal ou como corredor de movimento”,
diz Vynne. A pesquisadora verificou, por exemplo,
que as onças não habitam propriedades
devastadas. “Na maioria das vezes as onças
ficam restritas à área do parque e
raramente saem para outras áreas. Uma das
razões para isso é que elas são
muito exigentes por ambientes conservados”, afirma.
Segundo a pesquisadora, as onças não
foram registradas em nenhuma das áreas com
menos que 20% de cobertura vegetal, que é
um limite legal no Brasil para áreas de Cerrado.
“Esse é um alerta para que desenvolvamos
estratégias de conservação
que considerem a recuperação de áreas
degradadas na região”, afirma Vynne.
Segundo Vynne, o uso de cães
farejadores treinados facilita os trabalhos de monitoração
de espécies raras ou com baixa densidade
populacional, o que é o caso da maioria das
espécies ameaçadas de extinção
do Cerrado, como a onça-pintada, a onça-parda,
a anta, o tamanduá-bandeira, o tatu-canastra
e o lobo-guará. O método tem a vantagem
de representar uma abordagem não intrusiva,
ou seja, não é necessário capturar
os animais e sedá-los para a coleta de material
biológico. Além disso, ele permite
a realização das pesquisas com um
mínimo de amostras. Para o professor Jader
Marinho Filho, da Universidade de Brasília,
entidade responsável pelo projeto perante
o Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), o conjunto
de dados obtidos com o método somente seria
possível com a aplicação de
técnicas mais caras, como a rádio-telemetria,
que demanda também um grande esforço
de trabalho em campo.
O método aplicado por Vynne
é semelhante ao utilizado para a localização
de drogas por cães. Quando as fezes são
localizadas pelos cachorros, o pesquisador acompanhante
marca o local com GPS (sistema de posicionamento
global) e coleta as amostras. Os cães são
premiados com bolas de tênis pelo bom trabalho
desempenhado. No caso desse projeto, as fezes coletadas
são enviadas para análise laboratorial
no CCB-EUA, onde traços de DNA ajudam a avaliar
a quantidade de cada animal encontrada pelos cães.
Além disso, pelas fezes é possível
avaliar a saúde fisiológica de cada
espécie. Com o auxílio de imagens
obtidas por satélite, os dados são
correlacionados com as características dos
ambientes nos quais as amostras foram coletadas..
Segundo Jader Marinho Filho, as
informações são essenciais
para entender como os animais estão se adaptando
às mudanças ambientais. “Os níveis
de hormônios do estresse nas fezes dos animais
são indicativos importantes na avaliação
de sua capacidade de reprodução em
determinado ambiente”, diz o professor. “Esses dados
nos permitem estimar quais mamíferos terão
condições de se reproduzir ou se eles
estarão fadados a desaparecer na região”,
completa.
Para Ricardo Machado, diretor
do Programa Cerrado-Pantanal da CI-Brasil, o entendimento
das diferentes respostas dos animais à fragmentação
dos ecossistemas é fundamental para a definição
de estratégias de conservação.
Com o desmatamento de mais de 60% do Cerrado brasileiro,
os parques nacionais tendem a ficar isolados e cercados
por campos agrícolas. Por isso, de acordo
com Machado, a localização dos rastros
das espécies estudadas poderá fornecer
importantes subsídios para a identificação
de locais-chave para o estabelecimento de corredores
de conexão entre áreas nativas isoladas.
O projeto também mostra quão importante
é o papel dos proprietários rurais
para a sobrevivência das espécies ameaçadas:
“se quisermos falar em desenvolvimento sustentável,
temos que encontrar formas de manter as espécies
nativas em paisagens produtivas. Nesse sentido,
os cães nos ajudam a identificar quais são
as áreas mais importantes”, conclui Machado.
A Conservação Internacional
(CI) foi fundada em 1987 com o objetivo de conservar
o patrimônio natural do planeta - nossa biodiversidade
global - e demonstrar que as sociedades humanas
são capazes de viver em harmonia com a natureza.
Como uma organização não-governamental
global, a CI atua em mais de 40 países, em
quatro continentes. A organização
utiliza uma variedade de ferramentas científicas,
econômicas e de conscientização
ambiental, além de estratégias que
ajudam na identificação de alternativas
que não prejudiquem o meio ambiente. A Conservação
Internacional tem sede em Belo Horizonte-MG. Outros
escritórios estão estrategicamente
localizados em Brasília-DF, Belém-PA,
Campo Grande-MS e Salvador-BA. Para mais informações
sobre os programas da CI no Brasil, visite www.conservacao.org.
+ Mais
Audiência Pública
discute reservas extrativistas
Lideranças das áreas
de Reservas Extrativistas a serem regularizadas
participarão de audiência pública
na Câmara dos Deputados. Eles também
promoverão manifestação em
frente ao Congresso
Brasília, 12 de maio de 2008 — Cerca de 200
pessoas – agricultores familiares, extrativistas,
ribeirinhos, pescadores – participarão, no
dia 13 de maio, de uma Audiência Pública
no Plenário 2 da Câmara dos Deputados,
a partir das 10h, para discutir a situação
das Reservas Extrativistas (RESEX). A Audiência
está sendo convocada pelo Ministério
Público Federal. O atraso na definição
da situação das unidades vem acirrando
os conflitos e pressões contra os extrativistas
nas diversas regiões.
A mobilização também
pretende estimular a promoção e o
fortalecimento da presença do Estado nessas
regiões, onde as comunidades locais vêm
sofrendo ameaças, inclusive de morte, por
parte de opositores das reservas. Alguns dos extrativistas
ameaçados estiveram em Brasília para
pedir proteção ao Ministério
Público e foram incluídos no programa
de proteção da Secretaria Especial
de Direitos Humanos.
Manifestação - O
movimento, chamado Ação pelas Reservas
Extrativistas no Brasil, promoverá, também,
uma manifestação em frente ao Congresso
Nacional, com o objetivo pressionar o Governo Federal
a acelerar os processos de criação,
ampliação e retificação
do decreto de nove reservas extrativistas nas regiões
Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Os processos de criação
das reservas extrativistas Médio Xingu (PA),
Baixo Rio Branco-Juaperi (AM), Montanha Mangabal
(PA), Ituxi (AM), Cassurubá (BA) encontram-se
paralisados, alguns há mais de um ano. Já
as RESEX Recanto das Araras do Terra Ronca (GO)
e Lago do Cedro (GO) esperam pela retificação
de seus decretos de criação, e a RESEX
Ciríaco (MA) aguarda sua ampliação.
Contag apóia iniciativa
– Procurada pelo Grupo de Trabalho Ação
pela Criação das RESEX, formado por
diversos movimentos sociais e ONGs , a Contag, que
já apóia as ações dos
extrativistas, se juntou à iniciativa, integrando-a,
pois essas demandas constam da pauta do Grito da
Terra Brasil e da Marcha das Margaridas, considerando
que grande parte dessas famílias são
filiadas ao Movimento Sindical de Trabalhadores
e Trabalhadoras Rurais (MSTTR).
As lideranças destes trabalhadores
e trabalhadoras rurais participarão, inclusive,
da audiência pública e debaterão
com o Governo Federal a regularização
das áreas reivindicadas pelas comunidades.
O movimento das RESEX se dará em meio ao
Grito da Terra Brasil, organizado pela Contag.
O Grito da Terra Brasil (GTB)
é organizado pela Contag todos os anos, e
possui um caráter reivindicatório,
cuja pauta é negociada com o Governo Federal
antes, durante e depois dessa manifestação.
O GTB é apoiado pelas federações
(Fetag) nos estados e Distrito Federal e pelos sindicatos
filiados (STTR) que formam o MSTTR representando
em torno de 25 milhões de trabalhares e trabalhadoras
rurais.
WWF-Brasil, ISA, Conselho Nacional
dos Seringueiros (CNS); Rede MangueMar-Bahia; FVPP
- Fundação Viver Produzir Preservar;
LAET - Laboratório Agroecológico da
Transamazônica e as instituições
que compõem a “Coalizão SOS Abrolhos”:
Conservação Internacional; Fundação
SOS Mata Atlântica; Instituto Terramar; Grupo
Ambientalista da Bahia – Gambá; Instituto
Baleia Jubarte; Rede de ONGs da Mata Atlântica;
Environmental Justice Foundation – EJF; Patrulha
Ecológica; Associação de Estudos
Costeiros e Marinhos de Abrolhos - ECOMAR; Núcleo
de Estudos em Manguezais da UERJ; Movimento Cultural
Arte Manha; Centro de Defesa dos Direitos Humanos
de Teixeira de Freitas; Mangrove Action Project
– MAP; Coalizão Internacional da Vida Silvestre
- IWC/BRASIL; Aquasis – Associação
de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas
Aquáticos; Agência Brasileira de Gerenciamento
Costeiro; Centro de Estudos e Pesquisas para o Desenvolvimento
do Extremo Sul da Bahia – CEPEDES; PANGEA - Centro
de Estudos Sócio Ambientais; Instituto BiomaBrasil,
Associação Flora Brasil, Fundação
Vitória Amazônica – FVA; Associação
dos Artesão do Rio Jauperis – AARJ; Associação
Ecologica dos Agroextrativistas do Baixo Rio Branco/Jauaperis.
ECOEX, Comissão PAstoral da Terra - regional
AM, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Novo Airão;
Greenpeace; Sindicato dos Trabalhadores Rurais de
Lábrea; Conselho Nacional dos Seringueiros
- Regional Lábrea, Grupo de Trabalho Amazônico
- Regional Lábrea; Comissão
Pastoral da Terra de Lábrea; Conselho Indigenista
Misionário de Lábrea; Organização
dos Povos Indígenas do Médio Purus;
Associação dos Produtores Rurais da
Assembléia de Deus do Rio Ituxi; Asociação
dos Trabalhadores e Trabalhadoras Agro-Extrativistas
do Médio Purus.