20 de
Maio de 2008 Ministro do Meio Ambiente da Alemanha,
Sigmar Gabriel, recebe abaixo-assinado em defesa
das florestas e do clima das mãos de dois
jovens representantes do Greenpeace.
Internacional — Mas falta compromisso financeiro
dos governos reunidos na Conferência da ONU
sobre Biodiversidade, que acontece na Alemanha.
Transferir dinheiro das nações
ricas para países em desenvolvimento através
de um mecanismo global de financiamento para acabar
com o desmatamento e, ao mesmo tempo, preservar
a biodiversidade, respeitando os direitos de povos
indígenas e comunidades locais. Esta é
a proposta para proteger as florestas tropicais
e o clima do planeta, que o Greenpeace detalhou
nesta terça-feira na Convenção
sobre Diversidade Biológica (CDB), que acontece
até o próximo dia 30 de maio, em Bonn,
na Alemanha.
A proposta do Greenpeace, batizada
de Florestas pelo Clima, tem o potencial de arrecadar
recursos que podem chegar a 14 bilhões de
euros por ano destinados a reduzir rápida
e drasticamente as emissões provenientes
de desmatamento. As nações industrializadas
– que historicamente têm sido os maiores poluidores
do clima – serão chamadas a contribuir para
um novo fundo global cujos recursos serão
destinados a aumentar a governança em países
e regiões em desenvolvimento com grandes
áreas de floresta, como Brasil, Indonésia
e África. Por sua vez, os países que
decidirem participar desse mecanismo terão
de apresentar reduções progressivas
e permanentes da perda de cobertura florestal.
“A proposta do Greenpeace mostra
que há uma solução viável
para zerar o desmatamento das florestas tropicais
em menos de 10 anos”, disse Roman Czebiniak, assessor
político do Greenpeace Internacional, que
está em Bonn. Segundo ele, a iniciativa Florestas
pelo Clima deve ser incluída no próximo
período de compromisso do Protocolo de Kyoto,
que começa em 2012.
A iniciativa ajudará a
viabilizar a proposta, apresentada ao governo brasileiro
em outubro de 2007 pelo Greenpeace e outras oito
ONGs, de um pacto nacional para zerar o desmatamento
da Amazônia até 2015. A incorporação
da proposta do Desmatamento Zero às políticas
públicas brasileiras foi sugerida na segunda-feira
pelo novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc,
durante reunião em que o presidente Lula
o confirmou no cargo.
O desmatamento das florestas tropicais
é responsável por aproximadamente
20% das emissões de gases do efeito estufa
na atmosfera – mais do que as emissões de
todos os aviões, trens e carros do mundo
inteiro. O Brasil é o quarto maior emissor
mundial de gases estufa.
“O combate ao aquecimento global
passa pela preservação das florestas
tropicais e a contribuição do Brasil
para evitar as mudanças climáticas
será zerar o desmatamento na Amazônia”,
disse o coordenador da Campanha Amazônia,
do Greenpeace, Paulo Adario.
A iniciativa Florestas pelo Clima
foi apresentada num evento paralelo durante a recente
conferência da Convenção do
Clima em Bali, em dezembro de 2007. A proposta foi
agora lançada na CDB, pois o Greenpeace acredita
que as convenções da ONU nascidas
na Rio-92 – de Clima e de Diversidade Biológica
precisam acordar estratégias comuns para
a viabilização dos recursos necessários
para preservar a vida no planeta.
“Floresta não é
só carbono. Além de manter o equilíbrio
climático do planeta, as florestas abrigam
uma enorme diversidade e são fundamentais
para o modo de vida de milhares de comunidades tradicionais
e povos indígenas”, disse Czebiniak. “É
muito importante que, em algum momento, a CDB e
a Convenção de Clima discutam como
implementar a proposta de forma integrada”.
Enquanto a proposta não
é implementada...
Cientistas, políticos e
ONGs concordam que será preciso pelo menos
30 bilhões de euros por ano para salvar as
florestas e implementar uma rede global de áreas
protegidas terrestres e marinhas. O economista-chefe
do governo inglês, Sir Richard Stern, estima
que com 15 bilhões de euros/ano seria possível
reduzir pela metade as emissões de gases
estufa decorrentes do desmatamento tropical. O Pacto
pelo Desmatamento Zero, das ONGs brasileiras, estima
em R$ 1 bilhão/ ano o volume de recursos
necessários para trazer governança
à Amazônia, melhorar a vida das comunidades
locais e pagar compensações por serviços
ambientais prestados pelas florestas.
O mundo tem dinheiro para proteger
a biodiversidade terrestre e os grandes recursos
pesqueiros mundiais, para salvar florestas tropicais
como a Amazônia da destruição
que provoca mudanças climáticas e,
ao mesmo tempo, redirecionar o desenvolvimento para
beneficiar os povos da floresta.
“O problema é que até
agora os líderes dos países ricos
preferem gastar muito mais em guerras e subsídios
para atividades poluentes do que na preservação
da vida e o futuro de nossos filhos e netos,” diz
Adario, citando o prêmio Nobel de Economia
Joseph Stiglitz, que calculou que os Estados Unidos
gastam entre US$ 15 e US$ 21 bilhões por
mês na guerra do Iraque.
“O que falta no mundo – e no Brasil
- é bom-senso e priorização
adequada”, insiste Adario, lembrando que o presidente
Lula prefere apostar cada vez mais no crescimento
econômico puxado pelo agronegócio e
por grandes obras que ameaçam a Amazônia
e outros ecossistemas, em vez de optar por um modelo
de desenvolvimento baseado no uso responsável
de nossos recursos naturais.
O Greenpeace considera que, enquanto
o mecanismo Florestas pelo Clima proposto pela organização
à ONU não vem, é preciso adotar
medidas de emergência para reduzir o desmatamento
e a perda da diversidade biológica mundial.
“Não podemos esperar até
2012 para que a nossa proposta seja implementada.
Por isso, estamos pedindo que os países ricos
financiem um fundo global de emergência para
a proteção da biodiversidade agora”,
disse Christoph Thies, da campanha de Florestas
do Greenpeace Internacional.
"A Alemanha tem liderado
a discussão de questões ambientais.
Como país-sede da CDB, o governo alemão
tem a oportunidade histórica de provar que
está levando a questão a sério,
dando o exemplo com a contribuição
de 2 bilhões de euros pelos próximos
cinco anos, já a partir de 2009", afirmou.