24/05/2008 Depois do término
do evento que reuniu em Altamira mais de
mil pessoas, entre indígenas, ribeirinhos,
extrativistas, ambientalistas e movimentos sociais,
entre 19 e 23 de maio, foi divulgada a carta final.
Nela, os participantes avaliam as ameaças
ao Rio Xingu, apresentam à sociedade brasileira
um projeto de desenvolvimento para a região
e exigem das autoridades públicas sua implementação.
Leia abaixo.
CARTA XINGU VIVO PARA SEMPRE
Nós, representantes das
populações indígenas, ribeirinhas,
extrativistas, dos agricultores e agricultoras familiares,
dos moradores e moradoras da cidade, dos movimentos
sociais e das organizações não-governamentais
da Bacia do rio Xingu, nos reunimos no encontro
Xingu Vivo para Sempre, realizado na cidade de Altamira
(PA), entre os dias 19 e 23 de maio de 2008, para
discutir, avaliar e denunciar as ameaças
ao rio que nos pertence e ao qual pertencemos nós
e reafirmar o modelo de desenvolvimento que queremos.
Nós, que somos os ancestrais
habitantes da Bacia do Xingu, que navegamos seu
curso e seus afluentes para nos encontrarmos; que
tiramos dele os peixes que nos alimentam; que dependemos
da pureza de suas águas para beber sem temer
doenças; que dependemos do regime de cheias
e secas para praticar nossa agricultura, colher
os produtos da floresta e que reverenciamos e celebramos
sua beleza e generosidade a cada dia que nasce;
nós temos nossa cultura, nossa espiritualidade
e nossa sobrevivência profundamente enraizadas
e dependentes de sua existência.
Nós, que mantivemos protegidas
as florestas e seus recursos naturais em nossos
territórios, em meio à destruição
que tem sangrado a Amazônia, nos sentimos
afrontados em nossa dignidade e desrespeitados em
nossos direitos fundamentais com a projeção,
por parte do Estado Brasileiro e de grupos privados,
da construção de barragens no Xingu
e em seus afluentes, a exemplo da hidrelétrica
de Belo Monte. Em nenhum momento nos perguntaram
o que queríamos para o nosso futuro. Em nenhum
momento nos ouviram sobre a construção
de hidrelétricas. Nem mesmo os povos indígenas,
que têm esse direito garantido em lei, foram
consultados,. Mesmo assim, Belo Monte vem sendo
apresentada pelo governo como fato consumado, embora
sua viabilidade seja questionada.
Estamos cientes de que interromper
o Xingu em sua Volta Grande causará enchentes
permanentes acima da usina, deslocando milhares
de famílias ribeirinhas e moradores e moradoras
da cidade de Altamira, afetando a agricultura, o
extrativismo e a biodiversidade, e encobrindo nossas
praias. Por outro lado, o barramento praticamente
secará mais de 100 quilômetros de rio,
o que impossibilitará a navegação,
a pesca e o uso da água por muitas comunidades,
incluindo aí várias terras e comunidades
indígenas.
Também estamos preocupados
com a construção de Pequenas Centrais
Hidrelétricas (PCHs) nos rios formadores
do Xingu. Algumas já foram construídas,
outras já estão autorizadas e até
hoje não houve qualquer tipo de avaliação
dos impactos que esse conjunto de obras causará
aos 14 povos indígenas do Parque Indígena
do Xingu. Essas barragens profanam seus sítios
sagrados e podem acabar com os peixes dos quais
se alimentam.
Assim, nós, cidadãos
e cidadãs brasileiras, vimos a público
comunicar à sociedade e às autoridades
públicas federais, estaduais e municipais
a nossa decisão de fazer valer o nosso direito
e o de nossos filhos e netos a viver com dignidade,
manter nossos lares e territórios, nossas
culturas e formas de vida, honrando também
nossos antepassados, que nos entregaram um ambiente
equilibrado. Não admitiremos a construção
de barragens no Xingu e seus afluentes, grandes
ou pequenas, e continuaremos lutando contra o enraizamento
de um modelo de desenvolvimento socialmente injusto
e ambientalmente degradante, hoje representado pelo
avanço da grilagem de terras públicas,
pela instalação de madeireiras ilegais,
pelo garimpo clandestino que mata nossos rios, pela
ampliação das monoculturas e da pecuária
extensiva que desmatam nossas florestas.
Nós, que conhecemos o rio
em seus meandros, vimos apresentar à sociedade
brasileira e exigir das autoridades públicas
a implementação de nosso projeto de
desenvolvimento para a região, que inclui:
A criação de um
fórum de articulação dos povos
da bacia que permita uma conversa permanente sobre
o futuro do rio e que possa caminhar para a criação
de um Comitê de Gestão de Bacia do
Xingu;
A consolidação e proteção
efetiva das Unidades de Conservação
e Terras Indígenas bem como o ordenamento
fundiário de todas as terras públicas
da região da Bacia do Xingu.
A imediata criação da Reserva Extrativista
do Médio Xingu.
A imediata demarcação da TI Cachoeira
Seca, com o assentamento digno dos ocupantes não
indígenas, bem como a retiradas dos invasores
da TI Parakanã.
A implementação de medidas que efetivamente
acabem com o desmatamento, com a retirada de madeira
ilegal e com a grilagem de terras.
O incremento de políticas públicas
que incentivem o extrativismo e a consolidação
da agricultura familiar feita em bases agroecológicas
e que valorizem e estimulem a comercialização
dos produtos da floresta.
Efetivação de políticas públicas
capazes de promover a melhoria e instalação
de sistemas de tratamento de água e esgoto
nos municípios.
O incremento de políticas públicas
que atendam as demandas de saúde, educação,
transporte, segurança, adequadas às
nossas realidades.
Desenvolvimento de políticas públicas
que ampliem e democratizem os meios de comunicação
social.
O incremento de políticas públicas
para a ampliação das experiências
de recuperação de matas ciliares e
de áreas degradadas pela agropecuária,
extração de madeira e mineração.
Que nenhum outro dos formadores do Xingu venha a
ser barrado, como já aconteceu ao rio Culuene
com a implantação da PCH Paranatinga
II.
Proteção efetiva do grande corredor
de sóciobiodiversidade formado pelas terras
indígenas e unidades de conservação
do Xingu.
Nós, os que zelamos pelo nosso rio Xingu,
não aceitamos a invisibilidade que nos querem
impor e o tratamento desdenhoso que o poder público
tem nos dispensado. Nos apresentamos ao País
com a dignidade que temos, com o conhecimento que
herdamos, com os ensinamentos que podemos transmitir
e o respeito que exigimos.
Esse é o nosso desejo,
essa é a nossa luta. Queremos o Xingu vivo
para sempre.
Altamira, 23 de maio de 2008.
Assinam:
Kayapó da Aldeia Kriny,
Kayapó do Bacajá Xikrin, Kayapó
de Las Casas, Kaiapó de Gorotire, Kayapó
Kubenkrãkênh, Kayapó Moikarakó,
Kayapõ Pykarãrãkre, Kayapó
Kendjâm, Kayapó Kubenkàkre,
Kayapó Kararaô, Kayapó Purure,
Kayapó Tepore, Kayapó Nhàkin,
Kayapo Bandjunkôre, Kayapó Krânhãpari,
Kayapó Kawatire, Kayapó Kapot, Kayapó
Metyktire, Kayapó Piaraçu, Kayapó
Mekrãnoti, Kayapó Pykany, Kayapó
da Aldeia Aukre, Kayapó da Aldeia Kokraimoro,
Kayapo Bau, Kayapó Kikretum, Kayapó
Kôkôkuêdja, Mrotidjam Xikrin,
Potikrô Xikrin, Djudjekô Xikrin, Cateté
Xikrin, Ôodja Xikrin, Parakanã da aldeia
Apyterewa e Xingu, Akrãtikatejê, Parkatejê,
Munduruku, Araweté, Kuruwaia, Xipaia, Asurini,
Arara da aldeia Laranjal e Cachoeira Seca, Arara
do Maia da terra Alta, Panará, Juruna do
Km 17,Tembé, Kayabi, Yudja, Kuikuro, Nafukua,
Kamaiurá, Kalapalo, Waurá, Trumai,
Xavante, Ikpeng, Apinayé, Krahô, Associação
das Mulheres Agricultoras do Assurini, Associação
de Mulheres Agricultoras do Setor Gonzaga, Associação
dos Moradores do Médio Xingu, Associação
dos Moradores da Resex do Iriri ,Associação
dos Moradores da Resex Riozinho do Anfrisio, AFP-
Associação Floresta Protegida do povo
Kayapó, Associação Indígena
Kisedje - povo Kisedje (Parque Indígena Xingu),
Associação Pró-Moradia do Parque
Ipê, Associação Pró-Moradia
do São Domingos, Associação
Yakiô Panará - Povo Panará,
Associação Yarikayu - povo Yudja (Parque
Indígena Xingu), Articulação
de Mulheres Paraenses, Articulação
de Mulheres Brasileiras, ATIX – Associação
Terra Indígena Xingu (Parque Indígena
Xingu), CJP- Comissão de Justiça e
Paz, Conselho Indigenista Missionário (CIMI),
Prelazia do Xingu, CPT- Comissão Pastoral
da Terra, FAOR – Fórum da Amazônia
Oriental, Federação de Assistência
Social e Educacional (FASE), FETAGRI- Federação
dos Trabalhadores na Agricultura Regional Altamira,
Fórum de Direitos Humanos Dorothy Stang (FDHDS),
Fórum Popular de Altamira, Fundação
Elza Marques, Fundação Tocaia, Fundo
DEMA, Grupo de Mulheres do Bairro Esperança,
Grupo de Trabalho Amazônico Regional Altamira
(GTA), IPAM- Instituto de Pesquisa Ambiental da
Amazônia, Coordenação das Organizações
Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB),
MAB- Movimento dos Atingidos por Barragem, STTR-Altamira,
Pastoral da Juventude, S.O.S. Vida, Sindicato das
Domésticas de Altamira, Sindicato dos Trabalhadores
em Educação Pública do Pará
– SINTEPP, Movimento de Mulheres Trabalhadoras de
Altamira Campo e Cidade – MMTACC, Movimento de Mulheres
do Campo e Cidade do Pará - MMCC, Movimento
de Mulheres do Campo e Cidade Regional Transamazônica
e Xingu, Fórum de Mulheres da Amazônia
Paraense, SDDH- Sociedade Paraense dos Direitos
Humanos, MNDH- Movimento Nacional dos Direitos Humanos,
MMM- Movimento de Mulheres Maria Maria, SOS Corpo,
Instituto Feminista para a Democracia, Instituto
Socioambiental – ISA, Fundação Viver
Produzir e Preservar (FVPP).
Apoio: Fundação
Heinrich Boell, International Rivers, Rainforest
Foundation, Rainforest Noruega
+ Mais
Encontro repudia hidrelétricas
na bacia do Xingu e aponta caminhos alternativos
para o desenvolvimento
25/05/2008 Evento debateu os impactos
socioambientais que podem ocorrer com o barramento
do Xingu e de seus afluentes e deu voz às
populações que poderão ser
por afetadas pela construção de hidrelétricas.
Um ato público à beira do rio encerrou
a mobilização com uma homenagem dos
povos da floresta e da cidade às suas águas.
O Encontro Xingu Vivo para Sempre
terminou nesta sexta, 23 de maio, em Altamira (PA),
com um recado claro: representantes de movimentos
sociais, organizações da sociedade
civil, populações indígenas
e ribeirinhas da Bacia do Xingu presentes não
querem hidrelétricas na região e exigem
ser ouvidos pelo Estado brasileiro para apresentar
o modelo de desenvolvimento por elas desejado. Para
fechar o evento de forma simbólica, mas contundente,
um ato público foi realizado na beira do
rio, com a presença de quase três mil
pessoas. Grupos indígenas, em especial os
Kaiapó, dançaram, cantaram e banharam-se
no rio num gesto simbólico de homenagem às
suas águas.
Desde o dia 19, mais de duas mil
pessoas, incluindo pesquisadores, indígenas,
extrativistas, agricultores e moradores da cidade,
discutiram os impactos dos projetos hidrelétricos
previstos para toda a Bacia do Xingu (MT e PA),
entre eles as Pequenas Centrais Hidrelétricas
(PCHs) nas cabeceiras do rio, no Mato Grosso, e
a usina de Belo Monte, umas das prioridades do PAC
(Programa de Aceleração do Crescimento).
Principalmente os representantes indígenas
protestaram contra o fato de nunca terem sido adequadamente
consultados sobre esses projetos e sobre a decisão
de implantá-los, mesmo sendo os principais
afetados.
“Os índios votaram no Presidente
Lula porque ele prometeu melhorar a nossa vida.
Agora ele nos esqueceu? A mensagem de todas as nossas
lideranças é que não queremos
barragens no Rio Xingu e vamos resistir a elas”,
afirmou o cacique Ireô Kaiapó. Os Kaiapó
foram um dos grupos que se colocaram de forma mais
contundente contra a construção de
Belo Monte . “Estamos aqui não apenas para
defender nossos direitos, mas o futuro de nossos
filhos e netos; os direitos de nossos parentes de
toda a região, do Pará e do Mato Grosso”,
bradou o cacique durante a fala das lideranças
de seu povo, na quinta-feira, enquanto erguia no
colo uma criança Kaiapó.
A Constituição Federal
e a Convenção 169 da Organização
Internacional do Trabalho determinam que qualquer
projeto de aproveitamento energético que
atinja Terras Indígenas precisa ser aprovado
pelo Congresso Nacional com consulta prévia
aos seus moradores. Apesar disso, o Estudo de Inventário
Hidrelétrico do Rio Xingu, que prevê
a possibilidade de construção de barragens
em várias Terras Indígenas, foi elaborado,
finalizado e está prestes a ser aprovado
pela Agência Nacional de Energia Elétrica
– ANEEL sem qualquer consulta aos povos indígenas.
“A realização de uma consulta adequada
aos povos indígenas sobre essas hidrelétricas
é não só uma obrigação
legal, mas um dever democrático do Estado
brasileiro”, argumenta o advogado Raul Telles do
Valle, coordenador do Programa de Política
e Direito do Instituto Socioambiental. “Estamos
falando de projetos que podem impor uma modificação
drástica no modo de vida desses povos e ameaçam
retirá-los de suas terras. Mas não
há espaço para diálogo se a
decisão de implantá-los já
foi tomada e até data para o leilão
de Belo Monte já foi marcada, mesmo sem termos
idéia de sua viabilidade ambiental”.
A comissão organizadora
do evento convidou representantes de vários
órgãos oficiais, como os ministérios
de Meio Ambiente e Minas e Energia, o Ibama (Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis) e a Funai (Fundação
Nacional do Índio), mas nenhum deles apareceu.
O único a enviar representantes foi o Ministério
de Minas e Energia, um técnico da Eletrobrás
que acabou sendo machucado pelos indígenas
presentes durante um tumulto no meio de sua apresentação
(Leia matéria e nota para a imprensa).
Projeto inconsistente
Pesquisadores, especialistas e
representantes do Ministério Público
também voltaram a apontar várias inconsistências
no projeto de Belo Monte. “A usina só será
viável economicamente se mais quatro hidrelétricas
forem construídas. O que está em debate,
na verdade, é um conjunto de usinas que terá
um impacto tremendo sobre os ecossistemas e as populações
de toda a bacia”, alertou o professor Célio
Bermann, da Universidade de São Paulo (USP),
durante a mesa redonda da quinta-feira, 22 de maio.
De acordo com a Eletrobrás,
Belo Monte deverá gerar pouco mais de 11
mil MW com um reservatório de 400 quilômetros
quadrados, o que é visto como um trunfo ambiental
por parte do governo. Além dos sérios
impactos sobre várias populações
a montante e a jusante da barragem, estudos independentes
apontam que, apesar da grande potência instalada,
a usina iria funcionar com 30% ou menos de sua capacidade
durante quatro meses no ano, o que afetaria a sua
viabilidade econômica e demandaria a construção
de outras usinas rio acima para regularizar a vazão
do rio e assim permitir que produza energia durante
o ano inteiro.
“Os povos tradicionais da Bacia
do Xingu [índios, ribeirinhos, extrativistas
etc] permaneceram invisíveis ao Estado e
à sociedade brasileira por muito tempo. Isso
tem de acabar. É hora deles serem ouvidos
e de terem respeitados os seus direitos”, disse
Marco Antônio Delfino, procurador federal
em Altamira. Ele lembrou que as ações
que o MPF tem impetrado contra a construção
de Belo Monte e de outras usinas na Bacia do Xingu
objetivam apenas fazer cumprir a Constituição.
“Se permitirmos que ela seja descumprida uma vez,
e mais outra, e ainda outra, chegará o dia
em que nenhum de seus dispositivos será respeitado.
Se Belo Monte for construída, será
um monumento ao desrespeito à Constituição.
Não podemos admitir isso”. Como o barramento
do Xingu pode trazer conseqüências cumulativas
sobre várias Terras Indígenas e populações,
Marco Antônio defendeu que o Ibama realize
o licenciamento de qualquer usina na região
e que ele seja precedido por uma avaliação
ambiental integrada de bacia que leve em conta a
opinião e as necessidades especiais dessas
populações.
PCHs
Um tema importante discutido durante
o Encontro Xingu Vivo para Sempre foi o das Pequenas
Centrais Hidrelétricas - PCHs. Também
foi unânime a recusa dos povos indígenas,
em especial do Parque Indígena do Xingu,
onde já funciona uma dessas usinas, no rio
Culuene, a novos projetos hidrelétricos.
“Estamos aqui para perguntar: que país é
este em que vivemos? A impressão que temos
é que o governo trabalha contra todos os
direitos que estão garantidos na lei dos
povos indígenas. Estamos aqui para reclamar
por esses direitos”, questionou Marcelo Kamaiurá,
morador do Parque Indígena do Xingu.
Marcelo defendeu a criação
do Comitê Gestor da Bacia Hidrográfica
do Xingu como uma instância de consulta e
decisão sobre o futuro das águas da
região. Ele lembrou ainda a importância
estratégica da Bacia do Xingu para a conservação.
Existe hoje um conjunto contíguo de 24 Terras
Indígenas e Unidades de Conservação
na bacia, num total de quase 27 milhões de
hectares em áreas protegidas.
“Estamos com um movimento de todos
os povos do Xingu contra todas as obras que afetem
as nascentes do Xingu. Queremos convidar todos os
caciques da região a apoiar essa mobilização,
para que essa idéia chegue a todas as comunidades.
Quanto mais não temos conhecimento, informações,
ficamos mais vulneráveis ao poder dos empreendedores.
Gostaríamos de conseguir unificar um movimento
dos povos do Xingu contra as barragens. Podemos
fazer organização forte para sermos
reconhecidos como os donos dessas terras”, disse
Marcelo.
“Se é interesse dos brasileiros
gerar energia para o desenvolvimento, quero lembrar
que os povos indígenas também são
brasileiros e não são escutados. O
governo não nos vê como brasileiros?”,
complementou Ianuculá Kaiabi, também
morador do Parque. Para ele, o que está em
jogo nos projetos de usinas do Xingu são
os interesses de grandes empresas. Ianuculá
chamou os ribeirinhos de “parentes” (termo usado
entre indígenas de etnias diferentes para
se referir um ao outro) e reforçou a importância
de um movimento unificado em defesa do Xingu e de
seus afluentes.
Já existe uma PCH funcionando,
outra sendo construída e mais três
já aprovadas para serem instaladas nos rios
formadores do rio Xingu. Estudos independentes realizados
a pedido da Funai comprovaram os graves impactos
sobre a pesca na região, o que ameaça
a segurança alimentar das 14 etnias habitantes
do Parque Indígena do Xingu, já que
os peixes são o seu alimento principal. Além
disso, locais por eles considerados sagrados serão
destruídos com a instalação
dessas hidrelétricas, como ocorreu com a
PCH Paranatinga II, a única já em
funcionamento. (leia aqui e veja outras notícias
relacionadas).
A carta final do encontro pede
ao Poder Público que respeite a diversidade
social e ambiental hoje existente na bacia do Xingu,
e que implemente políticas públicas
que a valorizem. Medidas como a finalização
da demarcação de terras indígenas,
o incentivo à comercialização
de produtos da floresta, o investimento em tecnologia
para aumentar a produtividade e a renda da agricultura
familiar e para ocupar em bases sustentáveis
as áreas hoje degradadas pela expansão
agropecuária são colocadas como pontos
fundamentais para o desenvolvimento da região.
ISA, Oswaldo Braga de Souza.