Manifestantes
cobram recuperação de mananciais em
São Paulo
1 de Junho de 2008 - Petterson
Rodrigues - Repórter da Agência Brasil
- São Paulo - Uma expedição
fotográfica e o ato simbólico de abraçar
uma represa estão sendo realizados hoje (1º)
em São Paulo, nas bacias das represas Guarapiranga
e Billings. As ações se destinam a
cobrar a recuperação de mananciais
que fornecem água para milhões de
paulistanos e a mostrar de onde vem a água
consumida.
O Abraço Guarapiranga será
feito simultaneamente em três pontos da represa.
“É um ato simbólico, um ato de carinho.
A ideia é unir força, unir energia,
demonstrar para a opinião pública
e para o Poder Publico que estamos insatisfeitos
e que precisamos fazer mais pelas represas”, explica
a geóloga e coordenadora adjunta do Programa
de Mananciais do Instituto Sociambiental (ISA),
Pilar Machado Cunha
De acordo com informações
do ISA, Guarapiranga é o segundo manancial
mais importante da região metropolitana de
São Paulo e é responsável pelo
abastecimento de água para 4 milhões
de habitantes. Segundo Pilar, a represa está
degradada e o ato é para cobrar ações
de recuperação.
Billings é a maior represa
da região metropolitana de São Paulo
e apesar de ter mais da metade de sua bacia hidrográfica
preservada, não pode ser totalmente utilizada
para abastecimento devido ao grande volume de poluição
em conseqüência do bombeamento do Rio
Tietê nas últimas seis décadas.
Ao redor das duas represas estão
vivendo grandes populações. Próximo
a Guarapiranga, a população estimada
é de 800 mil pessoas, sendo que metade não
tem um sistema de coleta de esgoto, segundo informações
do ISA. Já na Billings, quase um milhão
de pessoas vivem nas proximidades da represa.
Para a geóloga, um dos
objetivos do evento é aproximar os consumidores
de água à realidade dos mananciais
que as abastecem e conscientizar a população
para que cobre ações e melhorias para
recuperação das represas.
O evento foi organizado pelo ISA em parceria com
40 entidades da sociedade civil que atuam na Guarapiranga.
Em 2006, 160 especialistas se reuniram em um seminário
sobre o manancial e propuseram 63 ações
para recuperação da represa. Este
é o terceiro ano do Abraço Guarapiranga.
Durante o ato, que deve reunir
cerca de 2 mil pessoas, um placar vai mostrar como
andam as ações propostas no seminário
e como as secretarias e empresas do governo estadual
e as prefeituras dos municípios que são
abastecidos pelas represas estão trabalhando
para recuperação dos locais. O mesmo
placar está disponível no site do
ISA.
A expedição fotográfica
conta com 108 grupos, sendo 30 de fotógrafos
profissionais e 78 da própria população.
Os participantes percorrerão trechos das
represas Guarapiranga e Billings e poderão
fotografar pontos preservados da Serra do Mar, aldeias
indígenas, atividades de lazer nas represas,
obras do Rodoanel, a vida em moradia precária
em torno das represas, lixões e cenários
de degradação e poluição.
“Duas mil e trezentas pessoas
estão inscritas na expedição,
estão em grupos. Todas as pessoas que estão
participando vão mandar de uma a três
fotos para a equipe que coordena a expedição
e terão suas fotos [publicadas] em um livro
e em uma exposição”, explica a coordenadora.
Segundo ela, o livro deve ser lançado no
segundo semestre deste ano e a exposição
deve ser realizada no final de 2008 ou começo
de 2009. A expedição faz parte da
campanha De Olhos nos Mananciais, do ISA.
No último dia 20, foram
assinados contratos de repasses de recursos de cerca
de R$ 1 bilhão para despoluição
das águas dos mananciais Billings e Guarapiranga.
Os recursos virão do Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC), do governo estadual, da Companhia
de Saneamento Básico do estado (Sabesp) e
das prefeituras de São Paulo, de São
Bernardo do Campo e de Guarulhos.
+ Mais
Via Campesina quer produção
de alimentos no lugar de madeira e celulose
16 de Junho de 2008 - Ana Luiza
Zenker - Repórter da Agência Brasil
- Brasília - Organizações sociais,
como a Via Campensina, apresentaram propostas de
que áreas onde são plantadas florestas
de pinheiros e eucaliptos, para a produção
de madeira e celulose, sejam substituídas
por áreas de produção de alimentos,
durante a jornada de lutas realizada na semana passada
em todo o país. Um dos principais motivos
para a proposta, de acordo com Mina Tonin, da coordenação
da Via Campesina, é reagir ao aumento dos
preços dos alimentos.
“É verdade que aumentou
a produção [de alimentos], mas esses
alimentos estão nas mãos de poucos
grupos econômicos, a terra deixou de produzir
comida e passou a produzir etanol e celulose”, disse,
em entrevista à Agência Brasil. “É
muito grave o que vem acontecendo, nós precisamos
de mais produção de comida”, disse
ela.
De acordo com Mina Tonin, o que
se vê em locais como o Rio Grande do Sul é
a importação de comida, que é
vendida a preços inacessíveis a grande
parte da população. “As famílias
estão ficando cada vez mais pobres, no campo
e na cidade”, disse.
A representante da Via Campesina
afirmou que, no estado, um dos locais onde há
maiores áreas de plantio de eucalipto para
produção de celulose, as áreas
plantadas com “desertos verdes” - como muitos movimentos,
inclusive ambientalistas, chamam essas áreas
-, nessas terras se costumava produzir carne. “Ou
seja, o Rio Grande do Sul já não produz
mais a carne e passou a produzir celulose”, disse.
Segundo Mina, as máquinas
utilizadas para plantar as florestas produtivas
de madeira e celulose danificam a terra. Ela diz
que, na divisa com o Uruguai, foi feito um levantamento
e constatado que 53% dos córregos secaram
e as terras com um plantio de eucalipto, de sete
anos, levam 200 anos para se recuperar. Além
disso, de acordo com ela, “nas regiões onde
alguns agricultores resistem, as caturritas [pássaros
típicos da região] destroem a produção”.
Outro motivo para que pequenos
agricultores sejam contrários às empresas,
que plantam eucalipto para produzir papel, é
o fato de essas firmas serem na sua maioria multinacionais.
“Na verdade, o protesto da Via Campesina é
contra as empresas estrangeiras, que estão
levando toda a nossa riqueza, deixando a terra destruída”,
disse Mina, em referência às manifestações
da última semana, entre elas, a ocupação
de áreas da Votorantin, onde é plantado
eucalipto, para produção de papel
e pasta de celulose.
As críticas da Via Campesina,
são contestadas. De acordo com o técnico
engenheiro florestal Marcos Coutinho, do Departamento
de Florestas, da Secretaria de Biodiversidade e
Floresta do Ministério do Meio Ambiente (MMA),
a existência de florestas produtivas, de eucalipto,
não prejudicam a produção de
alimentos. “Normalmente [essas florestas] ocupam
áreas que estão abandonadas ou degradadas
nas propriedades rurais, de forma alguma é
incentivado o plantio florestal em áreas
que o produtor utiliza para agropecuária
ou de produção agrícola”, disse
à Agência Brasil.
E completou: “Nós temos
áreas de sobra no país, já
abandonadas, que não são propícias
para a agricultura. Se você colocar uma cultura
agrícola, vai ter que fazer uma correção
nesse solo, para ter produtividade, e a cultura
florestal é menos exigente em termos de solo,
então você vai ter uma produtividade
nessa área, no solo degradado, e até
mesmo conservando os recursos naturais”, disse Coutinho.
Segundo ele, o plantio desse tipo
de cultura também pode ajudar a diminuir
a pressão sobre as áreas de mata nativa,
uma vez que oferece madeira, por exemplo, para a
produção de carvão vegetal.
“Cabe lembrar que as áreas
de produção florestal são uma
das poucas áreas produtivas desse país
que cumprem a legislação ambiental,
pois elas mantêm as áreas de reserva
legal, nos empreendimentos, e as áreas de
preservação”, ressaltou Coutinho.
Entre as exigências que, segundo ele, são
certificadas pelo ministério, estão
a de não plantar monocultura de eucalipto
em áreas próximas a rios ou nascentes
e a preservação de mata nativa dentro
da área plantada. Ele também destacou
que todas essas áreas são certificadas
ambientalmente e passam por auditorias realizadas
por empresas particulares e reconhecidas pelo MMA.
+ Mais
Diretor da ONG SOS Mata Atlântica
critica política ambiental
5 de Junho de 2008 - Luana Lourenço
- Repórter da Agência Brasil - Brasília
- Ao participar hoje (5) da comemoração
do Dia Mundial do Meio Ambiente, no Palácio
do Planalto, o diretor da organização
não-governamental (ONG) SOS Mata Atlântica,
Mário Mantovani, criticou a política
ambiental do governo. "É muito ruim",
afirmou, ao defender que o Brasil ainda precisa
avançar no setor para ter mais o que comemorar
nesta data. O ministro do Meio Ambiente, Carlos
Minc, respondeu aos ataques do ambientalista.
O ambientalista criticou o Programa
de Aceleração do Crescimento (PAC),
o programa de biodiesel e a expansão da cultura
da cana-de-açúcar. "O PAC hoje
é uma desgraça do ponto de vista ambiental.
É uma licença para destruir. É
preciso que o governo caia na realidade e veja que
é fundamental valorizar as questões
ambientais e não querer cortar caminho, como
está fazendo."
O ministro do Meio Ambiente rebateu
às críticas do diretor da ONG. Minc
também disse que não concorda com
a avaliação de Mantovani sobre o PAC.
“Discordo. Acho que é possível desenvolver
o país sem destruir o meio ambiente”, defendeu.
Minc citou sua gestão à
frente da Secretaria do Ambiente do Rio de Janeiro
para argumentar que é possível conciliar
grandes obras de infra-estrutura com preservação.
“Dou sempre os exemplos dos licenciamentos ambientais
que fizemos no Rio, que foram muito rigorosos, com
padrões mais rigorosos que os nacionais.
Vamos fazer o mesmo aqui.”
Mantovani condenou ainda a construção
de novas hidrelétricas e disse que o governo,
ao estimular o uso desse tipo de energia, não
valoriza os avanços como o aumento da participação
da biomassa na matriz energética. Em 2007,
os derivados da cana-de-açúcar ultrapassaram
a fonte hidráulica na geração
de energia, de acordo com a Empresa de Pesquisa
Energética (EPE).
“A gente acorda com o ministro
[do Meio Ambiente, Carlos Minc] alucinado, falando
em fazer mais três usinas nucleares. Isso
não é mais PAC, isso já é
má-fé com a sociedade. É preciso
baixar a bola e ver que sustentabilidade começa
com projetos sérios e não com esses
devaneios de desenvolvimento a qualquer custo".
Segundo o diretor da ONG, durante
a gestão da ex-ministra Marina Silva, o licenciamento
ambiental chegou a ser usado para justificar a "incompetência"
de ministros. "Na verdade, o licenciamento
ambiental nunca atrapalhou. O governo sempre passou
por cima e fez a obra. Quando o ministro era incompetente
e não conseguia fazer uma estrada, colocava
na conta do licenciamento", afirmou Mantovani.