CTNBio
- 19/06/2008 - O Conselho Nacional de Biossegurança
(CNBS) ratificou ontem (18) a decisão da
Comissão Técnica Nacional de Biossegurança
(CTNBio) que libera a comercialização
de milho geneticamente modificado Bt11, produzido
pela empresa Syngenta. O Conselho, formado por 11
ministros de Estado, decidiu por maioria - oito
votos a favor e três contra - manter a decisão
da CTNBio que, em setembro do ano passado, concedeu
a terceira autorização para liberação
comercial de variedades de milho no País.
O ministro da Ciência e
Tecnologia (MCT), Sergio Rezende, avalia que a decisão
do Conselho reforça o papel da CTNBio. De
acordo com ele, a ampliação dos votos
favoráveis ao parecer técnico é
uma manifestação de apoio do CNBS
às decisões da CTNbio. Na reunião
realizada em março último, sete ministros
votaram a favor da Comissão e quatro se posicionaram
contra. "A CTNBio está reconhecida,
mais uma vez, pelo Conselho, como o órgão
de última instância para decisão
técnica sobre biossegurança no País",
destacou.
Na reunião de ontem (18),
em Brasília (DF), também ficou definido
que o CNBS só deverá analisar os recursos
administrativos quando estes estiverem relacionados
a questões de interesse nacional ou envolverem
aspectos econômicos e sociais, conforme determina
o regimento interno do órgão. Com
a decisão, o Conselho deixa de avaliar recursos
que apresentem os mesmos argumentos técnicos
já analisados na CTNBio. "Ao CNBS caberá
a análise de recursos que não sejam
de natureza técnica apresentados por qualquer
entidade", disse.
Segundo Rezende, o ministro relator
apresentou basicamente dois argumentos contrários
ao recurso encaminhado pela Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa). O
primeiro, de ordem jurídica, destacou que
a Lei de Biossegurança (Lei 11.105/2005)
estabelece que a decisão técnica final
para matérias relativas à biossegurança
cabe à CTNBio. Já sobre os argumentos
apresentados no recurso, o ministro ressaltou que
todas as questões colocadas já tinham
sido respondidas no parecer da Comissão.
Rezende disse ainda que as dúvidas
relativas às atribuições legais
da CTNBio foram esclarecidas pela Advogacia Geral
da União (AGU). Segundo ele, uma vez tomada
a decisão técnica pela Comissão,
não cabe aos órgãos de fiscalização
entrar com recursos de natureza técnica.
"Em relação à questão
da biossegurança, quem tem a palavra final
é a CTNbio", disse.
Grupo de trabalho
O CNBS também decidiu que
será criado um grupo de trabalho, composto
por representantes dos ministérios da Ciência
e Tecnologia, Meio Ambiente, Agricultura e Saúde,
para que sejam definidas as formas de acompanhamento
e monitoramento das liberações comerciais
de sementes geneticamente modificadas. De acordo
com Rezende, caberá a esse grupo analisar
e acompanhar os resultados tanto para saúde
humana, animal e meio ambiente. "Será
um subgrupo do Conselho, que apresentará
uma proposta para acompanhamento dessas variedades",
informou.
Rafael Godoi - Assessoria de Comunicação
do MCT
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Leite de cabra transgênica
pode ajudar pacientes com Aids e câncer
Ciência e Saúde -
17/06/2008 - Os animais que receberam gene humano
poderão produzir leite com proteína
que auxilia o sistema imunológico
O leite de cabras geneticamente modificadas poderá
ser usado no combate a doenças imunitárias,
como a Aids, e em pacientes com câncer que
são submetidos à radioterapia e quimioterapia.
A produção do leite, adicionado da
proteína Fator de Estimulação
de Colônias de Granulócitos humano
(hG-CSF), é o principal objetivo da pesquisa
"Caprinos Transgênicos como Biorreatores
para Produção de Fármacos de
Interesse em Saúde Humana".
O trabalho é desenvolvido
por pesquisadores do Laboratório de Fisiologia
e Controle da Reprodução (LFCR), da
Universidade Estadual do Ceará (Uece) em
parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) e Academia de Ciências da Rússia.
Na prática, o que se pretende
é utilizar esses animais para a produção
de vários tipos de medicamentos. O primeiro
passo para a conclusão do projeto já
foi dado. Este mês, um casal de cabras da
raça Canindé, nativa da região
nordestina, completa três meses. O que torna
a fêmea Camilla e o macho Tinho animais tão
especiais é o fato de eles terem sido os
únicos, entre 23 nascidos em laboratório,
a expressar a mudança genética introduzida
pelos pesquisadores.
O nascimento desses animais transgênicos
também coloca o Brasil como o único
País da América Latina a dominar a
técnica e a conseguir gerar caprinos geneticamente
modificados. Os caprinos que nasceram em março
último na Uece receberam, ainda na fase embrionária,
o gene humano que deve permitir que produzam em
seu leite a proteína hG-CSF.
Essa proteína atua na prevenção
da neutropenia, ou seja, na queda dos níveis
de células brancas (neutrófilos),
que fazem parte do sistema imunológico. A
redução dessas células é
comum em portadores de doenças como Aids
ou em pacientes que são submetidos à
quimioterapia ou radioterapia. Estudos recentes
também apontam para a utilização
do hG-CSF na regeneração de áreas
pós-enfarte do miocárdio e em isquemia
cerebral.
O coordenador do projeto e pesquisador
do LFCR, Vicente José Freitas, comemora os
primeiros resultados. De acordo com ele, a opção
pela proteína hG-CSF se deve justamente à
importância terapêutica dessa substância
e à ampla possibilidade de produção
de medicamentos para doenças graves. Freitas
destaca que, se as expectativas se confirmarem,
em breve, será possível produzir no
Brasil medicamentos a base de hG-CSF a custo 50%
menor do que existe no mercado.
Além do menor preço,
o medicamento sintetizado a partir do leite de cabra,
de acordo com Freitas, deve diminuir os efeitos
colaterais nos pacientes. "A intenção
é estabelecer parcerias com outros órgãos
de governo, para que se possa produzir medicamento
a baixo custo, o que beneficiaria diretamente a
população mais carente", destaca.
O pesquisador explica que o próximo
passo será a indução da lactação
da cabra para que se possam analisar os níveis
de expressão da proteína humana no
leite. Caso os resultados se confirmem, Freitas
acredita que será possível iniciar
a fase de reprodução dos animais para
a formação de um rebanho transgênico
nos próximos meses.
Esse processo, segundo ele, pode
ser acelerado, já que a transgene foi verificada
em um macho e uma fêmea. O pesquisador explica
que o cruzamento natural do casal com as características
alteradas eleva a possibilidade de obtenção
de um filhote geneticamente modificado para 75%.
Freitas explica que também serão adotados
outros métodos, como a reprodução
assistida, por meio da transferência de embriões
fecundados para outras "mães",
até a clonagem.
Em sua avaliação,
no máximo em três anos, será
possível formar um rebanho de até
100 caprinos geneticamente modificados. "Por
meio das matrizes e reprodutores, podemos, rapidamente,
formar um rebanho transgênico produtor de
leite. Esse leite será então beneficiado
para isolamento da proteína e preparo do
medicamento".
Após essa etapa, serão
realizados testes pré-clínicos e clínicos.
Nesta ponto, será necessária a obtenção
de novas autorizações, que são
concedidas pela Comissão Técnica Nacional
de Biotecnologia (CTNbio) e pela Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A pesquisa "Caprinos Transgênicos
como Biorreatores para Produção de
Fármacos de Interesse em Saúde Humana"
foi aprovada em edital da Rede Nordeste de Biotecnologia
(Renorbio). O projeto recebeu cerca de R$ 1,5 milhão
em recursos da Financiadora de Estudos e Projetos
(Finep/MCT). A previsão é de que até
o final dos trabalhos sejam repassados mais recursos
do MCT e de outras fontes de financiamento.
Tecnologia
O secretário de Pesquisa
e Desenvolvimento (Seped/MCT), Luiz Antonio Barreto
de Castro, destaca que os resultados da pesquisa
demonstram a viabilidade da rota tecnológica
escolhida. Segundo ele, o caminho está aberto
para outros projetos importantes. "É
possível realizar outras expressões
no leite de proteínas importantes como Fator
9 IX de coagulação, que é necessário
para o hemofílico. Esse método já
foi testado em camundongos e agora poderá
ser usado em caprinos", disse.
Barreto ressalta ainda que, com
a mesma técnica, será possível
produzir leite para combater a diarréia neonatal.
"A mesma rota tecnológica poderá
ser usada para expressar no leite de caprinos substâncias
que tenham a capacidade de neutralizar ação
de patógenos que causam a diarréia
neonatal, como as proteínas humanas lisozima
e lactoferrina, que agem na parede celular e matam
a bactéria", disse.
Segundo ele, ao final da pesquisa,
a intenção é possibilitar a
industrialização do leite em embalagem
longa vida, para que possa ser comercializado em
outras partes do mundo, como no continente africano,
onde também ocorrem casos de morte por diarréia
neonatal. "Essa pesquisa permitirá combater
a mortalidade infantil por meio da ingestão
direta do leite geneticamente modificado",
destaca.
Experiência
A construção do
DNA que está sendo aplicada nas cabras foi
inicialmente testada em camundongos na UFRJ. Nessa
fase foram obtidas algumas fêmeas transgênicas,
que expressaram a proteína no leite.
No caso da pesquisa realizada
na Uece, as cabras foram superovuladas e tiveram
os embriões colhidos, que depois foram microinjetados
com uma construção gênica para
o hG-CSF. Na seqüência, os embriões
foram transferidos para cabras receptoras sem raça
definida. Após o nascimento, as crias foram
testadas para verificar a presença do gene.
O exame de DNA que fez a detecção
dos transgênicos foi realizado na própria
Uece. Para confirmação do resultado,
as amostras das orelhas dos 23 cabritos nascidos
entre os dias 10 e 20 de março foram enviadas
para o Laboratório de Animais Transgênicos
da UFRJ para realização da contraprova.
Raça
A experiência foi realizada
com cabras das raças Saanen, de origem suíça,
e Canindé, nativa do Nordeste. Dos 23 caprinos
nascidos no laboratório, 13 são machos
e 10 fêmeas; cinco da raça Saanen,
e 18 Canindés. Desse total, três expressaram
a mudança genética: o casal da raça
Canindé, e um animal da raça Saanen,
natimorto.
O coordenador da pesquisa, Vicente
Freitas, considerou positiva a reação
da raça Canindé ao experimento. A
espécie, por produzir menos leite que as
raças européias, acabou entrando em
extinção. Agora com a pesquisa, esses
animais, segundo Freitas, podem ser revalorizados
devido às propriedades que poderão
ser adicionadas ao leite. "Os caprinos da raça
Canindé se mostraram mais saudáveis
do que os da raça Saanen. Com isso, abrimos
uma nova perspectiva para a criação
desses animais", destaca.
Rafael Godoi - Assessoria de Comunicação
do MCT
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Pesquisa indica variedade de solos
e a diversidade biológica em flona amazonense
Floresta Amazônica - 18/06/2008
- Resultados de dois anos de estudos auxiliam na
compreensão da biodiversidade da região
Localizada no Pará, na desembocadura dos
rios Xingu e Tocantins, a Floresta Nacional (Flona)
de Caxiuanã é uma das áreas
mais representativas dos ecossistemas da região
Amazônica. Escolhida para compor um dos quatro
sítios de pesquisa do Programa de Pesquisa
da Biodiversidade (PPBio) da Amazônia Oriental,
a Flona de Caxiuanã será registrada
por meio de 19 protocolos para inventariar a diversidade
de espécies de plantas, animais e fungos,
além de descrever o clima, a topografia,
a estrutura da vegetação e os solos.
Protocolos são metodologias
padronizadas de trabalho para inventariamento. A
mais nova contribuição é a
caracterização morfo-estrutural, física
e química da área de estudo do Programa
em Caxiuanã, apresentada recentemente pelos
especialistas em solos. As características
ambientais de Caxiuanã, alvo de diversos
estudos, podem explicar futuramente a biodiversidade
presente na região.
Sob a coordenação
da pedóloga (especialista em solos) e atual
coordenadora da área de Ciência da
Terra e Ecologia do Museu Paraense Emílio
Goeldi (MPEG/MCT), Maria de Lourdes Ruivo, a pesquisa
para a definição do protocolo de solos
demonstra a complexidade do ciclo de vida ecológico
em Caxiuanã, além de confirmar a necessidade
de interação entre as geociências
e a biologia para um completo entendimento da biodiversidade.
As rochas sedimentares que formam
o substrato da Flona de Caxiuanã se desenvolveram
no período Cretáceo (135 a 65 milhões
de anos) e pertencem à Formação
Alter do Chão. As amostras coletadas foram
classificadas em três classes, sendo duas
de solos bem drenados e profundos, caso dos Latossolo
Amarelodistrófico e Argissolo Vermelho-Amarelo
Alumínico Distrófico e um com drenagem
deficiente como o Gleissolo Háplicos distrófico.
A baixa fertilidade natural dos solos em Caxiuanã
deve-se, em parte, a sua origem, proveniente de
sedimentos pobres em nutrientes, fato que afeta
a disponibilidade destes nos rios e a diversidade
de espécies de peixes.
A diversidade de florestas encontradas
em Caxiuanã - Igapó, Várzea
e Terra Firme - se relacionam às diferenças
encontradas na classe textural do solo da flona.
Os resultados da pedologia permitem aos especialistas
em biodiversidade perceberem peculiaridades das
espécies que são alvos de seus estudos.
"Por meio da diferença de solos, podendo
ser mais agregado ou mais escuro, temos sinais das
populações de animais ou da vegetação
estabelecida. Outra coisa que nos orienta é
a atividade exercida pela macrofauna do solo",
explica Maria Ruivo.
Os resultados das pesquisas sobre
solos já provocaram seus primeiros efeitos
- o compartilhamento de informações
entre os diversos especialistas do programa para
geração de artigos, como o que Márcio
Pietrobom, especialista em pteridófitas,
pretende desenvolver sobre as populações
de samambaias que aparecem em áreas com solos
predominantemente ácidos. "O programa
PPBio busca uma troca entre o meio biótico
e abiótico, o que vai possibilitar o estudo
integrado dos especialistas em solos com os grupos
biológicos que estão sendo inventariados",
ressalta Ruivo.
Essa interação entre
as áreas auxilia até mesmo na logística
para a ida dos pesquisadores a campo. Para as pesquisas
na Flona do Amapá, segundo sítio do
programa ser inventariado na Amazônia Oriental,
já se chegou à conclusão que
os primeiros pesquisadores a entrar em campo devem
ser os especialistas dos protocolos de briófitas
e pteridófitas.
"É importante começar
pelas pessoas que vão trabalhar com as ervas,
antes que tenha o pisoteio de outros pesquisadores,
o que pode levar a uma alteração naquela
parcela", explica Mauricio Parry, doutor em
agronomia e bolsista do Programa. "Isso mostra
que os protocolos também podem ir melhorando
de uma grade para outra, havendo alguns ajustes
pra se evitar problemas futuros", complementa
o especialista.
Elianna Homobono - Comunicação PPBio/Amazônia
Oriental
Agência Museu Goeldi