Dentre
as causas de extinção, destacam-se
as mudanças climáticas e a ação
humana
Arlington, EUA, 10 de julho de 2008 — Um terço
dos recifes coralíneos em todo o mundo estão
ameaçados de extinção, de acordo
com o primeiro levantamento em nível global
para determinar seu status de conservação.
Os resultados do estudo foram publicados hoje pela
Science Express.
Os maiores especialistas em corais
uniram-se aos esforços da Global Marine Species
Assessment (GMSA) – iniciativa conjunta da União
Mundial para a Natureza (IUCN, na sigla em inglês)
e da Conservação Internacional (CI)
– para aplicar as categorias e critérios
da Lista Vermelha da IUCN a esse importante grupo
de espécies marinhas.
“Os resultados desse estudo são
muito desconcertantes”, afirma Kent Carpenter, principal
autor do artigo publicado na Science, diretor da
GMSA e membro do Programa de Espécies Ameaçadas
da IUCN. “Quando morre um coral morrem também
outras plantas e animais que dependem dos recifes
de coral para seu alimento e abrigo, e isso pode
levar ao colapso de ecossistemas inteiros”.
Construídos ao longo de
milhões de anos, os recifes de coral são
o habitat de mais de 25% das espécies marinhas,
configurando-se como o ecossistema marinho com maior
diversidade biológica. Os corais constroem
recifes em águas rasas tropicais e sub-tropicais
e têm-se mostrado altamente sensíveis
a mudanças em seus ambientes.
Os pesquisadores identificaram
como principais ameaças aos corais as mudanças
climáticas e alterações locais
decorrentes da pesca predatória; o declínio
na qualidade das águas resultante da poluição
e da ocupação desenfreada da zona
costeira. As mudanças climáticas aumentam
a temperatura da água e a intensidade da
radiação solar, o que leva à
descoloração dos corais e a doenças
que, com freqüência, acarretam na mortalidade
em massa desses corais.
Corais de águas rasas têm
uma relação simbiótica com
algas microscópicas chamadas zooxantelas,
que vivem em seus tecidos e fornecem aos corais
nutrientes essenciais, conferindo-lhes também
a capacidade de construir um esqueleto calcário.
As zooxantelas são também responsáveis
pela beleza do colorido dos corais. A descoloração,
ou branqueamento, dos corais é decorrente
de estresses tais como a elevação
da temperatura das águas, que faz com que
as algas sejam expelidas dos tecidos, expondo o
esqueleto calcário esbranquiçado.
Daí o termo “branqueamento”. Corais afetados
por esse fenômeno são mais fracos e
mais vulneráveis a ataques de doenças.
Os cientistas acreditam que o aumento nas doenças
dos corais está também ligado ao aumento
da temperatura dos oceanos e ao aumento da poluição
e dos sedimentos advindos da zona costeira.
Os pesquisadores prevêem
que a acidificação dos oceanos será
outra séria ameaça aos recifes de
coral. Como os oceanos absorvem volumes cada vez
maiores de dióxido de carbono da atmosfera,
a acidez da água aumenta e o pH diminui,
o que prejudica gravemente a capacidade de os corais
construírem seus esqueletos, que formam as
fundações dos recifes.
Os 39 cientistas que participaram
como co-autores desse estudo concordam que, se o
aumento das temperaturas marinhas continuar a causar
branqueamento e doenças, muitos corais não
terão tempo suficiente para se restabelecer
e isso poderá levá-los à extinção.
“Esses resultados mostram que
os corais que formam recifes enfrentam ameaça
de extinção mais grave do que todos
os grupos terrestres, exceto anfíbios, e
são o grupo mais vulnerável aos efeitos
das mudanças climáticas”, aponta Roger
McManus, vice-presidente de programas marinhos da
CI. “A perda dos corais terá implicações
profundas para milhões de pessoas que dependem
dos recifes de coral para seu sustento”.
Os recifes de corais são
habitats de peixes e de outras espécies de
vida marinha importantes para as comunidades costeiras.
Ajudam também na proteção de
cidades litorâneas e da zona costeira contra
erosão e inundações causadas
por tempestades tropicais.
Os corais “staghorn”, ou chifre-de-veado
(Acropora cervicornis), são os que enfrentam
o maior risco de extinção, com 52%
das espécies listadas como ameaçadas.
A região do Caribe tem a mais alta concentração
de corais ameaçados (‘Em Perigo’ e ‘Criticamente
em Perigo’), incluindo o famoso coral “elkhorn”
ou “chifre de alce” (Acropora palmata) listado como
Criticamente Ameaçado. O chamado “Triângulo
do Coral”, região de alta biodiversidade
localizada no arquipélago Indo-Malaio-Filipino
do oeste do Pacífico tem as mais altas proporções
de espécies Vulneráveis e Quase-Ameaçadas
da região do Indo-Pacífico, em grande
parte motivada pelas altas concentrações
de populações humanas que vivem na
região.
Corais dos gêneros Favia
e Porites foram considerados os menos ameaçados
por serem mais resistentes a descoloração
e doenças. Além disso, para 141 espécies
não há informações suficientes
para permitir uma avaliação completa.
Foram, portanto, listadas como Espécies Deficientes
em Dados. Entretanto, pesquisadores acreditam que
muitas dessas espécies teriam sido listadas
como ameaçadas se houvesse mais informações
disponíveis.
Os resultados enfatizam a generalizada
situação precária dos recifes
de coral e a necessidade urgente de medidas para
sua conservação. “Ou reduzimos nossas
emissões de CO2 agora ou muitos corais serão
perdidos para sempre”, alerta Julia Marton-Lefèvre,
diretora geral da IUCN. “A melhoria da qualidade
das águas, educação em nível
global e recursos adequados destinados a práticas
locais de conservação são também
fundamentais para proteger as fundações
dos belos e valiosos ecossistemas nos recifes de
corais”.
Especialistas em corais participaram
de três workshops para analisar dados de 845
espécies de corais, incluindo o tamanho e
a distribuição geográfica de
populações, afinidades evolutivas
entre as espécies, suscetibilidade a ameaças
e estimativa de perda de cobertura de corais em
nível regional.
A avaliação dos
recifes de corais é apenas uma entre diversas
análises estratégicas globais de espécies
marinhas que a GMSA vem conduzindo desde 2006. Outros
levantamentos estão sendo realizados com
gramíneas marinhas e mangues, que constituem
importantes espécies na formação
de habitats; todos os peixes marinhos, além
de outros invertebrados. Até 2012, a GMSA
planeja completar o primeiro estágio de sua
avaliação abrangente sobre ameaça
de extinção de mais de 20 mil plantas
e animais marinhos. Este esforço fornecerá
uma linha de base essencial para o planejamento
de ações de conservação
em todo o mundo, e o monitoramento dos riscos de
extinção de espécies marinhas.
Os resultados da avaliação
de espécies de coral serão inseridos
na Lista de Espécies Ameaçadas da
IUCN em outubro de 2008. Atualmente, as avaliações
podem ser acessadas em http://www.sci.odu.edu/gmsa/about/corals.shtml.
Assessoria de imprensa
Iana Borges
Informações complementares
A Conservação Internacional
(CI) aplica inovações científicas,
econômicas, política e participação
comunitária na proteção das
regiões mais ricas da Terra em termos de
diversidade de fauna e flora, e prova que as sociedades
humanas podem viver em harmonia com a natureza.
Fundada em 1987, a CI atua em mais de 40 países
em 4 continentes, para ajudar pessoas a encontrar
alternativas econômicas que não prejudiquem
seus ambientes naturais. Para mais informações
sobre a CI, visite www.conservation.org.
A União Mundial para a
Natureza – (IUCN, em inglês) vem ajudando
a encontrar soluções pragmáticas
para nossos maiores desafios ambientais e de desenvolvimento,
por meio de apoio à pesquisa científica,
manejo de projetos de campo em todo o mundo e articulação
de governos, ONGs, a ONU, convenções
internacionais e empresas para o desenvolvimento
de políticas, leis e práticas adequadas.
A IUCN é a maior e mais antiga rede ambiental
global em todo o mundo. É uma união
democrática com mais de 1.000 membros entre
governos e organizações não-governamentais,
e cerca de 10.000 cientistas voluntários
em mais de 150 países. A atuação
da IUCN se apóia em 1.100 funcionários
em 62 países e centenas de parceiros públicos,
privados e do terceiro setor em todo o mundo. Para
conhecer mais, acesse www.iucn.org.
O Programa de Espécies
da IUCN dá suporte às atividades da
Comissão de Sobrevivência de Espécies
da IUCN e dos Grupos de Especialistas, e à
implementação de iniciativas globais
de conservação de espécies.
É parte integrante da Secretaria da IUCN
e administrada a partir da sede internacional da
IUCN em Gland, na Suíça. O Programa
de Espécies inclui diversas unidades técnicas
que contemplam Comércio e Uso de Espécies,
Lista Vermelha, Avaliação da Biodiversidade
em Água Doce, (todas localizadas em Cambridge,
R.U.), e a Iniciativa Global de Avaliação
da Biodiversidade (localizada em Washington DC,
EUA). Visite: www.iucn.org/species
A Global Marine Species Assessment
(Avaliação Global de Espécies
Marinhas, GMSA em inglês) teve início
no final de 2005 e sua base é no Departamento
de Ciências Biológicas da Old Dominion
University. Esse projeto será a primeira
avaliação estratégica global
do status de conservação de espécies
marinhas, incluindo todas as espécies de
vertebrados marinhos, invertebrados e plantas selecionadas.
O projeto está engajando especialistas de
todo o mundo para compilar e analisar todas as informações
existentes sobre o status de aproximadamente 20
mil espécies marinhas para determinar seu
risco de extinção de acordo com as
Categorias e Critérios da Lista Vermelha
da IUCN. Para mais informação, acesse:
http://www.sci.odu.edu/gmsa/
Estudo atesta efetividade de áreas
marinhas protegidas
Pesquisa avalia efeitos da proteção
em estoques de espécies de importante valor
econômico
Salvador, 08 de julho de 2008 — Após cinco
anos de investigação sobre os efeitos
das áreas marinhas protegidas nas comunidades
de peixes na região de Abrolhos, cientistas
constataram o incremento na quantidade de espécies
comercialmente importantes em áreas de proteção
total. A descoberta foi apresentada recentemente
na revista científica Aquatic Conservation:
Marine and Freshwater Ecosystems e representa o
primeiro trabalho científico brasileiro avaliando
a efetividade de áreas marinhas protegidas
em longo prazo.
Entre os anos de 2001 e 2005,
o professor da Universidade Estadual da Paraíba,
Ronaldo Francini Filho, e o biólogo da Conservação
Internacional, Rodrigo Moura, avaliaram zonas de
proteção total e de uso-múltiplo
e áreas desprotegidas no Banco dos Abrolhos,
no sul da Bahia, região que concentra os
maiores recifes do Atlântico Sul. Durante
a pesquisa foram monitoradas, através de
censos visuais subaquáticos, 90 espécies
de peixes associadas aos recifes coralíneos
de Abrolhos.
Os pesquisadores constataram maior
abundância de espécies economicamente
importantes, como o budião-azul, o badejo-quadrado
e a guaiúba, tanto na área de proteção
integral do Parque Nacional Marinho de Abrolhos
quanto em zona integralmente protegida dentro da
Reserva Extrativista do Corumbau, na qual os próprios
pescadores abriram mão de uma área
de pesca com o objetivo de recuperar os estoques.
Além disso, foram encontradas evidências
de que a sustentabilidade da pesca em áreas
costeiras depende de recifes profundos e afastados
da costa, onde os estoques pesqueiros são
menos explorados. Segundo Moura, “apesar de sua
importância, os recifes profundos ainda são
pouco conhecidos pela ciência, mas vêm
sendo crescentemente explorados por barcos pesqueiros
cada vez maiores e mais bem equipados, originários
de outras regiões da costa brasileira”.
Apesar dos efeitos positivos das
áreas de proteção, foram encontrados
sintomas de degradação do ecossistema
recifal, causados pela pesca exagerada e pela ocupação
desordenada da zona costeira. Por exemplo, alguns
recifes apresentaram alta cobertura de algas e baixa
presença de corais, uma provável conseqüência
da exploração de peixes que consomem
algas, como os budiões. Francini-Filho explica
que “os corais fornecem abrigo essencial para a
sobrevivência dos peixes, representando assim
um grupo crítico para a manutenção
dos estoques dos peixes de recifes”. Para Moura,
um dos maiores problemas continua sendo a infra-estrutura
precária de fiscalização e
a falta de comprometimento com a proteção
integral em longo prazo. “Além disso, os
monitoramentos de longo prazo ainda são insuficientes,
apesar de representarem uma ferramenta essencial
para a gestão das áreas protegidas
e seus entornos”, completa.
Estas questões e outros
desafios para a conservação dos recifes
coralíneos serão discutidos por pesquisadores
de todo o mundo em um simpósio internacional
que será realizado de 7 a 11 de julho na
Flórida, EUA. Para mais informações
sobre o evento, acesse http://www.nova.edu/ncri/11icrs/.
O resumo do artigo "Dynamics
of fish assemblages on coral reefs subjected to
different management regimes in the Abrolhos Bank,
Eastern Brazil" está disponível
em http://www3.interscience.wiley.com/journal/119816535/abstract
Informações complementares
Áreas Marinhas Protegidas:
As áreas protegidas são definidas
como uma superfície de terra ou mar especialmente
consagrada à proteção e preservação
da diversidade biológica, assim como dos
recursos naturais e culturais associados, e gerenciada
através de meios legais ou outros meios eficazes.
Áreas protegidas no meio
marinho têm como objetivos principais a conservação
da biodiversidade e a manutenção da
pesca em áreas adjacentes. Elas contribuem
ainda para a investigação científica
de comunidades intocadas pelo homem e para o turismo
ecológico.
Banco dos Abrolhos - o Banco dos
Abrolhos é um alargamento da plataforma continental
que começa próximo à foz do
rio Doce, no Espírito Santo, e segue até
a foz do Rio Jequitinhonha na Bahia. Com cerca de
46.000 km2, compreende um mosaico de ambientes marinhos
e costeiros margeados por remanescentes da Mata
Atlântica, abrangendo recifes de coral, bancos
de algas, manguezais, praias e restingas. Berçário
das baleias-jubarte, a região dos Abrolhos
foi declarada, em 2002, área de Extrema Importância
Biológica pelo Ministério do Meio
Ambiente.