18 de
Julho de 2008 - Amanda Mota - Repórter da
Agência Brasil - Manaus - O governo do Amazonas
e a Superintendência da Zona Franca de Manaus
(Suframa) querem tornar o Brasil auto-suficiente
na produção das fibras de juta e malva
e, para tanto, buscam novas alternativas para estimular
o cultivo de sementes e das fibras têxteis
– feito em solos e em períodos diferenciados.
A expectativa é de que os primeiros resultados
apareçam já em 2009.
Em virtude das significativas
possibilidades de geração de emprego
e renda para milhares de ribeirinhos no Amazonas
e da crescente demanda por embalagens ecologicamente
corretas – geradas a partir dessas duas plantas
– a produção de fibras têxteis
ganha cada vez mais espaço no mercado em
substituição aos populares sacos plásticos.
Só no Amazonas, que é
o maior produtor nacional de juta e malva, existem
atualmente quase cinco mil produtores rurais que
fazem a colheita das fibras às margens dos
rios. A distribuição de 125 toneladas
de sementes pela Secretaria de Produção
Rural do Amazonas (Sepror) e o incremento de R$
1,2 milhão na atividade por parte da Suframa
prometem trazer melhores resultados para a próxima
safra, no primeiro trimestre de 2009, e colocar
o país no caminho da auto-suficiência.
Usadas sobretudo na confecção
de sacarias biodegradáveis para o armazenamento
de grãos, as fibras de juta e malva precisam
atingir todos os anos a produção de
20 mil toneladas para poder atender à atual
demanda do mercado nacional. Desse total, mais de
12 mil toneladas são provenientes de Manacapuru,
no Amazonas. O restante vem do Pará – cerca
de mil toneladas – e do sul da Ásia, mais
precisamente de Bangladesh.
Em entrevista à Agência
Brasil, o secretário executivo da Sepror,
Ferdinando Barreto, explicou que o desafio é
preparar o Amazonas para cultivar as sementes da
juta e da malva. "Por exigirem condições
diferenciadas de solo e tempo de maturação,
historicamente, o cultivo da fibra ficou para o
Amazonas e o da semente, para o Pará",
disse. Segundo Barreto, as sementes de juta e malva
usadas para fabricação das fibras
no Amazonas são compradas do estado vizinho
ao preço médio de R$ 15 o quilo.
"As sementes são produzidas
em áreas de terra firme, que não são
inundadas e no Pará são mais comuns
de serem cultivadas. No Amazonas não há
culturas nesse tipo de solo. Já a fibra é
produzida em áreas de várzea, que
no Amazonas são imensas. Há também
variação no tempo necessário
para coleta de fibra e de sementes. Para colher
a semente, é preciso esperar uns sete a oito
meses. Já para a produção das
fibras, basta seis meses", explica.
Situado em meio a milhares de
quilômetros de rios, o Amazonas detém
cerca de 24 milhões de hectares de áreas
de várzea, que também são usadas
em outros cultivos, como mandioca, arroz, milho,
mamão, maracujá e para a criação
de animais. Nesses mesmos espaços foi introduzido
o cultivo de malva e juta por colônias de
japoneses, no município de Parintins, entre
as décadas de 40 e 50.
A juta é originária
da Ásia e a malva é genuinamente amazônica.
Até o fim deste ano, cerca de 9 milhões
de hectares de área de várzea devem
estar ocupados pelas plantações de
juta e malva, cujas sementes são, em grande
parte, distribuídas pelo governo e por empresas
privadas, que transformam as fibras em tecidos.
"São gigantescas extensões
de várzea. Por enquanto, nossos produtores
atuam somente em pedaços de terra de no máximo
três hectares. Além do que o governo
vai doar de semente este ano [125 toneladas], eles
ainda vão poder contar com cerca de 55 toneladas
doadas pela iniciativa privada", explica Ferdinando,
acrescentando que em Manacapuru está mais
de 90% da produção nacional.
O secretário de Produção
Rural do Amazonas, Eron Bezerra, ressaltou que,
no caminho da produção auto-sustentável,
o Amazonas se prepara para promover a plantação
e a colheita de sementes nas áreas de terra
firme. Seguindo um planejamento específico,
a Sepror prevê o início das atividades
em até 45 dias, numa área de até
500 hectares nos municípios de Itacoatiara,
Manacapuru, Parintins e, provavelmente, Iranduba.
Assim, até julho de 2009, as sementes produzidas
no estado já devem estar prontas para doação
e venda ao preço máximo de R$ 6 o
quilo.
"Quem no Amazonas precisar
de mais sementes do que o que é doado pelo
governo e pelas empresas vai poder comprar o quilo
por R$ 9 a menos do que o valor que é cobrado
hoje no Pará", diz Bezerra. Para ele,
o mercado é promissor, pois produtos como
o café, por exemplo, devem, obrigatoriamente,
ser embalados em sacarias de fibras como as de juta
e malva.
"Aos poucos, o uso dessas
fibras deve aumentar consideravelmente. Entre as
décadas de 50 e 70, o Amazonas chegou a produzir
90 mil toneladas, mas houve uma redução
impactante da produção em função
da entrada dos sacos de plástico no mercado
nacional e por isso a maioria das sacarias nacional
e mundial foi substituída", conta.
Com a produção local
de sementes, o Amazonas espera obter pelo menos
80% das 180 toneladas de sementes que utiliza todos
os anos. "Estamos só aguardando a liberação
do recurso da Suframa até o fim de agosto
para iniciar o plantio e a produção
das sementes nas áreas de terra firme. Isso
significa também que todo investimento que
hoje é destinado ao Pará passará
a ficar no próprio Amazonas, gerando renda
para a população", finaliza o
secretário.