Panorama
 
 
 

AS VERDADES NÃO DITAS PELA REVISTA VEJA SOBRE A ENERGIA NUCLEAR

Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Julho de 2008

22 de Julho de 2008 Ativista do Greenpeace instala turbina eólica próximo a uma usina nuclear. Apesar de termos inúmeras opções mais baratas, limpas e seguras, ainda há países que insistem em gastar bilhões em reatores atômicos.
São Paulo (SP), Brasil — Pontos da reportagem que defende usinas atômicas como resposta à alta do petróleo e ao aquecimento global são questionáveis. Confira quais.

Quis o destino que a extensa matéria da revista Veja sobre o pretenso renascimento da indústria nuclear fosse publicada justamente no fim de semana em que o fantasma da ameaça radioativa volta a assustar a Europa. Enquanto os repórteres da publicação brasileira teciam loas à indústria nuclear, o noticiário europeu girava em torno dos problemas de segurança das usinas francesas - duas delas apresentaram vazamento de líquido contaminado por urânio este mês, colocando em xeque o consumo da água de rios adjascentes aos reatores.

O material publicado pela Veja, intitulado "O que era medo se tornou esperança", pouco ou nada acrescenta à discussão sobre o uso de usinas atômicas para suprir as necessidades energéticas dos países, e se vale de muitas distorções e equívocos para justificar o seu uso no combate ao aquecimento global.

Em dado momento diz que "até mesmo ambientalistas, antes agressivos opositores da energia nuclear, passaram a defendê-la como alternativa aos combustíveis fósseis", mas cita como exemplo os nomes de sempre quando o assunto surge: James Lovelock e Patrick Moore. E só. Muito pouco, convenhamos, para considerar que o movimento ambientalista mudou de opinião em relação ao tema.

Apesar de dedicar seis páginas ao assunto, a revista Veja não explica a contento muitos dos pontos delicados abordados, como o custo da energia nuclear ou a grave questão do lixo radioativo. Para por esses importantes pingos nos respectivos 'is', o Greenpeace joga aqui alguma luz nessa história toda.

Um dos equívocos que mais saltam aos olhos é em relação às vítimas fatais por acidentes em usinas nucleares. Segundo a matéria, não passam de 9 mil desde a década de 1950, incluindo aí as mortes provocadas pelo acidente da usina ucraniana de Chernobyl (1986). Não fica claro se a reportagem considera nessa conta os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), que a própria revista cita, de que milhares morreram nos anos seguintes ao acidente por conta da radiação, mas de qualquer maneira o número não bate com a realidade. Segundo levantamento feito pelo Greenpeace para o relatório sobre os 20 anos do acidente de Chernobyl, o número de vítimas pode chegar a 90 mil, considerando os inúmeros casos de incidência de câncer verificados na Rússia, Ucrânia e Bielorússia, países que sofreram diretamente com a nuvem radioativa após a explosão do reator em 1986.

Sobre o lixo nuclear, a reportagem é ainda mais vaga. Admite ser um problema sem solução até agora mas contemporiza afirmando que depósitos subterrâneos como o de Onkalo, na Finlândia, e Yucca Mountain, nos Estados Unidos, seriam uma saída para o problema. Mas como? Ambos os projetos citados estão atrasados, apesar das dezenas de bilhões de dólares gastos, e não se mostraram seguros o suficiente para serem apresentados como solução definitiva. Enquanto isso, o mundo que tem hoje mais de 400 usinas nucleares continua sem um depósito definitivo para o lixo nuclear.

As afirmações de que a energia nuclear é a solução para enfrentar a alta do preço do petróleo e o aquecimento global também não se justificam. A matéria indica a energia nuclear como forma de se reduzir a dependência dos países para o petróleo, devido ao custo, mas não leva em conta problemas como o alto preço das obras (e seus atrasos), além da necessidade de tratamento adequado aos rejeitos radioativos, ainda sem solução. Isso sem falar na possibilidade de graves acidentes e vazamentos, que podem provocar contaminações de pessoas e do meio ambiente, e do próprio legado do lixo nuclear às gerações futuras. A energia nuclear desvia ainda o foco da real solução para o aquecimento global, que é o investimento em energias renováveis, que são limpas, seguras e mais baratas no médio e longo prazos, levando-se em conta todas as variáveis em questão.

O custo do quilowatt instalado para usinas nucleares já é estimado entre US$ 5 bilhões e US$ 12 bilhões (para uma única usina), de acordo com o Relatório Moody “New Nuclear Generation in the United States” (Moody’s Investor Service). E as estimativas atuais não levam em consideração os custos de descomissionamento e gerenciamento de resíduos radioativos - tanto na mineração do urânio como no lixo final. O custo dessa disposição definitiva de rejeitos de alta e média radiatividade é estimado hoje entre US$ 21 bilhões e US$ 90 bilhões na França, país tido como exemplar no uso de energia nuclear. Boa parte disso financiado com dinheiro público, por meio de generosos subsídios.

Esses e outros dados dão um retrato mais acurado do que representa em termos ambientais, econômicos e energéticos a escolha da opção nuclear para o mundo. Seria importante que fossem colocados na mesa quando se discute o assunto, mas a revista Veja mostra apenas um lado do problema e a matéria tenta desfibrilar um cadáver com base em argumentos repetitivos e vagos. É pouco para impedir o inevitável: o futuro é renovável.

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Messias do Ibama trouxe más notícias: sai licença ambiental de Angra 3

23 de Julho de 2008 Ativistas levaram um grande retrato do presidente do Ibama, Roberto Messias, à sede do Ministério do Meio Ambiente, em Brasília, para protestar contra a concessão da licença ambiental para Angra 3.
Brasília (DF), Brasil — O aval técnico do órgão para a construção da terceira usina nuclear brasileira é uma afronta à Constituição Federal e ao contribuinte brasileiro, que pagará os bilhões dessa conta.

Roberto Messias, novo presidente do Ibama, mal chegou e já trouxe más notícias aos brasileiros: Angra 3 ganhou licença ambiental prévia e suas obras poderão ser iniciadas. Na tentativa de justificar tamanho descalabro, o governo fez uma lista de 60 condicionantes à Eletronuclear, empresa responsável pelo projeto. Mas por mais benéficas que sejam as exigências, como o investimento na manutenção do Parque Nacional da Serra da Bocaina e no saneamento básico de Angra dos Reis e Paraty, elas não compensam a construção de uma terceira usina nuclear na região.

Em protesto contra a má notícia, ativistas do Greenpeace foram à Brasília e colocaram em frente ao prédio do Ministério do Meio Ambiente um grande retrato do presidente da instituição responsabilizando-o pela desastrosa decisão.

Você também pode protestar, enviando um email ou um SMS para o presidente do Ibama, Roberto Messias.

"Aprovar o projeto de construção de Angra 3 é um retrocesso para o país e uma vergonha para o Ibama. Roberto Messias entra para a história como o homem que assinou a licença de um elefante branco radioativo, e Minc, opositor da energia nuclear, como o ministro que lavou as mãos para o fato", lamentou Ricardo Baitelo, da campanha de energia do Greenpeace.

Além disso, a retomada das obras da usina é uma afronta à Constituição Federal, que exige a discussão e aprovação desse tipo de projeto pelo Congresso Nacional, e também uma afronta ao contribuinte brasileiro, que terá seu dinheiro investido na opção energética mais cara, perigosa e poluente sem ao menos ter sido consultado a respeito.

Enquanto o programa nuclear retoma seus passos no Brasil, na Europa quem renasce é o fantasma radioativo. Dois vazamentos ocorridos em usinas atômicas francesas este mês colocaram em xeque a indústria nuclear do país, tida pelos defensores da tecnologia como exemplar para o mundo. Os acidentes que provocaram a contaminação radioativa de rios, impedindo o consumo de suas águas, são emblemáticos da falta de segurança da energia nuclear.

Em abril de 2008, o Ministério Público Federal (MPF) em Angra dos Reis encaminhou recomendação formal ao Ibama apontando graves falhas no Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA-Rima) do empreendimento e exigiu a identificação de um local definitivo para a disposição dos rejeitos radioativos, sem o qual não seria concedida a licença prévia.

Até hoje, o lixo radioativo gerado por Angra 1 e 2 vem sendo estocado dentro das usinas, e com a entrada em operação de Angra 3 esse problema deverá se agravar. O IBGE constatou, em seu relatório sobre “Indicadores de Desenvolvimento Sustentável 2008”, constatou que apesar de produzir 13.775 metros cúbicos de resíduos radioativos por ano, o Brasil ainda não tem depósitos finais para encaminhar esse material perigoso.

Com os mesmos recursos previstos para a construção de Angra 3, cerca de R$ 8 bilhões, seria possível instalar um parque de turbinas eólicas com o dobro da potência em no máximo um terço do tempo (2 anos), gerando 32 vezes mais empregos.

Dados recentes do Programa de Conservação de Eletricidade (Procel) indicam que cada R$ 1 bilhão investido em eficiência energética gera uma economia de 7.400 MW - ou o equivalente a 5,5 vezes a potência de Angra 3.

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Messias do Ibama é acorrentado no Rio de Janeiro

24 de Julho de 2008 Rio de Janeiro (RJ), Brasil — Manifestantes do Greenpeace protestam no Rio de Janeiro contra licença prévia para a instalação da usina nuclear Angra 3.

Ativistas do Greenpeace fizeram nesta quinta-feira uma manifestação diante da sede do Ibama no Rio de Janeiro em repúdio à emissão da licença prévia para a instalação da usina nuclear Angra 3, assinada na quarta-feira em Brasília pelo presidente do órgão, Roberto Messias. Vestidos com roupas de segurança nuclear, os ambientalistas acorrentaram um grande retrato de Roberto Messias nos portões do Ibama com a frase: "O Messias chegou e traz más notícias".

Dois relatórios sobre os impactos negativos do uso de energia nuclear produzidos pelo Greenpeace, Cortina de Fumaça e Elefante Branco, foram entregues ao superintendente do Ibama no Rio de Janeiro, Rogério Rocco, juntamente com a chave da corrente que prendia o cartaz.

"Aprovar o projeto de construção de Angra 3 é um retrocesso para o país e uma vergonha para o Ibama, que deu aval técnico a uma desastrosa decisão política. Roberto Messias entra para a história como o homem que assinou a licença de um elefante branco radioativo, e Minc, opositor da energia nuclear, como o ministro que lavou as mãos", lamentou Ricardo Baitelo, da campanha de energia do Greenpeace.

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França tem mais um caso de vazamento de urânio em usina nuclear

22 de Julho de 2008 Os acidentes em usinas nucleares francesas têm se tornado rotina no país e ainda assim o presidente Sarkozy viaja o mundo vendendo sua agenda nuclear a outros países.
Paris, França — É o 2o. acidente no mês em reatores da estatal francesa Areva. Enquanto isso, Sarkozy vende seu 'peixe nuclear' pelo mundo.

Enquanto o presidente da França, Nicolas Sarkozy, tenta emplacar sua agenda nuclear mundo afora, as usinas nucleares francesas continuam dando provas de que são um grande e perigoso problema. No último dia 7 de julho, 30 metros cúbicos de um líquido contendo urânio não-enriquecido transbordaram de uma fábrica da central nuclear de Triscastin, na região de Vaucluse, um ponto turístico francês. A população local e visitantes ficaram impedidos de consumir a água dos dois rios da região, que ficaram contaminados. Agora foi revelado um novo vazamento de líquido contendo urânio (desta vez levemente enriquecido), na cidade de Romans-sur-Isere. As duas usinas são administradas pela Arena, estatal nuclear francesa.

Ainda não se sabe qual a quantidade de urânio que vazou desta vez. Segundo comunicado oficial da Areva, o acidente ocorreu devido ao rompimento de um cano, que se quebrou "anos atrás". O encanamento ligava uma oficina onde se faz o combustível nuclear a uma estação de tratamento de urânio.

A Agência de Segurança Nuclear (ASN) da França criticou a Areva pela demora da estatal em comunicar os dois vazamentos e pelas insatisfatórias medidas de segurança tomadas. O mais grave em ambos os casos foi a demora na comunicação dos acidentes para as autoridades e, principalmente, à população.

Os dois acidentes obrigaram ao governo da França a tomar medidas extras de segurança. Segundo o ministro do Meio Ambiente francês, Jean-Louis Borloo, todos os rios que ficam próximos a reatores nucleares serão avaliados para ver se estão contaminados.

Na sexta-feira (18/7), a ASN anunciou também que 15 técnicos da central nuclear de Saint Alban foram contaminados durante uma operação de verificação.

Os problemas têm ocorrido todos os dias nas usinas francesas e ainda assim o governo Sarkozy as vende a outros países como perfeitas soluções energéticas.

"Os vazamentos radioativos da França mostram como as instalações nucleares são inseguras. O Brasil deveria prestar mais atenção no risco imposto para as populações durante estes acidentes antes de anunciar a construção de mais 3 ou 4 usinas no país. O mundo e principalmente o Brasil tem outras opções energéticas que são mais limpas, seguras e baratas", afirma Rebeca Lerer, coordenadora da campanha de energia do Greenpeace no Brasil.

 
 

Fonte: Greenpeace-Brasil
Assessoria de imprensa

 
 
 
 

 

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