13 de
Agosto de 2008 - Amanda Mota - Repórter da
Agência Brasil - Manaus - Localizada em uma
área de 213 mil quilômetros quadrados,
no extremo oeste do Amazonas, a região do
Alto Solimões caracteriza-se pela grande
diversidade ambiental, apresentando inúmeras
variedades de peixes, frutos e áreas verdes
praticamente intactas, devido às dificuldades
de acesso.
Não existem rodovias ligando
o Alto Solimões a outras regiões do
estado e do país. Chega-se lá somente
de barco, o meio mais usado, ou de avião.
Partindo de Manaus, por exemplo, a viagem de barco
pode levar de três a seis dias.
Apesar da grande extensão
e de ser composta por nove cidades – Atalaia do
Norte, Amaturá, Benjamin Constant, Fonte
Boa, Jutaí, São Paulo de Olivença,
Santo Antônio do Içá, Tonantins
e Tabatinga – a região tem baixa densidade
demográfica (0,93%), segundo dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Interligados pelo Rio Solimões, os municípios
são habitados também por cerca de
130 comunidades ribeirinhas e 149 comunidades indígenas
de etnias distintas, como Tikuna, Mayoruna, Cocama,
Marubo, Kanamari e os Kulina.
Entretanto, as riquezas naturais
não são compatíveis com as
condições socioeconômicas do
Alto Solimões. Em muitas áreas, inclusive
urbanas, faltam água e energia elétrica.
Em Tabatinga, por exemplo, a feirante Maria Neuza
Leandro conta que ter água em casa é
difícil. "Passamos o dia na feira vendendo
nossas frutas e verduras. Depois de todo esse trabalho,
ao chegar em casa, temos que pegar os baldes e procurar
algum local para enchê-los de água,
porque lá não tem isso."
Além disso, o último
censo do IBGE revelou que são altas as taxas
de analfabetismo na região (superiores a
30%) e complicadas as possibilidades de atendimento
na área de saúde, sobretudo para os
que vivem em comunidades fora das sedes dos municípios.
Também nesse aspecto Tabatinga é um
exemplo: localizada a mais de mil quilômetros
de Manaus, tem em seu entorno cerca de 62 comunidades.
Segundo o prefeito de Tabatinga,
Joel Santos, a cidade está situada no meio
da selva amazônica, e o acesso à Colômbia,
país com o qual faz fronteira, é mais
fácil do que a Manaus, capital do estado.
Santos disse que os recursos naturais precisam de
atenção para serem devidamente aproveitados
pela população: "Nossa única
riqueza são os recursos naturais. Estamos
carentes de ajuda para atender as condições
básicas de cidadania de nossos habitantes,
começando pela saúde."
Ontem (12) o governador do Amazonas,
Eduardo Braga, e o diretor do Banco Mundial John
Briscoe firmaram acordo que pode trazer novas perspectivas
para a região. Trata-se do Projeto de Desenvolvimento
Regional do Estado do Amazonas (Proderam), que vai
investir US$ 35 milhões na região.
É o começo de uma grande transformação
devida à população do Alto
Solimões, disse Braga.
"Estamos falando de um projeto
concentrado nos nove municípios do Alto Solimões
para turbinar e potencializar os outros investimentos
na região. Queremos trazer à região
uma resposta do poder público brasileiro
de que é possível ter desenvolvimento
local sem prejuízo aos recursos naturais.
A execução desse projeto é
o resgate de uma enorme dívida social que
tínhamos com essa região.”
O Proderam terá início
ainda neste ano, com a contratação
de consultorias nas áreas de atuação
do projeto. As obras começarão em
2009 e serão desenvolvidas em três
frentes: desenvolvimento sustentável, saneamento
e saúde. Na primeira frente, estão
previstas atividades produtivas como colheita e
beneficiamento de madeira e organização
da piscicultura.
Na área de saneamento,
o objetivo é melhorar os sistemas sanitários
e universalizar o acesso à água, por
meio da melhora dos sistemas de abastecimento. Na
saúde, a meta é ampliar a cobertura
e a qualidade da atenção básica
e facilitar o acesso aos serviços de média
e alta complexidade.