29 de Agosto - O presidente da
Funai Márcio Meira recebeu a “Carta de Manaus”
dos indígenas urbanos que estão participando
da II Conferência Estadual dos Povos Indígena
do Amazonas, com as demandas dos “Índios
de Manaus”, como eles desejam ser denominados. O
documento contém propostas nas áreas
de saúde, educação, sustentabilidade,
emprego e renda, territorialidade e habitação
e foi entregue logo após
a solenidade de abertura, quando o presidente recebeu
as diversas delegações indígenas
que se agrupavam por calha de rio e também
os índios de diversas etnias que moram na
cidade de Manaus.
A Carta de Manaus é produto
da II Conferência Indígena Regional
de Manaus, realizada dos dias 15 e 16 de agosto
pela Confederação das Organizações
Indígenas e Povos do Amazonas (Coiam) e Coordenação
das Organizações Indígenas
da Amazônia Brasileira (Coiab), com o apoio
do Governo do Estado do Amazonas, por meio da Secretaria
Estadual do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
(SDS) e Fundação Estadual dos Povos
Indígenas (FEPI), e Fundação
Nacional do Índio por suas Coordenadoras
de Promoção Social e de Mulheres Irânia
Marques e Léia do Vale, respectivamente.
O reconhecimento dos índios
urbanos pelo presidente Márcio Meira, no
seu pronunciamento durante a abertura da II Conferência,
foi aplaudido pelos índios de Manaus que
hoje são mais de 20 mil indígenas,
segundo dados da da Fundação Oswaldo
Cruz, conforme o indigenista João Melo Farias,
da Administração de Manaus. Essa população
se concentra em várias áreas da cidade
com bairros que se assemelham a aldeias, como é
o caso de Cidade de Deus, Santos Dumont e Japiim.
O documento serve de base para
nortear as discussões de um dos grupos de
trabalho da II Conferência. Dentre as reivindicações
da Carta de Manaus destaca-se a capacitação
dos profissionais da saúde na rede pública
municipal para o trabalho com os povos indígenas.
Por três meses os agentes atuam em experiência
e somente serão efetivados após avaliação
pela comunidade indígena, União dos
Povos Indígenas de Manaus (Upim) e Coiam,
respaldado de acordo com a disposição
da Funasa, por meio dos Distritos Sanitários
Especiais Indígenas, Estados e Municípios
de Manaus. Os pedidos incluem ainda contratação
de profissionais indígenas com conhecimento
de línguas para acompanhar os pacientes indígenas;
garantir e assegurar participação
da Upim e Coiam no Conselho Distrital de Saúde
Indígena de Manaus e do Estado; garantir
o reconhecimento dos professores indígenas
no município de Manaus; garantir e assegurar
a funcionalidade da educação escolar
indígena, com qualidade, no município
de Manaus, com contratação de professores
indígenas com aprovação da
comunidade e/ou organizações; acesso
e garantia da permanência dos estudantes indígenas
nos cursos de ensino fundamental, médio e
superior no município de Manaus; criação
de uma universidade indígena no Município
de Manaus para atender a demanda dos povos indígenas;
que as políticas públicas viabilizem
mecanismos que potencializem a gestão das
populações indígenas na produção
e escoamento dos produtos indígenas no Município
de Manaus; que as instituições públicas
qualifiquem profissionais indígenas para
a gestão de atividades que gerem renda e
propicie negócios para os indígenas
no Município de Manaus; que os povos indígenas
criem formas de certificação de qualidade
de seus produtos e intensifiquem a fiscalização
denunciando qualquer forma de pirataria dos produtos
indígenas, entre outras.
+ Mais
Povos Indígenas terão
Bolsa Floresta e de Iniciação Científica
26 de Agosto - O comprometimento
público do presidente da Funai, Márcio
Meira, de parceria com o Governo do Estado do Amazonas
e organizações indígenas para
que o Bolsa Floresta, benefício para quem
ajuda a manter a floresta em pé, chegue aos
povos indígenas marcou a abertura da II Conferência
Estadual dos Povos Indígenas do Amazonas
nesta segunda-feira (25/08/08), no auditório
da Universidade do Estado do Amazonas. O evento
conta com a participação de representantes
das 64 etnias que irão, nos próximos
quatro dias, discutir com técnicos das diversas
secretarias estaduais e das coordenações
do órgão indigenista o tema “Povos
Indígenas e Políticas Públicas”.
Márcio Meira elogiou a
iniciativa do Governo do Amazonas, que deve servir
como exemplo para outros estados, e disse ainda
que não consegue falar com alguns governadores,
pois há preconceito contra os indígenas
e só acreditam no agronegócio para
o crescimento e desenvolvimento do país.
“A Funai está aqui para apoiar e já
esta apoiando esta conferência com a vinda
de delegados. Chefes de postos e todos os nossos
coordenadores estão aqui acompanhando essa
discussão”. Márcio foi aplaudido ao
destacar que o órgão indigenista reconhece
a população indígena urbana,
por ser uma realidade que não se pode desconsiderar.
O diretor presidente da Fundação
Estadual de Política Indigenista Bonifácio
Baniwa falou da necessidade de trabalhar em parcerias
para que se avance cada vez mais na garantia dos
direitos dos povos indígenas e lembrou o
antes e o depois do atual Governo do Estado, ao
incluir os indígenas na discussão
e implementação de políticas
públicas para os povos indígenas.
O presidente da Fundação
de Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas Odenildo
Teixeira Sena, para confirmar o comprometimento
do Governo do Amazonas com os povos indígenas,
anunciou o PAIC - Programa de Apoio a Iniciação
Científica Indígena, concedendo cem
bolsas para estudantes indígenas de nível
superior. Os interessados já podem acessar
a página da instituição e apresentar
os projetos para apreciação.
O secretário de Governo
do Amazonas José Melo, representando o Governador
Eduardo Braga, agradeceu a parceria da Funai para
juntos contribuir com o novo futuro dos povos indígenas
do Estado, que hoje é uma população
de mais de 120 mil indígenas. José
Melo lembrou ainda do reconhecimento do presidente
Lula, que nas urnas recebeu nove de cada dez votos,
no último pleito. Esse agradecimento, segundo
José Melo, se efetivou com o lançamento
da Agenda Social Para os Povos Indígenas,
lançada em abril de 2007, no município
de São Gabriel da Cachoeira, estendendo às
aldeias e populações urbanas os benefícios
de todos programas sociais do Governo Federal, o
fortalecimento das organizações indígenas
para o exercício do controle social, entre
outros.
+ Mais
Ritual indígena secreto
mais esperado inicia no último fim de semana
de agosto
29 de Agosto - No próximo
domingo (31), os índios da etnia Fulni-ô
darão início ao evento mais importante
para eles: o Ouricuri. A aldeia fica vazia pois
todos se deslocam para a região sagrada onde
anualmente acontece o ritual religioso e secreto.
Atualmente o povo Fulni-ô está localizado
no Município de Águas Belas, a 365
km de Recife, e tem uma população
de aproximadamente 6 mil índios, em sua maioria
bilíngües. Apesar de sofrerem forte
influência de outras culturas, os indígenas
mantêm sua cultura e sua língua, o
Yaathe.
O Fulni-ô tem como regra a proibição
de falar do ritual.
Para o Fulni-ô, Awassury de Sá, 23
anos, um dos motivos do ritual ser secreto é
que os indígenas acreditam que se não
fosse sigiloso, os seus conterrâneos brasileiros
teriam algo mais para destruir.
O Ouricuri é um momento
de concentração total em Deus. Na
abertura é celebrada uma missa pelo bispo
da diocese de Garanhuns-PE e a partir do meio-dia
a permanência no local é restrita somente
aos Fulni-ô. O que pode ser dito é
que há uma divisão entre os homens
e as mulheres para que ambos purifiquem-se espiritual
e mentalmente. O objetivo é livrar os participantes
de qualquer sentimento que venha interromper a concentração,
para que possam desenvolver as responsabilidades
estabelecidas pelo ritual. Nesse período
não é permitido manter relações
sexuais dentro do Ouricurí. Embora não
se pratique uma abstinência sexual absoluta,
respeita-se o lugar sagrado, mantendo este tipo
de relação na aldeia onde moram.
O Fulni-ô, Cícero
Brito, 33 anos, explica que a expectativa é
tão grande que aproximadamente um mês
antes do início do ritual, os indígenas
deixam de lado atividades rotineiras para se concentrar.
Muitos se deslocam da aldeia para dormir no local
onde é realizado o culto. “Nossa religião
é muito bem planejada e completa. O Ouricurí
é uma terra santa, não permite outro
pensamento que não o religioso”, afirma Brito.
Liderados pelo cacique e o pajé,
os Fulni-ô têm o Ouricurí como
fator fundamental para a resistência e os
costumes ancestrais, como a língua Yaathe
que é a base para a prática do rito.
Juazeiro Sagraado
Ouricurí espaço
físico:
É o local onde os indígenas passam
três meses dedicados as práticas do
ritual. Há 5 km da Aldeia, antigamente o
Ouricurí era composto por casas de palhas,
as quais eram refeitas anualmente. Para maior segurança
do povo e devido à escassez da matéria-prima
e sua pequena durabilidade, as casas passaram a
ser construídas em taipa e depois tijolos.
Durante a moradia no Ouricurí,
os homens dormem separados das mulheres. Eles em
torno do juazeiro sagrado, em galpões ou
ao relento. Elas nas casas ou também ao relento.
Mesmo sem luz elétrica e pouco conforto,
os habitantes da pequena reserva se dizem muito
felizes. Segundo eles a terra santa é um
local onde se fala em Deus em todo o momento.