03/09/2008 - “A influência
da humanidade no planeta Terra tornou-se tão
significativa a ponto de constituir-se em uma nova
era geológica”. Citando
esta frase de Paulo Crutzen, ganhador do Prêmio
Nobel de Química, em 1995, Carlos Nobre,
pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
- INPE, abriu palestra sobre “Mudanças Climáticas”
no Auditório Augusto Ruschi, na CETESB –
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental,
nesta quarta-feira (3/9).
Apresentado pelo presidente da
CETESB, Fernando Rei, Carlos Nobre é autor
da tese de savanização da Floresta
Amazônica como um dos resultados do aquecimento
global. Para isso, o pesquisador acredita que basta
a temperatura do planeta aumentar 4ºC. “Em
apenas 200 anos, temperatura aumentou cinqüenta
vezes mais rápido do que na passagem da última
era glacial para a era atual”, disse.
Segundo Nobre, as primeiras pesquisas
sobre o aquecimento global aconteceram no final
do século XIX e foram vistas com otimismo,
pois o aumento da temperatura poderia beneficiar
países localizados próximos ao Pólo
Norte. No entanto, o palestrante advertiu que é
preciso considerar os diversos efeitos colaterais
decorrentes do acúmulo de gases de efeito
estufa, como o derretimento das geleiras na Groenlândia,
elevação do nível do mar, aumento
de furacões e grandes tempestades e períodos
de estiagem mais intensos.
Um desses efeitos deverá
ser observado sobre a biodiversidade, levando entre
10 a 15% das espécies a ser extintas, conforme
as perspectivas mais otimistas. Outro grave problema
seria o aumento do nível do mar como conseqüência
do derretimento das geleiras. Para piorar a situação,
o efeito estufa não é mais uma hipótese
mas uma realidade, pois os gases já lançados
permanecerão na atmosfera ainda por muitos
anos. Para Nobre, o que é possível
fazer é controlar as próximas emissões
e para isso é preciso uma mudança
cultural, política e tecnológica.
No entanto, o aumento das emissões
de CO2 é sinal de que o “mundo está
indo completamente na contramão do combate
ao aquecimento global”. Além disso, o pesquisador
complementa dizendo que “o consumismo é insustentável
a longo prazo”.
Em relação às
emissões brasileiras de CO2, afirmou que
o Brasil é o maior emissor por habitante
dentre todos os países em desenvolvimento
e que 55% dessa emissão advém do desmatamento,
principalmente na Amazônia.
Quanto às outras fontes
de gases do efeito estufa, o pesquisador lembra
que, ao contrário da maioria dos países
do primeiro mundo, grande parte da energia brasileira
advém de fontes renováveis e pouco
poluentes. “Nenhum país do mundo tem tanto
potencial natural”, afirma.
Comentando a descoberta recente
de grandes reservas de petróleo, principalmente
na área marítima dos Estados de São
Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, mostrou
seu receio manifestando a expectativa de que “o
pré-sal não nos tire do caminho das
energias renováveis”.
Texto: Júlio Vieira e Rene Alves
Foto: Pedro Calado