9 de Setembro de 2008 - Amanda
Cieglinski - Enviada Especial - Alta Floresta (MT)
- A Operação Ponta de Lança
iniciada hoje (9) pelo Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) no Parque Nacional do Juruena (MT), na Floresta
Amazônica, flagrou em um dia pelo menos cinco
crimes ambientais dentro da área de reserva
federal: criação de gado, desmatamento,
garimpo ilegal, extração de madeira
e de palmito sem autorização. O ministro
do Meio Ambiente, Carlos Minc, acompanhou
o primeiro dia das ações.
“Há um sentimento de impunidade
e de falta de alternativas sustentáveis.
Nós temos que intensificar a repreensão
e a fiscalização, mas também
as alternativas para que essas pessoas possam viver
com dignidade sem destruir”, defendeu Minc.
Cerca de 700 cabeças de
gado – conhecidas como bois piratas, por ocuparem
ilegalmente área de reserva – foram encontradas
dentro do parque. Cerca de 600 delas pertenciam
a uma mesma fazenda. Para garantir a pastagens dos
bois, a proprietária do terreno, Helena Salomão,
desmatou uma área total de 185 hectares.
A multa pode chegar a R$ 1 milhão.
“O Parque Nacional do Juruena
está virando pasto e carvão. São
185 hectares desmatados, madeira recém cerrada
e curral sendo construído para botar mais
boi. Isso é crime ambiental, tudo vai ser
apreendido, e as pessoas vão depor por crime
ambiental”, afirmou o ministro.
Os donos da fazenda terão
20 dias para tirar o gado do local, caso contrário
o boi será confiscado pelo Ibama e pode ser
doado ou leiloado. Algumas fazendas contam com grande
infra-estrutura para as atividades dentro do parque,
incluindo pistas de pouso.
Na fazenda Santo Antônio
do Descoberto, a equipe de fiscalização
do Ibama detectou o desmate recente de 30 hectares,
também para pastagem bovina. O gerente das
terras, Sidney Leal, foi encaminhado para a delegacia
do município de Nova Bandeirante, a 190 quilômetros
da propriedade, para abertura de inquérito.
Ele alegou que a área havia sido desmatada
há mais de dois anos, mas era possível
sentir o cheiro da queimada recente.
“Tem gente que diz que é
ilegal, outros dizem que não é, agora
que a gente tá sabendo mesmo. Mas quando
eu cheguei, há um ano e meio, isso tudo já
estava desmatado, não fui eu quem fiz nada”,
defendeu-se Leal.
O dono da fazenda possui uma licença
ambiental concedida pelo estado do Mato Grosso anterior
à criação do parque. Mas, segundo
Minc, desde a criação da reserva,
em 2005, esses documentos perderam o valor e os
proprietários precisam deixar as terras.
A coordenação da
operação também identificou
cinco garimpos ilegais, um deles ainda em atividade,
o Clareira. De acordo com o diretor de Proteção
Ambiental do Ibama, Flávio Montiel, a atividade
já causou o assoreamento do rio, além
da contaminação da água por
mercúrio.
Na fazenda Jorge Salomão,
o Ibama encontrou 11 metros cúbicos de madeira
itaúba extraída ilegalmente. A carga
estava sendo levada para Nova Bandeirante.
Outra apreensão feita hoje
foi a de 190 caixas de palmito extraído ilegalmente
de dentro da reserva. Para produzir aquela quantidade
de “palmito pirata”, como o produto foi apelidado
pelo ministro, é necessário derrubar
cerca de 1 mil pés de palmeira. Nas embalagens,
os fiscais encontraram ainda um número fictício
de licença ambiental do Ibama.
A Operação Ponta
de Lança continua por sete dias com o apoio
da Polícia Rodoviária Federal. O Parque
Nacional do Juruena foi criado em 2005. Com uma
área de 180 mil hectares, a reserva fica
localizada no extremo Norte do Mato Grosso, entre
o Sul do Pará e do Amazonas.