15/09/2008 - O pau-brasil é
reconhecido, em todo o mundo, como a madeira mais
apropriada para a confecção de arcos
para violinos. Antes, desde
os primeiros anos da colonização do
Brasil, essa essência foi explorada exaustivamente
por causa do corante avermelhado presente no cerne
da árvore e da qualidade da madeira para
a fabricação das antigas caravelas,
além de outras aplicações.
Essa planta que, por causa das
suas qualidades, entrou na lista das espécies
vegetais ameaçadas de extinção,
é o tema do livro “Pau-brasil – da semente
à madeira”, lançado nesta segunda-feira
(15/9) pelo Instituto de Botânica, órgão
da Secretaria do Meio Ambiente do Estado. A publicação
reúne textos elaborados por pesquisadores
científicos, um músico e um arqueteiro,
artesão especializado na fabricação
de arcos para violinos, que tratam de aspectos históricos
e econômicos dessa árvore, além
de estudos científicos atualizados, com informações
inéditas sobre a sua fisiologia, áreas
de ocorrência e ações para a
sua preservação.
Para o secretário do Meio
Ambiente, Xico Graziano, que prestigiou o lançamento,
o livro tem o mérito de atualizar os conhecimentos
sobre a planta, trazendo não só informações
para a sua conservação no meio ambiente,
mas abordando também questões referentes
à sua importância na formação
cultural e econômica do país, cálculos
da densidade do material e usos.
O evento contou ainda com a participação
da diretora geral do Instituto de Botânica,
Vera Bononi, que falou dos exemplares de pau-brasil
existentes no Jardim Botânico, em especial
do arboreto que já conta com 25 anos desde
o plantio. A pesquisadora Rita de Cássia
Leone Figueiredo Ribeiro, também do Instituto
de Botânica, que coordenou a publicação,
informou que se trata de um projeto com recursos
da Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo – FAPESP, iniciado
em 2001 e concluído em 2005.
“Muitas informações
contidas no livro são inéditas, fruto
das pesquisas que geraram três dissertações
de mestrado e duas teses de doutorado em fase de
conclusão”, disse. As pesquisas mostraram,
por exemplo, que ao contrário do que se acreditava,
que as sementes podem ser guardadas por até
quatro anos, o que amplia as possibilidades das
ações de conservação
da espécie. Antes, predominava a informação
de que as sementes perdiam suas propriedades germinativas
em pouco mais de um mês.
A publicação será
comercializada por R$ 65,00. Mais informações
podem ser obtidas no Setor de Vendas do Instituto
de Botânica, pelo telefone 11-5073.6300, ramal
313.
Árvore-símbolo
O livro, com 184 páginas
fartamente ilustradas, inclusive com reproduções
de textos dos séculos XVI e XVII, foi organizado
pelos pesquisadores Rita de Cássia Leone
Figueiredo Ribeiro, Claudio José Barbedo,
Edenise Segala Alves, Marisa Domingos e Márcia
Regina Braga, do Instituto de Botânica. Os
textos são assinados por botânicos,
especialistas em sementes, produção
de mudas, desenvolvimento e reprodução
vegetal e anatomia de madeira, além do músico
Abel Vargas e o “luthier” Daniel R. Lombardi.
A publicação trata
dos diversos aspectos dessa espécie tropical
típica de áreas de Mata Atlântica,
abordando na primeira parte a história da
exploração da madeira do pau-brasil,
desde o início da colonização
do Brasil, no século XVI. A importância
econômica dessa essência nativa promoveu,
inclusive, a mudança do nome Terra de Vera
Cruz, primeira denominação dada por
Pedro Álvares Cabral à terra descoberta,
para Costa do Brasil, Terra do Brasil e, depois,
apenas Brasil, em referência ao corante vermelho,
cor de brasa, presente na madeira.
Com flores amarelas em cacho,
o pau-brasil tornou-se a árvore-símbolo
do nosso país, sendo uma das espécies
mais requisitadas, hoje, por escolas, empresas e
entidades não-governamentais, para celebrar
datas como o Dia do Meio Ambiente ou a Semana da
Árvore, que marca o início da primavera.
As outras partes do livro trazem
informações sobre a biologia da espécie,
formação da semente, características
ecológicas e manejo em bosques e em áreas
urbanas. A quarta parte do livro trata das propriedades
da madeira e seu uso na confecção
de arcos de violinos, sugerindo espécies
alternativas para a fabricação de
instrumentos musicais, para amenizar a pressão
sobre o pau-brasil.
Arqueteria
O arquiteto Daniel Romeu Lombardi,
que prefere denominar-se arqueteiro, produz arcos
para violinos, violas, violoncelo e contrabaixos
há 25 anos. Ele explica que o pau-brasil
possui as propriedades necessárias para o
seu uso na música, entre elas, a dureza e
a elasticidade, para suportar a vibração
e manter a crina no estado de tensão ideal.
A madeira é a mais procurada
para esse fim, em todo o mundo, desde que o arqueteiro
francês François Tourte produziu os
primeiros arcos, por volta de 1850. Embora um arco
para violino pese apenas 61 gramas; o de viola,
72; o de violoncelo, 83; e o de contrabaixo, 140
gramas; o fato da árvore encontrar-se ameaçada
de extinção levou Lombardi a pesquisar
outras espécies para essa finalidade. “A
madeira do ipê possui comportamento parecido
com a do pau-brasil, com um custo mais acessível”,
afirma o arqueteiro, que já fabricou mais
de 1.200 arcos até hoje.
Texto: Newton Miura Fotografia: José Jorge