10/09/2008 - Amanhã, 11
de setembro, é o Dia Nacional do Cerrado.
Mas em vez de comemoração, os movimentos
que defendem o bioma promovem
uma mobilização, uma manifestação
pacífica na Esplanada dos Ministérios,
em Brasília, pela aprovação
da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 115-A,
de 1995. A emenda inclui o Cerrado nos biomas considerados
Patrimônio Nacional e está parada no
Congresso Nacional há 13 anos
A PEC-115-A/1995 propõe
a modificação do parágrafo
4º do artigo 225 da Constituição.
Trata-se de uma emenda proposta em 1995 – e que
até hoje está no Congresso Nacional
sem ser votada – para que o Cerrado e a Caatinga
sejam considerados Patrimônio Nacional. Leia
mais.
O Movimento Cerrado Vivo pretende
entregar uma lista com assinaturas pedindo aos deputados
a aprovação da PEC. A idéia
é chamar a atenção de parlamentares,
governantes e da sociedade em geral para a necessidade
de preservar e recuperar o Cerrado transformando-o
em Patrimônio Nacional. Para assinar a lista
pela aprovação da PEC entre no site
www.cerrado.wiki.br.
A inclusão do Cerrado entre
os biomas considerados Patrimônio Nacional
– atualmente Amazônia, Mata Atlântica
e Pantanal compõem a lista – tem uma importância
tanto simbólica quanto prática, porque
possibilitará meios para ampliar os investimentos
em conservação no bioma. A efetividade
da medida, entretanto, dependerá de sua regulamentação
e do estabelecimento de políticas de conservação
que contribuam para a ampliação das
Áreas Protegidas no bioma. Saiba mais.
De acordo com o estudo Hotspots,
da Conservação Internacional, o Cerrado
é uma das 25 regiões mais ricas em
biodiversidade e mais ameaçadas do Planeta.
O segundo maior bioma do país
No ranking dos biomas brasileiros
o Cerrado vem em segundo lugar, atrás da
Amazônia. De acordo com texto do geógrafo
e documentarista Pedro Novaes, publicado no Almanaque
Socioambiental 2008, o Cerrado tem 1,9 milhão
de km2 e abrange doze estados: Maranhão,
Pará, Rondônia, Piauí, Bahia,
Minas Gerais, Tocantins, Goiás, Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná.
Desde a década de 1960, quando tornou-se
placo da expansão da fronteira agropecuária,
vem perdendo sua cobertura vegetal. De acordo com
a Embrapa Cerrado, a perda é de 38,8% enquanto
que pelos cálculos da Conservação
Internacional estaria em torno de 57%. "Muito
da diferença entre estes dados se relaciona
à dificuldade de mapeamento dos diferentes
ecossistemas do bioma, sobretudo na diferenciação
entre pastagens naturais e pastagens plantadas",
escreve Novaes.
+ Mais
Índios comemoram a inauguração
da maloca Casa de Conhecimento
13/09/2008 - Símbolo da
valorização cultural de povos indígenas
que vivem próximos à cidade de São
Gabriel da Cachoeira (AM), noroeste amazônico,
a maloca baniwa “Casa de Conhecimento”, da comunidade
de Itacotiara-Mirim, é inaugurada depois
de dois anos de construção.
Desde o início da formação
da comunidade de Itacoatiara-Mirim, as famílias
baniwa lideradas por Luíz Laureano, sempre
procuraram manter vivas as tradições
dos seus antepassados. Mas embora ali houvesse um
centro comunitário para acolher manifestações
culturais, ritos religiosos e tradições,
os baniwa sentiam necessidade de ter um local, uma
grande casa comunal como tinham seus antepassados,
onde várias famílias viviam, tomavam
decisões políticas, celebravam rituais
de dança, de benzimentos e de iniciação.
Seria o “espaço ideal” para motivar toda
a comunidade a participar de atividades culturais
e um contraponto às situações
de risco - alcoolismo, drogas, prostituição,
suicídios e outros - às quais os jovens
indígenas estão expostos na cidade.
Assim, em 2005, Itacoatiara-Mirim
organizou uma reunião com lideranças
locais para discutir a construção
desse espaço. “Era um sonho do meu pai, falecido
há pouco tempo, construir a maloca para que
pudéssemos matar saudade da nossa terra,
dançando e cantando com crianças e
velhos”, conta Laureano. “É na maloca que
vamos nos reunir para contar histórias de
antigamente, dizia meu pai”.
O arquiteto e urbanista Almir
Oliveira, pesquisador associado ao Instituto Socioambiental
e estudioso da arquitetura tradicional do Alto Rio
Negro, foi convidado a contribuir no desenho e na
construção da maquete do que viria
ser a tão sonhada maloca. Projeto pronto
e planta nas mãos, ainda faltava o financiamento
para a construção. Pequenos projetos
em busca de apoio foram enviados e a construção
acabou viabilizada com recursos da Cafod (Agência
Católica para o Desenvolvimento), do ISA,
da Federação das Organizações
Indígenas do Rio Negro (Foirn), da Escola
Agrotécnica Federal e da Prefeitura Municipal
de São Gabriel da Cachoeira. O Prêmio
Cultura Viva 2007, do Ministério da Cultura,
que o grupo de danças de Itacoatiara-Mirim
ganhou por conquistar o segundo lugar na categoria
“grupo informal”, também foi um grande incentivo.
Saiba mais sobre o prêmio. O grupo foi formado
por Luiz Laureano ao tempo em que foi capitão,
tuxaua da comunidade, e ganhou reconhecimento local,
nacional e internacional ao dançar em Paris,
durante as comemorações do ano do
Brasil na França, em 2005.
Mas o fundamental para a concretização
do projeto foi o esforço da comunidade que
durante dois anos organizou mutirões de trabalhos
nos quais crianças, jovens e velhos trabalharam
juntos somando forças para erguer a maloca
que passou a ser chamada de “Maloca Casa de Conhecimento”.
Espaço de transmissão
de cultura
“A Maloca Casa de Conhecimento
é um espaço de transmissão
e aprendizagem da nossa cultura para quem não
a conhece ou esqueceu. Lá iremos conversar,
contar histórias de antigamente, reviver
nossos costumes de comer juntos a quinhapira e o
mingau pela manhã. Vamos dançar, fazer
nossos próprios instrumentos, mostrando aos
jovens como os antigos faziam” explica Laureano.
“A Casa de Conhecimento também irá
receber parentes que virão do Içana
para compartilhar conosco as notícias de
nossos familiares que ficaram por lá, para
dançar e conversar. Será como uma
escola que irá passar conhecimento” .
Transformar o espaço em
uma “maloca-escola” está nos planos para
o futuro. A comunidade planeja discutir como será
o projeto político-pedagógico da Casa,
para assim atender as crianças e jovens locais
e também os das comunidades vizinhas. Serão
as gerações futuras, de acordo com
Moisés Laureano, presidente da Acicc (Associação
Cultural Indígena Casa de Conhecimento),
filho de Luiz Laureano, que manterão vivas
as tradições dos baniwa. “Os jovens
indígenas que estão perto da cidade
precisam se interessar pela nossa cultura. A cachaça,
a televisão, as coisas ruins da cidade já
influenciaram demais, e assim vemos nossos filhos,
irmãos mais novos, envolvidos com bebedeiras,
brigas e outras coisas”, diz Moisés. “Eles
também sofrem com o desemprego. Às
vezes, eles nem terminam seus estudos, não
conseguem emprego e ficam vagando por aí.
Esses jovens, não estão formados nem
na cultura do branco e muito menos na nossa cultura
indígena. A maloca irá ensiná-los
a sobreviver conforme nossos costumes, fazendo artesanato,
trabalhando na roça, pesquisando as plantas
e outras atividades”.
Outra conquista da comunidade
foi a formação da Acicc, fundada em
maio desse ano. A associação teve
sua origem relacionada diretamente com o empenho
da comunidade em construir a maloca, trazendo união
e espírito de cooperativismo entre todos.
A comunidade entendeu que é necessário
se organizar, criar uma associação
para dar os próximos passos na ampliação
do projeto da Casa de Conhecimento, que prevê
a estruturação de uma praça
comunitária no entorno da maloca.
A grande festa de inauguração
O madzero Luiz Laureano comandou
a festa de inauguração entre 3 e 5
de setembro passados. Madzero significa em baniwa
mestre das cerimônias, aquele que comanda
essas festas. As danças se revezavam entre
o cariçú baniwa e o cariçú
dos tukano e tuyuka. Jovens e crianças participaram
o tempo todo puxando as danças e fazendo
a alegria do madzero. A dança da saúva,
tipicamente baniwa, foi uma novidade para os que
não a conheciam. O par de flautas japurutu
era tocado com muita habilidade, com a experiência
daqueles que receberam ensinamentos repassados há
várias gerações. Também
não faltou caxiri, a bebida tradicional feita
de caldo de mandioca fermentado.
Na primeira noite, a convidada
de honra foi a comunidade São José
do Rio Ayari, que ofereceu um Dabucuri (troca de
presentes) para Itacoatiara-Mirim em agradecimento.
Outro grupo convidado, foi o Wese, formado por índios
tuyuka que vivem na cidade e também realizam
apresentações de danças. Na
última noite, os integrantes do Wese homenagearam
o madzero Luiz com a dança do Macará.
Apesar da intensa programação
das noites, mal amanhecia o dia e o sino já
tocava anunciando o mingau coletivo da manhã.
Logo após, começava a programação
diurna basicamente composta por práticas
de esportes indígenas e não-indígenas.
Povoados próximos a Itacoatiara-Mirim também
participaram da comemoração com seus
grupos de dançarinos e de esportistas. No
último dia, houve a entrega dos prêmios
para as equipes vencedoras.
A comunidade indígena encosta
na cidade
“O nome da comunidade em baniwa
é Kapithinai, quer dizer quati. Um padre
que freqüentava minha comunidade quando eu
ainda morava lá no Ayari, me falava de uma
cidade que ficava abaixo de Manaus que se chamava
Itacoatiara, e aquele nome ficou na minha memória.
Então eu disse pra mim mesmo, quando eu tiver
um sítio vou chamá-lo de Itacoatiara.
Quando nos mudarmos pra cá, eu batizei como
Itacoatiara-Mirim. Mirim, porque é uma pequena
comunidade. Itacoatiara-Mirim significa em nhengatú
“pequena pedra pintada”, conta Laureano. É
nesse lugar, às margens da estrada que leva
ao aeroporto e ao porto de São Gabriel, que
vivem 22 famílias.
A comunidade surgiu 20 anos atrás,
quando a família de Luiz Laureano, baniwa
do clã Hohodone, migrou da comunidade Camarão,
no Rio Ayari, rumo à cidade de São
Gabriel. De acordo com Luiz, o principal motivo
que os levou a saír de sua comunidade de
origem foi a busca de melhores condições
de vida. “As nossas comunidades cresceram muito,
aí começou a faltar peixe, caça
e terra para plantar roça. Não tinha
onde comprar pequenos objetos como fósforo,
sabão, panelas. Para ir até São
Gabriel ou Mitú (na Colômbia) e voltar
para nossa comunidade era quase um mês a remo.
Naquele tempo não tínhamos motor rabeta,
gasolina e barco. Não tinha escola para meus
filhos e assim a situação ficou cada
vez mais difícil. Por isso resolvemos mudar
para a cidade”.
Luiz Laureano conta que no início
foi difícil, pois a família precisava
se acostumar ao novo ambiente. Apesar de um pouco
afastados da cidade, acabaram vivenciando uma realidade
que não era a deles. “A minha maior preocupação
era com as crianças que agora estavam perto
da cidade. Eu não gostaria que elas esquecessem
dos ensinamentos dos mais antigos”. Estabelecido
na cidade, o grupo procurou a prefeitura de São
Gabriel que cedeu um lote de terra para se instalarem
na zona periurbana, a 11 km do centro da cidade.
Degradação ambiental
Depois de anos vivendo na região,
os recursos naturais ficaram mais escassos e boa
parte de área de roça, caça
e de pesca da comunidade sofreu impactos ambientais,
principalmente por conta de obras que a Comara (Comissão
dos Aeroportos da Amazônia), órgão
da Aeronáutica responsável pela construção
de aeroportos militares na Amazônia, vem causando
nos últimos anos. A ação mais
prejudicial foi a retirada de terra e areia na cabeceira
do principal igarapé que abastece a comunidade.
A contaminação da água devido
ao assoreamento do leito, vem trazendo muitas conseqüências.
Uma delas é o alto índice de malária
e diarréia que atinge sobretudo as crianças
e os mais idosos.
“Publicamos uma carta endereçada
à Comara, reivindicando reparos na área
degradada e solicitando compensação
por danos causados à nossa comunidade. Eles
prometeram ajudar, mas já faz um ano que
esperamos a resposta da carta que protocolamos na
Comara e até o momento nada foi feito. Nossos
igarapés estão assoreados, nossa área
de roça e caça está com grandes
erosões”, informa Moisés Laureano.
(Leia quadro abaixo).
Outro agravante é a retirada
desordenada de madeira na área da comunidade.
As estradas que foram abertas pela Comara para retirada
de areia, facilitou a entrada de madeireiros na
floresta que extraem madeira sem nenhum tipo de
licença ou permissão da comunidade.
Recentemente com a elaboração
do Plano Diretor do município, a comunidade
de Itacoatiara-Mirim foi classificada como “zona
comunitária indígena”. Portanto, essas
áreas têm como objetivo garantir a
permanência das formas de uso e ocupação
do solo segundo costumes, usos e tradições
das comunidades que vivem nelas e junto com o poder
público devem planejar o seu espaço
de ocupação. Mesmo não pertencendo
a uma terra indígena, a comunidade poderá
pensar junto com o município o futuro para
sua área. “Precisamos sentar com outras comunidades
que também são zonas comunitárias
indígenas para pensar o uso do nosso território.
Para não acontecer de uma comunidade usar
todos os recursos sozinha. Quase não temos
recursos perto das nossas comunidades, precisamos
pensar uma forma sustentável de uso” relata
Moisés.
Mesmo que a predominância
seja baniwa, atualmente vivem em Itacoatiara-Mirim
pessoas de outras etnias como tukano, wanano, cubeu,
siriano, desana. Migraram de várias regiões
do Rio Negro e pediram acolhida a Luiz Laureano
para viverem em Itacoatiara-Mirim. A convivência
com outros povos na comunidade fez com que Laureano
aprendesse outras línguas além de
baniwa e português. Ele fala nhengatú,
pira-tapuia, tukano, wanano, cubeu e espanhol. Todas
as famílias convivem harmoniosamente. Reconstruíram
suas vidas próximas à cidade abrindo
roças, coletando frutos e pescando eventualmente,
já que o rio fica muito distante dali.
Algumas pessoas da comunidade
admitem que precisam da cidade para sobreviver,
afinal, essa foi a causa das migrações.
É na cidade que fazem compras, adquirem bens,
vendem artesanatos, mantém relações
sociais. Mas reconhecem que a proximidade não
significa que esqueceram sua cultura por estarem
inseridos no contexto urbano. Luiz Laureano diz
sabiamente que sendo São Gabriel uma cidade
e uma cidade praticamente indígena, os dois
mundos podem conviver harmoniosamente. "Só
depende da iniciativa de valorização
dos saberes tradicionais de grupos como o de Itacoatiara-Mirim".
Carta aberta da comunidade de
Itacoatiara-Mirim
A Comunidade Indígena de
Itacoatiara-Mirim, localizada na Zona Comunitária
Indígena da Estrada de Camanaus/km-10 próximo
ao trevo do aeroporto Uaupés em São
Gabriel da Cachoeira, vem por meio desta carta informar
para toda a sociedade e principalmente para a Comara
(Comissão de Aeroportos da Região
Amazônia), que entre os anos de dois mil á
dois mil e quatro, devastaram uma área ambiental
para retiradas das piçarras para reformar
a pista do Aeroporto. Este lugar onde extrairam
as piçarras fica a quatrocentos metros da
Comunidade e isso causou problemas para comunidade,
porque a área degradada está localizada
na cabeceira do principal igarapé da região
e na época de chuva a lama escorre para o
igarapé que as pessoas da Comunidade utilizam
diariamente como: para tomar banho, lavar roupa,
buscar água para cozinhar e beber.
A Comunidade possui 22 famílias
e cerca de 120 moradores, etnias baniwa, tuyuka
e barassana. Aquele igarapé possui duas cachoeiras
atrás da comunidade, aonde as pessoas da
cidade vinham acampar no fim de semana. Mas depois
que o igarapé torno-se lama às pessoas
da cidade abandonaram a cachoeira e até os
próprios moradores da comunidade. Depois
desse acontecimento o Agente de Saúde preparou
um poço de água (de dois metro de
fundura) próximo do igarapé, mas não
resolveu os problemas da Comunidade. No ano de 2002
a Prefeitura abriu um poço de nove metros
para a comunidade, e esse poço é insuficiente
e apenas usado na época de muita chuva pois
seca muito facilmente e as pessoas da comunidade
voltam pegar água do igarapé. Hoje
em dia os moradores da comunidade tomam banho de
vasilha num açude de criação
de peixes. A temperatura da água é
de 34 C° que impedem o nosso costume de tomar
banho na água fria do igarapé.
Como reconhecimento a comunidade
Itacoatiara-Mirim, solicita que a Comara aceita
essas problemas citadas acima e que as seguintes
providências sejam tomadas:
abrir e equipar um poço
artesiano profundo para a Comunidade. Contamos que
a sete anos a comunidade utilizam água suja
e tem causado muitas doenças como principalmente
a Malária e Diarréias.
que a Comara repare o dano ambiental onde foi degradado
através do plantio de mudas de árvores
nativas. A Comunidade está disposta a colaborar
com isso.
que a Comara respeite a obrigação
constitucional (artigo 225) tanto de prevenir como
de reparar danos ambientais nas obras que ela realiza
no alto Rio Negro.
Finalizamos com nossos considerações
e respeito ao meio-ambiente!
São Gabriel da Cachoeira-Am,
01 de novembro de 2007. (Seguem assinaturas)
ISA, Andreza Andrade.
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Ongs lançam nota de repúdio
à nuclearização da América
do Sul
15/09/2008 - O texto, assinado
por organizações e movimentos sociais
do Brasil, Argentina, Chile, Paraguai, Colômbia
e Uruguai, rejeita o Pacote Nuclear desenvolvido
pelos governos argentino e brasileiro, que inclui
a criação de uma empresa binacional
voltada para o enriquecimento de urânio, produção
de radioisótopos e desenvolvimento de reatores
nucleares. O assunto foi tratado em reunião
entre os presidentes dos dois países na semana
passada, em Brasília.
Leia abaixo o conteúdo
do documento:
Nota de repúdio de Ongs
e Movimentos Sociais Contra a tentativa de nuclearização
da América do Sul
Desprezando a opinião pública
de seus países, majoritariamente contrária
à construção de usinas nucleares,
Lula e Cristina Kirchner anunciam aventura conjunta
no setor.
Brasília, 09 de Setembro
de 2008
Os governos argentino e brasileiro
discutiram no dia 8, em Brasília, a criação
de uma empresa binacional voltada para o enriquecimento
de urânio, produção de radioisótopos
e desenvolvimento de reatores nucleares.
A iniciativa faz parte de um “Pacote
Nuclear”, conjunto muito maior, envolvendo outros
61 projetos no setor, todos elaborados e decididos
em segredo, sem nenhuma consulta às populações,
às comunidades científicas ou sequer
aos parlamentos dos 2 países, como nos mais
sombrios tempos das ditaduras que assolaram Argentina
e Brasil anos atrás.
Pior, todo o Pacote Nuclear argentino-brasileiro
é baseado em planos megalomaníacos
de instalação de 12 a 15 centrais
nucleares de energia na América do Sul até
2030, espalhando a aventura nuclear a países
como o Chile, Uruguai, Peru e Venezuela. Nesse sentido,
Bolívia e Equador também poderiam
vir a integrar o rol de países envolvidos
na proliferação nuclear na América
Latina.
Lamentavelmente, a Argentina,
já em complicada situação econômica,
decide “apostar” em uma forma de energia ultrapassada
e custosa, retomando as obras de Atucha II (paralisadas
por anos) e anunciando a construção
de outras 2 usinas e impulsionando também
perigosíssimos empreendimentos de mineração
de urânio.
O Brasil que, por outro lado,
vive um momento de relativa estabilidade econômica,
opta por ressuscitar uma indústria nuclear
que já foi responsável por um terço
da sua dívida externa na década de
80, tendo custado até hoje, aos cofres públicos,
cerca de 40 bilhões de dólares, segundo
estimativas oficiais. Cedendo aos delírios
de funcionários das estatais do setor nuclear,
alguns militares e uma ultrapassada minoria que
vê a bomba nuclear como algo essencial ao
País, além dos interesses comerciais
e militares no ciclo do combustível nuclear,
Lula anuncia a construção de Angra
III (a um custo de mais 4,5 bilhões de dólares,
além do que já foi gasto com ela)
e de outras 6 usinas até 2030, criando um
novo rombo financeiro e – inevitavelmente – encarecendo
o preço da eletricidade para o consumidor.
E o Presidente do Brasil é ainda mais ambicioso:
apesar de até hoje não ter sido resolvido
o problema dos depósitos definitivos para
o lixo atômico das usinas de Angra I e II,
lançou desafio para que o setor resolvesse
em 60 dias o que não conseguiu em mais de
50 anos da indústria nuclear mundial.
A atitude dos governos brasileiro
e argentino só pode ser caracterizada como
total desprezo pela opinião do cidadão
comum da região. É ele quem, em última
instância, deverá pagar a enorme conta
dessa “farra nuclear”. Mais triste do que isso é
o cidadão comum, que estará mais exposto
aos riscos que as usinas e os depósitos de
resíduos nucleares trazem consigo.
Em um mundo em rápida transformação
diante das mudanças climáticas, onde
governos, cientistas, empresários e simples
cidadãos buscam um novo modelo de desenvolvimento,
baseado em premissas como o uso de fontes de energia
renováveis e limpas, a transparência
e participação das populações
na tomada de decisões que afetem suas vidas
e a busca da segurança e paz entre as nações,
Brasil e Argentina parecem não perceber a
oportunidade de liderança que poderiam exercer,
sujando suas matrizes energéticas, impondo
“pacotes nucleares” às suas populações
e fomentando um ambiente de insegurança na
região.
Assinam a carta:
Brasil:
Núcleo Amigos da Terra/Brasil
ABREA – Associação Brasileira dos
Expostos ao Amianto
ACIA – Associação Cunhambebe da Ilha
Anchieta
ADEMA – Associação de Defesa do Meio
Ambiente de Avaré
AGAPAN – Associação Gaúcha
de Proteção ao Ambiente Natural
AIPA – Associação Ituana de Proteção
Ambiental
Amigos da Terra – Amazônia Brasileira
AMAVIDA – Associação Maranhense para
a Conservação da Natureza
APASC – Associação Para Proteção
Ambiental De São Carlos
APROMAC – Associação de Proteção
ao Meio Ambiente / PR
ATLAS – Terra de Laranjeiras
AVCésio – Associação das Vítimas
do Césio 137
CDPEMA – Comissão de Defesa da Espécie
e do Meio Ambiente, Guarulhos/SP
CEA – Centro de estudos Ambientais
CEACON
CORES – Comissão Revitalização
de Sepetiba
Ecoa
FASE – Federação de Órgãos
para Assistência Social e Educacional (FASE)
FURPA – Fundação Rio Parnaíba
Gambá – Grupo Ambientalista da Bahia
Greenpeace Brasil
IMV – Instituto Madeira
INESC – Instituto de Estudos Socioeconômicos
InGá – Instituto Gaúcho de Estudos
Amnbientais
Instituto Biofilia
Instituto Vitae Civilis
IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas
ISABI – Instituto Socioambiental da Baia da Ilha
Grande
Mongue Proteção ao Sistema Costeiro,
Peruíbe/SP
Núcleo de Estudos e Pesquisas Sociais em
Desastres – NEPED/ UFSCar
ONG Preservação de Limeira
Quatro Cantos do Mundo
RBJA – Rede Brasileira de Justiça Ambiental
Rede Alerta Contra o Deserto Verde, RJ
SAPÊ – Sociedade Angraense de Proteção
Ecológica
VERDEJAR – Proteção Ambiental e Humanismo
Argentina:
Amigos de la Tierra Argentina
Asociacion Ambientalista EcoLa Paz
Asociación contra la contaminación
ambiental de Esteban Echeverría
Asociación Ecologista Piuke, Bariloche
Bios Argentina
Greenpeace Argentina
Live Gaia
Oikos, Mendoza
Programa Argentina Sustentable
Taller Ecologista
Uruguai:
CEUTA
CLAES
Comisión en Defensa del Agua y la Vida
Red Uruguaya de ONGs Ambientalistas
REDES – Amigos de la Tierra Uruguay
Chile:
Chile Sustentable
CODEFF – Amigos de la Tierra Chile
Instituto de Ecología Política
Colômbia:
CENSAT – Amigos de la Tierra Colombia
ILSA
Paraguai:
Sobrevivencia – Amigos de la Tierra Paraguay
Outros:
Amigos de la Tierra America Latina e Cariba – ATALC
COECO – Amigos de la Tierra Costa Rica
Cono Sur Sunstentable
International Rivers
Rede Virtual - Cidadã pelo Banimento do Amianto
na América Latina