50 usinas nucleares? Sem delírios,
Lobão, queremos eficiência
energética!
19 de Setembro de 2008 Terceiro
relatório do painel de cientistas da ONU,
divulgado nesta sexta-feira em Bangcoc, se aproxima
das propostas do Greenpeace para enfrentar o aquecimento
global: mudanças nos hábitos de consumo
das pessoas, investimentos em programas de eficiência
energética e uso cada vez maior de fontes
renováveis de energia, em substituição
às fontes de combustível fóssil.
São Paulo (SP), Brasil — Relatório
do BID confirma [R]evolução Energética
do Greenpeace e mostra que programas de eficiência
custam bem menos.
O ministro de Minas e Energia,
Edison Lobão, anunciou esta semana a intenção
do governo brasileiro de construir 50 usinas nucleares
nos próximos 50 anos. Segundo o ministro,
os novos reatores seriam um pouco menores do que
Angra 3, que deve fornecer 1.350 MW de energia e
cujo licenciamento prévio foi anunciado no
final de julho pelo Ibama.
"O ministro teve um delírio
nuclear e esqueceu de avisar aos demais setores
da sociedade brasileira", afirma Rebeca Lerer,
coordenadora da campanha de energia do Greenpeace,
lembrando que tanto a Empresa de Pesquisa Energética
(EPE) quanto o mercado foram pegos de surpresa com
a notícia.
A EPE, empresa estatal, já
declarou que as dezenas de usinas anunciadas pelo
ministro não estão sendo estudadas
nem planejadas. O mercado foi mais duro com a proposta
de Lobão. O anúncio foi qualificado
com adjetivos como "inviável" e
"estapafúrdio", segundo relatou
a imprensa.
"O governo não conseguiu
sequer tirar Angra 3 do papel e está falando
em construir mais 50 usinas. Isso sem contar que
o próprio ministro assumiu que não
há solução definitiva para
o problema do lixo nuclear. Parece até piada
de mau gosto", diz Rebeca.
A declaração sobre
as 50 novas usinas nucleares aconteceu na mesma
semana em que o Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BID) lançou um relatório apontando
que o Brasil e outros países da América
Latina e do Caribe poderiam reduzir em 10% seu consumo
de energia até 2018 se adotassem medidas
de eficiência energética, como sistemas
de iluminação ou equipamentos energeticamente
eficientes.
Para o Brasil, o cenário
proposto pelo relatório do BID aponta uma
redução de consumo de energia de 57,8
GWh por ano com medidas de eficiência energética,
o que equivale aproximadamente à energia
gerada por seis usinas iguais a Angra 3. Também
segundo o relatório, o investimento necessário
para alcançar essa redução
no consumo de energia no Brasil seria de US$ 6,7
bilhões (R$ 11,5 bilhões). Para gerar
a mesma quantidade de energia a partir de usinas
nucleares, o custo seria no mínimo quatro
vezes maior.
"Fica cada vez mais claro
que o governo brasileiro está realmente no
caminho errado no que se refere a garantir energia
limpa e segura para o país", atesta
Rebeca.
"O interesse por trás
do programa nuclear brasileiro não é
a segurança energética do país.
Se fosse, o governo deveria investir em eficiência
energética e outras fontes renováveis,
e não em energia nuclear."
O Greenpeace vem alertando para
o potencial de redução de consumo
de energia por meio de medidas de eficiência
energética desde fevereiro de 2007, quando
lançou o relatório [R]Evolução
Energética. Na publicação,
o potencial de redução calculado para
2050 é de 413 mil GWh por ano.