Brasília
(29/09/2008) - O Parque Nacional da Serra do Cipó,
em Minas Gerais, acaba de ganhar três projetos
importantes que irão viabilizar a preservação
do ecossistema e a melhoria da infra-estrutura da
região. Os planos visam a integração
entre a pesquisa e o manejo da unidade de conservação,
que fica e cerca de 100 Km de distância de
Belo Horizonte. O objetivo das propostas é
garantir parcerias e recursos para o trabalho de
temas urgentes, como o monitoramento de capivaras
que habitam o parque e a Área de Proteção
Ambiental do Morro da Pedreira, o controle do capim-braquiária
e a implementação de um centro de
referência que permitirá organização
de uma estrutura para expedições turísticas
e científicas.
Os projetos foram propostos pela
equipe de coordenadores do parque, mas serão
executados por meio de parcerias com fundações
privadas, mobilização social e voluntária,
instituições de ensino e de pesquisa
e até agências ambientais internacionais.
Para a analista ambiental e coordenadora técnica
dos projetos, Kátia Torres Ribeiro, a preservação
efetiva de parques como o da Serra do Cipó
passa essencialmente por iniciativas que envolvam
todos os setores da sociedade. “Esse envolvimento
múltiplo facilita o processo de conscientização.
Por isso, procuramos parcerias com empresas, universidades,
escolas e com a própria população
que vive nos arredores da unidade de conservação”,
diz.
CIPÓ-VIVO – Um dos projetos,
já conhecido dos moradores da região
e chamado de “Cipó-Vivo”, está em
prática há dois anos e foi renovado
graças ao cumprimento de metas estipuladas
pela Fundação O Boticário de
Proteção da Natureza, que financia
a empreitada. “A proposta é controlar a braquiária
e promover a revegetação com espécies
nativas na baixada do Rio Cipó. Na primeira
fase, que começou em 2006 e terminou o mês
passado com a renovação da parceria,
promovemos a maior vivência das pessoas de
comunidades do entorno com o Parque. Ela preparou
o terreno para nossas futuras ações,
digamos assim”, detalha Kátia.
A analista ambiental explica que
o capim-braquiária é uma gramínea
africana, trazida para o Brasil no século
passado para ser estudada como planta formadora
de pastagem. A espécie é muito tolerante
ao pisoteio do gado, gosta de sol, tolera condições
precárias de solo e foi rapidamente adotada
pelos criadores de gado porque suas sementes se
espalham e germinam com muita facilidade. “O problema
é que a braquiária pode se tornar
um vilão para áreas de cerrado das
unidades de conservação por competir
duramente com as plantas nativas. É que ela
tem efeito alelopático, isto é, secreta
substâncias que inibem o crescimento de outras
espécies, o que gera uma perda significativa
de diversidade, principalmente dentre as plantas
de pequeno porte”, adverte.
Com muito cuidado e sem a intenção
de condenar os produtores que se valem da braquiária
para formar os pastos de suas pequenas propriedades,
os coordenadores do Parque Nacional da Serra do
Cipó viram que era fundamental conscientizar
a população sobre a importância
do monitoramento e controle da espécie. Em
parceria com a Escola Estadual Dona Francisca Josina,
que atende a todos os estudantes da Serra do Cipó,
nasceu um braço do Projeto Cipó-Vivo
chamado Pesquisadores Mirins. O trabalho envolveu
cerca de 120 alunos do 6º ano. “Nosso intuito
era trabalhar a percepção dos estudantes
em diversos ambientes para que eles percebessem
que nosso ecossistema é compostos por variadas
cores e formas, ao contrário do que pode
acontecer quando a braquiária é a
única vegetação presente no
meio”, lembra Kátia.
Ao longo dos meses, o projeto
cumpriu seu papel. Os estudantes descobriram as
diversas facetas da braquiária e viram que
não se pode considerá-la apenas como
um problema ou solução. A planta é,
acima de tudo, um desafio. “Não estávamos
condenando os pais dos estudantes, nem chamando-os
de mentirosos, e sim disseminando a idéia
de bem comum, bem público, pois o parque
é de todos, é um patrimônio
que tem que ser cuidado”, pondera a coordenadora.
“Esse projeto provou que bons resultados são
alcançados com ações insistentes,
e consistentes em termos conceituais. O tema braquiária
e espécies invasoras entrou no dia-a-dia
da comunidade e agora estamos prontos para tocar
a segunda fase dessa iniciativa, que formará
pesquisadores mirins capazes, inclusive, de apoiar
as visitas da própria escola e de turistas
ao Parque. ”, acrescenta.
CAPIVARAS – O segundo projeto,
muito comemorado pelos coordenadores da unidade
de conservação é fruto de uma
parceria com o Departamento de Parasitologia da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ele
foi aprovado e será financiado pela Wildlife
Conservation Society. Apesar do nome extenso, "Inter-relações
capivaras/ectoparasitos e a possibilidade de transmissão
da Febre Maculosa Brasileira e outras riquetsioses
na área turística da Serra do Cipó,
Minas Gerais, Brasil", seu objetivo é
simples. A intenção é elaborar
um plano de manejo da capivara, roedor que a população
local acusa como responsável por causar uma
série de danos ambientais, como a poluição
dos rios, desmoronamento das margens, excesso de
carrapatos e destruição de ninhos
de traíras. Os moradores da região
do Parque também responsabilizam o animal
pela contaminação da água com
fezes e surgimento de problemas de saúde
como a febre maculosa e outras doenças.
Para a analista ambiental Kátia
Torres Ribeiro, a iniciativa permitirá que
os pesquisadores verifiquem até que ponto
a capivara, que é o maior roedor das Américas,
é responsável por todas essas mazelas.
“Vamos quantificar e identificar os carrapatos de
vida livre dentro e fora do Parque, em áreas
só com capivaras, só com cavalos e
com ambas as espécies. Outros dados serão
levantados para descobrirmos qual a relação
entre as capivaras e destruição de
margens de rios, por exemplo, e qual a contribuição
do gado para este processo”, explica.
A comunidade também será
envolvida. “Quando tivermos dados consistentes,
faremos oficinas com profissionais de saúde,
lideranças e estudantes. A elaboração
de um plano de manejo irá depender dos resultados
das pesquisas e das discussões com a comunidade.
Acreditamos que esse conjunto de ações
permitirá resolver essa questão, que
se tornou crítica no Parque Nacional da Serra
do Cipó”, avalia Kátia.
PESQUISA – Um terceiro projeto,
batizado de “Towards a strong relationship between
science, environmental interpretation and management
in Serra do Cipó National Park, Brazil” tem
parceria com o programa de pós-graduação
em Ecologia, Conservação e Manejo
da Vida Silvestre da UFMG. “Ele foi financiado pela
USFish and Wildlife Service, que é uma agência
ambiental norte-americana. Com ele, pretendemos
implantar o Centro de Referência em Pesquisa
do Parque Nacional da Serra do Cipó e integrar
as atividades do manejo e pesquisa do Parque e da
área de Proteção Ambiental
do Morro da Pedreira”, conta a analista.
Kátia comemora o fato dessa
terceira iniciativa também contemplar a formação
de um grupo de pessoas das comunidades próximas
ao Parque. Os moradores serão preparados
para se tornarem guias de campo e trabalharão
com visitantes e pesquisadores. A coordenadora técnica
conta ainda que os alunos do curso de pós
graduação do UFMG serão incentivados
a fazer a ponte entre culturas e linguagens. “Isso
significa que eles terão o compromisso de
comunicar os resultados de pesquisa a um público
de não cientistas. Acreditamos que a chave
para o desenvolvimento responsável da Serra
do Cipó é a interpretação
ambiental. Com ela é possível ultrapassar
as fronteiras do turismo de aventura, casando cultura
e o vasto patrimônio ambiental”, conclui.
Ascom/ICMBio