O desmatamento
tropical, a caça predatória e outras
crises ambientais estão eliminando os mamíferos
do planeta com uma rapidez sem precedentes, de acordo
com uma nova pesquisa publicada pela revista Science
Barcelona, Espanha, 07 de outubro
de 2008 — A avaliação mais abrangente
de mamíferos já feita até hoje
– da baleia azul até o morcego-zangão
– confirmou que mais de 20% das espécies
está ameaçada de extinção,
sendo necessários ainda dados adicionais
para apurar o status de centenas de outras.
Se as tendências de destruição
de habitats e outras ameaças continuarem
como estão, as tensões adicionais
impostas pelo aquecimento global provocarão
uma perda de vida que afetará a todos e a
tudo. A mudança climática já
impacta mamíferos dependentes do gelo marinho,
incluindo o urso polar (Ursus maritimus) e a foca-da-Groenlândia
(Pagophilus groenlandicus).
“Estas pesquisas revelam que os
mamíferos de todo o mundo estão desaparecendo,
o que é motivo de graves preocupações,”
diz Russell A. Mittermeier, presidente da Conservação
Internacional (CI), uma das principais organizações
parceiras na compilação dos dados.
“Imagine se estivéssemos diante de uma redução,
da ordem de 20%, da precipitação pluvial
e de outros processos naturais ou se um quinto da
humanidade desaparecesse? É isso que está
acontecendo com os mamíferos, e é
o presságio de sérios impactos para
as sociedades humanas”.
O novo estudo revelou que 1.141
das 5.487 espécies conhecidas de mamíferos
foram classificadas como Criticamente em Perigo,
Em Perigo ou Vulneráveis na Lista Vermelha
das espécies Ameaçadas da IUCN. Outras
836 espécies carecem de dados suficientes
para classificação, o que significa
que a percentagem de espécies ameaçadas
da Lista Vermelha pode chegar a um terço
do total.
Ao mesmo tempo, 5% das espécies
de mamíferos listados como ameaçados
demonstraram indícios de recuperação
na natureza, destacando a eficácia dos esforços
de conservação, quando devidamente
focalizados e financiados.
“Precisamos de mais ações
de conservação apoiadas por pesquisas,
para refinar os dados de avaliação
das ameaças enfrentadas pelos mamíferos,
e devemos também estudar meios de auxiliar
na recuperação das espécies
e populações ameaçadas,” explica
Jan Schipper, pesquisador da CI e principal autor
do trabalho publicado pela revista Science.
O estudo demonstrou que 188 mamíferos
encontram-se na categoria mais elevada de Criticamente
em Perigo, incluindo o lince ibérico (Lynx
pardinus), cuja população é
inferior a 150 adultos e que continua a decrescer
devido à escassez de sua presa principal,
o coelho europeu (Oryctolagus cuniculus). No norte
da África, duas espécies de antílope,
o addax (Addax nasomaculatus) e a gazela-dama (Nanger
dama) estão ambos à beira da extinção.
Estima-se que existem na natureza menos de 250 animais
de cada espécie, fruto da caça indiscriminada
e do pastoreio desenfreado.
Quase 450 mamíferos estão
listados como Em Perigo, incluindo o demônio
da Tasmânia (Sarcophilus harrisii) devido
a um câncer facial infeccioso que devastou
mais de 60% de sua população global
nos últimos 10 anos. A perda de habitats
úmidos expõe a risco o gato-pescador
(Prionailurus viverrinus) do sudeste asiático,
ao mesmo tempo em que a caça insustentável
e adegradação de habitats reduziram
a população da foca-do-mar-cáspio
(Pusa caspica) em 90% no século passado.
A perda e a degradação
de habitats afetam 40% dos mamíferos de todo
o mundo, enquanto que a captura descontrolada está
eliminando os mamíferos de maior porte, especialmente
no sudeste asiático e em partes da África
e da América do Sul.
Algumas espécies conseguem
recuperar-se. o furão-de-patas-negras (Mustela
nigripes) esteve extinto na natureza, mas sua condição
atual é de Em Perigo, depois de uma reintrodução
bem-sucedida feita pelo U.S. Fish and Wildlife Service
em oito estados do oeste americano e no México,
entre 1991 e 2008. Da mesma forma, o cavalo selvagem
(Equus ferus) também passou de Extinto na
Natureza para Criticamente em Perigo em 2008 devido
à reintrodução bem-sucedida
na Mongólia.
O elefante africano (Loxodonta
africana) não está mais considerado
sob ameaça imediata, o que reflete o aumento
das populações na África do
Sul e Oriental que são maiores que as reduções
populacionais em outras áreas.
A avaliação dos
mamíferos envolveu mais de 1.800 cientistas
de mais de 130 países. Contou com a colaboração
da CI, Sapienza Università di Roma, Arizona
State University, Texas A&M University, University
of Virginia, a Sociedade Zoológica de Londres,
e a Comissão pela Sobrevivência das
Espécies da IUCN. O Fundo de Parcerias para
Ecossistemas Críticos (CEPF, da sigla em
inglês) aportou o financiamento.
A Conservação Internacional
(CI) aplica inovações científicas,
econômicas, políticas e participação
comunitária para proteger as regiões
da Terra mais ricas em diversidade vegetal e animal,
e para demonstrar que as sociedades humanas podem
conviver harmoniosamente com a natureza. Fundada
em 1987, a CI atua em mais de 40 países em
quatro continentes para ajudar as pessoas a encontrarem
alternativas econômicas sem prejudicar seus
ambientes naturais. Para mais informações,
visite www.conservation.org.
O Fundo de Parcerias para Ecossistemas
Críticos (CEPF, da sigla em inglês)
é uma iniciativa conjunta entre Conservação
Internacional, Agência Francesa de Desenvolvimento,,Global
Environment Facility, Governo do Japão, Fundação
MacArthur e Banco Mundial. Uma das metas fundamentais
é garantir que a sociedade civil esteja engajada
na conservação da biodiversidade.