Essa é
a estimativa de levantamento da ONG Conservação
Internacional; estudo sugere que apenas a legislação
ambiental não é suficiente para proteger
a biodiversidade da região frente ao avanço
do agronegócio
Brasília, 14 de outubro
de 2008 — Um estudo realizado pela ONG Conservação
Internacional (CI-Brasil) revela que o cumprimento
do código florestal não é suficiente
para preservar pelo menos 25% das espécies
do Cerrado. Segundo a pesquisa, divulgada ontem
durante o II Encontro Internacional sobre Savanas
Tropicais, organizado pela Embrapa, em Brasília,
pelo menos 340 espécies de mamíferos,
aves, répteis e anfíbios do Cerrado
correm risco de extinção caso a responsabilidade
da conservação recaia somente sobre
os proprietários rurais da região.
Mesmo que todos eles cumpram o determinado pela
legislação ambiental, como a manutenção
de pelo menos 20% da propriedade como reserva legal,
várias espécies podem ser perdidas.
Segundo Ricardo Machado, diretor
do programa Cerrado-Pantanal da CI-Brasil, além
do cumprimento do código florestal pelos
proprietários rurais, é preciso que
regiões importantes para a biodiversidade
também sejam protegidas para a manutenção
da biodiversidade do Cerrado. Sem elas, de acordo
com Machado, o desenvolvimento econômico ocorrerá
de maneira insustentável uma vez que espécies
da fauna e da flora que desempenham um importante
papel na manutenção do clima, na proteção
dos solos, dos rios e de suas nascentes ou na polinização
de cultivos e no combate de pragas irão desaparecer.
“Somente a manutenção de áreas
determinadas pela lei não garante a sustentabilidade
do agronegócio”, diz Machado, um dos autores
do estudo. “O esforço privado deve ser acompanhado
da criação, da implantação
e da manutenção de reservas públicas
destinadas à conservação da
biodiversidade”, avalia.
Uma das alternativas para a exploração
econômica sustentável do Cerrado, segundo
Mario Barroso, gerente do programa Cerrado-Pantanal
da CI-Brasil e co-autor do estudo, é manter
as áreas nativas e intensificar a produção
nas áreas produtivas. “Sistemas otimizados
de produção, emprego de tecnologias
de ponta e o manejo racional de paisagens são
as ações necessárias para que
se alcance o uso sustentável dos recursos
naturais”, diz. Barroso explica que é imprescindível
a união de esforços públicos
e privados para a manutenção da biodiversidade
do Cerrado.
Planejamento sustentável
– O estudo foi realizado com base nos princípios
da Biogeografia de Ilhas, que estabelece uma relação
matemática entre o tamanho de áreas
nativas e a quantidade de espécies que elas
podem manter. Segundo Barroso, o levantamento revela
que é impossível manter todas as espécies
e suas populações em condições
saudáveis quando a maior parte da vegetação
nativa é suprimida para dar lugar ao avanço
do agronegócio. “É preciso fazer mais
do que a lei prevê”, diz.
Machado explica que o Brasil já
tem mapeado quais são as áreas importantes
para a conservação da biodiversidade.
Segundo ele, bastaria cruzar esse mapa com o mapa
de regiões economicamente importantes para
que se avalie, de um lado, quais são as oportunidades
de conservação existentes e, de outro,
quais seriam as áreas produtivas que podem
ser consolidadas. “No caso de conflitos, ou seja,
de áreas importantes tanto para a conservação
quanto para a produção, novos modelos
de desenvolvimento que sejam menos agressivos e
mais sustentáveis devem ser pensados”, conclui.
Sobre a Conservação
Internacional (CI-Brasil)
A Conservação Internacional (CI) foi
fundada em 1987 com o objetivo de conservar o patrimônio
natural do planeta - nossa biodiversidade global
- e demonstrar que as sociedades humanas são
capazes de viver em harmonia com a natureza. Como
uma organização não-governamental
global, a CI atua em mais de 40 países, em
quatro continentes. A organização
utiliza uma variedade de ferramentas científicas,
econômicas e de conscientização
ambiental, além de estratégias que
ajudam na identificação de alternativas
que não prejudiquem o meio ambiente. A Conservação
Internacional (CI-Brasil) tem sede em Belo Horizonte
- MG. Outros escritórios estão estrategicamente
localizados em Brasília-DF, Belém-PA,
Campo Grande-MS, Salvador-BA e Caravelas-BA.
Fontes: Mario Barroso, gerente do programa Cerrado-Pantanal
da CI-Brasil