(15/10/2008)
Conferencistas estrangeiros e pesquisadores da Embrapa
estão interagindo no Simpósio Internacional
sobre Savanas Tropicais, que ocorre até sexta-feira(17)
em Brasília. Captação de carbono,
recuperação de pastagens degradadas
e a diversificação da produção
são alguns temas debatidos.
O cerrado brasileiro e as savanas
tropicais poderão se transformar em área
de captação de carbono se adotadas
práticas de conservação e manejo
adequado. A afirmação é do
professor Rattan Lal, da Universidade de Ohio (USA),
em palestra proferida no terceiro dia do IX Simpósio
Nacional sobre o Cerrado e II Simpósio Internacional
sobre Savanas Tropicais, realizado em Brasília.
Os eventos, promovidos pela Embrapa
Cerrados (Planaltina – DF), prosseguem até
a sexta-feira (17), com conferências e apresentação
de pôsteres abordando temas como caracterização,
conservação e uso da biodiversidade,
produção agropecuária e florestal,
impactos dos sistemas de produção
e estratégias de mitigação,
commodities agrícolas e valoração
socioambiental, políticas públicas
e perspectiva mundial para as savanas.
Ao falar sobre as mudanças
climáticas globais, o professor Lal ressaltou
a necessidade de se adotar estratégias para
aumentar a captação de carbono.
Entre as estratégias, Lal
citou a adoção do plantio direto,
utilização de materiais melhorados,
restauração da vegetação,
pagamento aos produtores pelos seus serviços
ambientais e implementação de políticas
públicas.
“Minha sugestão para o
Brasil é parar de converter ecossistemas
nativos em áreas agrícolas e recuperar
pastos degradados”, disse. O pesquisador escocês
Iain Gordon, da Organização de Pesquisa
Científica e Industrial da Austrália
(CSIRO), palestrante do segundo dia do Simpósio,
também enfatiza a importância ambiental
e econômica de preservar ecossistemas como
as savanas tropicais.
Gordon comparou as savanas australianas
com o Cerrado brasileiro, mas enfatizou que a produção
de grãos na Austrália está
concentrada em regiões de clima temperado
no sul e oeste do país. “Para mim, foi uma
surpresa ver fotos de grandes plantações
nas savanas do Brasil”.
Segundo Gordon, há uma
demanda crescente por alimentos e a Austrália
pode “aprender com os exemplos brasileiros, sejam
eles bons ou ruins”. O pesquisador comentou que
as savanas australianas são utilizadas para
a pecuária extensiva, voltada, principalmente,
para atender o mercado consumidor asiático.
“A grande questão na Austrália é
a água, não temos a riqueza de recursos
hídricos do Brasil”.
Produção pecuária
sustentável
Uma produção pecuária
mais sustentável foi tema de palestra do
pesquisador Fernando Campos (Embrapa). A expectativa
futura, de acordo com Campos, é de que o
cerrado brasileiro se consolide como o grande provedor
de proteína animal para o mundo.
No entanto, o crescimento da pecuária
não significará aumento das áreas
de pastagem. A recuperação de pastagens
degradadas e o uso da tecnologia de integração
lavoura-pecuária permitirão o aumento
da produção de carne sem que haja
avanço na fronteira agrícola.
Além da sustentabilidade
do sistema de produção, a demanda
do mercado exigirá produto de melhor qualidade,
para o qual deverão ser fortalecidos os programas
de defesa sanitária, sistemas de rastreamento
e certificação.
Outro palestrante a destacar a
necessidade de recuperar as pastagens degradadas
do Cerrado foi o professor Carlos Clemente Cerri,
da USP. Ao abordar o tema “Adequação
dos sistemas de produção rumo à
sustentabilidade ambiental”, o professor sugeriu
ampliar a área utilizada pelo Brasil para
a produção de grãos e energia
por meio da recuperação de 20 milhões
de hectares de pastagens. O Brasil tem 172 milhões
de hectares de pastagens e, aproximadamente, 77
milhões de hectares de lavouras.
Diversificar para aprimorar produção
A importância da diversificação
para aprimorar a produção de grãos,
fibras e frutas no cerrado foi destacada pelo professor
da Universidade de Brasília e pesquisador
aposentado da Embrapa Cerrados, Carlos Roberto Spehar.
“A saída da agricultura
no cerrado é a diversificação
que permitirá o surgimento de novos produtos,
abrirá oportunidades no agronegócio
e o avanço da agroindústria”, ressaltou.
Um dos limitantes para o aumento da produção
agrícola no cerrado, segundo Spehar, é
a falta de informação do agricultor
que reduz o uso da tecnologia, gera menor produtividade
e em conseqüência baixa renda e um sistema
de produção insustentável.
No período da manhã
de terça-feira (14) ainda houve a palestra
do professor José Roberto Soares Scolforo,
da Universidade Federal de Lavras. Ao abordar as
características e produção
das fisionomias do cerrado em Minas Gerais, Scolforo
apresentou uma mapa da vegetação de
Minas Gerais.
Dos 19 milhões de hectares
de vegetação nativa, em 2005, 53%
estão preservados. A perda em dois anos (2005
a 2007) foi de 75 mil hectares de vegetação.
O maior percentual (48%) de ocupação
das áreas desflorestadas em Minas Gerais,
neste período, é com atividade pecuária.
Os Simpósios prosseguem
na quarta-feira (15) com conferência sobre
“A agropecuária e o desenvolvimento socioeconômico
recente do Cerrado”, a ser proferida por Charles
Mueller (UnB) pela manhã e painéis
sobre agroenergia e sistemas alternativos e diversificados
para a produção.
Liliane Castelões
+ Mais
Livro trata do futuro do cerrado
(16/10/2008) Com a participação
de 38 especialistas de Unidades Descentralizadas
da Embrapa e instituições de pesquisa,
entre as quais a Universidade Federal do Rio de
Janeiro e a Universidade de Campinas (Unicamp),
a publicação reúne os avanços
tecnológicos voltados ao desenvolvimento
econômico e social, condicionados à
conservação dos recursos naturais
do bioma.
Em 14 capítulos, são
abordados temas como a sustentabilidade do cerrado,
a ocupação humana, o uso racional
da água e o aproveitamento de espécies
até os sistemas agroflorestais e a restauração
ecológica da vegetação nativa.
A experiência da comunidade de agricultores
“geraizeiros” de Água Boa 2, localizada no
município de Rio Pardo de Minas (MG), a partir
da adoção de práticas sustentáveis
no cerrado, teve um capítulo à parte
dedicado ao relato da implantação
e dos resultados do projeto. A partir de uma linguagem
acessível, é recomendado a todos os
públicos interessados no assunto.
Lavoura-pecuária-floresta
e plantio direto são opções
para Amazônia
(15/10/2008) Os solos degradados
pela pecuária ou agricultura intensiva apresentam
baixa fertilidade e a recuperação
com adubação é inviável
economicamente.
Para amenizar os custos e permitir
a reutilização dessas áreas,
pesquisadores da Embrapa (Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária) estão propondo
a adoção do sistema integração
lavoura-pecuária-floresta - que permite no
mesmo terreno ter essas atividades acontecendo simultaneamente
ou em sucessão -, e o sistema de plantio
direto, que preserva ao máximo a integridade
do solo.
De acordo com o pesquisador Paulo
Campos Fernandes, da Embrapa Amazônia Oriental
(Belém-PA) é inviável economicamente
a recuperação de solos de pastagens
usando adubos e o mecanismo mais viável é
a integração com a agricultura. Isso
acontece, explica, porque depois que sai a pecuária,
o solo fica compacto, impossibilitando a drenagem
e a conseqüente fixação de nutrientes.
Com o sistema pode-se exercer a agricultura clássica,
plantando grãos, como milho, soja, sorgo,
feijão ao mesmo tempo em que desenvolve a
pecuária.
Paulo ressalta ainda que "A
Embrapa não quer que se desmate nem mais
um palmo para pecuária e agricultura, o que
se pretende é usar as áreas que já
foram usadas e estão improdutivas e trazê-la
de volta, mas de forma sustentável".
Segundo o pesquisador, no Estado
do Pará já existem muitos empresários
tendo o êxito adotando esse sistema. "Essas
iniciativas são monitoradas pela Embrapa,
por que são referências de sistemas
que funcionam e dão certo. E nós queremos
sistemas funcionais e não teóricos".
Plantio direto é uma ferramenta
que também pode ser usada dentro do processo
de integração lavoura-pecuária-floresta.
Esse sistema, conforme o engenheiro agrônomo
Eduardo Maklouf, pesquisador da Embrapa Amazônia
Oriental, compreende um conjunto de técnicas
integradas que visam melhorar as condições
ambientais (água-solo-clima) para explorar
da melhor forma possível o potencial genético
de produção das culturas.
Caracteriza-se por três
requisitos mínimos: não revolvimento
do solo, rotação de culturas e uso
de culturas de cobertura para formação
de palhada, associada ao manejo integrado de pragas,
doenças e plantas daninhas.
O plantio direto não tem
um modelo ideal, mas deve ser visto como um sistema
que exige adaptações locais. Segundo
Maklouf, o plantio direto é amplamente usado
nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do
país, por grandes empresários.
A utilização do
plantio direto no lugar dos métodos convencionais
tem aumentado significativamente nos últimos
anos. Nele, a palha e os demais restos vegetais
de outras culturas são mantidos na superfície
do solo, garantindo cobertura e proteção
do mesmo contra processos danosos, tais como a erosão.
O solo só é manipulado no momento
do plantio, quando é aberto um sulco onde
são depositadas sementes e fertilizantes.
O plantio direto traz diversos
benefícios que irão diminuir os custos
de produção e o impacto ambiental,
tais como a maior retenção de água
no solo, menor compactação do solo,
menor erosão, menor perda de nutrientes,
economia de combustíveis (diesel) e menor
número de operações, incluindo
aí aração e a gradagem. O que
faz com que haja menor uso dos tratores e conseqüentemente
menor desgaste.
Os sistemas lavoura-pecuária-floresta
e plantio direto para a Amazônia estão
sendo discutidos por pesquisadores das seis unidades
da Embrapa na Região Norte: Amazônia
Ocidental (Manaus-AM), Amazônia Oriental (Belém-PA),
Amapá (AP), Rondônia (RO), Roraima
(RR), Acre (AC) e também da Embrapa Soja
(Londrina-PR) em Manaus, de 14 a 16 de outubro,
durante os workshops ``Sistema de Plantio Direto:
Alternativa Sustentável para Recuperação
de Áreas Alteradas na Amazônia`` e
``Integração
Lavoura-Pecuária-Floresta: Alternativa de
Desenvolvimento Sustentável em Áreas
Alteradas da Amazônia Brasileira``, que acontece
no Hotel
Adrianópolis Apart Service.
Maria José Tupinambá