Brasília
(04/11/2008) – O Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade (ICMBio) e a sociedade civil trabalham
para regulamentar 18 propostas de criação
de unidades de conservação na zona
costeira e marinha – um dos ecossistemas menos protegidos
do País. Metade dessas propostas está
em adiantado processo de discussão, algumas
já tendo inclusive realizado as consultas
públicas exigidas por lei. As mais conhecidas
são a Reserva de Fauna da Baía da
Babitonga, em Santa Catarina; os Refúgios
de Vida Silvestre de Arembepe e Praia do Forte,
na Bahia, e do Peixe-Boi, no Piauí; e o Monumento
Natural Ilhas Cagarras, no Rio de Janeiro.
Na semana passada, o presidente
do ICMBio, Rômulo Mello, participou, em Brasília,
de encontro com o ministro do Meio Ambiente, Carlos
Minc, e representantes de várias ONGs que
lidam com a proteção da biodiversidade
marinha. Além da criação de
UCs na zona marinha, os ambientalistas reivindicaram
a adoção de áreas de exclusão
para a pesca em pontos estratégicos da costa.
O ministro Carlos Minc ressaltou
que o Ministério do Meio Ambiente (MMA) atua
com determinação na proteção
da fauna marinha. Ele citou, como exemplo, a criação
da Gerência de Biodiversidade e Recursos Pesqueiros
no MMA e os esforços na criação
de novas unidades de conservação,
lembrando que o combate à pesca predatória
é uma das prioridades de sua pasta.
Já o presidente do ICMBio
informou que o Instituto discute, no momento, propostas
de criação de áreas de proteção
marinha, cujos estudos estão avançados.
Ele lembrou ainda que o Ministério do Meio
Ambiente criou recentemente o Grupo de Trabalho
do Mar, que reúne governo e sociedade civil,
com o objetivo de realizar estudos e trabalhar na
regulamentação das categorias de unidades
de conservação marinha.
Quanto à questão
da pesca predatória, Rômulo informou
que o Instituto mantém entendimentos tanto
com o Ministério da Marinha quanto com a
Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca
na expectativa de chegar a uma solução
conjunta para resolver o problema.
Para dar uma idéia desse
desafio, o presidente do Instituto informou que,
pelas avaliações oficiais, cerca de
90% das embarcações praticam pesca
predatória na zona costeira brasileira e
podem estar operando de forma irregular do ponto
de vista das leis que regulamentam a navegação
marítima. “Não só as leis de
salvatagem, mas vários outros dispositivos
legais vêm sendo violados”, acredita Rômulo.
Para ele, grande parte dos barcos desrespeita dispositivos
legais em várias áreas.
As reivindicações
das ONGs, que solicitaram audiência com o
ministro por meio da Fundação Golfinho
Rotador, de Fernando de Noronha, incluem ainda medidas
para a proteção da Toninha, um cetáceo,
cujo hábitat fica na costa do Sul do País
e que figura como o quinto em sua espécie
sob maior ameaça de extinção.
Segundo os biólogos que reivindicam uma zona
de proteção para o cetáceo,
ele caminha para o risco total, já que os
outros quatro encontram-se em estágio irreversível
do processo de extinção.
Ascom/ICMBio
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Pesquisadores encontram na Flona
de Carajás mais de 20 ninhos de arara ameaçada
de extinção
Márcia Néri - Brasília
(05/11/2008) – A Floresta Nacional (Flona) de Carajás,
no sudeste do Pará, ainda é abrigo
de uma das espécies mais ameaçadas
de extinção no Brasil, a arara-azul
(Anodorhynchus hyacinthinus). Para estudar a população
da ave na região, um grupo de pesquisadores
da Universidade de São Paulo (USP) passou
quinze dias em campo e descobriu que o número
desse tipo de arara no local é considerável.
Somente na borda da floresta foram encontrados mais
de 20 ninhos.
A Flona de Carajás abrange
terras dos municípios de Paraúpebas,
Canaã do Carajás e Água Azul
do Norte. O chefe da unidade, analista ambiental
Frederico Martins, explica que a expedição
delimitou uma zona prioritária para a conservação
da arara-azul. “Os biólogos da USP trabalharam
até a última terça-feira (4).
Eles também colheram dados para estabelecer
o grau de vulnerabilidade da população
identificada, principalmente aquela que se encontra
nos limites do maciço de Serra Sul”, revela
Martins, que é biólogo.
Ele acrescenta que
o estudo pretende, ainda, determinar a importância
da Flona de Carajás para a manutenção
e conservação da arara-azul. “Os pesquisadores
constataram que a maioria dos ninhos foram construídos
nas extremidades de fora da floresta, e não
em seu interior. Essa informação é
fundamental para lutarmos pela preservação
da área do entorno, já que a reprodução
está acontecendo justamente nela”, enfatiza
Martins.
A Floresta Nacional de Carajás
possui uma área de 411.948 hectares. É
a primeira Unidade de Conservação
do Brasil a abrigar uma reserva de recursos minerais
em seu interior – a reserva de Carajás, uma
das maiores do mundo. São concentrações
gigantescas de ferro e manganês exploradas
pela Companhia Vale do Rio Doce. “Nos locais onde
os ninhos foram encontrados há projetos para
a extração do minério. Essa
pesquisa pode oferecer parâmetros para que
coordenemos melhor o processo de mapeamento da área
a ser minerada”, pondera.
De acordo com o Livro Vermelho
da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção,
publicação que acaba de ser lançada
pelo Ministério do Meio Ambiente, a Anodorhynchus
hyacinthinus é considerada a maior espécie
de arara encontrada no País, podendo medir
até um metro de comprimento. Segundo o livro,
a espécie têm baixas taxas reprodutivas,
com postura média de dois ovos, sendo que
apenas um filhote sobrevive.
A arara-azul apresentava distribuição
ampla e contínua em forma de semicírculo
nas regiões amazônicas ao sul do rio
Amazonas. Atualmente, ainda segundo o Livro Vermelho,
a distribuição da espécie é
fragmentada, com apenas três populações
principais: uma no Pantanal Matogrossense, outra
que engloba parte dos estados do Maranhão,
Tocantins e Bahia, e a terceira e menor delas, na
região amazônica paraense.
A principal ameaça à
arara-azul é a captura para comércio
ilegal. Atentos a esse fato, antes de iniciarem
o trabalho de campo, os pesquisadores da USP percorreram
instituições culturais e de ensino
localizadas no entorno da Flona a fim de conscientizar
as pessoas sobre o risco de extinção
da espécie.
Ascom/ICMBio