(13/11/2008)
Pesquisas aplicadas feitas pelo Instituto Mamirauá,
no Amazonas, foram apresentadas a três pesquisadores
da Embrapa Pantanal que visitaram a maior reserva
extrativista do país na primeira semana de
novembro.
A sustentabilidade do local chamou
a atenção dos cientistas do Mato Grosso
do Sul, que pretendem aproveitar modelos de manejo,
de organização social e de acordos
de pesca para o Pantanal.
A visita à reserva foi
sugerida pela diretora executiva da Embrapa Tatiana
Deane de Abreu Sá durante a reunião
do CAE (Comitê Assessor Externo) da Embrapa
Pantanal em 2007.
O chefe de Pesquisa e Desenvolvimento,
Thierry Ribeiro Tomich, os pesquisadores Agostinho
Catella e Cristhiane Amâncio, e o jornalista
Jean Fernandes, da ONG Ecoa, ficaram impressionados
com o manejo sustentável da região.
O grupo visitou a reserva Amanã, anexa à
Mamirauá. A cidade mais próxima é
Tefé (AM), onde fica a sede do instituto.
Mamirauá nasceu como uma
ONG no início dos anos 11000, por iniciativa
do professor Márcio Ayres, da Universidade
Federal do Pará. Ele morreu em 2003. O governo
federal se interessou pelo projeto, criou o instituto
e formalizou um convênio com as duas reservas,
que são estaduais. Este convênio foi
firmado pelo Ministério de Ciência
e Tecnologia.
Thierry Tomich disse que a reserva
amazônica é bastante distinta do Pantanal,
o público é diferente, “mas existem
muitos pontos de aderência”. “Eles têm
uma história de atuação bem-sucedida,
envolvendo acordos de pesca, aumento de renda para
a comunidade e uso sustentável dos recursos
naturais”, disse o chefe de pesquisa da Embrapa
Pantanal (Corumbá-MS), Unidade da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa,
vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento.
Uma das diferenças mais
marcantes entre as duas regiões está
relacionada ao uso da terra. De acordo com Thierry,
na reserva a terra é de uso da comunidade,
não tem um dono. “No Pantanal, 96% da área
são propriedades particulares.” Apesar disso,
ações desenvolvidas em Mamirauá
podem nortear atividades no Pantanal.
Pesca
É o caso, por exemplo,
dos acordos de pesca, como conta o pesquisador Agostinho
Catella. As decisões são co-participativas
e os próprios pescadores atuam como vigilantes
dos lagos e avaliam os estoques pesqueiros disponíveis,
como no caso do gigante pirarucu, que é uma
das espécies mais visadas e chega a alcançar
mais de dois metros de comprimento.
“A população local
e os pesquisadores do Instituto perceberam que alguns
estoques estavam diminuindo. Para estabelecer o
manejo participativo do pirarucu na reserva, os
pescadores foram recrutados. No início dos
anos 90 foi reunido um grupo de aproximadamente
40 pessoas”, disse Agostinho.
Junto com pesquisadores, eles
se reuniram e determinaram as regras para a pesca,
os períodos de defeso para algumas espécies
e as cotas de captura. “Em função
do sucesso do trabalho, a população
de pirarucu aumentou e hoje mais de 600 pescadores
da região participam do programa de manejo
dessa espécie”, completa o pesquisador.
Para ter direito à pesca
do pirarucu, o indivíduo precisa participar
anualmente da vigilância dos lagos e da contagem
do número de peixes adultos, o que é
feito quando o pirarucu “bóia”, isto é,
vem à superfície para respirar. O
número de peixes que poderão ser capturados
corresponde a uma porcentagem dos peixes adultos
que foram contados no ano anterior. Os pesquisadores
da Embrapa Pantanal tiveram a oportunidade de acompanhar
uma pescaria de pirarucu.
Agostinho disse ainda que o desembarque
de peixes é diário em Tefé
e que o controle estatístico é feito
de segunda a sábado pelo Instituto. “A forma
coletiva como foi construído o acordo de
pesca pode ser aplicada no Pantanal”.
Organização Social
A pesquisadora Cristhiane Amâncio
afirmou que existem cerca de 14 mil pessoas vivendo
dentro da reserva, mas o uso é feito por
aproximadamente 20 mil moradores – no entorno vivem
quase 6 mil pessoas.
O grupo do Pantanal se reuniu
com mulheres que fazem artesanato a partir da fibra
extraída do caule do cauaçu, uma planta
que cresce na várzea do rio Solimões.
No início, elas enfrentaram resistência
dentro das próprias famílias, mas
hoje a atividade está entre as principais
fontes de renda para essas mulheres.
“Elas reorganizaram a estrutura
social das famílias e valorizaram o papel
da mulher na economia local” disse Cristhiane. Com
o tempo e muita organização, recuperaram
técnicas para a confecção de
cestos, esteiras e outros objetos e se aperfeiçoaram
participando de feiras nacionais e internacionais.
“É impressionante a auto-estima dessas mulheres”,
disse Agostinho.
Cristhiane falou ainda que Mamirauá
é uma referência histórica,
não apenas para a pesquisa. “Eles sempre
trabalharam com a visão do uso sustentável
em função das pressões que
sofriam ali. A conservação dos recursos
naturais no Pantanal está muito distante
da realidade das comunidades visitadas na Amazônia”,
afirmou.
Segundo a pesquisadora, existe
no Pantanal uma visão equivocada de que a
propriedade privada é que vai propiciar a
conservação. “Mas o conhecimento tradicional
e o uso do ambiente por quem sempre ocupou aquele
espaço deveriam ser respeitados”, disse Cristhiane.
A inclusão do homem no
manejo sustentável é condição
para a conservação ambiental, já
que a fiscalização é insuficiente.
“Se o Estado brasileiro considera a cultura pantaneira
importante, ele precisa intervir, porque o conhecimento
tradicional está se perdendo. O Estado precisa
de posicionar”, afirmou a pesquisadora.
Ela contou ainda que quando a
reserva de Mamirauá foi criada, um estudo
mostrou que as 295 comunidades que vivem na região
eram contrárias. Imaginavam que precisariam
deixar de explorar o ambiente, o que não
aconteceu. “Hoje há um consenso que os moradores
não vivem mais sem a reserva.”
Ana Maio
Embrapa Pantanal
+ Mais
Embrapa contribui para neutralização
de carbono do Amazonas Film Festival
(13/11/2008) O Amazonas Film Festival
– festival internacional de cinema de aventura,
natureza e meio ambiente, agora passa a contar com
a participação da Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)para tornar
efetiva a neutralização das emissões
de carbono decorrentes do evento que está
acontecendo em Manaus (AM), desde o dia 7 até
o dia 13 de novembro, e conta um público
estimado de 130 mil pessoas e cerca de 200 filmes
em exibição.
Rodrigues, assinou um convênio
de cooperação técnica com a
Secretaria de Cultura do Amazonas, para colocar
em prática ações ambientais
que incluem o plantio de árvores no assentamento
Tarumã-mirim na zona rural de Manaus, onde
é desenvolvido projeto de pesquisa participativa
pela Embrapa.
Maria do Rosário destacou
que, por meio desse convênio com a Secretaria
de Cultura, a Embrapa vai contribuir para a compensação
ambiental das emissões de carbono do evento
e, ao mesmo tempo, terá oportunidade de fortalecer
sua atuação e agregar ganhos sociais
para os agricultores familiares do assentamento.
Na assinatura do convênio
na quarta-feira (12) no Centro Cultural dos Povos
da Amazônia, em Manaus, estavam presentes
artistas e profissionais de cinema, tanto brasileiros
e estrangeiros, além de agricultores do assentamento
que serão contemplados pelo projeto.
A neutralização
de carbono consiste em realizar ações,
como o plantio de árvores, para compensar
a emissão de gases de efeito estufa que contribuem
para o aquecimento global. É adotada uma
metodologia que avalia a quantidade e qualidade
do material consumido, transporte e outras ações
que causem impacto ambiental e a partir daí
são calculadas quantas árvores devem
ser plantadas para neutralizar o impacto de um evento.
Plantar árvores ajuda na
compensação ambiental, porque as árvores,
ao fazer a fotossíntese, absorvem o dióxido
de carbono (CO2) da atmosfera, processo também
chamado de “seqüestro de carbono”.
A pesquisadora da Embrapa, Elisa
Wandelli, explica que para a neutralização
de carbono geralmente se considera quantas árvores
serão necessárias para seqüestrar
uma determinada quantidade de carbono durante o
período de 40 anos.
Na metodologia utilizada pela
Embrapa, está sendo considerado o período
de cinco anos e com isso será ampliado o
número de árvores a serem plantadas
para que haja um efeito mais rápido e eficiente.
De acordo com cálculos
estimados pela Embrapa será necessário
o plantio de 12 mil árvores para compensar
as ações realizadas na 4ª edição
do evento em 2007.
Ainda estão sendo feitos
os cálculos para compensar a 5ª edição
do Amazonas Film Festival em 2008.
Com o convênio entre Embrapa e Secretaria
de Cultura do Amazonas, será desenvolvida
a “Ação Ecológica Permanente
no Assentamento Tarumã-Mirim”,
associando esta atividade a um projeto ambiental
de recuperação de áreas alteradas,
com o nome de “Manejo da Paisagem Agrícola
em Comunidades Rurais na Região de Manaus-Amazonas”,
que já vendo feito pela Embrapa na localidade,
nos últimos três anos.
Esse projeto tem por objetivo
promover a conservação dos recursos
naturais, a produção de alimentos
e a geração de renda das famílias,
por meio do planejamento integrado das unidades
produtivas e da prestação de serviços
ambientais.
O apoio do festival irá
ajudar a ampliar as ações ambientais.
Em 2009, serão implantados 30 hectares de
Sistemas Agroflorestais nas propriedades de 30 famílias
de baixa renda.
Os sistemas agroflorestais são
consórcios de cultivos agrícolas,
de frutíferas e de espécies florestais
na mesma área, a fim de melhorar as condições
ambientais, diversificar a produção
e auxiliar na geração de renda dos
agricultores, conciliando vantagens econômicas,
ambientais e sociais.
Essa foi uma estratégia
para garantir que as árvores plantadas, como
compensação ambiental, tenham o acompanhamento
técnico e dos agricultores e possam realmente
se desenvolver e atender ao objetivo proposto, além
de beneficiar a comunidade de agricultores.
Nesse assentamento muitos comunitários
vivem da produção de carvão,
mas o grupo que fez parceria com o projeto conduzido
pela Embrapa mudou. “Nós deixamos de fazer
carvão e agora somos produtores de hortaliças,
criamos frango e plantamos árvores”, disse
o presidente da Associação Agrícola
Rural do Ramal do Pau-Rosa, Antonivaldo Souza, morador
do assentamento Tarumã-Mirim, onde as famílias
serão contempladas pelo projeto.
Antonivaldo contou que agora é
agricultor e ex-carvoreiro e pretende convencer
outros do assentamento a também mudarem de
atividade. “Ninguém resolve derrubar a floresta
e fazer carvão porque gosta, mas é
porque só tinha essa opção
para a sobrevivência e não tinha apoio
pra agricultura”, afirmou, citando a importância
de parceiros como a Embrapa e Escola Agrotécnica
Federal de Manaus, para essa mudança.
A pesquisadora da Embrapa, Joane
Régis, responsável pelo projeto no
assentamento Tarumã-Mirim, informou que a
Ação Ecológica vai começar
pela implantação de viveiros em que
as famílias da comunidade vão preparar
aproximadamente 40 mil mudas de árvores por
ano.
Serão mudas de espécies
frutíferas para garantir a segurança
alimentar e de espécies florestais para recompor
as áreas alteradas e com possibilidades de
usos múltiplos.
As mudas serão plantadas
seguindo os critérios técnicos orientados
pela Embrapa. As ações permitirão
também aprimorar o conhecimento científico
sobre as espécies, além dos arranjos
de importância econômica, social e ambiental
em favor da sociedade.
Durante a solenidade , o secretário
de Cultura do Amazonas, Robério Braga, destacou
que a proposta desse convênio é associar
a sétima arte (o cinema) com a ação
ambiental e assim agir na transversalidade das políticas
públicas para alcançar resultados
em benefício da população e
da preservação da Amazônia.
Síglia Regina dos Santos Souza
Embrapa Amazônia Ocidental - Manaus/AM
+ Mais
Palestrantes discutem avaliação
de impactos no meio ambiente
(12/11/2008) A avaliação
dos impactos da atividade agropecuária no
meio ambiente foi um dos temas da primera manhã
do Workshop Internacional sobre Inovações
Metodológicas em Avaliação
de Impacto da Pesquisa Agropecuária, que
ocorre em Brasília (DF) até a próxima
sexta-feira (14). No painel “Inovações
Metodológicas de Pesquisa em Impacto de Gestão
Ambiental e Recursos Naturais”, foram apresentados
dois papers sobre o assunto.
O primeiro deles foi apresentado
pelo engenheiro agrônomo Jamil Macedo, secretário
executivo do Programa Cooperativo de Pesquisa, Desenvolvimento
e Inovação Agrícola para os
Trópicos Sulamericanos. Ele abordou a avaliação
dos impactos da pesquisa em gestão ambiental
na região amazônica.
Segundo ele, com o problema da
fome no mundo, a pressão para que a agricultura
avance sobre a floresta amazônica se intensificou.
Por isso, é preciso investir em soluções
como a integração da floresta com
a agricultura e a pecuária. “Essas alternativas
disponibilizam novas áreas, evitando que
a fronteira agrícola continue avançando
na direção da floresta”, comentou.
APOIA-Novo Rural
Em seguida, Cláudio Buschinelli,
pesquisador da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna
- SP), apresentou a Avaliação Ponderada
de Impacto Ambiental de Atividades do Novo Rural
(APOIA-NovoRural). O sistema integra 62 indicadores
de diversas dimensões da sustentabilidade,
como os ecológicos, os econômicos e
os sócio-culturais.
Os dados são coletados
em campo e por meio de entrevistas com os empreendedores
rurais. Com eles, são elaboradas planilhas
e se calcula a posição numa escala
de 0 a 1, sendo que estão adequadas as propriedades
que se posicionarem acima de 0,7. Com esses resultados,
é possível indicar medidas para melhorar
o manejo e reduzir os impactos ambientais da atividade
agrícola naquela área analisada.
Debate
Para Steve Franzel, pesquisador
do World Agroforestry Centre, os trabalhos apresentados
no painel foram bem complementares, já que
o primeiro mostrou a problemática de forma
mais conceitual e o segundo apresentou um resultado
prático que pode ser usado para amenizá-la.
“É importante dar mais possibilidades para
as comunidades que moram perto das áreas
de floresta, para que elas tenham alternativas e
não partam para o desmatamento”, ponderou.
Já o pesquisador Geraldo
Stachetti, do Labex Europa, chamou a atenção
para a necessidade de ampliar o alcance das soluções
apresentadas. “A gente consegue avaliar os produtores
um a um, mas qual a capacidade para avaliar o Brasil
ou determinadas regiões?”, questionou. “Essa
mudança de escala é o nosso maior
desafio”, disse.
Vitor Moreno (DRT 38057/SP)
Assessoria de Comunicação Social –
Embrapa