10/11/2008
- Ao completar 80 anos, o Jardim Botânico
de São Paulo está remodelado. Ganhou
uma nova entrada e a antiga alameda ornada por caramanchões,
deu lugar a um “deck” de madeira de 240 metros,
para acompanhar o Córrego Pirarungáua,
que ganhou vida nova após permanecer canalizado
por 70 anos.
As comemorações,
ocorridas no sábado, 8/11, incluíram
a reinauguração da entrada principal
e o lançamento do livro “Do Éden ao
Éden – jardins botânicos e a aventura
das plantas”, de autoria dos pesquisadores Gil Felippe
e Lilian Penteado Zaidan. Houve, ainda, o lançamento
feito pelos Correios de selo comemorativo e carimbo
postal com a logomarca dos 80 anos do Jardim Botânico.
“Com esse lançamento, ratificamos o compromisso
de propagar, por meio da filatelia, os valores nacionais
e coroar o trabalho dos profissionais que ajudaram
a perpetuar este santuário vivo de São
Paulo” disse Vinicius Garcia da Costa, diretor Administrativo
dos Correios de São Paulo.
“É com muito orgulho que
o Jardim Botânico reabre a sua portaria principal
para mostrar à população o
Córrego Pirarungáua, resgatado debaixo
da terra, graças à criatividade de
nosso arquiteto Paulo Ganzeli. Hoje é possível
observar o córrego desde a sua nascente,
atravessando o jardim, para ir juntar-se aos demais
córregos que formam o Riacho do Ipiranga”,
comemorou Vera Bononi, diretora do Instituto de
Botânica, da Secretaria Estadual do Meio Ambiente
e ao qual o Jardim é vinculado.
Bononi informou que o Jardim Botânico
não dispunha de sistema de irrigação,
que foi agora introduzido, utilizando as águas
do próprio córrego e propiciando uma
economia de 400 mil litros de água por mês.
A diretora informou, ainda, que todas as plantas
usadas nas margens do córrego foram obtidas
pelo projeto de resgate de plantas, mantido pelo
Instituto de Botânica, que são retiradas
de locais onde serão construídas estradas,
neste caso, o Rodoanel.
“Estamos todos muito felizes com
esta cerimônia, agradeço os mentores
e autores desta pequena maravilha que, num trabalho
próximo ao dos arqueólogos, descortinaram
para a humanidade um tesouro escondido. O Córrego
foi revitalizado, 'renaturalizado', aproveito para
fazer uma reflexão. Está na hora de
“renaturalizarmos” coisas em nossas vidas cheias
de artificialismos. Na busca de bens materiais estamos
perdendo o contato com a natureza, precisamos repensar
o nosso estilo de vida. A natureza não vai
suportar essa pressão consumista”, afirmou
o secretário Xico Graziano.
Revitalização do Córrego Pirarungáua
As obras de revitalização
do Córrego Pirarungáua, um dos formadores
do Riacho do Ipiranga e cuja nascente encontra-se
dentro dos limites do Jardim, começaram em
março de 2008. O projeto de revitalização
contemplou as obras que trouxeram à luz as
águas que corriam por um canal subterrâneo
construído em 1940, sem muita tecnologia,
com paredes de tijolo e uma laje embaixo. A realização
desta obra atendeu os princípios estabelecidos
no Plano de Manejo do Parque Estadual das Fontes
do Ipiranga, que fornece diretrizes para a recuperação
dos corpos d’água do Parque.
A revitalização
foi possível, em função de
um trecho da Alameda Fernando Costa, que cobria
o córrego, ter cedido e os técnicos
terem constatado que o local estava condenado por
inteiro, do ponto de vista estrutural. O calçamento
foi retirado e a recuperação das margens
do Pirarungáua foi iniciada, permitindo que
o córrego voltasse a correr a céu
aberto.
As obras, incluindo a construção
do “deck” de madeira de eucalipto de reflorestamento,
tratado para suportar intempéries, foi orçado
em 1 milhão e 400 mil reais. A fila de jerivás,
árvore típica desta região
da Mata Atlântica, plantados na década
de 40 por Frederico Carlos Hoehne, criador do Jardim
Botânico, permaneceu e continua dando o caráter
monumental à entrada do parque.
A revitalização
abrangeu a regeneração e paisagismo
das margens do córrego, com utilização
de espécies da Mata Atlântica retiradas
de locais por onde passará o trecho sul do
Rodoanel. E o corredor de entrada foi, ainda, todo
adaptado para permitir a acessibilidade de pessoas
com problemas de locomoção.
Segundo o arquiteto Paulo Ganzelli,
a proposta tem duas questões importantes.
A primeira é a recuperação
do próprio Riacho do Ipiranga e a segunda
a regeneração das margens com a vegetação
do parque possibilitando ao visitante o caminhar
ao longo do Córrego por jardins da Mata Atlântica.
Lançamento do Livro
Na publicação “Do
Éden ao Éden – jardins botânicos
e a aventura das plantas”, da Editora Senac, os
pesquisadores Gil Felippe e Lílian Penteado
Zaidan se propõem a descrever todas as belezas
e curiosidades encontradas nos diversos jardins
botânicos espalhados pelo mundo. O livro,
com 322 páginas, fartamente ilustradas, está
à venda por R$ 80,00.
A publicação traz
informações e curiosidades sobre 25
dos principais jardins botânicos do mundo,
entre os quais os de São Paulo e do Rio de
Janeiro. O destaque é o de Kew, em Londres,
considerado o maior e o mais importante do mundo,
possuindo em sua coleção a planta
conhecida como flor-cadáver ou língua-do-diabo,
considerada a maior flor do mundo, medindo até
três metros, originária da Ásia,
cuja característica é o odor fétido
que exala, podendo ser sentido a até um quilômetro
de distância.
O leitor passeia ainda pelos principais
jardins europeus, americanos e asiáticos,
como os de Berlim, Edimburgo, Amsterdã, Paris,
Pisa, Bolonha, Chelsea, Oxford, Harvard e Bogor.
O título do livro faz uma referência
aos jardins do Éden e ao Projeto Éden,
na Cornualha, no Reino Unido, criado em 2001, desenvolvendo
uma concepção vanguardista para atrair
o público e exaltar a conservação
ambiental, o uso consciente da terra e um futuro
sustentável para a humanidade.
Para os autores, a atração que as
pessoas têm pelos jardins botânicos
é porque o Homem foi posto fora do Éden
e está sempre à procura de reaver
esse jardim.
Texto: Cris Olivette
Foto: José Jorge