Carla
Lisboa - Brasília (10/11/2008) - Mais de
300 grupos de baleia jubarte foram identificados
no litoral entre o Rio Grande do Norte e São
Paulo. Os grupos foram contados durante o censo
demográfico que mapeou as populações
dessa espécie de baleia em toda a costa brasileira.
Inédito, o censo foi promovido entre os dias
6 de setembro e 3 de outubro pelo Centro de Mamíferos
Aquáticos (CMA) do Instituto Chico Mendes
de Conservação da Biodiversidade (ICMBio),
em parceria com a ONG Instituto Baleia Jubarte,
que tem sede na Praia do Forte, na Bahia.
Durante o censo, considerado um
dos maiores levantamentos aéreos de cetáceos
realizados no mundo e o segundo a atingir uma área
tão extensa (o primeiro ocorreu em 2005),
as equipes do ICMBio/CMA e do Instituto Baleia Jubarte
percorreram 2.707 milhas do litoral em um avião
bimotor, equipado para o estudo. Dos 300 grupos
de jubarte contabilizados pelos pesquisadores, doze
apresentavam filhotes.
O objetivo do mapeamento, que
cobriu praticamente toda a área de ocorrência
da espécie no Brasil, é o de ampliar
o conhecimento e promover uma gestão mais
adequada da zona costeira e marinha brasileira.
O estudo vai ajudar o ICMBio a aperfeiçoar
as atuais regras de preservação da
espécie e até a sugerir novas normas.
A jubarte permaneceu, por muitos anos, na lista
da fauna ameaçada de extinção.
Embora tenha saído da lista, a sua situação
é considerada vulnerável.
Durante anos, a caça da
baleia representou uma das principais atividades
pesqueiras no mundo. A carne e, principalmente,
o óleo eram largamente consumidos. O óleo
servia para iluminar as grandes cidades e, na construção
civil, para compor os ingredientes usados na fabricação
da massa de paredes.
Por causa disso, as baleias estiveram
à beira da extinção, mas, depois
da moratória que entrou em vigor em 1986
e proibiu a caça, elas foram salvas em quase
todo o mundo. A lei, contudo, não alcançou
um parente do peixe-boi conhecido como vaca-marinha-de-steller.
Descoberta em 1741 pelo naturalista alemão
Georg Steller, a espécie foi extinta 20 anos
pela ação dos caçadores.
MULTAS - O coordenador do censo
das baleias pelo CMA/ICMBio, o ocenógrafo
Henrique Horn Ilha, disse que o trabalho só
foi possível porque o Funbio (Fundo Brasileiro
para a Biodiversidade) recebeu 90% dos R$ 3 milhões
em multas das empresas de pesquisa sísmicas
que há cerca de seis anos foram punidas por
atuarem na costa brasileira sem licença ambiental.
Os recursos oriundos dessas multas
possibilitou a criação da Carteira
Fauna do Funbio, que alocou verbas para projetos
ligados à fauna aquática brasileira.
Com isso o CMA, o Projeto Tamar e a Coordenação
de Fauna Aquática (que inclui peixes, tartarugas
e mamíferos aquáticos) foram beneficiados.
As empresas que realizam pesquisas
sísmicas no litoral brasileiro para detectar
possíveis áreas petrolíferas
usam canhões de ar cuja emissão de
sons muito altos permitem inferir como são
as camadas de rocha no fundo do mar. Por ser muito
alto, o som repercute negativamente na fauna aquática
de diversas maneiras, sobretudo, afugentando os
animais.
De acordo com o oceanógrafo,
o som interfere, por exemplo, na reprodução
e na amamentação dos mamíferos
marinhos. Dentre outros problemas, os animais podem
também perder a audição. Por
isso, para receber a licença ambiental, as
empresas de pesquisa sísmicas são
obrigadas a adotarem regras que amenizam os prejuízos
à fauna marinha no momento de realização
do trabalho.
Os recursos provenientes das multas
vão promover, ainda segundo Ilha, outros
projetos do ICMBio. Em dezembro deste ano, o CMA
vai fazer outro sobrevôo no litoral brasileiro,
entre os Estados de Santa Catarina e Espírito
Santo para realizar o mapeamento de toninhas, um
tipo de golfinho ameaçado de extinção
que vive muito próximo do litoral e ocorre
na costa brasileira entre as regiões Sudeste
e Sul. Desta vez, a parceria será com a Fundação
Universidade Federal do Rio Grande (FURG), que tem
sendo no Rio Grande do Sul.
Com o estudo das toninhas, a equipe
do CMA/ICMBio terá várias informações
como, por exemplo, a distribuição
da espécie pelo litoral. Além disso,
do mesmo modo que o mapeamento da baleia jubarte,
o levantamento dos golfinhos subsidiará o
ICMBio a determinar normas e estabelecer restrições
na atuação das empresas sísmicas,
aos portos e à pesca, bem como melhorar as
estratégias de preservação
dos animais.
Dentre outros projetos que serão
financiados pelos recursos oriundos das multas,
Ilha cita o curso de capacitação que
será dado a veterinários da Rede de
Encalhes de Mamíferos. O curso, que terá
como orientadores profissionais com experiência
internacional, habilitará os veterinários
a salvar animais encalhados em praias e, no caso
dos bichos já terem sido encontrado mortos,
a descobrir e a identificar se a causa da morte
tem relação com atividades sísmicas,
pesqueiras ou portuárias.
Ainda segundo Henrique Ilha, as
reuniões anuais das Redes de Encalhe também
serão financiadas por esses recursos. No
início do próximo ano a Rede de Encalhe
de Mamíferos do Nordeste realizará
uma reunião em Fernando de Noronha.
Ele informou que as verbas possibilitaram
também a criação das Redes
de Encalhe do Sudeste e a do Norte. Segundo Ilha,
já está sendo articulada a realização
do I Encontro Nacional de Observação
de Biota. Pioneiro, o encontro capacitará
os observadores que integram as equipes de navios
de sísmica e vai servir para melhorar a qualidade
dos dados e dos instrumentos utilizados nessa atividade.
Por fim, o oceanógrafo
do CMA disse que os recursos das multas vão
financiar a criação do Sistema de
Monitoramento de Mamíferos Marinhos (Simmam).
Trata-se de um banco de dados on-line que será
alimentado pelos dados colhidos pelos observadores
de navios sísmicos. O sistema já está
sendo montado em parceria com a Universidade do
Vale do Itajaí, de Santa Catarina.
Ascom/ICMBio