Brasília
(07/11/2008) - O Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade (ICMBio), por meio do Centro Nacional
de Pesquisa, Conservação e Manejo
de Mamíferos Aquáticos (CMA) e do
Projeto Peixe-Boi, faz neste domingo (9), a partir
das 10h, a soltura do casal de peixes-boi marinhos
– Arani e Luna –, no rio Tatuamunha, município
de Porto de Pedras, litoral norte de Alagoas. O
casal foi reabilitado em cativeiro e será
monitorado com equipamento de radiotelemetria e
satélite.
Segundo o coordenador do Projeto
Peixe-Boi, Magnus Severo, a reintrodução
é o ponto alto do trabalho desenvolvido pelo
projeto, pois marca o fechamento de um ciclo de
resgate, cuidado e devolução do animal
sadio à natureza. "Nesse momento, a
missão do Projeto Peixe-Boi em contribuir
com a conservação da espécie
é concretizada", afirma.
O sistema de monitoramento por
radiotelemetria satelital permitirá ao técnicos
do Centro Nacional de Pesquisa, Conservação
e Manejo de Mamíferos Aquáticos (CMA)
rastrear o casal via satélite ou rádio.
Para isso os animais terão um cinto preso
à nadadeira caudal, contendo um cabo (tetter)
e na ponta uma bóia (housing). “Dentro dela
é que se encontra o rádio transmissor
das informações via satélite
ou rádio”, explica o analista ambiental do
CMA, Ulisses Santos.
Ao todo cerca de 15 profissionais,
entre biólogos, tratadores e veterinários,
estarão envolvidos no processo de soltura
dos peixes-bois. Às 10h, a equipe fará
o isolamento com rede dos outros animais abrigados
da área de readaptação, possibilitando
a abertura dos portões para passagem apenas
dos dois escolhidos.
O CASAL – Com 5 anos e 11 meses
de idade, pesando 298 quilos e medindo 2,15 metros,
Arani, o macho, já completou seu período
de adaptação em cativeiro em ambiente
natural. Ele recebeu este nome quando foi encontrado
em 2005, na praia de Barro Preto, Ceará.
Ainda recém-nascido e com o cordão
umbilical, Arani pesava apenas 36 quilos e media
1,24 metros. “Ele estava muito debilitado, desidratado
e inclusive estava com um abcesso na região
do pescoço”, afirma Santos.
Já a fêmea, Luna,
foi batizada após uma enquete promovida na
comunidade de Porto de Pedras, em outubro, por meio
do site do CMA. “O concurso teve uma fase eliminatória,
feita com as crianças de Porto de Pedras,
com três nomes finalistas – Iara, Vida e Luna.
Mas o último ganhou a votação,
feita por todas as pessoas que acessaram o site
do CMA e por crianças das escolas da região”,
explica Santos. Ela foi encontrada em 2005 na praia
Canoa Quebrada, Ceará, nas primeiras semanas
de vida, com 36,5 quilos e 1,31 metros.
A fêmea teve um processo
de desenvolvimento bem mais rápido que Arani.
Hoje ela está com 2 anos e 11 meses, 290
quilos e 2,37 metros. “Ela está menos domesticada
e possui comportamento bem mais próximo da
espécie nativa. O processo de adaptação
no cativeiro está sendo considerado ótimo,
pois desde cedo procura alimento de forma natural”,
explica Santos.
EXTINÇÃO – No Brasil
existem duas espécies de peixes-bois, o peixe-boi
marinho (Trichechus manatus) e o peixe-boi amazônico
(Trichechus inunguis). Ambas as espécies
são exclusivamente herbívoras. A espécie
marinha mede aproximadamente 3,5 metros, pesa cerca
de 500 kg, é dócil, de cor acinzentada,
vive até 60 anos, tem um filhote a cada quatro
anos em média e é o mamífero
aquático mais ameaçado de extinção
no Brasil.
A espécie amazônica,
por sua vez, é menor, de cor preta e mancha
branco-rosada na barriga, é endêmica
da Bacia do Amazonas e está vulnerável
à extinção, o que levou o Instituto
Chico Mendes, por meio do CMA, a criar o Projeto
Peixe-Boi Amazônico.
O peixe-boi marinho teve seu status
de conservação estabelecido como criticamente
ameaçado de extinção a partir
de pesquisas realizadas em 1980 e, desde então,
vem sendo objeto de preocupações dos
cientistas e ambientalistas, que têm desenvolvido
pesquisas e técnicas de manejo que possibilitem
a conservação desse mamífero
marinho.
O Projeto Peixe-Boi Marinho do
ICMBio, desenvolvido pelo CMA em co-gestão
com a Fundação Mamíferos Aquáticos
e patrocínio oficial da Petrobras, possui
28 anos de existência e tem o objetivo de
promover a conservação da espécie.
Após a soltura do casal,
o projeto inicia a segunda etapa da campanha SOS
Peixe-boi, com o objetivo de orientar a população
em relação a hábitos que podem
prejudicar o sucesso da iniciativa e até
comprometer a saúde dos animais reintroduzidos.
Cerca de 20 comunidades de seis municípios
alagoanos receberão a visita de técnicos
e colaboradores do projeto, que levarão palestras,
cartazes e outros materiais educativos sobre o peixe-boi
marinho.
Sandra Tavares