12 de
Novembro de 2008 - O papel dos painéis fotovoltaicos
e da energia solar concentrada foi praticamente
negligenciado no novo relatório da AIE sobre
as perspectivas energéticas do mundo.
Amsterdã, Holanda — Agência Internacional
de Energia perde oportunidade de promover revolução
energética contra mudanças climáticas.
O relatório Panorama Mundial
de Energia, lançado hoje pela Agência
Internacional de Energia (AIE), perdeu a grande
chance de dar ao mundo as coordenadas corretas para
enfrentar as mudanças climáticas e
seus catastróficos impactos. Prevendo mais
consumo de combustível fóssil do que
o planeta pode suportar, além de promover
tecnologias equivocadas como a captura e armazenamento
de carbono e a energia nuclear, a AIE deu as respostas
erradas ao problema.
"O relatório da AIE
não vê limitação dos
recursos de petróleo e gás para as
próximas décadas, mas há um
outro recurso que tem limite - o clima do mundo.
A AIE produziu um exemplo do que não deve
ser feito. Não devemos investir em novas
explorações de combustível
fóssil e infra-estrutura de produção,
mas em energia renovável e no uso inteligente
de energia", afirma Sven Teske, especialista
em energia do Greenpeace Internacional.
O Greenpeace apresentou ao mundo,
em outubro, um cenário muito mais incisivo
no combate às mudanças climáticas.
A mais recente versão do relatório
[R]evolução Energética: Perspectivas
para uma Energia Global Sustentável, elaborado
em conjunto com o Conselho Europeu de Energia Renovável,
mostra como a energia renovável, combinada
à uma maior eficiência energética,
pode reduzir as emissões mundiais de CO2
das 28 bilhões de toneladas de hoje para
20,9 bilhões em 2030 - metade das emissões
do cenário de referência da AIE no
mesmo ano.
Com as mesmas previsões
de crescimento econômico, custos de combustível
e desenvolvimento da população que
as da AIE, o cenário do Greenpeace também
inclui projeções de longo prazo, até
2050 - com um corte de 50% das emissões de
CO2 e a total eliminação do combustível
fóssil em 2090.
Ainda que o cenário da
IEA incorpore projeções de estabilização
de emissões em 2030, o potencial de energias
renováveis e eficiência energética
foi mais uma vez subestimado.
A participação da
energia eólica no novo relatório da
AIE continua pouco representada, apesar de ser mais
alta em relação à edição
anterior. Já o papel dos painéis fotovoltaicos
e da energia solar concentrada foi quase negligenciado.
“O cenário [R]evolução
Energética indica que, no Brasil, as energias
renováveis somadas às medidas de eficiência
energética podem fornecer 88% da energia
da matriz elétrica em 2050 - as energias
eólica e solar somadas poderão contribir
com 24% da energia total. No final das contas, a
redução de gastos com termelétricas
fósseis e nucleares resulta em energia mais
barata e menos poluente para o país",
afirma Ricardo Baitelo, coordenador da campanha
de Energia Renovável do Greenpeace Brasil.
Pontos chaves
Apesar de não existir,
atualmente, termelétricas usando comercialmente
a tecnologia de captura e armazenamento de carbono,
a AIE acredita que a cada mês, entre hoje
e 2030, duas ou três usinas passarão
a usar a tecnologia.
O papel da energia nuclear no
cenário alternativo da AIE é igualmente
irrealístico, exigindo a entrada de uma nova
usina nuclear à matriz energética
a cada mês, até 2030, um volume bem
além da capacidade da indústria nuclear.
"O caminho da energia renovável
é bom tanto para o planeta como para a economia.
O cenário da AIE prevê investimentos
de US$ 13,6 trilhões no setor energético
até 2030. Em comparação, o
cenário do Greenpeace custa apenas 8% mais,
mas economiza mais de US$ 18 trilhões em
custos de combustível", acrescenta Teske.
Para ilustrar o que uma revolução
energética significa, o Greenpeace abriu
hoje uma estação de salvamento climático
na Polônia, para incentivar o governo local
a abandonar o carvão. Em outubro, o Greenpeace
Polônia lançou sua versão do
cenário [R]evolução Energética,
mostrando que o país não precisa basear
sua produção energética em
carvão. O relatório ilustra como,
até 2050, a Polônia será capaz
de gerar 80% de sua eletricidade a partir de fontes
renováveis, como vento e sol.
Diferenças básicas
entre os dois relatórios:
* O cenário mais ambicioso
da AIE revela um pico de emissões em 2020
(450 ppm). O cenário do relatório
[R]evolução Energética prevê
o pico em 2015, data considerada pelo Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas (IPCC),
da ONU, como necessária para se evitar as
mudanças climáticas.
* Segundo a AIE, as emissões
do uso de energia seriam de 25,7 gigatoneladas por
ano em 2030. O cenário do Greenpeace reduz
em mais 20% essas emissões, para 20,9 gigatoneladas
por ano, quase a metade das atuais emissões.
* A AIE se baseia em tecnologias
insustentáveis como energia nuclear e captura
e armazenamento de carbono. A [R]evolução
Energética não conta com a energia
nuclear e só incorpora tecnologias que se
provaram eficientes.
* Os dois relatórios,
da AIE e do Greenpeace, trazem cenários parecidos
de demanda por energia para geração
de eletricidade, mas o relatório [R]evolução
Energética mostra que a demanda energética
para aquecimento, transporte e setores da indústria
podem ser 13,2% mais baixa.