14 de
Novembro de 2008 - Ivan Richard - Enviado especial
- Antonio Cruz/Abr - Altamira (PA) - Homens da Força
Nacional de Segurança Pública que
participam da operação Arco de Fogo
em Altamira, fazem treinamento nas ruas da cidade
Altamira (PA) - O surgimento de um documento em
que o fazendeiro Regivaldo Pereira Galvão,
conhecido como Taradão, reivindica a posse
do lote 55, onde foi assassinada a missionária
americana Dorothy Stang, no município de
Anapu, sudeste do Pará, preocupa o governo
federal pela repercussão negativa que o fato
pode ter durante o Fórum Social Mundial 2009.
O encontro, que será realizado em Belém,
de 27 de janeiro a 1 de fevereiro de 2009, vai ter
como tema a Amazônia.
Regivaldo é acusado de
ser um dos mandantes do assassinato da religiosa,
em 2005. Ele chegou a ser preso, mas responde ao
processo em liberdade. Ele é o único
dos acusados de participação no crime
que ainda não foi a julgamento.
O chefe da Unidade Avançada
do Instituto de Colonização e Reforma
Agrária (Incra) em Altamira, no Pará,
Ulair Batista Nogueira, foi convocado para ir a
Brasília para explicar à direção
nacional do órgão os acontecimentos
na região.
Nogueira é o autor da ata
do encontro, realizado no último dia 28,
entre agricultores, assentados, representes do Incra
e o próprio Regivaldo. No documento, Regivaldo
propôs trocar 2,5 mil hectares de floresta
do lote 55, onde hoje está sendo implementado
o Projeto de Desenvolvimento Sustentável
Esperança, por 500 hectares de pasto. O fazendeiro
disse, segundo a ata, que possui documentos que
comprovariam a posse da terra, que tem três
mil hectares.
Foi por resistir à criação
de gado no local que a religiosa foi assassinada.
Orientado para não falar
com a imprensa, Nogueira disse hoje (14) que vai
a Brasília para traçar as estratégias
de ação que serão desenvolvidas
em Anapu.
"Infelizmente, esse episódio
inesperado pode ser o estopim para muita coisa no
Fórum Mundial Social que, inclusive, será
realizado em Belém", disse o chefe do
Incra em Altamira à Agência Brasil.
Em Altamira, que fica a pouco
mais de 150 quilômetros de Anapu e a 1000
quilômetros da capital Belém, o clima
é de tranqüilidade. É comum ver
pela cidade viaturas da Polícia Federal e
homens da Força Nacional de Segurança
que atuam na Operação Arco de Fogo.
A delegada Daniela Soares Araújo,
chefe da delegacia da PF no município, informou
que o inquérito para apurar o encontro do
último dia 28 já foi instaurado. Segundo
ela, todos os envolvidos no episódio serão
ouvidos, inclusive o próprio Regivaldo e
o representante do Incra.
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Duas realidades distintas da floresta
em Anapu marcam a paisagem da região
19 de Novembro de 2008 - Ivan
Richard - Enviado Especial - Anapu (PA) - O canto
do pássaro uirapuru, conhecido como pai da
mata, anuncia a chegada à área do
lote 55, zona rural de Anapu, onde é desenvolvido
o Projeto de Desenvolvimento Sustentavel (PDS) Esperança,
idealizado pela missionária Dorothy Stang,
assassinada em 2005.
Ali, o que se vê é
mata fechada, árvores altas e clima bastante
úmido, o habitat do pássaro que só
é encontrado em florestas densas.
A paisagem é bem diferente
do percurso de aproximadamente 20 quilômetros
até chegar ao PDS idealizado pela missionária.
Neste trecho, a imagem é de desmatamento,
corte raso e floresta queimando. É isso o
que se observa ao logo do Travessão Santana,
estrada de terra que corta a floresta até
o PDS Esperança.
Os próprios agricultores
do lote 55 sabem explicar a clara diferença
das paisagens dentro da mesma floresta amazônica.
"Aqui é meu paraíso, de onde
tiro meu alimento. Cada árvore aqui é
importante para tudo que fazemos", explica
o agricultor Raimundo Souza, conhecido como Paraupebas.
Ele mora sozinho em uma casa de
madeira. "Nasci aqui e andei por São
Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso e Acre. Como
sou analfabeto, nada deu certo e voltei para o que
sempre soube fazer", conta mostrando pés
de mamão e uma roça de abacaxi, plantados
por ele.
O agricultor Manoel Filho, também
morador do lote 55, cultiva arroz, feijao, milho
e caucau. "Se tivéssemos mais apoio,
poderíamos plantar mais e vender na cidade.
O que colhemos aqui dá apenas para nosso
sustento", afirma.
A única escola do lote
55, uma área de três mil hectares,
é feita de troncos de madeira, coberta com
palha. Não há paredes. "Todos
os dias caminhamos cerca de um quilômetro
e meio até a escola", diz a professora
Francisca Silva dos Santos.
Devido às incertezas que
marcam a posse da terra e a dificuldade para continuar
os estudos, a única professora da região
pensa em deixar o local no próximo ano. "Não
temos apoio para nada aqui. Quero continuar a estudar,
me formar e, como não tenho carro, fica dificil
ir até a cidade".
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Fazendeiro nega ser dono de terra
onde missionária americana foi assassinada
19 de Novembro de 2008 - Ivan
Richard - Enviado especial - Altamira (PA) - O fazendeiro
Regivaldo Pereira Galvão chegou há
pouco à Delegacia da Polícia Federal
em Altamira (PA), para prestar depoimento. Ele será
ouvido no inquérito que investiga informações
de uma ata do Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária (Incra) sobre uma reunião
realizada no dia 28 de outubro, entre entre agricultores,
assentados, representes do órgão,
e o próprio Regivaldo. Segundo a ata, ele
afirmou ter documentos de posse do lote 55, na zona
rural do município de Anapu (PA), onde a
missionária norte-americana Dorothy Stang
foi assassinada em 2005.
O fazendeiro, conforme a ata,
propôs a agricultores que vivem na região
a troca de 2,5 mil hectares de floresta do lote
55 que seriam cedidos ao Incra por uma área
de pasto de 500 hectares. Regivaldo contesta o conteúdo
da ata, assinada pelo representante do Incra em
Altamira, Ulair Batista Nogueira. Segundo o advogado
do fazendeiro, o documento é uma fraude.
Hoje (19), ao chegar à
delegacia, Regivaldo disse que apresentará
documentos à PF, sem informar o conteúdo
deles, e negou ser dono do lote 55. “A terra não
me pertence, é mais uma mentira divulgada”,
disse o fazendeiro, que será ouvido pela
delegada responsável pelo inquérito,
Daniela Soares Araújo. O depoimento será
acompanhado pelo procurador da República
em Altamira, Alan Rogério Mansur Silva.
O fazendeiro é acusado
de ser um dos mandantes do assassinato de Dorothy
Stang. Ele chegou a ser preso, mas responde ao processo
em liberdade. Regivaldo é o único
dos acusados de participação no crime
que ainda não foi a julgamento.
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Projetos criados por Dorothy Stang
provam que sustentabilidade é possível,
diz missionária
19 de Novembro de 2008 - Ivan
Richard - Enviado Especial - Anapu (PA) - Os Projetos
de Desenvolvimento Sustentáveis (PDS), idealizados
por Dorothy Stang, são exemplo de que é
possível obter renda da floresta amazônica
preservando a mata. A afirmação é
da também missionária americana Jane
Dnyer, que está em Anapu (PA) há 12
anos e mantém o trabalho na região
desde o assassinato de irmã Dorothy, em 2005.
Para irmã Jane, se os governos
local, estadual e federal investirem em programas
semelhantes aos PDS seria possível alimentar
a população, preservar o meio ambiente
e oferecer uma fonte de renda aos agricultores de
Anapu.
"Para preservar a mata a
agricultura familiar precisa de máquina.
O povo quer cumprir o fogo zero, mas sem equipamento
não há condição de fazer
isso".
Ela afirma que, sem fiscalização,
até mesmo os projetos de manejo não
são respeitados na região.
"Tudo aqui é ilegal.
Se os madeireiros atuam legalmente, porque eles
esperam até a noite para vir até a
cidade. A gente vive nessas estradas e encontramos
os caminhões esperando a noite chegar. Já
criaram caminhos alternativos para não passar
pela cidade. E a mata continua caindo".
Nos PDS, argumenta a religiosa,
os agricultores são orientados a utilizar
a floresta de forma sustentável. Nessas áreas
é possível, inclusive, explorar economicamente
a extração de madeira, como explica
a missionária.
"O único local onde
há verdadeiramente um programa de manejo
é no PDS Virola Jaobá, que é
um manejo comunitário", afirmou a religiosa,
explicando que no local cada árvore retirada
recebe uma placa de identificação
de metal.
Com essa marca, acrescentou irmã
Jane, a tora de madeira pode ser identificada e
pode-se encontrar o tronco na floresta. "O
que sai tem placa e o que fica tem placa. O móvel
que for feito daquela madeira vai receber a mesma
marca de identificação", exemplificou.
O problema, para ela, é
a ilegalidade. "Nosso povo, em vários
travessões, está com medo do fundo
dos seus lotes, porque as madeireiras entram e os
agricultores nem sabem. O problema é a ilegalidade
e a responsabilidade", disse.
A pequena casa de madeira onde
mora em Anapu está sempre de portas abertas.
A única medida de segurança é
um pedaço de arame que prende o velho portão
de madeira. Perguntada se tem medo de que lhe façam
mal, irmã Jane diz que o perigo que corre
é o mesmo de todos no município.
"A gente vive em Anapu e
tem um relacionamento com o povo daqui. O que o
povo de Anapu é sujeito, nós também
somos. Então, se há problema de segurança
o povo também está passando por ele
e não saímos enquanto não houver
segurança", diz.
Ela conta que, mesmo depois do
assassinato de Dorothy, continua indo em todos os
locais no município. "Alguns até
chamam a gente de Dorothy", brinca.
"Sozinho não ando
mais. Antes andava, mas vamos a todas as estradas
do município. Hoje acho difícil alguém
pegar uma bala e matar a gente. Já criou
problema demais para eles. Se quiserem acabar com
a gente, deve ser por um 'acidente'. Todos nós
sabemos [dos riscos] e fazemos o possível
para evitar, mas ninguém pode evitar tudo".
Irmã Jane disse que nunca pensou em deixar
Anapu.
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Fazendeiro volta a negar que é
dono de terras no sudeste do Pará
19 de Novembro de 2008 - Ivan
Richard - Enviado Especial - Altamira (PA) - O fazendeiro
Regivaldo Pereira Galvão, também conhecido
como Taradão, voltou a negar hoje (19) à
Polícia Federal que seja proprietário
do lote 55, na zona rural do município de
Anapu, sudeste paraense. Após mais de quatro
horas de depoimento, ele saiu pela porta dos fundos
para evitar a imprensa.
De acordo com o procurador da
República em Altamira, Alan Rogério
Mansur Silva, que acompanhou o depoimento, o fazendeiro,
acusado de ser um dos mandantes do assassinato da
missionária americana Dorothy Stang, negou
envolvimento com a venda do lote 55.
"O Regivaldo apresentou sua
versão dos fatos e agora vamos ouvir as outras
testemunhas. Ele disse que não assinou a
ata do Incra [Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária] porque o documento não
retratava a reunião", disse o representante
do Ministério Público Federal.
Regivaldo foi ouvido pela delegada
Daniela Soares de Araújo, responsável
pelo inquérito que investiga informações
de uma ata do Incra sobre reunião realizada
no dia 28 de outubro, entre agricultores, assentados,
representes do órgão e o próprio
Regivaldo.
Segundo a ata, o fazendeiro afirmou ter documentos
que comprovam que ele é o proprietário
do lote 55, na zona rural do município de
Anapu (PA), onde Dorothy Stang foi assassinada,
em 2005. Ele também teria proposto ceder
2,5 mil hectares para os agricultores que vivem
no lote em troca de uma área de 500 hectares
de pasto.
O procurador evitou relacionar
o inquérito que apura a veracidade da ata
com o processo do assassinato da religiosa americana.
Mansur adiantou que, ao final das investigações,
o laudo policial poderá ser usado no andamento
do caso Dorothy.
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Delegada pode fazer acareação
entre fazendeiro e chefe do Incra em Altamira
19 de Novembro de 2008 - Ivan
Richard - Enviado Especial - Altamira (PA) - O chefe
da Unidade Avançada do Instituto de Colonização
e Reforma Agrária (Incra) em Altamira, Ulair
Nogueira, e o fazendeiro Regivaldo Pereira Galvão
poderão ficar frente a frente durante o inquérito
que investiga informações de uma ata
de uma reunião no Incra. O encontro, do qual
participaram agricultores, assentados e o próprio
Regivaldo, foi realizado no dia 28 de outubro passado..
Nogueira foi o responsável
por elaborar a ata em que Regivaldo teria proposto
ceder 2,5 mil hectares do lote 55 aos agricultores
que vivem na região em troca de 500 hectares
de pasto da mesma área. Ainda conforme a
ata, o fazendeiro teria dito possuir documentos
que comprovam a posse do lote onde foi assassinada
a missionária americana Dorothy Stang, em
2005.
Desde o momento em que documento
do Incra se tornou público, Regivaldo – conhecido
na região como Taradão - contesta
sua veracidade e afirma que não é
dono do lote. O advogado do fazendeiro, Jânio
Siqueira, chegou a classificar a ata como "fraude".
"Há possibilidade
de haver a acareação como em qualquer
investigação criminal. Mas antes de
dar essa informação preciso ouvir,
primeiro, o Nogueira para saber se há um
confronto de posicionamentos", disse a delegada
responsável pelo inquérito, Daniela
Soares de Araújo.
Ela afirmou hoje (19) que o fazendeiro
se comprometeu a entregar, até sexta-feira
(21), toda a documentação que possui
refente ao lote 55. "São documentos
como o histórico de venda, porque a terra
já passou por vários proprietários.
Ele ficou de trazer contratos de compra e venda
além de procurações",
informou a delegada. "Ele alega apenas ter
sido um dos proprietários do lote",
acrescentou.
A delegada ressaltou que o inquérito
não trata do caso Dorothy Stang e sim da
denúncia de grilagem de terras públicas
da União. "O processo da irmã
Dorothy é um caso e essa investigação
apura outra coisa, que a existência de grilagem
de terras públicas da União. Agora,
se ele [Regivaldo] vier entrar em contradição,
tudo será investigado", acentuou.
A data para oitiva com o
representante do Incra em Altamira ainda não
foi definida. Isso porque Nogueira está em
Brasília atendendo a convocação
da direção nacional do órgão.