23 de
Novembro de 2008 - Ivan Richard - Repórter
da Agência Brasil - Antônio Cruz/Abr
- Anapu (PA) - O fazendeiro Antonio Napoli Velho,
de Anapu , fala sobre o uso da terra na região
(Arquivo)
Brasília - Desenvolver atividades econômicas
e preservar a Floresta Amazônica é
uma realidade possível, na avaliação
do fazendeiro Antonio Napoli Velho. Ele vive há
27 anos na Amazônia, no município de
Anapu, sudeste do Pará.
Nascido no sul do país,
Gaúcho, como é conhecido na região,
vivenciou momentos importantes da história
da Amazônia, desde o estímulo à
sua ocupação e desenvolvimento, promovido
pelos governos militares, ao atual estágio
de preocupação com a recuperação
da mata.
Hoje, ele destaca a importância
da conservação do meio ambiente e
busca trabalhar de forma sustentável. "Os
projetos de manejo são economicamente viáveis
sim, porque [a floresta] é uma riqueza que
temos aqui e está pronta para ser polida",
disse o fazendeiro em entrevista à Agência
Brasil. "Mas tem que fazer de forma não
gananciosa, dentro dos preceitos ecologicamente
corretos", acrescentou.
Ao lado de dois irmãos,
Gaúcho tem uma fazenda de 6 mil hectares.
Segundo ele, 20% da área foi transformada
em pasto, onde cria gado. Outros 300 alqueires,
cerca de 1.500 hectares, foram utilizados para desenvolver
um projeto de manejo sustentável.
"[A extração
por meio do manejo] é uma atividade bem remunerada,
muito boa", disse. Ele conta que em dois anos
todas as árvores que poderiam ser exploradas
foram retiradas. Agora, explica, as remanescentes
ficarão intocadas por 25 anos para recompor
a floresta. "A rentabilidade foi boa e agora
podemos desenvolver projetos [de manejo] menores,
mais modernos".
Gaúcho explicou que precisou
apressar o início da exploração
sustentável porque sua propriedade estava
sendo ameaçada de invasão. "Quem
tem a madeira é alvo. Os invasores querem
pegá-la para vender aos madeireiros ilegalmente".
Segundo ele, as próprias
madeireiras incentivam agricultores e assentados
a invadir fazendas. Não com o intuito de
estimular a reforma agrária, mas para comprar
a madeira das áreas ocupadas de forma ilegal
e a preços muito mais baixos do que os de
mercado. "O problema é que ocorre muita
propina", criticou.
Para se ter uma idéia,
afirmou Antonio Velho, os madeireiros compram um
alqueire de mata por R$ 300. "Eles me fizeram
a proposta e não aceitei. Um metro cúbico
de Ipê, por exemplo, vale R$ 400. Como não
cedi, eles incitam o povo a invadir", acrescentou.
Na avaliação do
fazendeiro, os Programas de Desenvolvimento Sustentáveis
(PDS`s), idealizados pela missionária norte-americana
Dorothy Stang são exemplo de utilização
"inteligente" da floresta. "O projeto
dela é no sentido de retirar uma pequena
área todo ano. Esse é o melhor sistema
porque não aumenta a oferta de madeira. É
uma oferta permanente e com regularidade. Isso que
é interessante para a região",
disse.
Para Gaúcho, o cálculo
é simples: "Legalmente, podem ser retirados
até 60 metros cúbicos de madeira em
três hectares. Seiscentos metros cúbicos
a R$ 400 o metro cúbico, são R$ 24
mil ou R$ 2 mil por mês. Não existe
salário melhor na região".
Ele acrescenta que os agricultores
podem trabalhar de forma conjunta. Funcionaria como
um esquema de parceria em que o manejo seria desenvolvido
em uma área maior e a rentabilidade aumentaria.
Os agricultores podem tirar a madeira em um mês
e ficar os outros 11 com o dinheiro no bolso e a
floresta intacta".
Para essa alternativa se tornar
realidade, o fazendeiro acredita que deve haver
uma mudança cultural no modo de obter renda
por meio da floresta. "Há um paradigma
que tem que ser quebrado, de se querer fazer tudo
rápido, pegar a madeira, vender tudo de uma
vez".
Em sua opinião, a conscientização
por meio da implementação de escolas
rurais familiares poderia resolver o problema. "Com
isso, os jovens seriam estimulados a ficar na terra
em vez de ir para a cidade onde, provavelmente,
vão inchar as favelas".
Segundo Gaúcho, entre Anapu
e Pacajá, uma área superior a 12 mil
quilômetros quadrados, só há
uma escola rural. "O colono é o melhor
ecologista, mas ele não tem conhecimento.
A cultura que ele tem é de queimar, cortar,
vender, passar para o outro lado. Se ele for instruído,
com certeza vai ter consciência da importância
da preservação".
+ Mais
Anapu tem uma unidade do Incra
para atuar em área de 10 mil quilômetros
quadrados
23 de Novembro de 2008 - Ivan
Richard - Repórter da Agência Brasil
- Brasília - Criado um ano após o
assassinato da missionária norte-americana
Dorothy Stang, o Posto do Instituto de Colonização
e Reforma Agrária (Incra) em Anapu (PA) é
o exemplo das dificuldades que o município
enfrenta para conciliar a preservação
da Floresta Amazônica com o desenvolvimento
econômico da região.
Instalada em uma casa em frente
à única delegacia da Polícia
Militar da cidade, a unidade do Incra tem apenas
um veículo e três servidores para atuar
em área de aproximadamente 10 mil quilômetros
quadrados.
O coordenador do posto, Antonio
Paiva dos Santos, ajuda pessoalmente no atendimento
aos agricultores que tentam obter uma área
e aos assentados que já foram beneficiados
com lotes da reforma agrária. Ele reconhece
que a estrutura do Incra em Anapu é insuficiente
para atender a demanda.
"Nossa orientação
é para que os assentados desmatem apenas
as áreas que em vão trabalhar, respeitem
as permissões e as margens dos igarapés",
disse o coordenador, que pela falta de uma representação
do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama) no município
acaba também assumindo a função
de orientar ecologicamente os assentados.
Hoje em Anapu existem dois tipos
de assentamento: os PA's, que são os Projetos
de Assentamento antigos, iniciados na década
de 70, e os PDS`s, que são os Projetos de
Desenvolvimento Sustentável, idealizados
por Dorothy Stang. Para Santos, os novos assentamentos
são mais viáveis para a preservação
da mata.
O coordenador do Incra em Anapu
avalia que o governo deveria investir mais na conscientização
dos agricultores e na estrutura dos órgão
que atuam diretamente na floresta, como o próprio
Incra e o Ibama.
"Os órgãos
pecam muito na orientação dos agricultores.
Antes de enviar a repressão e a punição,
o governo deveria melhorar a assistência e
a estrutura de quem atua por aqui", disse Santos.