27 de
Novembro de 2008 - Juliana Cézar Nunes e
Mariana Jungmann - Enviadas Especiais - Marcello
Casal Jr/Abr - Rio de Janeiro - O índio Pataxó
Kâhu Wêrimehi fala sobre a exploração
sexual de crianças e adolecentes nas aldeias
indígenas
Rio de Janeiro - Único representante dos
jovens indígenas brasileiros no 3º Congresso
Mundial de Enfrentamento da Exploração
Sexual contra Crianças e Adolescentes, Kâhu
Wêrimehi, 18 anos, reclama da falta de debate
sobre a exploração sexual nas áreas
próximas às aldeias. O encontro reúne,
no Rio de Janeiro, cerca de 300 jovens de vários
países, convidados a debater o tema e apresentar
soluções.
Na oficina destinada a discutir
o assunto, foram convidados dois especialistas:
um mexicano e, outro, canadense, que falaram sobre
a população indígena e aborígene
dos seus respectivos países.
“Não fomos convidados.
E as comunidades indígenas brasileiras enfrentam
muito a questão da exploração
sexual. Na minha comunidade, Pataxó, em Porto
Seguro, as meninas indígenas são aliciadas
para turismo sexual. Já recebemos também
várias denúncias de outras comunidades
que estão sofrendo com isso, principalmente
em áreas com grandes obras”, alerta Kâhu.
“O único jovem indígena
aqui sou eu. Não tivemos um espaço
pra falar, nem uma oficina sobre a situação
nas aldeias. Precisamos de todo o apoio possível
para tratar esse problema. As crianças e
adolescentes indígenas se tornaram alvo fácil
da rede de exploração sexual.”
A socióloga Marlene Vaz,
uma das principais especialistas em exploração
sexual do Brasil, concorda que o congresso peca
por não trazer debates sobre questões
emergentes ou mesmo sobre como integrar políticas
públicas para atender comunidades vulneráveis
e isoladas. “O Brasil tem políticas públicas
bem conceituadas, que são referência
para o mundo. Mas ainda precisamos discutir a aplicação
dessas políticas”, ressalta Marlene Vaz.
“Conheço pouco da realidade
indígena, mas por matérias jornalísticas
tenho visto que a situação é
grave. As meninas saem das comunidades para conseguir
dinheiro e depois voltam para aldeia. A mídia
está mostrando isso, mas o governo ainda
não está agindo como deveria. Infelizmente,
esse debate também não está
presente neste congresso, pelo menos até
o momento.”
No que diz respeito à exploração
sexual em áreas próximas às
grandes obras, a socióloga sugere que os
Centros de Referência em Assistência
Social (Creas) sejam expandidos nas cidades próximas
às áreas indígenas, especialmente
na Amazônia. Para Marlene Vaz, também
é fundamental a ampliação da
assistência social às famílias.
“Nessas grandes obras, a mão-de-obra
local precisa ser absorvida para que as famílias
não aceitem viver da exploração
sexual de crianças e adolescentes. Enquanto
isso não for feito, as obras serão
mesmo um ponto de atração para exploração
de meninas, indígenas e não-indígenas.”
+ Mais
Seminário discute políticas
para povos indígenas
24 de Novembro de 2008 - Da Agência
Brasil - Brasília - Discriminação
e falta de políticas públicas para
os povos indígenas foram alguns dos temas
do seminário internacional que discutiu os
principais problemas enfrentados pelos indígenas.
O evento ocorreu hoje (24), no auditório
do Centro de Excelência em Turismo da Universidade
de Brasília (UnB).
Realizado pelo Instituto de Ciência
Sociais, pelo Departamento de Antropologia e pelo
Cento de Pesquisa e Pós-Graduação
das Américas (Ceppac), o seminário
teve o tema Problemáticas Sociais para Sociedades
Plurais: Políticas Indigenistas, Ambientalistas,
Sociais e de Desenvolvimento em Perspectiva Comparada.
O organizador do evento e professor da Ceppac, Cristhian
Teófilo, disse que o evento foi pensado como
a continuidade de outro seminário que também
abordou os problemas sociais desses povos. “Mais
de dez anos depois, foi possível reunir um
grupo de especialistas para debater a diversificação
das problemáticas indígenas em diferentes
países da América Latina”, afirmou.
“A idéia do seminário,
apesar de dividir os temas, é ter didatismo.
Todos os assuntos estão interligados”, informou
o professor. Durante o seminário, foram apresentadas
pesquisas acadêmicas nas áreas de saúde,
educação, segurança pública,
justiça e sociologia.
Para a professora de Antropologia
da UnB, Lia Zanotta, os desafios enfrentados pelos
povos indígenas são enormes, principalmente
no que diz respeito à discriminação.
“Esse lado discriminatório é muito
comum, alguns médicos, por exemplo, se recusam
a atender pacientes indígenas”, disse.
+ Mais
Vestibular indígena oferece
oportunidade para desenvolvimento social de etnias
25 de Novembro de 2008 - Akemi
Nitahara - Repórter da Rádio Nacional
- Brasília - Desde 2006, a Universidade de
Brasília (UnB) abre vagas exclusivas para
estudantes indígenas. O vestibular é
direcionado, e o candidato precisa provar sua relação
com a etnia que representa.
Segundo o coordenador de Apoio
Pedagógico da Fundação Nacional
do Índio (Funai), Gustavo Menezes, dez universidades
federais têm ações afirmativas
para a inclusão dos indígenas: "As
universidades já se conscientizaram de que
essa é uma demanda muito forte da sociedade.”
Menezes destacou que existe muita discussão
em torno do assunto, mas que, em geral, existe sensibilidade
da parte dos reitores de que isso é benéfico
para a vida acadêmica, e não negativo.
“Como a gente sabe, eles [índios]
normalmente têm mais dificuldade de acesso
a cursinhos, e a demanda estava crescendo muito.
Então, sem todas essas situações
favoráveis, o acesso deles era muito difícil."
De acordo com Menezes, cada universidade
tem um sistema diferente. Algumas trabalham com
cotas no vestibular, outras reservam vagas. Para
a Funai, a UnB é uma vitrine do programa
de inclusão dos índios, porque, além
de abrir as vagas, a instituição acompanha
os estudantes, para garantir que terminem o curso.
"Muitas vezes, por seu próprio
esforço, eles entravam na faculdade, mas
as condições eram muito desfavoráveis.
Havia muita desistência”, disse Menezes. Além
de acesso, eles precisam de acompanhamento para
serem bem-sucedidos e, ao final do curso, contribuírem
para a própria comunidade, mas sabendo que
isso é para alavancar a situação
dos indígenas, e alguma forma, mesmo que
pontual, completou.
Atualmente, há 23 índios
fazendo cursos na UnB. Josinaldo Aticun, aluno do
sexto semestre de medicina, lembra que, no começo
do curso, teve muita dificuldade para acompanhar
a turma, porque estava menos preparado do que os
colegas. Ele disse que escolheu esse curso por causa
da carência de profissionais da área
de saúde para atender as população
indígenas.
"Os médicos simplesmente
não se adaptam à realidade dos índios,
e aí não demoram, existe uma rotatividade
de profissionais de saúde muito grande nas
áreas indígenas. Isso dificulta muita
coisa.” Josinaldo ressaltou que, com isso, viu nesse
convênio a possibilidade de ajudar mais de
perto seu povo. “Você sabe como é que
funcionam as coisas, então, tem mais possibilidade
de respeitar o conhecimento tradicional existente."
Para ele, a reserva de vagas para
índios nas universidades federais é
uma forma de corrigir as injustiças sociais
do país. "É uma maneira de começar
a resolver o problema da desigualdade social no
Brasil, sobretudo com a população
indígena, que foi por muito tempo martirizada
e massacrada. E é uma oportunidade para começar
a pensar no desenvolvimento dessa população."
As inscrições
para o terceiro vestibular indígena da UnB
vão até 15 de dezembro. As 20 vagas
são para os dois semestres de 2009, divididas
entre os cursos de agronomia, enfermagem e obstetrícia,
engenharia florestal, medicina e nutrição.
Informações no site www.cespe.unb.br/vestibular.