Carla
Lisboa - Brasília (24/11/2008) Uma expedição
científica à Reserva Biológica
(Rebio) Guaribas, na Paraíba, organizada
pelo cientista e professor Guarino Rinaldi Colli,
do Instituto de Biologia da UnB, fez a descoberta
do que, provavelmente, deve ser uma nova espécie
de lagarto do gênero Cnemidophorus, típico
do cerrado. Com oito centímetros de comprimento,
o animal, diferentemente das demais espécies
do gênero que apresentam ventre esbranquiçado,
azulado ou esverdeado tem o ventre e a cauda avermelhados.
A Rebio Guaribas fica no município
de Rio Tinto (PB) e é administrada pelo Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio). Foi criada para preservar amostras da
Mata Atlântica, mas abriga, também,
fragmentos remanescentes do cerrado, praticamente
intactos. Foi exatamente nessa área de cerrado
que houve a descoberta do animal.
As suspeitas de que se trata de
uma nova espécie de lagarto do cerrado somente
poderão ser confirmadas depois de um estudo
detalhado, envolvendo, até mesmo, o seqüenciamento
do DNA dos exemplares capturados durante a expedição,
realizada no início do mês passado.
No entanto, as evidências de que se trata
de uma variação do Cnemidophorus são
muito fortes.
Os pesquisadores desconfiam de
que o lagarto hoje classificado como Cnemidophorus
ocellifer não seja uma única espécie,
mas várias espécies diferentes ainda
não descritas. Dentre elas, estaria a do
animal encontrado na Rebio Guaribas. A confirmação
das suspeitas e a formalização da
descrição científica deverão
indicar a necessidade de redefinição
da classificação do Cnemidophorus
ocellifer.
COLEÇÃO Os répteis
coletados na reserva foram trazidos para Brasília
e compõem agora a Coleção Herpetológica
do Laboratório de Herpetologia do Departamento
de Zoologia, do Instituto de Biologia da UnB. O
acervo, que reúne mais de 50 mil espécimes,
está à disposição da
comunidade científica. Segundo a gerente
da coleção, Marcela Ayub Brasil, há
animais de várias regiões do mundo,
que são usados também para estudos
genéticos.
Para o professor da UnB, a descoberta
do lagarto na Rebio Guaribas não só
reforça a necessidade de realização
de inventários sobre o cerrado, bioma bastante
degradado pelas atividades agropecuárias,
mas também estimula a promoção
de pesquisas, uma vez que estudos recentes têm
revelado um grande número de novas espécies
de répteis nesse ecossistema.
Durante os sete dias que durou
a expedição, o professor da UnB pôs
em prática três projetos de pesquisa.
Os estudos buscam saber o que acontece com os animais
que vivem em fragmentos naturais do cerrado. O objetivo
é prever o que poderá ocorrer com
as populações isoladas em fragmentos
criados pelas atividades humanas na região
central do cerrado (Centro-Oeste brasileiro) e planejar
estratégias para a conservação
adequada da fauna.
PARCERIA Além de fazer
a coleta dos animais, o professor deu aulas práticas
da disciplina biologia dos répteis aos 20
estudantes que o acompanharam na expedição.
Todas essas atividades selaram a primeira parceria
envolvendo o ICMBio/Rebio Guaribas, a UnB e a Universidade
Federal da Paraíba (UFPB) na área
de pesquisas e estudos científicos.
Pesquisas e levantamentos de fauna
e flora nas unidades de conservação
têm colaborado de várias formas para
a produção científica brasileira
e para a melhoria da qualidade de vida da população.
O ICMBio é um dos órgãos governamentais
que estimulam a produção desse tipo
de pesquisa por meio de parcerias institucionais.
CERRADO O cerrado brasileiro
é um dos biomas mais ricos em biodiversidade
do País e do mundo. Apesar disso, sofre,
sobretudo na Região Centro-Oeste, grandes
fragmentações por causa da introdução
de monoculturas, como a soja, a pecuária
e o surgimento de novas cidades. Com isso, parte
da riqueza biológica corre o risco de desaparecer.
Pesquisas como a do professor Rinaldi ajudar a reverter
essa situação.
+ Mais
Operação prende
7 pessoas e destrói 50 m³ de ipê
retirados ilegalmente de Flona no Pará
Brasília (24/11/2008)
Cinqüenta metros cúbicos de ipê
retirados ilegalmente da Floresta Nacional (Flona)
do Trairão, no oeste do Pará, foram
destruídos e uma pá-carregadeira foi
apreendida por servidores do Instituto Chico Mendes
de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)
e do Ibama no fim da segunda fase da Operação
Elo, concluída no último final de
semana.
Além da destruição
da madeira, os servidores dos institutos apreenderam,
durante a primeira fase da ação, três
caminhões e um trator de esteira. Eles prenderam
sete pessoas em flagrante e mais uma por tentar
impedir a fiscalização. Todos foram
enquadrados judicialmente por dano ao meio ambiente.
Além dos servidores do
ICMBio e do Ibama, atuaram na operação
a Polícia Militar e o 53º Batalhão
de Infantaria de Selva do Exército Brasileiro,
sediado em Itaituba, que ficou como fiel depositário
do equipamento apreendido.
A Operação Elo,
realizada entre os dias 10 e 21 de novembro, é
uma ação conjunta não só
do ICMBio com o Ibama, mas também de duas
unidades de conservação situadas nas
proximidades da BR-163: Flona Trairão e Reserva
Extrativista (Resex) Riozinho do Anfrísio.
Localizada perto do município
de Trairão, um pólo madeireiro, a
Flona vem sendo alvo das empresas que, em virtude
do escasseamento da madeira na região de
livre exploração, sobretudo do ipê,
do jatobá e do cedro, vêm invadindo
a floresta, abrindo ramais, expandindo seu alcance
e extraindo a madeira ilegalmente.
O ipê, uma das madeiras
mais vendidas, é utilizada pela construção
civil para formação de piso. O chefe
da unidade de conservação e coordenador
da operação, Maurício Santamaria,disse
que o processo de exploração ilegal
de madeira na floresta está em um estágio
muito avançado. Segundo ele, os madeireiros
infratores abriram várias estradas de dentro
da unidade para extrair a madeira.
Atualmente, duas balsas saem semanalmente
do porto de Itaituba em direção a
Belém com mais de 800 metros cúbicos
de madeira, a qual é exportada para vários
países. Os analistas ambientais acreditam
que metade da madeira que segue para Belém
é ilegal e, embora esteja documentada com
guia florestal, há a suspeita de que os infratores
burlam a fiscalização e esquentam
a documentação nas serrarias. Os institutos
vêm tentando coibir a exploração
ilegal da madeira, mas a burla da lei dificulta
o trabalho.