Sandra
Tavares - Brasília (03/12/2008) – Basta o
barco voltar da pesca no litoral nordestino para
se constatar o resultado da ação humana
ao longo dos últimos anos. Os grandes peixes,
especialmente aqueles com alto valor de mercado
estão sob risco de extinção.
A sobrepesca e a destruição dos recifes
e manguezais são as principais causas do
grave quadro de conservação. Ao todo
são 154 espécies aquáticas
que correm risco, segundo dados do Livro Vermelho
da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção,
lançado pelo Ministério do Meio Ambiente
em novembro.
Em fevereiro de 2007, o Grupo
de Especialistas em Garoupas e Bodiões da
União Internacional para a Conservação
da Natureza (IUCN Groupers and Wrasses Specialist
Group) reuniu em Hong Kong 23 pesquisadores de 11
países, incluindo o Brasil, para avaliar
139 espécies de peixes recifais de todo o
mundo.
Desse total, 20% foram avaliadas
como ameaçadas (categorias vulnerável,
em perigo ou criticamente ameaçada) e outras
19% ficaram na categoria de “quase ameaçada”.
A maioria das espécies classificadas como
ameaçadas foi representada pelos meros, badejos,
chernes e garoupas de grande porte; e pelo menos
metade das espécies consideradas ameaçadas
formam agregações reprodutivas, ou
seja, toda a população reúne-se
em áreas e épocas específicas,
o que torna essas espécies especialmente
vulneráveis à pesca intensiva.
“ Atingir grande tamanho corporal,
ter vida longa (viver naturalmente muitos anos)
e formar agregações reprodutivas,
além de ter valor comercial, são os
principais fatores de vulnerabilidade para os peixes
marinhos. Para uma população com essas
características, a pesca intensiva pode ser
realmente um fator de risco à extinção”,
explica a coordenadora de Avaliação
do Estado de Conservação da Biodiversidade,
Mônica Peres.
Por isso, a avaliação
do estado de conservação desse grupo
de peixes é fundamental. Só sabendo
quais as espécies que mais precisam do cuidado
da sociedade, será possível elaborar
e priorizar políticas públicas adequadas
para garantir sua conservação. Para
aquelas espécies sobre as quais não
existem informações suficientes para
avaliação, teremos que direcionar
pesquisas para cobrir essas lacunas.
Meros, chernes, garoupas, badejos
e vermelhos são chamados “predadores-topo”
do ambiente recifal, ou seja, estão no topo
da cadeia alimentar e têm função
ecológica importante nas comunidades em que
vivem. Por terem poucos predadores naturais e terem
vida longa, esses peixes são adaptados a
uma baixa mortalidade natural.
A pesca excessiva sobre espécies
tão vulneráveis causou reduções
populacionais tão sérias, que a captura,
comercialização e transporte de mero
(Epinephelus itajara) e cherne-poveiro (Polyprion
americanus) estão atualmente proibidas em
todo o território nacional, por força
de portarias que estabelecem moratórias de
pesca.
A pesca sobre os predadores-topo
já declinou tanto que pescadores agora procuram
espécies intermediárias na cadeia
alimentar, como os bodiões, no Nordeste.
“E quando isso se verifica, é porque o cenário
já está bastante problemático”,
explica Peres.
Quando peixes como os bodiões,
que se alimentam de invertebrados e algas que competem
com os corais, são pescados em excesso, a
conseqüência é o desequilíbrio
ecológico no ambiente recifal. No nordeste
os ambientes recifais se distribuem por cerca de
3.000 km da costa e se localizam sobre a plataforma
continental e em ilhas e bancos oceânicos.
Ao contrário do que se
pensa, um peixe pode ter sua abundância tão
diminuída a ponto de ser categorizado como
ameaçado, e ainda continuar sendo explorado
comercialmente até a extinção.
Especialmente se o valor comercial e a demanda pelo
peixe ou seus subprodutos aumenta com a escassez
populacional.
“ Ainda hoje, persiste a cultura
equivocada de que os recursos do mar não
se extinguem e são infinitos”, destaca o
analista ambiental e coordenador substituto de Coordenação
de Avaliação do Estado de Conservação
da Biodiversidade, Luis Otávio Frota da Rocha.
“Seria importante que cada cidadão procurasse
saber qual a origem do pescado, antes de comprar
um peixe numa peixaria ou consumi-lo num restaurante.
É importante saber que peixe é aquele,
se veio de uma pesca legalizada ou se aquela espécie
está listada como ameaçada no país,
estado ou município” explica Otávio.
“Precisamos do consumidor consciente”.
Ascom/ICMBio
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Campanha envolve consumidores
na fiscalização da pesca predatória
da lagosta
Brasília (04/12/2008) –
Uma régua. É com esta “arma” que os
consumidores de lagosta poderão integrar
as forças nacionais de fiscalização
e saborear, de consciência tranqüila,
essa dádiva que, pela pesca predatória,
já escasseia na costa brasileira. A menorzinha,
da espécie cabo verde, não pode ter
menos do que 17,5 centímetros, sendo 11 centímetros
de cauda. Já a vermelha precisa encher os
olhos com seus 20,5 centímetros (se for do
tipo mignon), dos quais 13 centímetros de
cauda.
Fotos em tamanho natural das lagostas,
com as respectivas medidas, estão nos folders
que serão distribuídos, a partir da
próxima semana, nos aeroportos das cidades
costeiras, em restaurantes, hotéis, supermercados
e outros pontos de comércio, consumo e transporte
do crustáceo. Com versões em português
e inglês, eles são a principal peça
da primeira edição da Campanha de
Consumo Legal de Pescados, lançada nesta
quinta (4) no Ministério do Meio Ambiente
(MMA) pelo ministro Carlos Minc e pelo ministro
Altemir Gregolin, da Secretaria de Aqüicultura
e Pesca (Seap).
O MMA, o Ibama e a Seap atuam
juntos, desde 2006, pela captura sustentável
e a recuperação dos estaques de lagosta
do país apresentaram as peças da Campanha
numa solenidade conjunta, onde foi lançado
também o Plano de Gestão para o Uso
Sustentável de Lagostas no Brasil, uma estratégia
nacional elaborada com a participação
também da comunidade científica, dos
governos estaduais e municipais e representantes
dos segmentos envolvidos na cadeia produtiva da
lagosta.
Essa mobilização
foi resposta à profunda crise observada no
setor e evitar a tragédia de extinção
anunciada: entre 1991 e 2006, a captura em águas
brasileiras caiu de 11 mil toneladas para 7 mil
toneladas, com graves repercussões sociais
e econômicas nos estados produtores (do Espírito
Santo ao Amapá). Ainda assim, o setor respondeu
por 150 mil empregos diretos e divisas de US$ 80
milhões para o país em 2007.
O Plano implicou, entre outras
medidas, na ampliação, do período
de defeso – agora ele é de seis meses, entre
primeiro de dezembro e 31 de maio – e na troca dos
equipamentos utilizados para captura. As caçoeiras,
redes com fios de metal que arrastavam lagostas
de todos os tamanhos, junto com tartarugas e outras
espécies marinhas e até mesmo corais,
e a pesca de mergulho, que utiliza tubos de respiração,
foram proibidas. Hoje a pesca deve ser feita por
covos, armadilhas que detém apenas os animais
de tamanho apropriado para captura.
"Nós, do Ministério
do Meio Ambiente, do Ibama e da Secretaria da Pesca,
estamos fazendo nossa parte, que é de fiscalizar,
reprimir as práticas predatórias e
estimular a produção sustentável
nessa atividade que é tão importante
economica e culturalmente nas nossas cidades costeiras.
Mas o consumidor deve e agora pode fazer a sua parte.
E só tirar do bolso esta reguinha e, se a
medida da lagosta não tiver de acordo, devolver
para a cozinha e trocar de iguaria" ensinou
o ministro Carlos Minc, apontando didaticamente
o folder da campanha.
Lúcia Leão
Ascom MMA