O ministro
do Meio Ambiente, Carlos Minc, realizou hoje coletiva
de imprensa para comentar a taxa anual de desmatamento
na Amazônia, divulgada hoje pelo Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Na ocasião,
o ministro confirmou que o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva anunciará, no dia 1º de
dezembro, a adoção de metas de redução
de emissões de carbono relacionadas ao desmatamento.
“A meta de redução é positiva
porque não depende só do governo,
mas de um esforço nacional e até internacional
para combater o aquecimento do planeta”, afirmou
o ministro.
Os dados do desmatamento divulgados
mês a mês pelo Inpe vinham aumentando
desde novembro de 2007, e essa tendência de
alta se manteve nos primeiros meses de 2008. De
acordo com o ministro Carlos Minc, as previsões
feitas a partir desses dados pelo Inpe e pelo Ministério
do Meio Ambiente eram de que o índice anual
de desmatamento ficaria em torno de 15.000 quilômetros
quadrados. No entanto, a área desmatada entre
agosto de 2007 e julho de 2008 ficou em 11.968 quilômetros
quadrados, 3,8 % maior do que no ano anterior.
“Qualquer aumento no desmatamento
é ruim, mesmo que de apenas 3,8%, mas esperávamos
um crescimento ainda maior. Essa expectativa não
se confirmou, graças à queda obtida
nos meses de maio, junho e julho”, afirmou Minc.
Carlos Minc atribui essa mudança
no cenário às ações
implementadas pelo governo federal para conter o
desmatamento. Dentre essas ações,
o ministro destacou a lei de crimes ambientais,
que impõe punições mais rigorosas
àqueles que desrespeitam a legislação
ambiental, e a resolução do Banco
Central de restringir o crédito a produtores
agrícolas que não estejam em conformidade
com as regras ambientais e fundiárias. Além
disso, a intensificação das operações
de fiscalização do Ibama e da Polícia
Federal ajudaram a frear a tendência de alta.
Um dado alarmante é o desmatamento
detectado dentro de áreas protegidas. As
unidades de conservação e as terras
indígenas foram responsáveis por 10%
dos 11.968 quilômetros quadrados desmatados.
O ministro Carlos Minc classificou o número
como vergonhoso e destacou que as unidades de conservação
de proteção integral respondem por
apenas 0,8% da área total desmatada.
+ Mais
Taxa anual de desmatamento da
Amazônia cresce 3,8%
De agosto de 2007 a julho de 2008,
o Brasil desmatou 11.968 km2 de florestas na Amazônia
Legal. Esse é o dado do desmatamento anual
divulgado hoje pelo Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE). O número representa um
aumento de 3,8% em relação ao desmatamento
verificado no ano anterior, indicando uma quebra
na tendência de reduções da
taxa verificada desde o período 2004-2005.
É um indício de que ainda é
necessário rever e ampliar os esforços
para conter o desmatamento, tornando-os mais sistêmicos,
integrados e estratégicos.
Entre agosto de 2006 e julho de
2007, a taxa de desmatamento foi de 11.532 km2,
18% menor do que o desmatamento medido entre 2005
e 2006. Essa relativa estabilidade da taxa de desmatamento
neste último ano contrasta com algumas expectativas
de maior aumento associado ao aquecimento do mercado
de commodities agrícolas pré-crise
econômica. Parte dessa tendência está
associada às ações implementadas
pelo governo federal desde o final de 2007, que
passou a envolver mais o setor produtivo no esforço
de redução do desmatamento.
As principais ações
do governo foram a restrição do crédito
para propriedades que não comprovem conformidade
com as regras ambientais (reserva legal, área
de preservação permanente, autorização
de desmatamento etc.) e fundiárias (propriedade
legalizada), além do fortalecimento e foco
mais concentrado nas ações de fiscalização
e do compartilhamento de responsabilidades com estados
e municípios. "A restrição
de crédito coíbe efeitos ligados à
grilagem de terra, principal responsável
direto específico pelo desmatamento na Amazônia",
afirma a secretária-geral do WWF-Brasil,
Denise Hamú.
Para Denise Hamú, no entanto,
"um desmatamento equivalente a duas vezes o
tamanho do Distrito Federal é preocupante,
uma vez que o WWF-Brasil defende o que foi estabelecido
pelo Pacto pela Valorização da Floresta
Amazônica e Redução do Desmatamento,
que propõe ações concretas
e conclama esforços governamentais e de toda
a sociedade para reduzir a zero o desmatamento em
sete anos". O Pacto é uma iniciativa
de um conjunto de ONGs e as ações
propostas têm custo estimado em R$ 1 bilhão
por ano, relativamente barato se comparado a outros
gastos governamentais ou investimentos e principalmente
se comparado aos custos sociais (secas, enchentes,
mortes, dificuldades econômicas etc.) que
o desmatamento impõe a todos.
A secretária-geral do WWF-Brasil
afirma ainda que é necessário adotar
uma estratégia mais ampla de conservação.
"Defendemos a definição de metas
claras de redução no desmatamento,
além de mecanismos econômicos e tributários
que incentivem a conservação e o uso
sustentável dos recursos naturais e desestimulem
as práticas predatórias", afirma.
Florestas e o clima
O desmatamento e as queimadas
são responsáveis por 75% das emissões
brasileiras de gases do efeito estufa e, por causa
da falta de cuidado com nossas florestas, o Brasil
é o quarto colocado no ranking dos maiores
contribuintes para o aquecimento do planeta.
As florestas armazenam carbono,
refletem calor, ajudam a reter a água da
chuva e trazem vários outros benefícios
para os seres humanos e o meio ambiente. Por isso,
a maioria dos cientistas que estudam o clima do
planeta afirma que para evitar o aumento do aquecimento
global é fundamental que o desmatamento seja
detido.
Com a diminuição
das taxas de desmatamento na região amazônica
ocorrida nos últimos dois anos, a adoção
de metas de redução das emissões
pelo Brasil é factível. O estabelecimento
de metas para redução de emissões
oriundas do desmatamento colocaria o Brasil em posição
de vanguarda nas negociações internacionais
sobre clima, que ocorrerão em dezembro em
Poznan, Polônia.
O superintendente de Conservação
do WWF-Brasil, Carlos Alberto de Mattos Scaramuzza,
explica, ainda, que as ações de combate
ao desmatamento devem seguir quatro eixos. O primeiro
é a proteção efetiva de florestas,
por meio da criação e implementação
de unidades de conservação. O segundo
é a promoção do uso sustentável
dos recursos naturais, desenvolvendo capacidades
nos estados para a gestão florestal. Em seguida,
vêm as ações de fiscalização,
para enfrentar ameaças de atividades ilegais
associadas, por exemplo, à grilagem de terras,
ao agronegócio e a grandes obras de infra-estrutura.
Por último, estão as ações
de compensação financeira para quem
proteger a floresta.
"Reconhecemos algumas ações
positivas do governo federal, mas defendemos algumas
melhorias, particularmente a manutenção
do processo de criação de unidades
de conservação, um maior esforço
na implementação das unidades já
criadas, com alocação e formação
de equipes para a gestão das áreas,
e a implementação efetiva da nova
política florestal, com o desenvolvimento
de capacidades nos estados para a gestão
florestal", afirma Scaramuzza.
Fundo Amazônia
O Fundo Amazônia, criado pelo governo em agosto
deste ano, é uma importante política
de viabilização do eixo de compensação
financeira para quem protege a floresta. No entanto
o WWF-Brasil defende que a aplicação
dos recursos contemple a ponta da cadeia. "É
imprescindível que os recursos cheguem ao
terreno, por exemplo, às comunidades locais,
proprietários de terras e áreas protegidas",
afirma Scaramuzza. "Esperamos que a execução
do Fundo Amazônia estimule a inovação,
a criatividade, a experimentação e
o envolvimento da sociedade civil, e que seja complementado
por recursos públicos, em lugar de ser sugado
para preencher lacunas de programas governamentais",
completa.