Energia
Eólica - 23/12/2008 - Mais de 71 mil quilômetros
quadrados do território nacional, em sua
quase totalidade na costa dos estados do Nordeste,
são varridos por vento com velocidade superiores
a sete metros por segundo, que propiciam um potencial
eólico da ordem de 272 terawatts-hora por
ano (TWh/ano) de energia elétrica.
Trata-se de uma cifra bastante
expressiva, uma vez que o consumo nacional de energia
elétrica é de 424 TWh/ano, aponta
estudo publicado na Revista Brasileira de Ensino
de Física, de autoria de pesquisadores do
Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos
(CPTec) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(Inpe/MCT), em São José dios Campos
(SP).
"Os números do potencial
eólico brasileiro foram estimados com os
mesmos modelos de previsão de tempo e estudos
climáticos. Como esses modelos são
validados para locais específicos das diferentes
regiões do País, esse potencial pode
estar subestimado", diz Fernando Ramos Martins,
da Divisão de Clima e Meio Ambiente do CPTec
e um dos autores do artigo.
Mas, segundo ele, com as informações
disponíveis hoje, levando em conta todas
as dificuldades inerentes aos altos custos da geração
de energia eólica, é possível
afirmar que apenas o potencial da energia dos ventos
do Nordeste seria capaz de suprir quase dois terços
de toda a demanda nacional por eletricidade.
"O problema é que,
hoje, o índice de aproveitamento eólico
na matriz energética nacional não
chega a 1%. A capacidade instalada é muito
pequena comparada à dos países líderes
em geração eólica. Praticamente
toda a energia renovável no Brasil é
proveniente da geração de hidreletricidade",
apontou.
Parte dos dados do estudo também
foi extraída do Atlas do Potencial Eólico
Brasileiro, produzido pelo Centro de Pesquisas de
Energia Elétrica (Cepel) com o objetivo de
fornecer informações para capacitar
tomadores de decisão na identificação
de áreas adequadas para aproveitamentos eólico-elétricos.
"Os locais mais propícios
no País para a exploração da
energia eólica estão no Nordeste,
principalmente na costa do Ceará e do Rio
Grande do Norte, e na região Sul", disse
Martins.
Além de descrever a evolução
do aproveitamento da energia eólica no mundo,
os pesquisadores do Inpe trazem no artigo dados
inéditos sobre a situação atual
do uso desse recurso para geração
de eletricidade em diversos países.
Sem emissões
Segundo o estudo, o setor de energia
eólica tem apresentado crescimento acelerado
em todo o mundo desde o início da década
de 11000. A capacidade instalada total mundial de
aerogeradores voltados à produção
de energia elétrica atingiu cerca de 74,2
mil megawatts (MW) no fim de 2006, um crescimento
de mais de 20% em relação ao ano anterior.
"Enquanto o Brasil explora
menos de 1% de sua energia eólica, países
como Alemanha, Espanha e Noruega utilizam por volta
de 10%", diz Martins, lembrando que a conversão
da energia cinética dos ventos em energia
mecânica é utilizada há mais
de três mil anos.
Em 2006, o Brasil contava com
237 megawatts (MW) de capacidade eólica instalada,
principalmente por conta dos parques na cidade de
Osório (RS). O complexo conta com 75 aerogeradores
de 2 MW cada, instalados em três parques eólicos
com capacidade de produção de 417
gigawatts-hora (GWh) por ano.
O pesquisador do CPTec aponta
ainda que, dentre as fontes energéticas que
não acarretam a emissão de gases do
efeito estufa, a energia contida no vento também
demonstra potencial para atender à segurança
do fornecimento energético no País.
"Políticas nacionais
de incentivos começam a produzir os primeiros
resultados, a exemplo Programa de Incentivo às
Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfra)].
Espera-se um crescimento da exploração
desse recurso nos próximos anos no Brasil",
disse Martins.
O Proinfa, coordenado pelo Ministério
de Minas e Energia, foi criado em 2002 para a diversificação
da matriz energética nacional. O programa
estabelece a contratação pelas empresas
de uma parcela mínima de energia elétrica
produzida a partir de fontes renováveis,
entre as quais energia eólica e a energia
proveniente de pequenas centrais hidrelétricas.
Sonda e Swera
Martins destaca ainda duas iniciativas
do CPTec que têm dado suporte científico
à produção de informações
sobre a os recursos eólicos no território
brasileiro. Entre os esforços mais recentes,
explica, estão a base de dados do Projeto
Sonda, um sistema de coleta de dados de vento operado
e gerenciado pelo centro.
O objetivo do projeto, que tem
dezenas de estações de coleta de dados
eólicos com medidores instalados em vários
estados, é disponibilizar informações
que permitam o aperfeiçoamento e a validação
de modelos numéricos para estimativa de potencial
energético de fontes renováveis.
O levantamento dos recursos de
energia eólica no Brasil também vem
sendo realizado pelo projeto Solar and Wind Energy
Resources Assessment (Swera), conduzido pela Divisão
de Clima e Meio Ambiente do CPTec, com financiamento
do Programa das Nações Unidas para
o Meio Ambiente (Pnuma).
Toda a base de dados gerada até
o momento pelo Sonda e pelo Swera, que terá
sua segunda fase iniciada no início de 2009,
está disponível para acesso gratuito
no site dos projetos."Essas bases de dados
são extremamente úteis para a definição
de políticas junto ao setor energético
nacional e para o desenvolvimento de projetos de
pesquisa científica sobre a temática
do aproveitamento de recursos energéticos.
Os resultados obtidos até o momento demonstram
o potencial do País no que diz respeito à
disponibilidade dos recursos renováveis",
afirma Martins.
Além de apresentar uma
revisão dos conceitos físicos relacionados
ao emprego da energia cinética dos ventos
na geração de eletricidade, o artigo
descreve ainda os aspectos dinâmicos dos ventos
e detalhes sobre a circulação atmosférica
na Terra, incluindo os fatores que influenciam a
velocidade e direção dos ventos nas
proximidades da superfície.
Com informações de Thiago Romero para
a agência Fapesp
Assessoria de Comunicação do MCT