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MAIORIA DOS ÍNDIOS ASSASSINADOS EM 2008 VIVIA EM MATO GROSSO DO SUL, DIZ CIMI

Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Janeiro de 2009

14 de Janeiro de 2009 - Alex Rodrigues - Repórter da Agência Brasil - Brasília - Em seu levantamento preliminar sobre as violações dos direitos indígenas, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) dedicou especial atenção à população guarani kaiowá, que vive em Mato Grosso do Sul, estado com o maior número de assassinatos e suicídios registrados durante 2008.

De acordo com o Cimi, entre uma população de cerca de 40 mil indígenas, 40 foram mortos e 34 se suicidaram no ano passado. O número de assassinatos foi menor que em 2007, quando houve 53 ocorrências. Já o número de suicídios cresceu 54%, pulando de 22 para os recentes 34 casos. O segundo estado em número de mortes indígenas foi Minas Gerais, com quatro pessoas assassinadas.

Segundo o vice-presidente do Cimi, Roberto Liebgott, "não há outra justificativa para explicar a diferença entre o número de vítimas sul-matogrossense e dos demais estados, que não a política de confinamento dos índios para liberar terras para o plantio da cana-de-açúcar e a criação de gado”.

O confinamento e a falta de perspectivas explicariam também o elevado índice de suicídios, principalmente entre jovens de 15 a 22 anos, sustentou Liebgott, citando o exemplo do município de Dourados (MS).

“Em uma área indígena de três mil hectares vive uma população de mais de 13 mil pessoas. Uma área degradada, inadequada, sem água, e essas pessoas têm que viver ali sem nenhuma perspectiva de trabalho e de dignidade e sem poder manifestar sua cultura” , disse o vice-presidente do Cimi, organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

O Cimi também acusa políticos e latifundiários sul-matogrossenses de pressionarem o governo federal para retardar ou mesmo impedir a demarcação de novas áreas indígenas. De acordo com Liebgott, essa estratégia tem dado resultados e o governo tem cedido a parte dessas pressões.

“Embora a Funai [Fundação Nacional do Índio] tenha criado seis novos grupos, para identificar e realizar a demarcação de novas áreas, ela não teve a possibilidade de concretizar os trabalhos de demarcação das terras reivindicadas devido à pressão dos governos estadual e municipais e dos fazendeiros”, afirmou Liebgott, mencionando as dificuldades impostas ao trabalho de técnicos da Funai.

“Ao mesmo tempo em que exercem uma pressão política sobre o governo federal para que este diminua suas ações no tocante às demarcações de terra, alegando que [o estado e o setor produtivo] terão prejuízos se isso for feito, os que se opõem à demarcação no estado muitas vezes não permitem que os técnicos da Funai façam os levantamentos arqueológicos e antropológicos dentro das áreas que os índios reclamam”, disse.

Liebgott disse que, se nada for feito para garantir condições dignas às comunidades indígenas do estado, a perspectiva de “curto, médio e longo prazo” para os guarani kaiowá é de muita violência. “O governo federal precisa tomar medidas urgentes, para identificar as áreas reivindicadas pelos índios, dando condições para que essas comunidades tenham uma vida digna”.

A reportagem procurou as assessorias da Funai e do governo do Mato Grosso do Sul no início da tarde para que comentassem o assunto, mas até as 19h30, ainda não havia recebido qualquer resposta.
* Colaborou Mônica Pinheiro, da Rádio Nacional Amazônia

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Gerente de fazenda confessa morte de índia em Mato Grosso

15 de Janeiro de 2009 - Ana Luiza Zenker - Repórter da Agência Brasil - Brasília - Está preso desde terça-feira (13) o autor dos disparos que matou a indígena Valmireide Zoromará, da etnia Pareci, no município de Diamantino (MT). O gerente da Fazenda Boa Sorte, onde ocorreu o crime na última sexta-feira (9), confessou ser o autor dos tiros, segundo informações do delegado da Polícia Civil Daniel Lemos, responsável pelo caso.

De acordo com a investigação da polícia, a provável motivação dos disparos foi o uso, pelos índios parecis, que vivem a alguns quilômetros da fazenda, de uma barragem para pescar. Os indígenas alegam que a represa não é de propriedade da Fazenda Boa Sorte.

“Em princípio, a motivação desse homicídio seria o fato de os índios estarem já há algum tempo entrando na represa, local onde o proprietário da fazenda tem uma criação de peixes. Eles estavam entrando nessa represa para pescar”, explica.

Na sexta-feira à noite, por volta das 22h30, cerca de 15 indígenas estavam na represa, quando o gerente da propriedade foi até o local. Ele alegou no depoimento que os índios começaram a atirar primeiro, e que por isso revidou com dois disparos de espingarda. Os tiros acertaram a índia, que morreu no local, e o seu marido, não-índio, que está hospitalizado. “Ele [o gerente] alega legítima defesa, dizendo que ao chegar no local, avistou vultos e logo em seguida recebeu disparos”.

De acordo com o delegado, o crime provavelmente não foi motivado por disputa de terras. Ele conta que o local foi palco de disputas até o início da década de 11000, mas desde então não há notícias de conflitos ou ameaças entre indígenas.

“Já teve uma briga, segundo um representante da Funai, junto com o fazendeiro proprietário da área, em virtude dessas terras, mas há muito tempo, de lá para cá a gente não tinha mais notícias de ameaças, eles viviam cada um na sua, não estavam brigando por essa terra”, disse Lemos.

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Grupo de trabalho começa a projetar Secretaria Especial de Atenção à Saúde Indígena

13 de Janeiro de 2009 - Da Agência Brasil - Brasília - A transferência da responsabilidade pela saúde indígena da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) para o Ministério da Saúde já começou a ser projetada pelo grupo de trabalho que trata do assunto.

A equipe, formada por representantes dos indígenas, da Fundação Nacional do Índio (Funai), do MS e da Funasa, reuniu-se pela primeira vez na semana pasada e pretende realizar seminários em fevereiro, março e abril, segundo Antônio Alves, coordenador do grupo responsável pela criação da Secretaria Especial de Atenção à Saúde Indígena.

Alves é secretário de gestão participativa do Ministério da Saúde. “A cada dia que passa estou mais convencido da necessidade de o ministério trazer pra si esse debate e assumir essa responsabilidade que é a sociedade com 500 mil brasileiros que são os verdadeiros habitantes desse país desde antes de chegarem aqui os brancos” afirmou o coordenador em entrevista hoje (13) à Rádio Nacional..

A saúde indígena sairá do controle da Funasa após um pedido dos indígenas. “De lá pra cá [desde a implantação da Funasa] a gente tem observado, até talvez por ela ser uma autarquia e estar fora da estrutura do ministério, uma certa dificuldade na implementação das ações. Há uma grande melhora da atenção à saúde indígena, mas ainda com uma certa dificuldade na execução” explicou Alves.

Ele informou que as próximas reuniões do grupo devem ocorrer nos dias nove e dez de fevereiro, quando os resultados do trabalho em andamento deverão ser apresentados à comunidade indígena.

“A comunidade indígena exige que, concluído esse trabalho dos subgrupos e aprovado por esse grupo maior, a gente leve esse resultado pra mostrar aos índios em seminários regionais para eles possam melhorá-lo, se esse for esse o anseio deles, e então fazer esse encaminhamento - a transferência do departamento de saúde indígena que está na Funasa, para o Ministério da Saúde", concluiu Alves.

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Cimi aponta que pelo menos 53 índios foram assassinados em 2008

14 de Janeiro de 2009 - Alex Rodrigues - Repórter da Agência Brasil - Brasília - Pelo menos 53 índios foram assassinados durante o ano de 2008, segundo informações que constam de um levantamento preliminar sobre as violações dos direitos indígenas, elaborado anualmente pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

O total de ocorrências já identificados pela organização representa uma redução de cerca de 40% em comparação aos números de 2007, quando, conforme o próprio Cimi, pelo menos 92 índios foram assassinados. O resultado, segundo o vice-presidente do organismo, Roberto Liebgott, é reflexo de ações de proteção às áreas indígenas já homologadas e da maior mobilização dos índios.

“Eles [índios] se uniram para discutir, negociar e cobrar das autoridades públicas um maior empenho na proteção das áreas indígenas já demarcadas e na retirada dos invasores dessas áreas”, afirmou Liebgott à Agência Brasil.

Segundo o Cimi – que é vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) - os crimes ocorreram em nove estados brasileiros. Mato Grosso do Sul ocupa a dianteira, com 40 assassinatos e 34 suicídios. O segundo estado em número de ocorrências foi Minas Gerais, com quatro pessoas assassinadas.

Liebgott também destacou a preocupação com a situação de Roraima, onde, segundo ele, arrozeiros e invasores de terras desencadearam um intenso processo de violência por conta da iniciativa do governo de retirar os não-índios da Terra Indígena Raposa Serra do Sol.

“Os arrozeiros invadiram terras, espancaram, promoveram quebra-quebra, jogaram bombas e atiraram em comunidades indígenas. Lá é uma região onde os dados sobre a violência nos preocupa”, concluiu.

Apesar da redução do número de assassinatos, o Cimi diz ter registrado diversos casos em que os povos indígenas foram gravemente agredidos em virtude do preconceito que sofrem ou da disputa por terras para o agronegócio. São casos como o assassinato de uma criança de seis anos da etnia guajajara, atingida por um tiro enquanto assistia televisão com a família. Segundo o Cimi, o assassino passou por uma rodovia ao lado da aldeia e atirou a esmo, sem motivo aparente, na direção da casa onde a menina estava.

Para a entidade, muitas vezes é o próprio Estado brasileiro, por meio de suas forças policiais, quem assume o papel de agressor. Uma operação realizada da Polícia Federal entre os dias 20 e 23 de outubro último deixou feridos mais de 20 moradores de aldeias tupinambás do Sul da Bahia.

O Cimi também considera que 2008 ficou marcado por uma intensa campanha racista contra os povos indígenas nos meios de comunicação. Para Liebgott, há um forte preconceito entre parte da sociedade, que não leva em conta o modo de ver e de agir dos povos indígenas.

“Essa campanha se manifesta principalmente em algumas regiões do país. Em Roraima, por exemplo, tem o objetivo de impedir os índios de ocuparem suas terras, alegando que eles são preguiçosos e que, portanto, não haveria necessidade de demarcar terras para os índios, porque eles não vão produzir”, afirmou Liebgott.

O relatório final com os dados completos sobre as violações dos direitos indígenas será divulgado em maio próximo e trará números sobre ameaças, tentativas de assassinato, mortes por desassistência (suicídio, falta de atendimento médico etc.), invasões de terras indígenas, entre outros.

O levantamento é baseado em informações fornecidas pelas próprias comunidades indígenas, obtidas pelos mais de 400 missionários do Cimi espalhados pelo país e no acompanhamento de jornais de todo o país.

A reportagem procurou as assessorias da Funai e do governo de Mato Grosso do Sul no início da tarde para que comentassem o assunto, mas, até as 19h, não recebeu qualquer resposta.

 
 

Fonte: Agência Brasil - Radiobras

 
 
 
 

 

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