Márcia
Néri - Brasília (16/01/09) - Analistas
ambientais e técnicos do Parque Nacional
da Serra dos Órgãos (Parnaso), na
região serrana do estado do Rio de Janeiro,
relançam em breve a campanha Pássaro
Legal é Pássaro Solto. A iniciativa
pretende sensibilizar a população
e estimular a entrega voluntária de aves
capturadas ilegalmente por moradores do entorno
do Parna.
Material publicitário,
como banners, folhetos educativos e vinhetas para
rádio que destacam o sofrimento dos animais
mantidos em cativeiro e os impactos que a retirada
da fauna causa ao ecossistema local serão
lançados em meados de fevereiro. Coordenada
pela própria equipe do Instituto Chico Mendes
de Conservação da Biodiversidade que
trabalha na unidade, a campanha visa atingir cerca
de 700 mil habitantes dos quatro municípios
abrangidos pelo parque.
O biólogo e chefe do Parnaso,
Ernesto Viveiros de Castro, explica que a proposta
é uma tentativa de conscientizar aqueles
que insistem em capturar as aves remanescentes da
Mata Atlântica que ainda habitam a unidade
de conservação. “Em 2008, os fiscais
do Parque aplicaram 40 autos relativos à
posse de pássaros, o que gerou R$ 712 mil
em multas. Infelizmente, nosso trabalho não
tem evitado que os animais sejam retirados de seu
habitat natural. Somente nas duas primeiras semanas
de janeiro, aplicamos R$ 230mil em multas e recapturamos
mais de 120 pássaros engaiolados em diversas
residências de Teresópolis”, relata
Castro.
De acordo com ele, entre os animais
apreendidos estavam 44 chanchões (Sporophila
frontalis), espécie migratória ameaçada
de extinção e frequentemente encontrada
na Serra dos Órgãos devido à
grande floração de bambus, alimento
apreciado por esses pássaros. Os fiscais
do Parnaso também recuperaram aves conhecidas
como trinca-ferros, cigarrinhas-do-bambu, coleiros
e jacuaçus, espécies de médio
porte dificilmente encontradas em cativeiro.
A multa pela captura ou posse
de animais ameaçados é de R$ 5 mil
por indivíduo. Durante a operação
realizada nos dias 12 e 13 deste mês, uma
pessoa que admitiu comercializar pássaros
silvestres foi autuada em flagrante. Ela foi conduzida
para a 110ª Delegacia de Policia e responderá
por crime ambiental. Com o infrator foram encontrados
alçapões armados e animais aprisionados
recentemente.
As aves salvas pela equipe de
fiscalização foram examinadas por
médicos veterinários que acompanharam
as operações. “Dos pássaros
encontrados em cativeiro, 22 eram recém capturados
e apresentavam boas condições para
a soltura imediata em matas da região. Os
outros foram levados para o viveiro de trânsito
do Parque, local que permanecem até ganharem
condições de voltarem para a floresta.
Os mais debilitados são encaminhadas para
o Centro de Triagem do Ibama - Cetas- em Seropédica
(RJ)”, revela Castro.
O chefe do Parnaso destaca ainda
que a retirada de animais da natureza, além
de impactar as populações da própria
espécie, causa a dispersão de sementes
das matas. “A longo prazo, essa alteração
afeta toda a estrutura do bioma. Sem dispersores,
até as florestas aparentemente preservadas
podem estar condenadas a desaparecer”, enfatiza.
Para o biólogo, o equivocado
hábito de capturar pássaros e outros
animais da natureza para mantê-los aprisionados
em gaiolas é cultural no Brasil. “Assim como
também parece ser um traço da nossa
cultura soltar balões, colocando nossas florestas
e parques em risco. É hora de mudar essa
realidade e a conscientização da população
é um bom caminho”, acrescenta ele.
Durante a campanha Pássaro
Legal é Pássaro Solto, a equipe do
Parque Nacional da Serra dos Órgãos
fará eventos de entrega voluntária
das aves em diversas comunidades do entorno da unidade.
Associações de moradores e ONGs locais
serão parceiras da iniciativa. “Nessas oportunidades
iremos esclarecer os moradores sobre os prejuízos
e danos que a captura ilegal pode gerar. Não
puniremos quem entregar os animais voluntariamente,
mas intensificaremos a fiscalização
em seguida”, avisa Castro.
Criado em novembro de 1939, o
Parnaso conta com uma área de 20 mil hectares
e é o terceiro parque federal mais antigo
do Brasil. O local preserva e protege parte da pequena
porção de Mata Atlântica que
ainda resta no País. As 462 espécies
de aves presentes na região tornam a Serra
dos Órgãos a área com maior
riqueza de aves registrada nesse bioma.