20/01/2009
- O tariano Pedro Garcia e o baniwa André
Fernando tomaram posse de seus cargos de prefeito
e vice de São Gabriel da Cachoeira, no dia
1º de janeiro, eleitos em outubro, com 43%
dos votos. Ambos expressaram seu desejo de compartilhar
a gestão com a população, as
instituições parceiras e assim avançar
rumo ao desenvolvimento sustentável do município.
Em São Gabriel da Cachoeira,
no noroeste do Amazonas, o dia primeiro de janeiro
último não foi diferente do de outros
municípios brasileiros: posse de prefeito
e vereadores. A novidade aqui é que o novo
prefeito e seu vice são indígenas,
tariano e baniwa, representantes dos principais
e mais povoados rios da região, Uaupés
e Içana. Eles tiveram uma votação
expressiva (43%), numa disputa com mais quatro candidatos
(três deles ex-prefeitos).
A nova administração
indígena foi muito comemorada em São
Gabriel da Cachoeira, que se destaca por ser o município
mais indígena do país (por volta de
90% do total), por serem, ambos, lideranças
que fizeram sua carreira política no movimento
indígena, e ex-diretores da Foirn (Federação
das Organizações Indígenas
do Rio Negro, que abrange uma rede de mais de 60
organizações indígenas de três
municípios do Médio e Alto Rio Negro).
Nesse município, a maioria da população
e do eleitorado vive fora da área urbana,
em comunidades situadas em oito terras indígenas.
No dia primeiro, já às
oito horas da manhã houve um culto ecumênico,
seguido pela posse dos nove vereadores, tudo no
ginásio esportivo da cidade. Foi feita a
eleição da mesa diretora da Câmara,
ficando a presidência com Rivelino de Iauaretê,
ele também indígena. Cada vereador
teve tempo para uma breve fala, quando agradeceram
o apoio dos eleitores e familiares. Na seqüência
o prefeito e seu vice fizeram seus discursos de
posse, quando enfatizaram a importância da
participação e do trabalho junto com
as comunidades indígenas, como o povo.
Descentralização,
articulação, participação
Pedro começou seu discurso
em tukano, a língua mais falada na Bacia
do Uaupés. “Duhib¡r¡ti m¡hsã,
y¡ ahkawerã. M¡hsã mera
¡hsã puro ekati ¡hsar† heõperã
¡hsar† oasãpã m¡hsã
oasãkaro nhota, y¡ m¡hsãre
nikãromerã dararã niw£”.
Agradeceu a confiança de todos, expressou
sua alegria e o desejo de trabalhar junto.
André falou de descentralização,
articulação e participação.
Disse: "a única forma de não
errar mais é garantir um governo de gestão
compartilhada com as instituições
parceiras e com a população".
E ainda: "não podemos mais dar lugar
ao modelo atrasado e autoritário de uma administração
centralizada, pois certamente será ineficiente
e reprovada pelo povo. Num país em transformação,
é importante se orientar por um conceito
novo do que é ser gestor. Significa dizer:
ter visão, articulação ampla,
definir políticas e práticas que possam
resolver problemas, colocar nosso município
no eixo das grandes realizações em
favor da comunidade, aquilo que são suas
necessidades básicas. Dessa forma podemos
avançar na perspectiva do desenvolvimento
sustentável em nosso município."
Depois ambos, com suas esposas,
desceram do palco e houve uma cerimônia com
o grupo de dança tuyuka de São Gabriel,
formado por Mario Tenório, Mandu Lima, Lourenço
Prado, João Paulo Vidal, junto com Luiz Aguiar,
tariano. Na véspera, Mario, que é
kumu (benzedor), fez um benzimento a pedido de Pedro,
para proteção, com cera-de-abelha
e tabaco. Durante a posse, entregaram para o prefeito
e seu vice, em uma fala cerimonial. Presentearam
a ambos com lanças-chocalho, símbolo
do poder criativo e de conexão entre diferentes
níveis do cosmo, segundo as concepções
dos povos Tukano. Entregaram também a cuia
com cera-de-abelha benzida e um porta-cigarros.
À noite houve festa na
praia do Rio Negro, onde foi montado um palco. Houve
alimentação para todos, distribuída
em marmitex. Ao anoitecer caiu um forte temporal.
Mas depois das 20h o tempo abriu e grupos de dança
puderam se apresentar.
ISA, Aloisio Cabalzar.