Luciana
Melo - Brasília (23/01/2009) – Menos de sete
dias após a soltura, realizada na última
quinta (15), Potiguar (ou Poti, como é chamado
carinhosamente no Projeto Peixe-Boi) conseguiu desbravar
o Rio Tatuamunha, em Porto de Pedras (AL), e chegar
ao mar. O mamífero é o primeiro de
uma leva de peixes-boi marinhos que serão
devolvidos à natureza em 2009. Poti fez com
sucesso a trajetória até seu novo
habitat.
Para a equipe do Projeto Peixe-Boi,
o comportamento exploratório de Poti é
motivo de comemoração, pois aumenta
as chances do animal interagir com outros exemplares
e, até mesmo, poder participar do ciclo de
reprodução da espécie. Agora,
a expectativa dos veterinários é que
Aira, reintroduzida na mesma ocasião, também
siga o exemplo de Poti.
Poti voltou ao mar, mais de seis
anos depois que foi resgatado na praia de Morro
Pintado, município de Areia Branca (RN).
Na época, ainda era filhote e foi levado
para a sede nacional do Projeto Peixe-Boi, em Itamaracá
(PE).
Ao longo de seis anos sob os cuidados
de veterinários, biólogos e tratadores,
Poti deixou para traz seus 45 kg e 138 cm de comprimento
iniciais, para tornar-se um gigante de 207 kg e
241 cm. Em maio de 2008, quando apresentava condições
adequadas à soltura, foi transferido juntamente
com Aira para a base do Centro Mamíferos
Aquáticos (CMA/ICMBio), em Alagoas, onde
passou por um período de adaptação
ao ambiente natural.
Para a veterinária Fernanda
Niemeyer, a postura de Potiguar foi uma grata surpresa.
Entre os animais aptos a reintrodução,
Poti era um dos que mais apresentava comportamento
estereotipado, ou seja, de domesticação,
fato que preocupava quanto a sua adaptação
em ambiente natural.
Fernanda acredita que o sucesso
na reintrodução de Aira e Poti renova
as esperanças de toda a equipe do Projeto
em, um dia, ver o peixe-boi marinho livre da ameaça
de extinção.
A reintrodução faz
parte do Projeto Peixe-Boi realizado pelo Centro
Mamíferos Aquáticos (CMA/ICMBio) em
co-gestão com a Fundação Mamíferos
Aquáticos na costa Norte e Nordeste do Brasil.
O projeto já é efetuado há
29 anos e fez a reintrodução de 19
exemplares da espécie no País.
Ascom/ICMBio
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Equipe do ICMBio recupera 6,6
hectares de Mata Atlântica em Alagoas
Carla Lisboa - Brasília
(26/01/2009) – O resultado da atuação
do Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade (ICMBio) é visível
em várias das 300 unidades de conservação,
mas ganha destaque em Alagoas. A mais nova ação
em favor da preservação ambiental
sob o comando do instituto ocorre na Reserva Extrativista
(Resex) Marinha da Lagoa do Jequiá, no município
de Jequiá da Praia, litoral sul do estado,
onde os gestores do ICMBio, em conjunto com o Ibama,
conseguiram recuperar 6,6 hectares de mata ciliar
em Área de Preservação Permanente
(APP).
O trabalho iniciado em 2006, sob
a fiscalização do Ministério
Público Federal, visa recuperar 67,50 hectares
da mata ciliar na APP. A regeneração
faz parte do Projeto de Recuperação
de Áreas Degradas (Prad), que apresenta também
outros resultados. A chefe da Resex, Lúcia
Miranda, informa que em outras áreas já
foram plantadas espécies nativas a fim de
que até 2010 a APP esteja totalmente recuperada.
Além de resgatar e conservar
remanescentes da Mata Atlântica (atualmente,
considera-se que exista apenas 8% desse bioma, que
dominava o litoral brasileiro desde o Rio Grande
do Sul ao Rio Grande do Norte), a regeneração
das matas ciliares que protegem os recursos hídricos
da laguna é, segundo Lúcia Miranda,
muito importante para as 3.046 famílias de
extrativistas que sobrevivem da pesca e da coleta
de mariscos.
Ela diz que, há décadas,
as matas ciliares têm sido substituídas
por cana-de-açúcar, o que resultou
numa pressão intensa sobre a fauna e a flora,
o que provocou o declínio e até mesmo
a extinção de várias espécies,
e prejudicou as comunidades extrativistas, que sentem,
hoje, o impacto da destruição ao procurar
e não encontrar, por exemplo, nos manguezais,
algumas espécies de crustáceos.
Nota-se, na região, sérios
problemas de assoreamento que dificultam a migração
dos peixes no período da desova, decorrente
dos desmatamentos ao longo da bacia do rio Jequiá.
“Por isso era necessário se fazer a regeneração
da mata ciliar. Trata-se de uma área de grande
importância para preservação
da lagoa”, explica a chefe da Resex.
Segundo Lúcia, no início
da implantação do Prad, a equipe tentou
dialogar com os responsáveis pelas usinas.
Diante das dificuldades, firmaram parceria com a
Superintendência do Ibama para que o programa
fosse oficializado. “Só que o Ministério
Público Federal havia solicitado um levantamento
de todo o perímetro da Resex para tomar conhecimento
da situação, assim, reunimos com a
Procuradoria e com a fiscalização
do Ibama e elaboramos estratégias. Começamos
com as notificações e depois autuamos,
pois somente uma usina acatou a nossa primeira conversa.
As outras usinas, Caeté e Sinimbú,
foram autuadas e obrigadas a realizar o Prad com
o prazo de recuperar em cinco anos”, conta.
Pressão – Apesar de no
interior da Resex não haver residências,
o município tem 30 povoados, todos no entorno
da reserva, com mais de 11mil habitantes. Os pescadores
e as marisqueiras lutaram para que a área
fosse transformada em unidade de conservação
e, em 2001, o governo federal deu a ela uma espécie
de alforria, concedendo-lhe o título de reserva
extrativista.
Os 10.203 hectares da Resex Marinha
do Jequiá, considerados uma ilha de mata
atlântica cercada, de um lado, por canaviais
e, por outro, limitada pelo Oceano Atlântico,
sofrem pressão de cinco usinas de açúcar
e álcool que desenvolvem atividades em seu
entorno. São poucos hectares em comparação
com os 453 mil do Estado de Alagoas dedicados ao
cultivo de cana-de-açúcar, mas resistem
há décadas à quase total substituição
da mata atlântica pela intensa produção
sucroalcooleira.
Cinco séculos depois do
Descobrimento do Brasil, a mata atlântica
em Pernambuco e Alagoas estava reduzida a apenas
2% da cobertura original e desde que o País
se tornou um dos maiores produtores de açúcar
do mundo e, sobretudo depois do Programa Nacional
de Álcool (Proalcool), lançado em
1975, a cana tomou o espaço da floresta na
região. Nos primeiros anos da década
de 1980, restavam apenas 10 mil hectares de floresta
nativa contínua.
O resultado foi a extinção
do mutum-de-alagoas. A ave entrou em declínio
não só pela perda do habitat, mas
também em virtude da caça. Região
de estuário do rio Jequiá, um dos
mais influentes da bacia hidrográfica de
São Miguel, e de manguezais, o local é
conhecido como Paraíso das Águas por
ter 13 lagoas e ser banhado, em grande parte, pelo
Rio São Francisco e pelo oceano. A Lagoa
de Jequiá é a terceira maior laguna
de Alagoas em bom estado de preservação.
Além disso é considerada uma espécie
de berçário de várias espécies
marinhas.
A recuperação das
matas ciliares é, no entendimento da equipe
de gestores da reserva, investimento para o futuro.
“É um trabalho de formiguinha que aos poucos
vai recuperando as áreas de preservação
permanente. Com isso poderemos contribuir com a
preservação da laguna e garantir a
sustentabilidade da pesca”, afirma a chefe da Resex.
O jacaré-do-papo-amarelo
e mutum-de-alagoas são espécies típicas
da região ameaçados de extinção.
Entre os animais da fauna da região mais
conhecidos, destacam-se a capivara, o sagui, o camaleão,
o teiú, bem como espécies da fauna
marinha, como camurim (robalo), carapeba, siri,
camarão e curimã (tainha). Na flora,
o destaque é para ingazeira, tabua, uricuri,
sucupira, cupiúba, dentre outras.
Ascom/ICMBio