1 de Fevereiro
de 2009 - Isabela Vieira* - Repórter da Agência
Brasil - Rio de Janeiro - O Ministério Público
Estadual do Rio de Janeiro está atento à
mortandade de peixes na Lagoa de Araruama, na região
dos Lagos (RJ) . Na última semana, instaurou
dois inquéritos públicos. Um vai apurar
as causas do incidente, investigando as duas concessionárias
de água e esgoto da região, e o outro
ratará da situação dos pescadores.
Um dos promotores responsáveis
pelos inquéritos, Leandro Navega explica
que possíveis culpados podem ser condenados
não só a restituir o dano ambiental,
como indenizar os prejuízos da população,
principalmente os pescadores. “A abertura das comportas
era uma coisa possível. Mas será que
foi realizada de forma adequada?”, questionou. “É
isso que vamos analisar”.
Uma semana após a mortandade,
a Lagoa de Araruama, que teve a cor alterada devido
à proliferação das algas e
ficou com um cheiro insuportável por conta
da morte dos peixes, começa lentamente a
dar sinais de recuperação.
No entanto, na mente de um pescador
do município de São Pedro uma imagem
vai permanecer por um muito tempo. “O que mais me
doeu foi ver aqueles milhares peixes pedindo socorro,
com a boca para fora da água. É como
se uma pessoa estivesse passando mal e você
não pudesse fazer nada. Desde sábado
[24], não consigo dormir, falo com minha
mulher... só lembrando. Jamais vi uma coisa
dessa na minha lagoa”, conta Luiz Cláudio
Sampaio, da Praia da Balei. De lá, ele continua
à espera de um sinal do padroeiro, o mesmo
que dá nome a cidade. “Do mesmo jeito que
matou, ele [São Pedro] pode dar uma reviravolta."
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Mortandade de peixes no Rio de
Janeiro pode se repetir nos próximos dois
anos
1 de Fevereiro de 2009 - Isabela
Vieira* - Repórter da Agência Brasil
- Rio de Janeiro - As causas da mortandade de peixes
na Lagoa de Araruama, na região dos Lagos
(RJ) , há uma semana, ainda são investigadas.
Segundo a prefeitura de um dos municípios
afetados, o despejo de esgoto in natura no ecossistema
pode ter provocado o incidente. O desastre ecológico
resultou na morte de pelo menos 40 toneladas de
peixes, mas as associações de pescadores
calculam um volume bem superior, de 700 toneladas.
Este é o terceiro ano que há mortandade
na lagoa , e a Secretaria Estadual do Ambiente não
descarta que isso venha a se repetir nos próximos
verões.
O Instituto Estadual do Ambiente
(Inea) – órgão da secretaria –, aponta
as chuvas e o lançamento de esgoto como prováveis
causas do incidente. As duas concessionárias
de água da região têm permissão
para abrir as comportas e despejar esgoto sem tratamento
na lagoa toda vez que estiverem operando acima da
capacidade. Por causa do excesso de chuvas, a Prolagos
– responsável pelo tratamento em três
cidades – informa que teve de optar pelo procedimento,
mas garante que o esgoto estava diluído na
água e era a menor parte dos dejetos lançados
na lagoa.
“Não tem jeito. Isso [a
mortandade] pode acontecer por mais um ou dois anos”,
afirma o presidente do Inea Luiz Firmino Martins.
Embora captem toda a água das chuvas por
meio do sistema de drenagem, Firmino explica que
o contrato com as concessionárias só
prevê o tratamento de esgoto em tempo seco.
“Quando chove temos um excedente que não
tem como ser tratado, que é despejado na
lagoa.”
Na época da assinatura
do contrato, lembra Marins, o modelo que teria capacidade
para tratar tanto a água da chuva como o
esgoto, chamado separativo, custaria muito mais
caro e foi excluído. “Gastamos R$ 100 milhões
com esse modelo [para tempo seco]. Com o separativo,
gastaríamos dez vezes mais. Em vez de começar
a atender logo a região e tentar recuperar
a lagoa, estaríamos até hoje com apenas
10% da rede pronta por falta de recursos.”
Ainda assim, segundo ele, até
o final de 2008, cerca de 40% do esgoto produzido
nos sete municípios banhados pela lagoa eram
jogados nela sem tratamento. “É claro que
fazer a rede completa, separativa, está nos
nossos planos, mas isso deve levar entre dez e quinze
anos.”
Enquanto não há
dinheiro para o modelo ideal, o consórcio
responsável por administrar a lagoa – formado
por governo, empresas e sociedade – investe em novas
estações de tratamento em tempo seco
e em melhorias para a lagoa, como a dragagem do
Canal de Itajuru, onde devem ser investidos mais
R$ 15 milhões até 2010. “A solução
é fortalecer a lagoa para que não
sofra um impacto grande como esse quando isso [a
abertura das comportas] for necessário, porque
não existe medidade curto prazo”, diz Martins.
Ao descartar a construção
de um emissário submarino, o presidente do
Inea informa que consta dos planos para a lagoa
o desvio da água tratada para um rio, diminuindo
a quantidade despejada na laguna - com a maior salinidade
do mundo -, além da utilização
do Canal de Monte Altos, ampliando a troca com o
mar.
A água doce das chuvas,
assinala Firmino, desequilibrou a lagoa salgada
e causou, com o esgoto, a mortandade dos peixes.
O nível de sal estaria baixo em Araruama,
Iguaba e São Pedro da Aldeia – municípios
mais afetados entre os sete banhados pela lagoa.
A prefeitura de São Pedro decretou situação
de emergência, na semana passada, para garantir
indenização para cerca de dois mil
pescadores afetados.
Muitos acreditam em uma tragédia
anunciada. Em 2007 e 2008, houve mortandade de peixes.
Segundo o vice-prefeito de São Pedro, Francisco
Marcos Moreira, a quantidade nunca foi tão
grande porque, além das melhorias na lagoa,
o ano passado foi o primeiro a ter defeso para reprodução
dos animais marinhos.
Moreira confirma que, com as chuvas
e com o número de moradores quintuplicado,
não há como tratar todo o esgoto.
“As comportas foram abertas durante dois três
dias.” Embora lembre que o incidente está
sob investigação, ele acredita que
os peixes morreram por asfixia em decorrência
da proliferação de algas, que competem
com os peixes por oxigênio.
“Foi o esgoto que causou isso.
A chuva tira a salinidade da água, mas não
mata peixe. Pelo menos não de um dia para
o outro”, afirma Moreira. “O peixe está acostumado
com a salinidade do mar, quatro vezes menor que
a da lagoa. O problema é que o esgoto cinco
vezes acima do normal, despejado na lagoa, aumentou
o teor de fósforo e coliformes fecais que
produzem os alimentos para algas”.
+ Mais
Ibama proíbe pesca no Rio
Paraíba do Sul até fim de maio
2 de Fevereiro de 2009 - Thaís
Leitão - Repórter da Agência
Brasil - Rio de Janeiro - O Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) determinou a proibição da
pesca até o dia 31 de maio no Rio Paraíba
do Sul, interior do estado do Rio de Janeiro. De
acordo com a Instrução Normativa n.º
2, de 30 de janeiro, publicada na edição
de hoje (2) do Diário Oficial da União,
a restrição se estende a toda a bacia
hidrográfica do Paraíba do Sul, desde
o município de Resende até a sua foz,
na cidade de São João da Barra.
Em novembro do ano passado, testes
realizados no local verificaram que a água
havia sido contaminada por um vazamento de pesticida,
por causa de uma falha no descarregamento do produto
em uma indústria química, no município
de Resende, Sul Fluminense.
Cerca de 7,5 mil litros do produto
escoaram para o Rio Pirapetinga e, posteriormente,
para o Paraíba do Sul, prejudicando o abastecimento
de água e provocando a mortandade de grande
quantidade de peixes em diversos municípios
da região, como Porto Real, Barra Mansa e
Volta Redonda.
Segundo o analista ambiental do
Ibama Frederico Valle, a medida foi tomada para
permitir a recuperação dos estoques
de fauna e flora aquáticas. Desde novembro
do ano passado, a pesca não vinha sendo realizada
na região em função do período
de defeso – reprodução – que vai até
o fim deste mês.
“Após diversos testes realizados
no Paraíba do Sul, foi determinada a proibição
para garantir a recuperação dos estoques
pesqueiros, que foram bastante afetados com o acidente,
e evitar uma possível contaminação
dos consumidores. É preciso ter essa precaução
até que haja novos testes e se verifique
novamente o grau de contaminação”,
destacou.
Ainda de acordo com o documento
do Instituto, serão realizadas ações
de monitoramento das condições ambientais
e da situação dos recursos pesqueiros.
Se as equipes verificarem necessidade, o prazo para
liberação da atividade poderá
ser prorrogado.
O pescador William da Silva, presidente
da colônia Z-2, em São João
da Barra, um dos municípios atingidos pela
contaminação da água, cobra
orientação mais clara dos órgãos
ambientais.
“Nós queríamos que
eles visitassem mais as nossas colônias e
nos informassem sobre essas análises que
estão sendo feitas [na água] e os
resultados disso tudo. A gente só vê
que estão sendo feitas reuniões entre
eles, mas não com a gente”, reclamou.
De acordo com ele, cerca de 900
pescadores vivem da pesca na região.