09 Feb 2009 - A destruição
da região amazônica pode ser contida
se for dado um estímulo financeiro à
manutenção dos serviços ecológicos
prestados pela floresta como, por exemplo, a quantidade
de dióxido de carbono retida em suas árvores.
A retenção de CO2, que tem como valor
estimado entre *R$ 113 e R$ 226 por hectare por
ano, é apenas um dos muitos serviços
ecológicos prestados pela Amazônia.
Os dados são apresentados
no estudo intitulado Mantendo a floresta amazônica
em pé: uma questão de valores (Keeping
the Amazon forests standing: a matter of values),
encomendado pela Rede WWF e realizado pelo Instituto
Copérnico da Universidade de Utrecht, na
Holanda.
O objetivo do relatório
é determinar o valor econômico dos
serviços fornecidos pelo meio ambiente natural
da Amazônia. Entre os exemplos estão
a circulação de grandes quantidades
de água, o depósito de carbono - o
qual, ao ser liberado, é convertido em CO2,
um gás de efeito estufa -, além da
contribuição da floresta para o equilíbrio
térmico do planeta. Já a prevenção
da erosão poderia valer aproximadamente R$
537 por hectare por ano.
A dispersão do pólen
nas plantações de café no Equador,
que é feita pelos insetos originários
das florestas tropicais, valeriam R$ 110 por hectare
por ano. Produtos como mel, frutos florestais e
cogumelos representariam um valor aproximado de
R$ 113 a R$ 226 por hectare por ano. A recreação
e o ecoturismo significariam, em média, entre
R$ 7,8 e R$ 15,8 por hectare por ano.
No entanto, a maior parte desses
serviços ecológicos, de grande valor
econômico e social - sem falar no valor cultural
da Amazônia para os que nela vivem e para
os brasileiros em geral -, não tem mercado.
Ou seja, quem desmata pode até eventualmente
ter algum benefício econômico de curto
prazo, mas a sociedade perde um valor econômico
mais alto, e ainda paga os custos das enchentes
e das secas - decorrentes do desequilíbrio
climático, por exemplo.
É importante ressaltar que o processo de
desmatamento na Amazônia inclui elementos
como a falta de clareza sobre a posse de terras,
associada à ocupação legal
e ilegal de propriedades na região.
Outras práticas econômicas
que em muito colaboram com a destruição
das florestas tropicais são a produção
predatória ou não-sustentável
de carne e soja, principais produtos importados
pela Europa. A pecuária extensiva gera de
R$ 70 a R$ 202 por hectare anualmente e a soja,
de R$ 405 a R$ 828.
Além da responsabilidade
brasileira na destruição de nossas
florestas, há também grande parcela
de contribuição dos países
importadores de commodities. Por exemplo, com relação
à carne brasileira, os principais importadores
são Rússia, Grã-Bretanha e
Egito. Quanto à soja brasileira, a China
é o maior importador e a Holanda, quarto
maior parceiro comercial do Brasil, é o segundo
maior importador mundial de soja.
O relatório da Rede WWF
mostra que a renda das atividades econômicas
em que o meio ambiente natural permanece intacto
- depósito de carbono, água pura e
equilíbrio climático - não
é suficientemente alta, hoje, para se contrapor
às atividades não-sustentáveis.
Isso ocorre porque o valor dos serviços ecológicos
não é incluído no preço
das commodities pago pelo mercado.
Ao calcular o valor financeiro
do dióxido de carbono retido pelas árvores
e pelo solo da Amazônia, a Rede WWF propõe
uma nova solução que pode alterar
essa situação. No mecanismo conhecido
por REDD (Redução das Emissões
oriundas do Desmatamento e da Degradação
florestal), os países industrializados deveriam
pagar pela conservação da floresta
e o combate às emissões de CO2 nos
países tropicais em desenvolvimento.
Os planos para tal mecanismo preveem
a disponibilização de grandes fluxos
de recursos financeiros para a gestão sustentável
das florestas que propicie a redução
do desmatamento e a manutenção da
floresta em pé.
Denise Hamú, secretária-geral
do WWF-Brasil, comenta que "REDD não
é o único mecanismo para manter a
floresta em pé, mas certamente é o
mais promissor neste momento.''
"Os seres humanos são
muito dependentes dos serviços fornecidos
pela Amazônia, embora ainda não se
pague por eles: chuvas para a agricultura, inclusive
no Sul e Sudeste do Brasil e países vizinhos,
água pura para beber, ar puro e o combate
ao aquecimento global. Mas, se a tendência
atual do desmatamento continuar, esse benefícios
serão seriamente comprometidos", afirma
Hamú.
"As empresas, nacionais e estrangeiras, também
devem desempenhar um papel de liderança,
selecionando seus fornecedores, limpando e descarbonizando
suas cadeias produtivas e, assim, participando ativamente
do desenvolvimento sustentável da Amazônia
e do país", completa Hamú.
• No relatório, o valor
econômico dos serviços ecológicos
mencionados acima foi valorado em dólar norte-americano.
Neste release para a imprensa, os valores aparecem
em reais. A taxa de câmbio utilizada foi a
de 06-02-2009: 1 R$ = 2.26 US$.