06/02/2009
- Com apoio da Campanha Y Ikatu Xingu, as fazendas
Certeza e Rica fizeram plantio direto mecanizado
de espécies florestais em Áreas de
Preservação Permanente(APPs).
A restauração de
Áreas de Preservação Permanente
(APPs), consideradas de relevante interesse ambiental,
é uma exigência legal e tem recebido
apoio da Campanha Y Ikatu Xingu para que se torne
realidade na Bacia do Rio Xingu. Em janeiro, duas
fazendas do município de Querência
(MT) deram continuidade ao processo de restauração.
Na fazenda Certeza foram plantados cerca de 130
quilos de sementes de 70 espécies diferentes
em dois hectares de APPs. Na fazenda Rica foram
plantados 30 quilos de sementes de 32 espécies
de árvores em 0,7 hectare. O diferencial
desses plantios é que eles aconteceram de
forma mecanizada, utilizando as plantadeiras existentes
nas fazendas. O método vem sendo testado
na região desde 2007.
"Acredito que essas árvores
vão crescer mais rápido do que aquelas
que foram plantadas com mudas, porque é muita
semente que estamos plantando. É a primeira
vez que estamos fazendo isso e precisamos aprender",
entusiasma-se Neuri Wink, proprietário da
fazenda Certeza. A intenção é
reflorestar uma área de cinco hectares. No
ano passado, a Embrapa – Meio Ambiente, que também
é parceira da Campanha Y Ikatu Xingu, promoveu
o plantio de cinco mil mudas em três hectares
de APP na propriedade. Porém, a área
ficou recoberta pelo capim braquiária, o
que impediu que muitas mudas recebessem luz e pudessem
se desenvolver. O viveiro da cidade de Canarana,
onde está o escritório do ISA, cedeu
mais 5 200 mudas para substituir as que morreram
depois do plantio e expandir a área.
No plantio mecanizado, primeiro
as sementes de árvores são misturadas
com terra, adubo e espécies leguminosas,
como o feijão-de-porco e o feijão-guandu,
formando a chamada “muvuca”, que depois é
distribuída nas caixas da plantadeira. Uma
vez em funcionamento, a plantadeira enterra as sementes
diretamente no solo. Algumas sementes como jatobá,
tamboril, murici tiveram a dormência quebrada
antes que fossem adicionadas à "muvuca".
Com a quebra de dormência, as sementes germinam
mais rápido. As sementes maiores foram plantadas
em covas, de forma manual.
O plantio na fazenda Rica foi
coordenado pelo engenheiro florestal Luciano Eichholz,
do ISA, auxiliado por Vanderlei da Costa Silva -
funcionário contratado pelo instituto para
trabalhar no viveiro de Canarana - e pelo agente
de manejo da aldeia Ngojwêrê, Yaiku
Suyá Kisêdjê. Na fazenda Certeza,
o biólogo Eduardo Malta, também do
ISA, e Eichholz realizaram o plantio acompanhados
pelo engenheiro agrônomo da Embrapa – Meio
Ambiente, Ladislau Skorupa.
Plantio mecanizado tem custo menor
Segundo Skorupa, na fazenda Certeza
será possível comparar os resultados
do plantio feito com mudas, com o mecanizado realizado
no final de janeiro. “Uma das vantagens do plantio
mecanizado é que ele é feito com muita
rapidez, o que é positivo em uma região
que apresenta muitas áreas devastadas. Demoramos
10 dias para plantar aquelas mudas em três
hectares, porque é preciso fazer as covas,
medir as distâncias entre uma cova e outra,
plantar e adubar. Além disso, o custo do
mecanizado é quase a metade do plantio feito
com covas. A disponibilidade de sementes nativas
na região é alta, sendo possível
adquirir grande quantidade delas”, avalia o agrônomo.
Embora sejam muitas as vantagens
já observadas no plantio mecanizado, essa
técnica ainda está em fase de experimentação.
Para Skorupa, é preciso aprimorá-la,
buscando reduzir ainda mais os custos. “Precisamos
saber, por exemplo, a quantidade exata de sementes
que deve ser colocada nas plantadeiras, bem como
o número de espécies. Nosso objetivo
não é apenas plantar um conjunto de
árvores, mas formar florestas capazes de
gerar serviços ambientais”.
Os técnicos do ISA voltarão
à fazenda Rica ainda em fevereiro para dar
continuidade ao plantio. O gerente da fazenda, Vanderlei
Biff, disse estar confiante e curioso para saber
os resultados do plantio mecanizado: “Nunca vi essa
técnica de reflorestamento ser aplicada e
quero ver como vai ficar”.
A Campanha Y Ikatu Xingu realizou
também um plantio mecanizado em Gaúcha
do Norte, na fazenda Bruna, outro em dezembro do
ano passado na fazenda São Roque, em Canarana,
além de outras fazendas em São José
do Xingu e Querência.
Segundo Eichholz, o próximo
passo será iniciar o monitoramento das áreas
que foram plantadas, para avaliar os resultados
das diferentes técnicas de plantio empregadas
– com muda, a lanço e mecanizado – em fazendas
e assentamentos da região. “Vamos demarcar
quatro parcelas permanentes medindo 400 m²
em cada experimento, como áreas de referência
do monitoramento”, explica o engenheiro florestal.
As visitas a campo acontecerão anualmente
na mesma época do ano, para avaliar o crescimento
das mudas e a quantidade de sementes que estão
germinando e transformando-se em árvores.
ISA, Sara Nanni.
+ Mais
Prefeituras de São Carlos
(SP) e São Gabriel (AM) iniciam diálogo
rumo a uma parceria estratégica
08/02/2009 - A visita do ex-prefeito
de São Carlos, cidade do interior paulista,
Newton Lima à São Gabriel, esta semana
deu início a uma aproximação
que poderá estabelecer uma agenda estratégica
de cooperação em gestão local,
inédita no Brasil.
Por iniciativa e com o apoio do
ISA, a prefeitura de São Gabriel da Cachoeira
(AM) recebeu a visita do ex-prefeito de S. Carlos
(PT/SP), Newton Lima, durante três dias. Lima
estava acompanhado pelo cientista político
Alexandre Fuccille, assessor do gabinete do atual
prefeito de S. Carlos, Oswaldo Barba (PT/SP).
Engenheiro de formação,
ex-reitor da Universidade Federal de São
Carlos UFSCar), Newton Lima foi vice na chapa de
Marta Suplicy ao governo de São Paulo em
1998 e atualmente é secretário geral
da Frente Nacional de Prefeitos (FNP). Traz na bagagem
a experiência de oito anos de uma bem sucedida
gestão a frente d o município de São
Carlos (2001-2008), de 230 mil habitantes, que tem
algo em comum com a situação de Sâo
Gabriel da Cachoeira no ano zero da primeira administração
indígena: terra arrasada pelo antecessor.
Quando assumiu a prefeitura de
São Carlos em janeiro de 2001, com uma vantagem
de apenas 128 votos, Newton Lima encontrou uma cidade
destruída, com os HDs dos computadores da
administração pública vazios,
documentação fiscal desaparecida,
processos administrativos queimados, R$ 32 milhões
em dívidas de curto prazo e R$ 150 milhões
de longo prazo. Na Câmara dos Vereadores contava
com a minoria e os sinais de mobilização
da sociedade civil local eram quase nulos. São
Carlos ostentava então a triste marca de
17º município mais "quebrado"
do total de 5.564 do País. A partir de uma
visão estratégica e contando com a
retaguarda das duas universidades públicas
(USP e UFSCar) para a formulação de
projetos, conseguiu sobreviver ao tempo de vacas
magras do governo FHC para deslanchar com o que
chamou de "revolução federativa"
de Lula na presidência, reelegendo-se em 2004
e fazendo o sucessor em 2008.
São Gabriel sob nova administração
Pela primeira vez em mais de cem
anos, o município de maioria indígena
e terceiro em extensão territorial do país,
no extremo noroeste do Estado do Amazonas, na fronteira
com a Colômbia e a Venezuela, elegeu uma dupla
indígena: Pedro Garcia Tariano (PT), prefeito
e André Fernando Baniwa (PV), vice, ambos
nativos e com extenso currículo no movimento
indígena que originou em 1987 a Foirn (Federação
das Organizações Indígenas
do Rio Negro), da qual foram dirigentes, e que conta
com uma rede de mais de oitenta associações
de base. Saiba mais.
Na quinta-feira da semana passada,
5 de fevereiro, Newton Lima apresentou ao prefeito
Pedro Garcia e sua equipe um breve resumo da sua
trajetória à frente da prefeitura
de São Carlos e um diagnóstico da
situação de decolagem da nova administração
de São Gabriel, com recomendações.
Para tanto, analisou previamente algumas informações
secundárias sobre a região, disponibilizadas
pelo ISA, estudou o Plano Diretor municipal (aprovado
em 2006), realizou uma rodada de consultas aos secretários
municipais, participou de uma audiência com
os partidos da base aliada e visitou pontos críticos
da sede municipal.
Balanço inicial
Ao apresentar suas percepções
iniciais, Newton Lima incluiu entre os pontos positivos
a origem e história dos indígenas
eleitos, a existência de um Plano Diretor
consistente, a experiência histórica
de movimento social da equipe de governo e a disponibilidade
de uma série de oportunidades para a apresentação
de projetos na disputa de recursos não-reembolsáveis
junto ao Governo Federal. Entre os pontos negativos,
além dos gravíssimos problemas socioambientais
e a baixa arrecadação de impostosdo
município, Newton Lima apontou a pouca experiência
da equipe de governo em administração
pública como o principal problema a ser enfrentado
no curto prazo.
Como recomendações,
o ex-prefeito de S. Carlos sugeriu:
- Criar um setor (departamento,
divisão ou afim) de projetos especiais;
Realizar imediatamente convênios
com universidades, escolas técnicas e ONGs;
Escapar do assédio de escritórios
de lobistas;
Evitar ao máximo a terceirização
de serviços públicos (sobretudo na
Educação e Saúde);
Instalar imediatamente as reuniões do Orçamento
Participativo (OP) e demais Conselhos de Participação
Popular;
Fortalecer o Departamento Jurídico (Procuradoria)
para evitar problemas com o Ministério Público,
Controladoria-Geral da União (CGU), Câmara
de Vereadores e, sobretudo, TCE/AM. É imperativo
a equipe contar com especialistas na Lei de Responsabilidade
Fiscal (LRF/00) e Lei de Licitações
(8666/93) e, eventualmente, contratar escritório
externo de notório saber e idoneidade comprovada.
Newton Lima enfatizou ainda que
parcerias técnicas por meio de convênios
com universidades públicas e institutos seria
uma forma eficaz e “barata” para elaborar projetos
a fim de solucionar problemas como saneamento básico
que inclui a destinação correta do
lixo até distribuição e tratamento
de água. “O departamento de engenharia na
área de saneamento básico da USP de
São Carlos nos ajudou a resolver o problema
da construção do aterro sanitário.
Trata-se de um pessoal especializado que elabora
projetos a custos baixos que poderia estar aqui
com vocês a pensar numa solução
para um aterro sanitário em São Gabriel
da Cachoeira. A Embrapa também poderia contribuir
pensando um modelo de agricultura familiar para
compra da merenda escolar que além de gerar
renda para as famílias, garante alimentação
saudável e de qualidade para as escolas.
Fizemos isso em São Carlos e deu certo”,
informou Lima.
Perspectivas
De acordo com o prefeito Pedro
Garcia, Newton Lima foi muito preciso em apontar
as principais dificuldades que sua gestão
enfrentará nos próximos quatro anos
e afirmou que uma possível parceria com São
Carlos viria contribuir com sua administração.
“As diferenças entre nossos municípios
são claras, mas os problemas são os
mesmos. Sabemos que essa experiência de oito
anos de administração bem sucedida
do ex-prefeito Newton Lima pode contribuir com nossas
metas, compromissos de campanha e nossa gestão
municipal”.
Garcia informou ainda que nos
dias 10 e 11 desta semana, estará em Brasília
para o Encontro Nacional dos Novos Prefeitos e Prefeitas
com o presidente Lula e seus ministros, onde terá
oportunidade de se reunir com o atual prefeito de
S. Carlos, Osvaldo Barba, e também com Newton
Lima para a amarração de agendas entre
os dois municípios.