1 de Março
de 2009 - Pedro Peduzzi - Repórter da Agência
Brasil - José Cruz/Arquivo Abr - Brasília
- Embrapa estuda usar mandioca açucarada
na produção de biocombustíveis.
A raiz predominante no Pará já tem
glicose na composição, o que facilita
a transformação do produto em combustível.
Brasília - A Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) vem realizando
pesquisas sobre a viabilidade da produção
de etanol a partir de uma espécie diferenciada
de mandioca, descoberta no interior do Pará:
a mandioca açucarada. O estudo deve terminar
em julho.
Segundo a pesquisadora da Embrapa
Agroenergia, Sílvia Belém, ao contrário
dos outros tipos de mandioca, esta possui glicose
em sua fórmula, ao invés de amido.
Isso torna disnecessário o processo de sacarificação
da mandioca, no qual o amido é transformado
em açúcar.
“O diferencial do nosso estudo
está justamente no tipo de mandioca, bastante
comum na região. A mandioca açucarada
é uma variedade que tem sua raiz constituída
basicamente de glicose e água, diferentemente
da tradicional, formada de amido”, explica.
O fato de ela apresentar um teor
elevado de açúcar facilita o processo
de produção de etanol. “Isso facilita
na etapa de fermentação, uma vez que
não é necessário o processo
de hidrólise, que se faz necessário
na produção de etanol a partir de
mandioca tradicional, de amido”, disse.
O estudo desenvolvido por ela
ainda está no início e deve terminar
no meio do ano. “É prematuro falar em conclusão.
Contudo, a pesquisa começou porque, tendo
por base o elevado teor de açúcar
na raiz da planta, viu-se a possibilidade da produção
de etanol a partir dela".
A planta, segundo a pesquisadora,
tem um sabor bstante adocicado. “É similar
ao de uma fruta, até por ela ter grande quantidade
de água em sua constituição.
A aparência se assemelha a um abacaxi, inclusive
em tonalidade”, informa a pesquisadora.
Silvia explica que o processo
de obtenção do etanol a partir desta
espécie de mandioca é similar ao da
cana, uma vez que as duas matérias-primas
são formadas basicamente de açúcar
e água. “Já em comparação
à mandioca tradicional, o processo a partir
mandioca açucarada é mais simples,
portanto menos oneroso”, diz.
“A princípio, se for observado
a viabilidade desta tecnologia, as principais beneficiadas
serão as pessoas que estão em regiões
onde não é possível a produção
de etanol a partir de cana-de-açúcar,
principalmente na região Norte do país,
uma vez que esta espécie é nativa
de lá”, explica.
Segundo a pesquisadora, já
há estudos agronômicos na própria
Embrapa, para a adaptação da espécie
a outras regiões. “Mas se for observada a
viabilidade desta tecnologia para uma difusão
em outras regiões, seria necessário
primeiramente estudos de adaptação
da espécie”.
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Produção de etanol
a partir da mandioca pode ser mais barata do que
com a cana
1 de Março de 2009 - Pedro
Peduzzi - Repórter da Agência Brasil
- Brasília - Apesar de ainda estar em fase
experimental no Brasil, a obtenção
de etanol a partir da mandioca é uma realidade
cada vez mais próxima. O alto valor energético
dessa raiz originária da Amazônia será,
em breve, aproveitado também para a produção
de biocombustíveis.
“Todos os tipos de mandioca podem
ser usados para a produção de biocombustível,
mas aqueles que possuem maior concentração
de amido, como a mandioca industrial, são
as mais indicadas”, explica o diretor do Centro
de Raízes e Amidos Tropicais (Cerat), Cláudio
Cabello.
Desde 2003, Claúdio Cabello
desenvolve linhas de pesquisas sobre a produção
de etanol a partir de amidos. “Inhame e batata doce
têm boas possibilidades, mas não se
comparam ao que é possível se fazer
a partir da mandioca. Ela possui diferenciais extremamente
positivos, como a possibilidade de cultivo em diferentes
regiões do país”, disse.
Segundo ele, a raiz têm
inúmeras facilidades para ser transformada
em etanol. “Não há, na mandioca, nenhum
composto que iniba o processo biológico de
fermentação alcoólica e, dependendo
da região, a obtenção do álcool
a partir dela poderá ser mais barata inclusive
do que pela cana", explica. "Mas, isso
dependerá de estímulos que resultem
em aumento da produtividade”, completa.
Claúdio Cabello explica
que a produção de mandioca tem um
custo de R$ 100 por hectare. “Cada hectare produz
entre 28 e 30 toneladas, e o mercado paga R$ 140
pela tonelada. Isso faz com que a margem de lucro
desse tipo de produto seja excelente, dando inclusive
maior liberdade para a definição da
época da colheita”, argumenta.
Segundo o vice-presidente da Associação
Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca (Abam),
Antônio Donizetti Fadel, o tempo de cultivo
da mandioca varia entre nove e 30 meses.
“Quanto mais tempo na terra, maior
é a lucratividade. O Brasil é o único
país do mundo a colher no 24º mês.
Com 12 meses, a produtividade é, em média,
de 25 toneladas por hectare. Se o prazo for ampliado
para entre 18 e 24 meses, essa produtividade sobe
para 40 toneladas. E o custo não aumenta
tanto, porque não há necessidade de
replante ou de preparar a terra novamente”, explica
Fadel.
Segundo ele, o país precisa,
ainda, melhorar a produtividade por hectare para
tornar mais atraente o uso da planta na produção
de biocombustível, e o investimento mais
viável economicamente. “É necessário
que o Estado, a exemplo do que fez no pró-álcool,
nos ajude a melhorar a produtividade agrícola
para tornar mais competitiva a produção
de etanol em relação à cana
e a outras matérias-primas para biocombustíveis.
A mandioca tem condições de ser bastante
competitiva, desde que se invista na área
agrícola.”
Com a tecnologia atual, cada tonelada de mandioca
pode produzir 200 litros de álcool. Ou seja,
a cada 5 quilos da raiz se produz um litro de combustível.
"Não tenho dúvidas do potencial
lucrativo da planta, uma vez que ela pode ser produzida
em qualquer tipo de solo e não interfere
tanto no meio ambiente”, completa.
Outro ponto positivo para a produção
de biocombustível por meio da mandioca é
que a história da raiz se confunde com a
própria história da população
da Amazônia. "Isso ajuda a fazer com
que a rejeição do seu uso para a obtenção
de etanol seja muito menor entre os ambientalistas.
A possibilidade de plantá-la juntamente a
outras culturas também facilita essa aceitação”,
explica o técnico agro-florestal da Secretaria
de Desenvolvimento Agro-Florestal do Acre, Diones
Assis Salla.