Entre
as áreas sinalizadas para ações
emergenciais de conservação estão
a antiga fazenda da Pirelli e as corredeiras no
Araguaia
Belém, PA, 03 de março
de 2009 — Reunidos em Belém para participar
do seminário “Espécies Ameaçadas
e Áreas Críticas para a Biodiversidade
no Estado do Pará”, promovido pelo Museu
Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e Conservação
Internacional (CI-Brasil), com o apoio da Secretaria
de Estado de Meio Ambiente (Sema), especialistas
no assunto indicaram ao governo paraense como prioridades
para ações emergenciais de conservação
quatro áreas do Centro de Endemismo Belém
- a antiga fazenda Pirelli, localidades do litoral
paraense e as propriedades do Grupo Agropalma e
da empresa Cikel - e as corredeiras junto à
Serra dos Martírios-Andorinhas, no rio Araguaia.
O Centro de Endemismo Belém
(CEB) incorpora as florestas e os ecossistemas localizados
a leste do rio Tocantins, no Pará, e a Amazônia
maranhense. É o setor mais ameaçado
da Amazônia – 70% de suas florestas já
foram desmatadas – e a mais antiga área de
ocupação humana da região.
“É urgente agir para conservar os remanescentes
florestais do CEB existentes nessa área”,
defende Teresa Cristina Ávila-Pires, herpetóloga.
Junto com Ana Luisa Albernaz, ecóloga e também
pesquisadora do Museu Goeldi, Teresa coordena um
projeto de pesquisa que busca identificar as potenciais
áreas críticas para a biodiversidade
no Pará.
“As primeiras indicações
surgem em caráter emergencial, num tempo
de ação que foi chamado ‘zero’, e
pretendem barrar as maiores ameaças de extinção
da biodiversidade no estado”, observa Thais Kasecker,
analista de biodiversidade do Programa Amazônia
da CI–Brasil.
Para atingir seu objetivo – a
definição de áreas críticas
-, os pesquisadores precisam refinar os mapas de
distribuição das espécies da
Lista Vermelha do Pará, através da
estruturação e ampliação
dos dados disponíveis sobre cada espécie
estudada, e também modelando a distribuição
potencial de algumas delas.
Não é um exercício
simples. A megadiversidade encontrada na maior porção
do território nacional – a região
amazônica – ainda está longe de ser
satisfatoriamente inventariada e mesmo muito do
material já disponível em coleções
científicas, no Brasil e no exterior, necessita
ainda ser estudado. Ou seja, faltam dados, existem
muitas lacunas de informação, e, o
que agrava bastante a situação, o
processo de ocupação, transformação
e degradação das áreas naturais
não para - avança aceleradamente alterando
a paisagem, ecossistemas e provocando perda de espécies.
Os maiores volumes de informação
encontrados nas coleções científicas,
na literatura e nas bases de dados são das
áreas mais acessíveis, do curso dos
grandes rios, estradas e, principalmente, do entorno
das grandes cidades regionais. A decisão
dos 35 especialistas reunidos pelo MPEG e CI-Brasil,
então, foi de propor áreas críticas
para ações emergenciais e, após
mais dois meses de trabalho, inserindo mais dados
e refinando mapas e modelos, propor ações
de médio e longo prazo ao Programa Extinção
Zero, lançado em 2008 pelo Governo do Pará.
Áreas para ações
emergenciais - A Fazenda Pirelli, que ocupa uma
área de oito mil hectares no município
de Marituba, Região Metropolitana de Belém
(RMB), passou a ser propriedade do estado do Pará
há cerca de dez anos. O terreno é
cercado de vegetação nativa e serve
de depósito para madeira ilegal apreendida
pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e pela
Sema. Atualmente, existem propostas para que a fazenda
Pirelli sirva de espaço para construção
de 9 mil habitações populares.
Dário Amaral, botânico
do Museu Goeldi e um dos participantes do Seminário,
informou que na Região Metropolitana de Belém
foram avaliados seis fragmentos de remanescentes
de floresta primária, incluindo a fazenda
Pirelli, onde foram inventariadas um total de 330
espécies (apenas árvores - acima de
10 cm de diâmetro e a 1,30 m do solo) em 15
ha. Foi o local de maior diversidade arbórea
(ao lado do fragmento do Gunma) e de maior concentração
de espécies ameaçadas.
Entre as espécies ameaçadas
ali encontradas destacam-se: Aspidospermum desmanthum
(araracanga), Cedrela odorata (cedro), Eschweilera
piresii (mata-mata-jarani), Euxylophora paraensis
(pau-amarelo), Hymenolobium excelsum (angelim) e
Manilkara huberi (maçaranduba).
Agropalma - O Grupo é composto
por duas empresas que formam o maior e mais moderno
complexo agroindustrial de plantio e processamento
de óleo de palma do país, respondendo
por cerca de 80% da produção nacional.
Com 106 mil hectares de extensão, as propriedades
da Agropalma abrangem os municípios de Acará,
Tailândia, Moju e Tomé-Açu,
distantes cerca de 150 quilômetros de Belém.
As propriedades estão localizadas no Centro
de Endemismo Belém e fazem parte de duas
das mais importantes bacias hidrográficas
desse Centro de Endemismo - Acará e Moju.
Não há nessas áreas
unidades de conservação que garantam
a preservação das florestas restantes.
No entanto, em suas propriedades, a Agropalma mantém
75 mil hectares de florestas primárias e
secundárias de grande importância para
a conservação da biodiversidade global,
pois abrigam populações de várias
espécies endêmicas e ameaçadas
de extinção. Desde 2007, a Conservação
Internacional trabalha em parceria com a Agropalma
e com o Instituto Peabiru para que a produção
seja ambientalmente adequada e socialmente justa.
Enquanto o Instituto Peabiru é
responsável pelo diagnóstico e proposta
de projeto social que envolve funcionários
e comunidades do entorno, a Conservação
Internacional realizou expedições
com o objetivo de apresentar um diagnóstico
sobre a biodiversidade e a situação
ambiental na área da Agropalma, apresentando
um plano de gestão ambiental e uma proposta
de programa para a proteção das espécies
ameaçadas que ocorrem nas áreas de
reserva legal mantidas pela empresa.
No que se refere à biodiversidade,
foram feitos levantamentos rápidos sobre
a herpetofauna (répteis e anfíbios),
aves e mamíferos dessas áreas. Em
poucos dias de amostragem, foi encontrada a maior
parte das espécies de aves e mamíferos
constante da lista estadual de espécies ameaçadas
de extinção, sendo seis espécies
de aves e outras seis de mamíferos, dentre
os quais duas espécies criticamente ameaçadas,
de acordo com a Lista de Espécies Ameaçadas
do Estado do Pará (disponível em www.sectam.pa.gov.br/relacao_especies)
e a Lista Nacional das Espécies da Fauna
Brasileira Ameaçadas de Extinção
(disponível em: www.mma.gov.br/port/sbf/fauna).
A Conservação Internacional
avalia que a garantia de conservação
dessas espécies na área ainda não
está ocorrendo de forma efetiva e que isso
só será possível através
da formalização da criação
de uma unidade de conservação. Já
foram identificadas pressões de diversas
ordens ocorrendo na área, como a retirada
de madeira e a caça ilegal. Além disso,
o desmatamento no entorno da propriedade está
ocorrendo numa taxa bastante alta.
Até agora o projeto de
pesquisa já compilou mais de quatro mil pontos
de ocorrências de espécies ameaçadas,
que servirão de base para indicação
de áreas importantes para conservação
no Pará. Todavia, o grupo quer ir além.
“Para termos informações mais completas
na indicação de áreas críticas
para ações de médio e longo
prazo, achamos necessário acrescentar dados
de fitofisionomia e modelagem de nichos”, explica
Ana Luisa Albernaz, ressaltando que até o
final do primeiro semestre de 2009 a coordenação
do projeto entregará o relatório final
para a Secretaria de Meio Ambiente do Pará.
Texto: Joice Santos - Agência Museu Goeldi,
com a colaboração de Rafael Guedes
– Programa Amazônia/CI-Brasil
Fontes:
CI-Brasil
Rafael Guedes
Comunicação - Programa Amazônia
Joice Santos
Agência Museu Goeldi