20 de
Março de 2009 - Lúcia Norcio - Repórter
da Agência Brasil - Brasília - A população
de Curitiba, estimada em aproximadamente 1,8 milhão
de habitantes, produz diariamente 2,4 mil toneladas
de lixo. Desse total, 1,8 mil toneladas vão
para o aterro sanitário da Caximba, na região
metropolitana da capital. O restante é coleta
seletiva, lixo reciclável, recolhido pelos
caminhões da prefeitura municipal, dentro
do programa Lixo que não é Lixo.
Segundo o coordenador do Departamento
de Projetos do Instituto Lixo e Cidadania, Sérgio
Roberto Faria, são os catadores de materiais
recicláveis os responsáveis pela maior
parte da coleta do lixo colocado nas portas das
residências. “Cerca de 92% do que é
separado são eles que coletam. O programa
municipal foi novidade quando lançado em
1989, hoje é deficitário”, afirmou.
O instituto é responsável por 53 arranjos
coletivos em Curitiba, na região metropolitana
e em municípios da área de Foz do
Iguaçu.
De acordo com Sérgio Faria,
atualmente em Curitiba e região metropolitana
há cerca de 15 mil catadores. “Eles conseguem
uma renda média de R$ 450,00. Mas a crise
financeira está reduzindo bastante este ganho.
Caiu o preço pago pelo metal; o papelão,
que no ano passado era vendido por R$ 0,23, atualmente
os catadores que não estão organizados
em associações ou cooperativas chegam
a receber apenas R$ 0,1% de atravessadores. A garrafa
PET caiu de R$ 0,90 para R$ 0,50”, disse.
Em sua opinião, o que pode
melhorar a renda desse trabalhador são políticas
públicas. Ele citou como exemplo o decreto
assinado no início deste ano pelo governador
Roberto Requião que destina todo o material
reciclável gerado pelos órgãos
públicos estaduais, autarquias, empresas
públicas, fundações e sociedades
de economia mista às associações
e cooperativas de catadores.
O projeto paranaense foi inspirado
no do governo federal, coordenado pelo Ministério
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome,
que destina às cooperativas de catadores
o material reciclável das repartições
públicas. A população paranaense
produz 20 mil toneladas de lixo por dia, sendo que
40% podem ser reciclados.
A prefeitura municipal contribui
para a geração de renda com o projeto
Parques de Reciclagem Ecocidadão. “A idéia
é construir 25 parques, mas até agora
só temos quatro”, disse o coordenador do
Departamento de Projetos do Instituto Lixo e Cidadania.
No projeto, o material coletado é pesado
individualmente e fica registrado na ficha de cada
coletor. O dinheiro é rateado entre os associados
toda sexta-feira.
A prefeitura mantém também
o programa Compra do Lixo, em áreas de difícil
acesso para os caminhões de coleta. A população
faz a coleta em sacos plásticos e deposita
numa caçamba. De um a quatro sacos vale uma
sacola com um tipo de produto no valor de R$ 0,53.
Quem deposita cinco sacos recebe uma sacola que
equivale a cinco vezes R$ 0,53, contendo arroz,
feijão, mel, batata, cenoura, cebola, alho
e doce. A Associação de Moradores
recebe 10% do valor pago por cada saco de lixo para
aplicar em obras ou serviços definidos pela
própria comunidade.
Tem ainda o Câmbio Verde,
que troca lixo reciclável por hortigranjeiros.
Cada 4 quilos de lixo vale 1 quilo de frutas e verduras.
Pode ser trocado também óleo vegetal
e animal: 2 litros de óleo valem 1 quilo
de alimento. Recentemente, a prefeitura adotou o
programa Lixo Tóxico. Pilhas, baterias, toner,
tintas, embalagens de inseticidas, remédios
vencidos, lâmpadas fluorescentes óleo
animal e vegetal embalados em garrafa pet podem
ser depositados em caminhões estacionados
em terminais de ônibus.
O secretário municipal
do Meio Ambiente, José Antonio Andreguetto,
destacou que Curitiba sempre serviu de modelo por
suas inovações em relação
ao tratamento dos resíduos sólidos.
“Para não perder essa vanguarda, daremos
mais um passo que irá mudar a história
do tratamento de lixo no Brasil. Vamos parar de
enterrar lixo em aterro sanitário e passar
a aproveitar os resíduos como fonte de matéria-prima,
emprego e renda”, afirmou referindo-se ao Sistema
Integrado de Processamento e Aproveitamento de Resíduos,
que deverá ser implantado até o fim
deste ano.
+ Mais
Com a queda nos preços
de recicláveis, catadores abandonam a atividade
19 de Março de 2009 - Daniel
Mello - Repórter da Agência Brasil
- São Paulo - A redução nos
preços dos materiais recicláveis causou
grandes impactos nos rendimentos dos catadores,
e muitos deles estão abandonando a atividade.
É o caso da Coopercicla, cooperativa localizada
no bairro de Santo Amaro, zona sul de São
Paulo (SP). Segundo presidente da entidade, Joacyr
Alvez, nos últimos quatro meses 70% dos cooperados
deixaram a atividade. “Tínhamos 75 pessoas
trabalhando em três turnos de 8 horas, 24
horas sem parar. Agora só temos um turno
que está defasado”, relatou.
A queda de rendimento está
relacionada à crise internacional que provocou
uma queda forte nas cotações de commodities
(alumínio, plástico, papel) que são
importantes matérias-primas de produtos.
O plástico PET, usado em garrafas descartáveis,
teve redução de 20% nos preços,
segundo o responsável pelas Relações
com o Mercado da Associação Brasileira
da Indústria do PET (Abipet), Hermes Contesini.
“O PET reciclado tem inúmeras
aplicações, como roupas e tapetes
de automóveis”, explicou Contesini. “O mercado
todo se ressentiu com a crise.”
Alvez, da Coopercicla, atribuiu
o desinteresse dos cooperados com a atividade à
diminuição “brutal”, de mais de 70%,
nos rendimentos. O lucro de um catador caiu de R$
900,00 para R$ 250,00 por mês. As contas de
água, luz e o aluguel da sede da cooperativa
permaneceram as mesmas, enquanto alguns itens coletados
pela Coopercicla, como o papel jornal, valem 85%
menos.
A Cooperativa Viva Bem, localizada
na zona oeste da capital paulista, também
teve um índice de evasão de cooperados
significativo, de aproximadamente 30%, segundo a
presidente Teresa Montenegro. Ele disse que as pessoas
estão mudando de atividade ou mesmo voltando
à criminalidade por falta de opções.
"Muitos arrumaram outras
coisas para fazer, outros não estão
fazendo nada e alguns estão fazendo o que
não deve”, contou. Montenegro explicou que
a estratégia da cooperativa é aumentar
a produção para recuperar parte da
receita. Com os novos preços pagos pelo mercado
de recicláveis, as mesmas 160 toneladas de
material que rendiam por volta de R$ 75 mil agora
garantem apenas R$ 40 mil para os cofres da cooperativa.
Produzir mais é também
o modelo adotado pela Coopere, com sede no centro
de São Paulo. O coordenador Sérgio
Luís Longo lamentou que os cooperados agora
trabalhem 16 horas por dia para conseguir lucro
50% menores dos recebidos na época em que
atuavam em turnos de 12 horas. Segundo ele, os membros
da cooperativa só não abandonaram
a atividade por falta de opção. “Se
todo mundo tivesse o que fazer, tinha acabado a
reciclagem”, afirmou.
Segundo Sérgio Luís,
os cooperados estão buscando outras atividades
para lidar com a crise. “Porque se a gente for viver
só do lixo, vamos acabar falindo”, queixou-se.
Ele alegou que as empresas compradoras de material
reciclável “se aproveitam da situação[da
crise financeira mundial]” para pagar preços
muito baixos pela sucata.
O secretário da Cooperativa
de Catadores da Baixada do Glicério, Sérgio
Bispo, acredita que a cadeia de produção
da reciclagem “é injusta com o catador”.
Ele acusou as empresas de obterem grandes lucros
comprando o material a preço muito baixo
das cooperativas e dos trabalhadores autônomos.
+ Mais
Rio terá projeto para melhorar
coleta seletiva e reciclar lixo
16 de Março de 2009 - Nielmar
de Oliveira - Repórter da Agência Brasil
- Rio de Janeiro - O governo do Rio de Janeiro vai
implantar no estado o projeto Dê a Mão
para o Futuro – Colabore com a Reciclagem e Ajude
a Gerar Trabalho e Renda, que já vem sendo
desenvolvido em cinco municípios de Santa
Catarina. O objetivo é criar uma solução
técnica, ambiental, econômica e socialmente
adequada para a gestão dos resíduos
sólidos urbanos.
Segundo informações
da Secretaria Estadual do Ambiente, serão
utilizados sistemas locais já existentes
de coleta seletiva municipal e associações
ou cooperativas de catadores.
Além de atender à
legislação e promover a coleta seletiva,
o projeto visa a estimular e a ampliar a organização
social dos catadores de recicláveis nos municípios
envolvidos.
Para viabilizar a implantação
do projeto no estado, a secretária do Ambiente,
Marilene Ramos, assina hoje (16) termo de cooperação
técnica com a Associação Brasileira
da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria
e Cosméticos (Abihpec) e a Associação
Brasileira das Indústrias de Produtos de
Limpeza e Afins (Abipla), que já participam
da experiência em Santa Catarina.
Com duração de 24
meses, o projeto inclui campanha de conscientização
da população sobre a importância
do consumo consciente e da cooperação
com a coleta seletiva, a fim de aumentar o volume
de resíduos recicláveis a serem recolhidos.
De acordo com a Secretaria do
Ambiente, o projeto prevê a participação
das prefeituras, que vão providenciar e manter
a infra-estrutura e o espaço necessários
para o funcionamento das associações
e cooperativas de catadores, além de se comprometer
a destinar a essas entidades os materiais recicláveis
provenientes da coleta seletiva.