Um rato,
dois besouros e uma planta foram encontrados nas
montanhas andinas - Lima, Peru, 19 de março
de 2009 — Cientistas anunciaram hoje a descoberta
de quatro espécies, uma de planta e três
de animais, nas florestas próximas à
Cordilheira Branca, no Peru. Entre as novidades,
três espécies são comprovadamente
novas para a ciência -- uma planta do altiplano
andino (Senecio sanmarcosensis) e dois besouros
(Eriopis canrash e Cycloneda andresii) --, enquanto
um rato (Akodon sp.nov) é provavelmente uma
nova espécie. As descobertas foram feitas
durante uma série de expedições
realizadas na região entre 2005 e 2008.
O pequeno roedor do gênero
Akodon mede menos de nove centímetros de
comprimento e tem uma cauda de 6,5 centímetros.
Ele vive entre 2.880 e 4.733 metros acima do nível
do mar e é encontrado somente na região
de Ancash, no noroeste do Peru. Esse ratinho desempenha
um papel importante no controle de insetos e na
dispersão de sementes no ecossistema onde
vive.
Outra descoberta surpreendente
foi a da planta Senecio sanmarcosensis, que faz
parte da vegetação dos pântanos
do altiplano andino. Essa vegetação
purifica a água que vem da montanha e atua
como seu reservatório. Essa água é
fonte de vida para as comunidades que moram no vale
localizado ao pé da cadeia de montanhas.
A Senecio sanmarcosensis desabrocha entre maio e
julho e é encontrada somente em três
lugares da região de Ancash, todos acima
dos 4.500 metros de altitude.
A Associação de
Ecossistemas Andinos (Ecoan, da sigla em espanhol)
-- que liderou as descobertas e é parceira
da Conservação Internacional -- acredita
que essa planta deveria ser incluída na categoria
de ‘Quase Ameaçada’ (NT, da sigla em inglês),
conforme os critérios da Lista Vermelha da
União Mundial para a Natureza (IUCN, da sigla
em inglês), uma vez que só é
encontrada em poucas áreas que sofrem pressões,
como as do pastoreio intensivo.
Também fazem parte das
descobertas anunciadas hoje dois besouros, o Eriopis
canrash e o Cycloneda andresii, que controlam as
populações de pulgões e de
ácaros, responsáveis pela destruição
de plantações importantes para a sobrevivência
dos povos daquela região.
“Foi uma experiência maravilhosa
ter participado de uma expedição científica,
estudado a biodiversidade de 13 queñuales
(como também são chamadas as florestas
de Polylepis no Peru), entrado em contato com essas
paisagens e ter tido a oportunidade de conversar
com as comunidades locais”, afirma Constantino Auca,
presidente da Ecoan.
Os queñuales onde ocorrem
essas espécies são fundamentais para
a contenção da erosão do solo
e, também, para a produção
de grandes quantidades de oxigênio. Essas
florestas estão entre as mais elevadas do
mundo e muitas estão localizadas próximo
a montanhas de picos nevados. Os queñuales
funcionam como reservatórios de água
para as comunidades que vivem na região.
Cerca de metade das plantas que
as comunidades locais usam com finalidades medicinais
é encontrada nos queñuales, que abrigam
ainda mamíferos como a onça-parda
(Puma concolor), a viscacha (Lagidium viscacia),
o gato andino (Oreailurus jacobita) e o taruca (Hippocamelus
antisensis), entre outros.
As principais ameaças aos
queñuales são a extração
de madeira descontrolada, as práticas de
pastagens não-sustentáveis, a queima
da floresta e a mineração.
“A Conservação Internacional
tem muito orgulho de fazer parte dessa iniciativa.
A descoberta de novas espécies nos permite
salientar a importância dos ecossistemas das
florestas de Polylepis por causa da alta concentração
de biodiversidade e do seu papel como fonte de água
para muitas comunidades que vivem na área”,
conta Luis Espinel, diretor executivo da Conservação
Internacional no Peru.
Mais de 130 famílias de
quatro comunidades locais (Aquia, Huasta, Challhuayaco
e Pujun) moram no entorno das florestas de Polylepis
e dependem delas para obtenção de
lenha e de outros recursos para a sua sobrevivência.