17 de
Março de 2009 Rio de Janeiro (RJ) - Brasil
— Especialistas discutem custos e impactos ambientais
da energia nuclear a bordo do Arctic Sunrise
Em plena retomada do Programa
Nuclear Brasileiro, o Greenpeace promoveu hoje,
no Rio de Janeiro, evento reunindo especialistas
para debater os problemas e dificuldades enfrentados
pela indústria nuclear na França e
no Brasil. O seminário “Energia Nuclear no
Brasil e na França”, onde foi lançada
versão em português do relatório
“Fracassos Nucleares Franceses” e um documento com
o histórico nuclear brasileiro, mostrou como
é arriscada a parceria na área nuclear
que vem se consolidando nos últimos três
anos entre França e Brasil.
O relatório “Fracassos
Nucleares Franceses” resume as principais conclusões
de pesquisa realizada pela Global Chance - organização
francesa sem fins lucrativos que reúne cientistas
em energia inclusive os problemas que levaram a
estatal Areva, braço industrial da política
nuclear francesa, a fechar o ano de 2008 com uma
queda de 20% em seu lucro líquido.
Exemplos concretos dessa decadência são
as dificuldades enfrentadas nos projetos de construção
de European Pressurized Reactores (EPRs), reatores
de quarta geração desenvolvidos e
promovidos pela Areva ao redor do mundo, inclusive
no Brasil. Comprovando que a tão propagada
“nova” tecnologia não foi capaz de superar
os problemas históricos da energia nuclear,
o reator da usina de Olkiluoto, na Finlândia,
que começou a ser construído em 2005,
já está com atraso de três anos
e sobrefaturamento de 1,5 bilhões de euros.
O reator finlandês, bem como o EPR em construção
em Flamanville, na França, apresentou falhas
de projeto como uso de concreto e soldas de má
qualidade, comprometendo a segurança da operação
do reator.
O documento mostra ainda como
a aposta francesa em priorizar energia nuclear é
um obstáculo concreto para que o país
possa cumprir suas próprias metas de redução
de emissões de gases de efeito estufa, conforme
esclareceu em sua apresentação o professor
Yves Marignac, especialista francês independente
e principal autor do relatório da Global
Chance. “A energia nuclear não é solução
para o aquecimento global. Chega a ser engraçado,
esse é mais um argumento usado pela indústria.
As emissões não diminuem com a construção
de reatores nucleares”.
O Greenpeace apresentou também
um cenário da indústria nuclear no
Brasil: se a Areva se esforça para driblar
seus fracassos pelo mundo, aqui é recebida
de braços abertos pela Eletronuclear, que
acena com a participação de 30% de
capital francês no financiamento da terceira
usina nuclear brasileira.
O documento traz dados sobre a
construção das usinas Angra 1 e Angra
2, marcada por atrasos, orçamentos estourados
e falta de transparência governamental, corroborando
o desempenho do setor nuclear ao redor do mundo.
Angra 2 entrou em operação apenas
em 2000, mais de vinte anos após o início
de sua construção, inúmeros
atrasos de cronograma e falhas técnicas.
Sobre Angra 3, Flávio Ahmed,
da Comissão de Direito Ambiental da OAB-RJ,
apresentou, durante o seminário um parecer
elaborado e aprovado por unanimidade pelos advogados
membros da Ordem no Rio sobre a inconstitucionalidade
da construção de Angra 3. O parecer
destaca o fato de que a construção
de Angra 3 nunca foi discutida ou aprovada pelo
Congresso Nacional, contrariando o que está
expressamente definido na carta constitucional brasileira.
Ahmed também destacou problemas estruturais
do setor nuclear nacional, especialmente o acúmulo
de funções da Comissão Nacional
de Energia Nuclear (CNEN), que atua ao mesmo tempo
como requerente, operadora, prestadora de serviços,
licenciadora e fiscalizadora das instalações
nucleares brasileiras.
Outro ponto lembrado nas apresentações,
tanto sobre o Brasil como a França, foi a
ausência de solução para o lixo
radioativo gerado ao longo de todo o ciclo de produção
da energia nuclear. Para a OAB, se os princípios
da precaução e prevenção,
pilares da Constituição Federal, fossem
devidamente considerados não se autorizaria
a construção de usinas nucleares do
Brasil.
“O que fazer com o lixo radioativo
é a grande pergunta sem resposta em relação
‘a tecnologia nuclear”, disse Rebeca Lerer, coordenadora
da campanha de energia do Greenpeace. “No Brasil,
essa discussão veio á tona durante
o licenciamento ambiental de Angra 3, no qual a
Eletronuclear foi incapaz de responder o que fará
com os resíduos da usina nuclear. Mesmo assim,
o Ibama concedeu licença de instalação
para Angra 3”.
Em dezembro de 2008, os presidentes
Nicolas Sarkozy e Luiz Inácio Lula da Silva
firmaram acordo para o desenvolvimento de um submarino
nuclear e construção de estaleiro
e base no Rio de Janeiro. Para o Greenpeace, a aliança
nuclear Brasil- França remete ao histórico
acordo nuclear com a Alemanha, que nos anos 70 nos
trouxe usinas superfaturadas, ultrapassadas e com
atrasos enormes de construção e implementação.
“A opção nuclear
não se sustenta do ponto de vista econômico,
energético ou ambiental. A cooperação
nuclear para fins militares com a França
revela os verdadeiros objetivos do programa nuclear
brasileiro, que vão muito além da
geração elétrica”, afirma Rebeca
Lerer.
Participaram da mesa de discussões Ricardo
Baitelo do Greenpeace Brasil, Rianne Teule, Greenpeace
Internacional, Thomas Fatheuer da Fundação
Heinrich Böll, Alphonse Germaine Kelecom da
Universidade Federal Fluminense, Flávio Ahmed,
Comissão de Direito Ambiental da OAB-RJ e
Yves Marignac, consultor sobre questões nucleares
e energéticas da Global Chance.
Veja os documentos nos links abaixo:
http://www.greenpeace.org/brasil/documentos/nuclear/fracassos-nucleares-franceses
http://www.greenpeace.org/brasil/documentos/nuclear/o-fracasso-nuclear-brasileiro
+ Mais
Violência marca protesto
pela proteção das florestas na Indonésia
19 de Março de 2009 Seguranças
removeram ativistas da entrada principal do prédio
da Sinar Mas em Jacarta, durante protesto do Greenpeace
que paralisou as atividades da empresa.
Jacarta, Indonésia — Ativistas do Greenpeace
foram agredidos esta manhã ao realizar um
protesto na Sinar Mas Group, a maior madeireira
da Indonésia, que também produz óleo
de dendê.
Funcionários da segurança
da empresa agrediram com pontapés e socos
os ativistas. A demanda mundial crescente por óleo
de dendê está destruindo as florestas
tropicais da Indonésia. O óleo de
palma, também conhecido como óleo
de dendê, é usado na produção
de alimentos, cosméticos e biocombustível.
Vinte e cinco ativistas se acorrentaram
na entrada da empresa e escaladores abriram no prédio
uma faixa de 20m X 10 m com os dizeres “Sinar Mas
destruidor da floresta e do clima”. Logo após
a realização da atividade e das cenas
de violência, a polícia chegou e removeu
os ativistas.
“Essas atitudes violentas só
reforçam a postura da empresa sobre seus
negócios. A Sinar Mas acredita que está
acima da lei, mas o direito de realizar um protesto
está previsto nas leis da Indonésia”
comenta Bustar Maitar, coordenador da campanha de
floresta do Greenpeace na Indonésia.
O Greenpeace vem monitorando as
operações da Sinar Mas na província
de Riau, na Sumatra, nos últimos anos e recentemente
coletou claras evidências de que a empresa
está destruindo cada vez mais os remanescentes
florestais. Sinar Mas está expandindo, já
detém concessões de mais de 200 mil
hectares de floresta e tem planos de conseguir mais
de um milhão de hectares, principalmente
em Papua. Organizações que defendem
os direitos humanos também levantaram sérias
preocupações devido à repressão
da empresa aos comunitários que protestaram
contra a APP, que pertence ao grupo Sinar, em Suluk
Bongkal, Riau, no final de 2008.
O presidente da Indonésia, Susilo Bambang
Yudhoyono, afirma que irá reduzir as emissões
de gases, mas não consegue fazer a Sinar
Mas parar de destruir a floresta. “Se Yudhoyono
quer que a Indonésia se transforme em um
líder global em busca de soluções
para o aquecimetno global, então ele precisa
neutralizar imediatamente a ação da
Sinar Mas”, completa Maitar.
O governo indonésio precisa
implementar uma moratória para barrar a conversão
de florestas em plantação de dendê.
Isso irá ajudar não só a diminuir
as emissões de carbono do país, como
também defender a riqueza da biodiversidade
tropical e proteger as comunidades que dependem
das florestas em toda a Indonésia. O país
precisa reduzir 72% de suas emissões até
2012 e pressionar os países industrializados
a pagar pela redução do desmatamento
e a reduzir drasticamente suas emissões.
Saiba mais:
http://www.greenpeace.org/brasil/amazonia/noticias/demanda-internacional-por-dend
http://www.greenpeace.org/brasil/energia/noticias/petrol-fera-sueca-desiste-do