16 de
Março de 2009 - Luana Lourenço - Repórter
da Agência Brasil - Brasília - O ministro
da Agricultura, Reinholds Stephanes, vai defender
a manutenção de áreas de preservação
permanente (APP) como forma de compensação
por desmatamento além da área permitida,
a chamada reserva legal, na discussão de
mudanças no Código Florestal brasileiro.
A argumentação terá o respaldo
da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa), de quem o ministro encomendou estudos
sobre a viabilidade da proposta.
As conclusões da Embrapa
foram apresentadas hoje (16) por Stephanes à
senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação
Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA)
e devem ser repassadas em reunião com a bancada
ruralista amanhã (17).
As APPs são locais de floresta
e vegetação ao longo de rios, nascentes,
várzeas, encostas e topos de morro. Já
a reserva legal é o percentual de floresta
que deve permanecer intacto em propriedades rurais
e que varia de acordo com os biomas: 80% na Amazônia,
35% no Cerrado e de 20% nos demais.
“A Embrapa propõe o cômputo
geral da APP com a reserva legal. Não temos
que priorizar pedaços de reserva legal que
não vão permitir que a biodiversidade
se recupere. Por que não compensar e não
recompor áreas de reserva legal e APP juntas
priorizando os rios do Brasil”, afirmou Kátia
Abreu. De acordo com a senadora, a idéia
é criar “corredores” para preservação
ambiental.
“Se ao reflorestar as beiras dos
rios, um proprietário tiver recomposto 20%
de florestas da sua propriedade, isso contaria também
como reserva legal”, explicou Stephanes.
Na prática, a medida permitiria
que proprietários que tenham desmatado possam
contabilizar como recuperação uma
área que deveriam ter preservado obrigatoriamente,
as APPs.
Pela proposta, a recomposição
poderá ser feita fora das propriedades originalmente
desmatadas. “No mesmo bioma, mas em outra bacia
hidrográfica”, disse Kátia Abreu.
Em rodadas de discussão, organizações
não-governamentais ambientalistas e o Ministério
do Meio Ambiente (MMA) já criticaram essa
possibilidade.
No entanto, de acordo com o ministro
Stephanes, as novas propostas não deverão
causar atritos entre ruralistas e ambientalistas.
“No final não divergem muito do que vinha
sendo discutido há alguns meses, daquilo
que fazia parte de uma pauta de reuniões
com o MMA”, afirmou.
+ Mais
Projeto avalia impacto de desmatamento
da Amazônia no clima brasileiro
21 de Março de 2009 - Riomar
Trindade - Repórter da Agência Brasil
- Rio de Janeiro - O vapor d’água gerado
na Amazônia e transportado pelas massas de
ar tem impacto decisivo sobre o clima nas demais
regiões do Brasil, principalmente sobre o
ciclo de chuvas no Sul e no Sudeste.
Essa é uma das constações
do Projeto Rios Voadores, coordenado há dois
anos pelo engenheiro e ambientalista Gérard
Moss, com patrocínio de R$ 3,45 milhões
do Programa Petrobras Ambiental e parceria da Agência
Nacional de Águas (ANA).
O estudo revela a existência
de uma forte recirculação de água
entre a superfície e a atmosfera, causada
pela transpiração das plantas que
compõem a floresta, o que contribui para
os altos níveis de precipitação
na Amazônia, que chegam a ultrapassar 2.400
mm/ano.
Por isso, de acordo com Moss,
a destruição da floresta provoca alterações,
ainda difíceis de quantificar. “Uma árvore
de grande porte coloca cerca de 300 litros de água
por dia na atmosfera. Isso não atinge somente
a Amazônia, mas todas as outras regiões
para onde a água é transportada pelos
ventos. Tivemos no Brasil cerca de 600 mil quilômetros
de terras desmatadas nos últimos 30 anos.
Ainda não sabemos mensurar com precisão
qual o impacto sobre o clima”, afirmou.
Segundo o pesquisador, apesar
da Amazônia Legal representar, em média,
10% da população e do Produto Interno
Bruto (PIB) brasileiro (soma de todas as riquezas
produzidas pelo do país), recebe pouco investimento
em tecnologia.
“É justamente lá
que deveria haver muito mais investimento. O clima
de São Paulo não tem impacto sobre
a Amazônia, mas a Região Amazônica
faz toda a diferença para o restante do Brasil
e até mesmo para outros países”, argumentou
Moss.
As informações recolhidas
pela equipe do pesquisador permitirão mostrar
até que ponto o desmatamento da região
amazônica pode afetar o clima brasileiro e
como essa degradação pode alterar
o ciclo hidrológico, que se refere à
distribuição e circulação
da água na natureza. O objetivo é
compreender melhor as causas, tanto das grandes
tempestades, quanto dos extensos períodos
de seca.
“O objetivo do estudo é
entender melhor o trajeto percorrido por esses verdadeiros
rios voadores, que viajam sobre nossas cabeças
e podem ter volume maior que a vazão de todos
os rios do Centro-Oeste, Sudeste e Sul”, diz Gérard,
que já fez 12 viagens sobrevoando o Brasil
em um avião monomotor recolheu cerca de 500
amostras de vapor d’água em diferentes camadas
atmosféricas.
As amostras, são recolhidas
em um coletor externo instalado no avião
que capta o ar ambiente e o direciona a um tubo
de vidro, onde é resfriado em gelo seco (-80ºC),
para condensar a umidade em uma gota dentro do tubo.
As amostras são analisadas no Centro de Energia
Nuclear na Agricultura (Cena), em Piracicaba (SP)
e com base nas propriedades dessa gota d’água
são definidos origem, dinâmica e deslocamento
da água carregada pela massa de ar.
A coordenação científica
do Projeto Rios Voadores é de Enéas
Salati, agrônomo e ex-professor da Universidade
de São Paulo. Estudos realizados por ele
há 30 anos revelaram que 44% do fluxo de
vapor d’água que penetra na região
amazônica vindo do Oceano Atlântico
condicionam o clima da América do Sul e atingem
as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
As pesquisas são usadas
até hoje como base para o conhecimento hidrológico
da região e foram fundamentais para a elaboração
do Projeto Rios Voadores, que é um desdobramento
do Projeto Brasil das Águas, selecionado
pelo Programa Petrobras Ambiental em 2003.