Márcia
Néri Brasília (02/04/09) - A Arara-Azul-de-lear,
uma das aves mais ameaçadas de extinção
do planeta, começa alçar vôos
a caminho do processo de recuperação
da espécie. Desde 2001, analistas ambientais
do Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade/Centro Nacional de Pesquisa para
a Conservação das Aves Silvestres
(Cemave) pesquisam o habitat natural e acompanham
o ciclo reprodutivo da Anodorhynchus leari, nome
científico dado ao animal encontrado apenas
em uma porção do semiárido
baiano. Em menos de uma década, o número
de indivíduos cresceu mais de três
vezes. Embora cautelosos, os pesquisadores não
escondem o entusiasmo com nascimento dos filhotes
da temporada 2008-2009.
A época da reprodução,
que começa em meados de setembro e segue
até abril, vem sendo cuidadosamente monitorada
por dois biólogos que atuam na Base de Pesquisas
sobre a Arara-Azul-de-lear, em Jeremoabo, norte
da Bahia. A expectativa não poderia ser melhor:
os pesquisadores acreditam que de 100 a 150 recém
nascidos se preparam para deixar os ninhos rumo
ao primeiro vôo. Muito em breve, eles irão
se juntar aos raros adultos da espécie, cuja
sobrevivência depende do trabalho de preservação
executado nos últimos anos.
A Arara-Azul-de-lear nidifica
unicamente nas cavidades naturais dos paredões
de arenito localizados na região sul da Estação
Ecológica Raso da Catarina, nos sítios
reprodutivos conhecidos como Toca da Velha, no município
de Canudos, e Serra Branca, no interior da própria
unidade de conservação. Sessenta quilômetros
separam as duas áreas, que também
são usadas como dormitório pelas araras.
De acordo com o Livro Vermelho da Fauna Brasileira
Ameaçada de Extinção, a principal
ameaça à essa ave é a captura
para o comércio ilegal, além da redução
da palmeira licuri, cujo coco é o mais importante
item alimentar desses animais.
Além de ser tempo de reprodução,
a chegada das chuvas é a melhor época
para se estudar os hábitos da Anodorhynchus
leari. Mais do que pesquisas sobre a biologia reprodutiva
da espécie, os biólogos do Cemave
realizam censos periódicos para contagem
da população. No primeiro deles, em
2001, foram contabilizados 246 indivíduos.
No último, feito em julho do ano passado,
960 araras viviam em Toca Velha e Serra Branca,
um aumento de quase 50% em relação
à contagem de 2006, que registrou 636 aves.
Ainda em 2006, a quantidade de ninhos estimada nos
únicos dois sítios reprodutivos foi
de 63.
A análise do comportamento
das araras é feita de longe, sem contato
direto para não haver risco de prejudicar
os reprodutores e seus filhotes. Os biólogos
Kléber de Oliveira e Antônio Eduardo
Barbosa são os responsáveis por acompanhar
o ciclo reprodutivo 2008-2009. Semanalmente, durante
três dias consecutivos, toda a movimentação
de parte dos 77 ninhos mapeados por eles nos últimos
meses é atentamente observada. De binóculos
em punho e com a ajuda dos galhos das árvores
mais altas e próximas aos paredões,
a dupla estuda o vai e vem das aves que partem para
as áreas de alimentação e a
vigília cautelosa dos casais cujos rebentos
se preparam para voar.
A rotina começa cedo, logo
ao raiar do dia.“Iniciamos o monitoramento em dezembro
com base nas observações dos ninhais
cadastrados nos anos anteriores. Identificamos as
cavidades nas quais a visitação e
zelo das aves eram intensos, indicando a presença
dos ovos, uma média de três por casal.
Agora, esperamos com ansiedade a saída dos
filhotes”, conta Kléber de Oliveira.
Ao nascer do sol, as araras voam
em busca do fruto da palmeira licuri, geralmente
em duplas. “São aves monogâmicas, se
relacionam com apenas um parceiro para o resto da
vida. Quando adultos chegam a medir de 70 a 75 centímetros.
Os casais em nidificação procuram
alimentar-se o mais perto possível das cavidades
que abrigam os filhotes. Trata-se de uma espécie
muito arisca, principalmente durante esse período,
que abandona o ninho ao menor sinal de perigo. Por
isso, o nosso cuidado em observar sem sermos notados
pelos bichos”, pondera o biólogo.
Entre a postura do ovo e nascimento
do filhote conta-se mais ou menos 87 dias. No ciclo
de 2005-2006, cerca de 80 filhotes saíram
nos ninhos. “O sucesso reprodutivo é indicado
pelo número de aves que voaram, no máximo
duas por ninho. Como é espécie endêmica
da região do Raso da Catarina, sua distribuição
é muitíssimo restrita, assim como
a alta especificidade alimentar e a particularidade
de seu habitat, no caso, os paredões para
nidificação e dormitório. Mas,
os sinais de recuperação desses animais
são claros e trabalhamos para reduzir o status
de ameaça, o que é importante e bem
animador. Nosso trabalho começa a dar bons
resultados”, avalia o analista ambiental.
Ascom ICMBio
+ Mais
MPF afirma que APA da Baleia Franca
não é responsável pelo retardamento
na rodovia Interpraias
Priscila Galvão Brasília
(01/04/09) - Em nota publicada pelo Ministério
Público Federal de Santa Catarina a área
de Proteção Ambiental (APA) da Baleia
Franca, Unidade de Conservação de
Uso Sustentável gerida pelo Instituto Chico
Mendes, não é responsável pelo
retardamento das obras de pavimentação
da Rodovia Interpraias (SC-100), que ligará
Passo de Torres a Laguna. No final de março
(26) a APA recebeu os documentos pendentes para
a análise final e parecer, encaminhados por
uma comissão composta por representantes
do poder público e entidades comunitárias.
A exigência é fruto
de uma Informação Técnica,
elaborada por equipe multidisciplinar formada por
analistas ambientais do Instituto Chico Mendes e
Ibama em que eram solicitados esclarecimentos de
diversos aspectos, necessários para autorizar
a obra (Informação técnica
nº 047/2007 NLA/SC/IBAMA datada de 19/10/2007).
E somente no final de março os representantes
da PROSUL (responsável pelos estudos ambientais)
e da SC-Parcerias entregaram, apesar de terem se
comprometido de encaminhar a mais tempo. Para se
ter uma idéia, o ano de 2008 passou e a APA
da Baleia Franca não obteve nenhuma manifestação
formal sobre essa Informação Técnica.
Reunião ocorrida em fevereiro
desse ano, e que contou com a participação
de representantes da PROSUL (responsável
pelos estudos ambientais), SC- Parcerias, Ibama,
Instituto Chico Mendes, Secretaria Regional de Laguna
e do município de Laguna, reforçou
que a documentação tinha que ser encaminhada.
A obra ainda não obteve
a autorização do ICMBio por faltarem
esclarecimentos de pontos controversos e a complementação
de uma série de informações
do Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatório
de Impacto Ambiental (EIA/RIMA). Cabe à APA
da Baleia Franca a responsabilidade de analisar
e dar parecer para o prosseguimento do processo
de licenciamento ambiental de pavimentação
da rodovia.
Ascom/ICMBio