Lucia
Leão Aliar os conhecimentos tradicionais
às mais avançadas tecnologias de manejo
florestal para permitir que as populações
indígenas vivam com saúde e dignidade
dentro de suas terras ao mesmo tempo em que protegem
sua biodiversidade. Esta é a meta do "diálogo
intercultural" - como definiu o presidente
da Funai Márcio Meira - que acontece até
o final da tarde desta terça-feira no Instituto
Israel Pinheiro, em Brasília, durante o Seminário
"Gestão Ambiental em Terras Indígenas".
Presente à abertura do evento, o ministro
Carlos Minc falou sobre a importância de agregar
esses saberes, mas destacou também a responsabilidade
do poder público em proteger as áreas
do entorno das terras indígenas.
"Os métodos modernos
de gestão territorial e manejo florestal
cabem também aos indígenas. Mas temos
que fazer um trabalho integrado primeiro para preservar
o entorno das terras indígenas, porque as
fazendas estão chegando cada vez mais perto,
estão 'costeando' o alambrado, muitas vezes
assoreando e contaminando com os agrotóxicos
os rios que correm dentro das reservas. Nossa intenção
é criar unidades de conservação
no entorno para formar uma espécie de colchão
amortecedor desses impactos", destacou o ministro.
Para uma platéia de mais
de cem pessoas, entre lideranças indígenas,
técnicos do governo e representantes de organizações
não-governamentais, Minc defendeu a criação
de mais reservas indígenas e foi aplaudido
ao saudar a "decisão histórica"
do STF a favor da manutenção, em área
contínua, da Reserva Indígena Raposa
Serra do Sol, em Roraima. Ele mencionou também
o recente estudo, publicado pelo jornal Folha de
S. Paulo, que constata que o Brasil é o país
do bloco amazônico - que inclui Peru, Venezuela,
Colômbia, Bolívia, Equador e Guiana
Francesa - que menos protege a floresta com reservas
indígenas e unidades de conservação.
"Andarei com esse estudo
debaixo do braço. Na hora de chegar no presidente
Lula e na ministra Dilma, defendendo a criação
de novas terras indígenas, a constituição
de novas reservas extrativistas para nossos seringueiros
e castanheiros, a criação de novos
parques nacionais para a proteção
da biodiversidade e também para a pesquisa
para o ecoturismo, vou mostrar que estamos atrasados
em relação aos nossos vizinhos",
disse".
Apesar de o seminário não
atrelar a gestão das terras indígenas
à demarcação e desapropriação
das terras das reservas, esse é um passivo
que precisa ser resolvido. "Temos que tratar
do futuro das terras e dos povos indígenas
do Brasil", explicou Márcio Meira, acrescentando
que a biodiversidade é muito mais protegida
nas terras indígenas regularizadas.
O índio terena Joãozinho
da Silva, administrador da Funai em Campo Grande,
cita o exemplo da reserva de Limão Verde,
no município de Aquidauana, que vinha sofrendo
um processo severo de degradação até
o início da década de 11000, quando
começou a desapropriação e
regularização. Hoje, a vegetação
está praticamente toda reconstituída
e a população indígena voltou
a crescer com saúde. Em situação
oposta está a reserva de Jaguapiru, em Dourados,
onde terenas, guaranis e kaiowás vivem em
situação degradante, cada vez mais
pressionadas pelas fazendas de soja e pela expansão
urbana.
+ Mais
Brasil terá inventário
atualizado de emissões
01/04/2009 Lucia Leão O
ministro Carlos Minc anunciou nesta quarta-feira,
durante a solenidade de lançamento do livro
"Antártica - Bem Comum da Humanidade",
que será disponibilizado no próximo
mês de julho o novo Inventário Brasileiro
de Emissões, que identifica e quantifica
as emissões de gases de efeito estufa pelas
diferentes fontes de emissão - veículos,
usinas termoelétricas, indústrias,
queimadas, gado etc. - e regiões do país.
Com base de dados atualizadas, ele vai substituir
o último inventário produzido pelo
Ministério de Ciência e Tecnologia,
que usa informações de 1994.
"São informações
fundamentais para embasar as nossas políticas
públicas e a proposta que o Brasil levará
para a Conferência do Clima de Copenhague,
no final do ano. Estamos trabalhando com dados muito
defasados, que podem gerar distorções",
afirmou.
Minc ainda informou aos participantes
da solenidade - estudiosos e cientistas que vão
integrar o Instituto Antártico de Pesquisas
Ambientais, que também foi instituído
hoje - que o MMA e Ministério de Ciência
e Tecnologia instalarão, no próximo
dia 17, o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas,
que o ministro definiu como "um IPCC-Brasil".
Ele vai reunir mais de uma centena
de cientistas para produzir, até 2012, um
relatório que será referendado pelo
governo brasileiro e adotado para orientar decisões
e políticas públicas. Uma das primeiras
aplicações do Painel será a
revisão do Plano Nacional de Mudanças
Climáticas.
Foi a partir da Antártica,
onde foi visto o primeiro buraco na camada de ozônio
de protege a terra, que o mundo tomou conhecimento
dos riscos que a emissão descontrolada de
gases de efeito estufa representavam para o planeta.
Por isso o ministro defendeu o fortalecimento do
Programa Antártico Brasileiro e elogiou o
empenho de cientistas como Rubens Junqueira Vilela
- o primeiro brasileiro a pisar no Continente Antártico,
em 1961, e hoje participa do Instituto Antártico
de Pesquisas Ambientais - e de Tânia Brito,
autora, editora e programadora visual do livro que
estava sendo lançado.
"É um livro lindo,
que mostra a beleza e a leveza daquele continente
branco, mas é um livro assustador, que mostra
que formas de vida estão seriamente ameaçadas
e geleiras derretendo num ritmo maior do que se
pensava. Isso nos coloca uma série de responsabilidades.
O Brasil vai "entrar de cabeça"
na discussão do clima. Não seremos
passivos, seremos protagonistas entre os países
desenvolvidos e emergentes", garantiu.
Com uma tiragem limitada, o livro
"Antártica - Bem Comum da Humanidade"
será inicialmente distribuído entre
estudiosos do assunto. Uma segunda tiragem, que
já está sendo negociada com o Ministério
da Educação, será destinada
às bibliotecas das escolas públicas.