03/04/2009 - Morreu em São
Paulo, às 12h30 desta sexta-feira (3), aos
89 anos, o biólogo Crodowaldo Pavan. Ele
estava internado na UTI do Hospital Universitário,
da USP, desde a última sexta-feira (27/03),
em razão do agravamento de um câncer.
O corpo do cientista será velado a partir
das 18h30, no anfiteatro do Instituto de Biociências
da USP (Rua do Matão, travessa 14, Cidade
Universitária). O enterro será neste
sábado (4), às 11h00, no cemitério
Getsêmani Morumbi (Praça Ressurreição,
n° 1, Morumbi).
Pavan foi um dos principais cientistas
brasileiros na área da genética. Destacou-se
também como presidente da Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência (SBPC) e do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq/MCT).
Nasceu em Campinas (SP), no dia
1 de dezembro de 1919. Formou-se em História
Natural, pela Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras da Universidade de São Paulo – FFCL/USP,
em 1941. Logo a seguir foi contratado como assistente
do prof. André Dreyfus e, em 1943, iniciou
trabalho de colaboração científica
com o prof. Theodosius Dobzhansky, da Universidade
de Columbia, Nova Iorque, EUA.
Em 1945 concluiu seu doutoramento
na USP e nos dois anos seguintes, como bolsista
da Fundação Rockfeller, fez pós-doutorado
na Universidade de Columbia. Em 1951 prestou concurso
de livre-docência, no departamento de Biologia
Geral da FFCL/USP. Em 1952 prestou concurso de cátedra
e foi aprovado, substituindo o prof. André
Dreyfus, então recém-falecido.
Descobriu no litoral de São
Paulo um inseto que se mostrou bastante favorável
ao estudo da ação gênica e de
citologia, o que veio a abrir novo campo da pesquisa
biológica. Participou de vários programas
de intercâmbio científico, ministrou
cursos e seminários em instituições
de Porto Rico, França e Alemanha.
Em 1964 e 1965 foi contratado
como pesquisador da divisão de Biologia do
OAK Ridge National Laboratory, EUA, onde montou
um laboratório de estudos de ação
gênica e efeitos biológicos das radiações.
De 1968 a 1975 foi professor titular de Genética,
com vitaliciedade, na Universidade do Texas, Austin,
EUA. Em 1975 desistiu da posição e
regressou ao Brasil.
Integrou a delegação
brasileira no comitê científico para
estudos dos efeitos das radiações
atômicas, junto às Nações
Unidas. Foi presidente da Sociedade Brasileira de
Genética e, entre 1974 e 1980, coordenou
o Programa de Integração Genética
do CNPq. Entre 1981 e 1987 foi, por três gestões,
presidente da SBPC. Foi diretor presidente do Conselho
Técnico Administrativo da FAPESP e, entre
1986 e 11000, presidiu o CNPq.
As áreas de pesquisa em
que Crodowaldo Pavan trabalhou foram genética
de populações, citogenética
e ação genética, e controle
biológico de pragas da agricultura. Teve
os cargos de professor titular na USP, na Universidade
de Texas e na Unicamp. Foi reconhecido com o título
de professor emérito da USP e da Unicamp.
Recebeu seis condecorações:
–Comendador da Ordem do Rio Branco
- Ministério das Relações Exteriores
- 1986
–Oficial da Ordem do Mérito - Forças
Armadas do Brasil - 1986
–Ordem da Inconfidência - Governo do Estado
de Minas Gerais - 1987
–Grande Oficial da Ordem do Mérito - Governo
da Republica Portuguesa - 1987
–Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito
Científico - Presidente da República
do Brasil - Set/1994
Duas medalhas:
–Medalha "Anchieta"
- Câmara de Vereadores da cidade de São
Paulo - 1988
–Medalha CAPES 50 Anos - CAPES/MEC - Jul/2001
E três prêmios:
–Prêmio Nacional de Genética
- 1963
–Prêmio Moinho Santista (Biologia) - Fundação
Moinho Santista - 1980
–Prêmio "Alfred Jurzykowski" - Academia
Nacional de Medicina – 1986
Manifestação do
presidente da SBPC - Marco Antonio Raupp
Uma profunda consternação
nos acomete neste momento em que recebemos a notícia
do falecimento do professor Crodowaldo Pavan. Este,
certamente, é o mesmo sentimento de toda
a nossa comunidade científica. Crodowaldo
Pavan foi, sempre, um diligente militante da ciência
brasileira, em todas as suas principais frentes:
na bancada do laboratório, na sala de aula
e na direção de entidades de ciência
e tecnologia.
Como geneticista, ajudou a formar
gerações de profissionais e a constituir
novas e promissoras linhas de pesquisa; como liderança,
foi um dos principais responsáveis pela organização
e pela expansão do sistema brasileiro de
ciência e tecnologia.
Na SBPC, Pavan foi presidente
por três mandatos, de 1981 a 1987. Tratava-se
de um período importante na trajetória
desta casa e também do País, uma vez
que se consolidava a vitória de uma das principais
lutas da SBPC e da sociedade brasileira: a transição
do regime ditatorial para a democracia.
Comecei a conviver com Pavan em
1985 quando o governo civil foi, novamente, instalado
no Brasil. Nessa época, pude testemunhar
seu empenho para a criação do Ministério
de Ciência e Tecnologia. Pavan organizou a
Comissão da Sociedade Científica que,
juntamente com a SBPC, passou a dar ideias para
a atuação do futuro Ministério.
Tanto como presidente da SBPC quanto do CNPq, cargo
para o qual foi convocado pelo ministro Renato Archer,
ele desempenhou um importante papel na mobilização
da comunidade científica para a inclusão
de um capítulo sobre ciência e tecnologia
no texto constitucional dando, dessa maneira, pela
primeira vez um destaque às atividades científico-tecnológicas
no concerto da sociedade brasileira.
Aos familiares de Crodowaldo Pavan,
os nossos mais profundos sentimentos. Aos amigos,
a expectativa do consolo mútuo. Ao País,
o regozijo de ter podido contar com um cidadão
e um cientista como poucos no mundo.